terça-feira, 20 de agosto de 2013

"DEUS" - 34 -

- CORO -
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CATASTRÓFES

O Monge Euclides de Astúrias estava estudando em outro dia, um livro sobre o espaço infinito. Naquele instante de Astúrias ficou mesmo na sala da imensa biblioteca do Mosteiro onde tudo era limpo e organizado. Nas estantes, noviços e Monges ainda buscavam seus tratados. Via-se bem um noviço todo atrapalhado com porção de livros para trazer ao salão. Em outras bancas duas Monjas estavam a vasculhar remotos papeis onde elas procuravam todo o saber. Ao lado do salão, perto d entrada, um Monge estudava muito compenetrado. De um lado para outro Euclides notava um Monge idoso a caminhar sem saber o que ele procurava. Talvez fosse um manuscrito antigo. Esse é o clima geral da Biblioteca de estudos. Enquanto isso, Euclides, o Monge se dedicava aos estudos. E aquela matéria era bem singular. Dizia sobre a explosão do tempo, da matéria e do espaço. Era um assunto mais recente onde os estudiosos colhiam matérias sobre todos os dias onde novas descobertas desvendam alguns dos mistérios mortais deste lugar chamado Universo. Dizem os estudiosos que, através dos seus quatro e meio bilhões de anos o Universo já presenciou destruições em escalas colossais. Por várias vezes catástrofes abalaram a paz celestial. Planetas se chocaram ou foram cobertos por lavas de grandes erupções vulcânicas ou fugiram do alcance da gravidade solar. Nenhum planeta conseguiu escapar do período do terror do sistema solar. Planeta Terra, hoje um lugar pacífico. Mas que já sofreu sua cota de impactos, erupções e extinções em massa. A maioria dos desastres na Terra não passa de eventos corriqueiros quando comparados com os eventos apocalípticos que afligiram seus irmãos no sistema solar. O sistema solar nasceu de uma grande explosão que causou a colisão de vários asteroides que formaram os atuais planetas da Terra. Quando os planetas sobreviventes tomaram forma à violência se intensificou. Em princípio a contagem regressiva das dez maiores catástrofes está o desastre do manto de Mercúrio. Ele é o planeta do Sol e também o menor planeta do sistema solar. Cientistas acreditam que o planeta sofreu um dos maiores impactos da natureza. A uma teoria de que uma colisão planetária foi à causa. Imaginando-se o vilão cósmico de Mercúrio como sendo uma bola de canhão se pode reviver o que aconteceu. E é justamente assim que os cientistas imaginam que a crosta de Mercúrio tenha desaparecido deixando o planeta como um grande núcleo de ferro. A força do impacto teria expelido por todo o sistema solar, chegando até Júpiter. A chuva de destroços teria durado por quatro milhões de anos. Mas aqueles que apoiam essa teoria enfrentam um dilema: se a colisão aconteceu por que não deixou uma marca visível no planeta? Alternativas para explicar o tamanho do núcleo de Mercúrio envolvem a temperatura ambiente do planeta. Por ser tão quente devido às variações das emissões solares o planeta todo pode ter sido vaporizado. O manto rochoso pode ter virado vapor de rocha. E esse levado para o espaço por ventos solares. Essa era a explicação do articulista. De momento o Monge Euclides ficou a duvidar de tal questão. Por fim, ele indagou a si mesmo:

Euclides:

--- Chuvas e bombardeios? Catástrofes? Ah meu Deus. Onde estava o Senhor. E para que tamanha destruição. Já não tinha viva alma! E um bombardeio dessa magnitude? – indagou perplexo o Monge.

