quinta-feira, 24 de março de 2011

DESEJO - 10 -

- Elizabeth Taylor -
- 1932 - 2011 -
- 10 -

De imediato, quase todos acorreram para levantar o repórter àquela hora da manhã chuvosa. Três musculosos homens ajudaram a levantar até banco de madeira Armando Viana em estado de desmaio. Ninguém sabia o porquê da causa do desfalecimento. Na hora apenas se pensava em levantar o rapaz. Pessoas corriam para ver Armando. Outros apenas perguntavam: -
--- Que foi? – perguntava um.
--- Desmaiou? – inquiria outro.
--- É cana. – dizia mais alguém.
--- Ele não bebe. – respondia a dona do segundo café.
--- Só pode ser a chuva. – alarmou outro freqüentado do café ao lado
Os talhadores de carne corriam para olhar bem de perto a cara do rapaz e saber quem de fato era ele. E alguém dizia voltando para a sua pedra.
--- Isso é um chilique. Passa já. – comentou um talhador voltando a sua pedra.
O homem da banana discutia o que fazer com o rapaz.
--- Passa álcool nos punhos! - - dizia o bananeiro vexado para ver a vítima.
--- Cânfora é melhor. – respondeu outro estando ao lado.
Um monte de gente se apinhou na frente do Café de Dona Dora para ver de perto Armando sem sentidos e cada qual tinha sua versão sobre o caso.
--- Um homem desmaiou? – dizia um deles La na frente da tabua da carne.
--- É cana muita! – respondia outro sem fé.
Os amigos de Armando o colocaram em um banco comprido e tosco e começaram a lhe fazer massagem nos punhos com ou sem álcool. Quando dona Dora trouxe o álcool, eles utilizaram e passaram a esfregar nos punhos com bastante pressa. Alguém trouxe um copo de água, porém dona Dora rejeitou a oferta preferindo uma xícara de café para despertar o jovem homem ainda desmaiado. Os homens nem pensava em um médico.  E Canindé esfregou bem os pulsos de Armando. Com um tempo, apesar de haver muito gente ao redor, o moço voltou à razão e aos poucos, ainda delirando, pediu para sentar no banco, com sua voz doída e por vezes mais distante fazendo em gestos ele querer sentar.
--- Pronto! Agora sim! -  postou Canindé ao companheiro de estrada.
--- Tome esse café. Vai fazer bem! – reclamou Dora ao rapaz.
Armando  não tinha tempo de reclamar. O suor era frio. Ele tremia como nada neste mundo. Ao se sentar tombou ainda. E Canindé segurou Armando ajudado por três outros colegas. O mundo rodava na cabeça de Armando e ele começou a chorar devagar agüentando suas mãos.
O tempo era de chuva fora do Mercado. Chovia demais e Canindé resolveu esperar alguns instantes para levar Armando para o seu kitnet da Cidade onde o mesmo residia. Canindé observava o colega e chegou a tal conclusão do amigo não poder ir para o escritório da Rua Visconde do Uruguai, o bairro da Ribeira. A sua cabeça coçava e ele fazia caretas ao tempo em que dizia;
--- É danado! – relatava Canindé já estando em pé e olhando o temporal a cair.
--- É chuva muita. – respondia outro freguês para Canindé.
--- E agora tem mais essa! – apontou Canindé para o amigo Armando a recostar o pescoço na mureta do café.
O homem sorriu de forma leve e entrou em outra conversa.
--- Deu no rádio que houve chuva em todo Estado. Barreiras caíram. O trânsito esta sendo feito em somente uma pista daqui para Pilão.  – falou o homem acabrunhado.
--- Tem noticia de Sertânia? – indagou Canindé ao homem.
--- A coisa também esta ruim para aquelas bandas. Tem uma ponte do Exercito permitindo a passagem de um carro por vez.  E bem devagar. – relatou o homem sempre triste.
--- O senhor tem carros para aquelas bandas? – quis saber Canindé ao homem.
--- Meu cunhado tem. Ele está preso por causa do temporal. O menino dele disse que não tem como passar. – relatou o homem.
--- Por Sertânia? – perguntou de novo Canindé.
--- Não. Por Pilão. A barragem rompeu. Por sorte o menino tinha passado. O pai foi o que ficou pelo outro lado. É lama muita. Pedra. – relatou o homem acabrunhado.
As horas foram lentamente passando e Armando já estava disposto para poder andar. Apenas a voz não melhorara. Dona Dora perguntou o rapaz.