O dia era quente por demais. Pela manhã, havia silencio em todo o campo. Apenas se ouvia os Monges a entoar à capela “O Santuário do Coração” da autoria de Albert Ketelbey, canção sem palavras. Mas o autor deu o verso a explicar o significado da melodia principal: “Errei sozinho em terra estranha. E a vida pareceu tão escura e triste/Quando o som de uma voz pareceu me chamar/Falou de Júbilo e da Alegria/’Ó Deus, ouve nossa prece/Afasta de nós os cuidados/E enche nossos corações de Amor’”. E então os Monges entoaram essa pouca melodia como um todo. O Monge ouviu tudo tão distante e em silencio como sempre era feito no augusto monastério. Uma luz suave e silenciosa do firmamento penetrou de alguma forma no interior do retangular templo da Biblioteca e se fez cair sobre a banca de estudos de Dom Euclides, o Monge. Ele calou por alguns instantes e passou a ouvir apenas a distante melodia ao canto dos fieis religiosos em um instante de contemplativa comunhão pelos Irmãos. As duas Mongas continuavam caladas a estudar nos seus complexos livros da História Antiga onde estavam gravadas imagens de homens e mulheres feitas de mármore a representar os antigos deuses da Grécia e das suas divinas deusas como Afrodite, Hera e Gaia. Os gregos criaram vários mitos para poder passar mensagens para as pessoas e também com o objetivo de preservar a memória histórica de seu povo. Era com esse intuito os quais as mongas estavam então a pesquisar na verdade.  Com a suavidade de um anjo, Dom Euclides continuou seu estudo vindo então à história da Lua estilhaçada de Saturno. A maioria dos anéis de Saturno é feita de gelo. São trinta e três quadrilhes de toneladas de gelo. Os cientistas buscam explicação como uma catástrofe criou aqueles anéis. Muitos cientistas acreditam que uma lua coberta de gelo tenha sido atraída por Saturno e nesse processo seu poderoso campo gravitacional teria arrancado todo o gelo de sua superfície que teria sido jogada em órbita. Das sessenta luas que ainda restam em Saturno, Titã é a maior. Ela é uma vez e meia o tamanho da Lua da Terra.

Euclides:

--- Que coisa! É espantoso! – comentou estupefato consigo mesmo o homem.  

Mas evidências mostram que Saturno pode ter luas muito maiores. Essas luas foram muito maiores e destruídas ao serem sugadas pelo planeta. A última teria dado origem aos anéis. A origem dos anéis de Saturno revela que as mais belas formações tiveram uma origem violenta. Mas enquanto os desastres que moldaram Mercúrio e Saturno foram eventos localizados, uma catástrofe afetou todo o sistema solar. Ela não afetou não só os planetas que giram hoje em torno do Sol como também expulsou os planetas do campo gravitacional do Sol mandando os para a escuridão do espaço interestelar. Catástrofes cósmicas como os primeiros desastres que destruíram o manto rochoso de Mercúrio e formaram os anéis de Saturno são responsáveis por quase todos os aspectos do atual sistema solar. Contudo eventos mais recentes determinaram a organização que se conhece hoje.

Hoje, a partir do gigante gasoso que é Júpiter, temos Saturno, Urano e Netuno. Mas as coisas já são bem diferentes. Conforme as órbitas de Júpiter e Saturno se alteravam elas deram o inicio a uma geração em cadeia cósmica que causou danos a todo o sistema solar. Então se tem o redemoinho orbital. Quinhentos milhões de anos depois da formação dos planetas, Júpiter mudou seu rumo e veio em direção ao Sol enquanto Saturno, Urano e Netuno faziam o caminho oposto. Júpiter chegou a orbitar o sol duas vezes para cada vez de Saturno. A gravidade de Júpiter e Saturno alteraram as órbitas de Urano e Netuno. O resultado foi uma dança das cadeiras planetárias que deu origem a maior e mais longa catástrofe do sistema solar.

Euclides:

--- Meu Deus do Céu! E agora? – disse pasmado com a história contada pelos cientistas

Em tal instante alguém tocou de leve o capuz do Monge e lhe falou muito baixinho.

Monge:

--- Telefone para o Irmão! – falou o monge se encurvando todo.

Assustado com o reclamo Euclides, o Monge fez uma breve pausa na leitura e ainda indagou:

Euclides:

--- Quem? Eu?. – falou de supetão.

O outro Monge se afastou um pouco, encurvado e com as mãos cruzadas no busto como que falava ser ele mesmo a ser chamado. De imediato, Euclides, o Irmão, fechou o seu livro e o guardou na estante de modo seguro para nenhum Monge o procurar. E deu meia volta para seguir até o andar de baixo onde estava o telefone. Euclides caminho sorrateiro e não levou consigo o seu Irmão. Esse ficou sentado em uma banca da biblioteca a pesquisar sobre temas canônicos. De passagem ainda viu Euclides o monge velho a recitar seu livro de orações de forma imperceptível. E ainda caminhou um bom tempo até alcança o telefone posto em uma escrivaninha onde não havia viva alma. De imediato puxou o telefone e se pôs a ouvir quem falada tão cedo do dia. Um caso raro para Dom Euclides era atender a um chamado telefônico. E quem fosse quem devia ter boas razões. Ou más.

Euclides:

--- Pronto! Dom Euclides quem fala! Pois não? – falou o monge bem vexado com o tempo gasto.

O quem falava ouviu de imediato a resposta e lhe deu o recado de forma quase que obediente.

Monge-II

--- Dom Euclides de Astúrias, os Monges eleitos ouviram em silencia e decidiram ser vossa Eminencia o novo Abade do Mosteiro de São Simplício. Vossa Eminencia terá marcado o dia de sua posse. – falou o Monge II pelo telefone.

Um formigamento cingiu-lhe os pés, pois não supunha nada a esse respeito. Aos trinta e três anos chegar ao poder máximo do Mosteiro de São Simplício. Era uma carga por demais pesada, uma vez ser o Abade o principal mentor dos seus Irmãos perante toda a igreja Católica. Daquele instante em diante Euclides teria que se por como o pai dos seus monges irmãos. Ele era o pároco ou o cura de almas. Aquele que governa. O Título de Abade só começou a usar-se em 472 e era então usado exclusivamente para alguns monges superiores. O Título era considerado de respeito para o respeitável Monge. Enfim. O Abade era o representante de Cristo com autoridade jurídica e administrativa no Mosteiro. E Euclides de Astúrias persignou-se de vez e orou a Deus pai pedindo graças por ter ele sido escolhido para tal confiante cargo no seu Mosteiro.

O dia podia ser qualquer um. Era um dia de calma e tranquilidade. Dom Euclides teve de escolher convidados dos demais mosteiros beneditinos e de outras congregações para estar presente ao ato. Seria rezada Missa com toda pompa de um Mosteiro com os Cantos Gregorianos pelos próprios Monges. A fachada arquitetônica do mosteiro era de augusta sobriedade em um estilo neorromântico com dois anjos bem ao alto do majestoso templo a vibrar o campanário quando os sinos se fizessem necessário como àquele que busca o refugio ao sagrado. Na verdade era um templo de sobriedade aquela ilha de paz e de prece. Em contato solene os Monges viviam as luzes do Divino com momentos especiais de adoração e louvor. Quem penetra no Santo Sagrado Mosteiro tem a impressão de entrar em outra dimensão de sua vida profana. Era um recanto de amor e religiosidade o Mosteiro de São Simplício, um dos venerados papas da Igreja Católica. Imagens sacras de dois metros e meio de altura é o patamar maior da Santa Igreja dos Monges. Na hora solene de introdução do novo Abade a sua Igreja se enchia de fieis, na maior parte, monges e monjas. O Abade teve de convidar também algumas autoridades do Governo presidencial e da própria Igreja Católica.  A ordem de São Bento foi a primeira a ser constituída perante o clero com a autorização do Santo Padre, o Papa. O carisma propriamente dita é a vida monástica com um contesto bastante diferente da vida comum. O Coro Medieval complementa esse instante com cantos gregorianos acompanhados por um dos mais ricos tesouros daquela Basílica: um órgão de feitio medieval com seus tubos gigantes. A ornamentação do templo era feita de bronze e madeira. E o seu teto era inteiramente coberto com pintura a representar a vida do seu patrono, o Papa São Simplício.


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