--- Tá melhor? – indagou dona Dora, preocupada.
Armando balançou a cabeça dizendo “sim”. Porém não falou coisa alguma, pois a sua garganta estava bloqueda. E Canindé olhou o tempo e viu uma pouca estiagem permitido sair para a farmácia onde Armando deveria procurar. E logo chamou o  amigo para sair.
--- Tem farmácia logo à frente. Eu penso que você deve passar por lá e o dono deve receitar algo para a tua garganta. É bom você hoje ficar em casa. Eu me ajeito por lá. – recomendou Canindé fotógrafo.
Armando fez sinal de “não”,  pois precisaria mandar artigos para os jornais.
--- Que jornais que nada! Eu vou fazer matéria e depois peço a Mario para redigir. Digo que você está doente. Ele faz. – falou Canindé tranqüilizando Armando.
Depois de tudo feito, Armando em seu kitnet, posto a contragosto por ter de ficar em casa, não desagradou Canindé. Esse foi ao Palácio procurar Garcia e se inteirar da real situação da chuva no interior para saber algo mais do que houve nas cidades mais distantes. O serviço de rádio permitia Garcia entrar em contato com qualquer região do Estado. Salvo pane no radio era então de imediato a resposta. Em alguns casos, Garcia procurava um rádio amador conhecido, geralmente da Corporação de Policia e até com o serviço de rádio da policia civil. Em seguida foi fazer fotos do bairro do Carrasco, Baixa da Coruja entre os demais. No caminho ficou sabendo Canindé da lagoa Seca. Nessa ocasião ela estava cheia e o volume de água a transbordar pelo terreno próximo. Apesar da chuva ainda constante Canindé fez as fotos. Esse trabalho foi feito com a ajuda do motorista Giba. Canindé, como sempre, contratou o carro para esses afazeres. Ao meio dia tudo estava terminado. O rapaz passou pelo Bar Lago Azul onde fez refeição e então foi para o escritório onde procurou revelar os filmes e tirar cópias. À chegada Mario, o fotografou informou da doença acometida a Armando. Então Mario coçou a cabeça e Canindé declarou.
--- Pergunte que eu respondo. Tudo mesmo. Casas desabadas, rompimento de estradas, lagoa Seca transbordada. Seja o que for eu sei dizer. Você tem aí as fotos.
Depois do meio dia, quando encerrava o expediente na repartição pública do Estado, Leane Ventura foi até o kitnet onde morava o seu amado Armando Viana. Sabedora do estado de saúde do namorado, recado o qual lhe dissera o fotógrafo Canindé, mesmo sem Armando na verdade ter conhecimento a moça logo terminado o expediente se largou para a casa de Armando onde também moravam outros jovens mancebos. Em lá chegando Leane entrou quase precipitada, empurrando a porta de vez e deixando-a aberta. Ao contemplar a figura de Armando fazendo gargarejos, ela de imediato perguntou como estava o rapaz. Este apenas calça e camiseta, e sem querer levou um bruto e inesperado susto. E procurou jogar fora o medicamento do farmacêutico para responder a Leane. Contudo ele ainda sentia coceiras na garganta e mesmo assim procurou falar. Também com as mãos para ajudar a moça entender.
--- Mais ou menos. – falou em gestos com as mãos.
--- Você não pode ficar na janela pegando vento. – reclamou Leane desesperada.
Armando quis falar, mas ainda estava bem rouco. Então procurou um papel para escrever a resposta ao dizer que ali estava apenas naquela hora, pois tinha que por o gargarejo para fora.
--- Eu sei. Mas procure se abafar! – falou a moça depois de ler o respondido pó Armando.
O rapaz estava constrangido pela visita inesperada de Leane. A moça chegou de repente no seu kitnet e o rapaz nem teve tempo de se ajeitar direto. Ele perguntou como Leane tomou conhecimento do fato e a moça respondeu:
--- O mundo! Todos já sabem! Se Canindé souber, o mundo com certeza sabe! – respondeu a moça inquieta.
Armando fez sinal de não se preocupar tanto assim com a sua situação, pois dentro de pouco tempo ele estaria curado.


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