sábado, 26 de março de 2011

DESEJO - 12 -

- Olivia Wilde -
- 12 -
No instante em que Armando Viana estava a entrevistar o deputado, entrava pela porta a direita do Palácio, pegando o Salão Nobre, a figura de Jurandir, o rapaz funcionário público do Estado, responsável pelos carros oficiais do Governo. Ele entrou depressa e mais que depressa atravessou a sala enveredando até o final do palácio chegando à cantina onde estavam outros servidores. O pessoal conversava o trivial. Uma senhorita também se aproximou da banca com um copo na mão. Ela sorriu para Jurandir e foi correspondida com satisfação. A senhorita era Nancy funcionário do Palácio. Sua idade era em torno dos vinte e cinco anos. Nancy era de uma estatura muito baixa, corpo esguio, pele clara, tinha um pai vereador. O rapaz Jurandir pediu apenas um café. Ela olhou para o rapaz e voltou a sorrir sem conversar. Com um pouco de tempo chegou o café. Em seguida Jurandir olhou a prateleira e vasculhou o que havia. Ele se fixou nas tapiocas e em seguida pediu uma das quais. A mulher, Nazaré, olhou para Jurandir, cara de nada satisfatória e em seguida serviu a tapioca. O rapaz sorriu de estremecer e se empanturrou de tapioca.
--- Ave Maria! Que fome! – relutou a moça Nancy ao ver tanta comilança.
O rapaz Jurandir quis sorrir, mas não tinha modos com tanta tapioca enchendo a sua boca. Nazaré foi quem falou:
--- É assim! Bicho bruto! – reclamou a mulher passando o pano em cima do balcão.
E um rapaz ao lado foi quem disse:
--- Mata ele antes que ele te mate! – gargalhou o rapaz.
E quase todos sorriram enquanto o garçom chegava com a bandeja para dona Nazaré por café nas xícaras pequenas as quais o homem trazia de outros gabinetes sediados na repartição. Ao chegar ao balcão ele cumprimentou a todos com um sorriso largo na face e passou o lenço na testa enxugando o suor àquela hora de começo da manhã.
--- Calor! – disse o garçom sorrindo para Jurandir nem se importando com a boca cheia de tapioca do rapaz.
--- Faz calor mesmo. – respondeu a moça ao lado de nome Nancy.
E aquietou-se no seu canto de balcão junto à parede do lado de fora da cantina. E na sua ação ele era toda encolhida por demais como se alguém ou algo a estivesse a ameaçar com um ataque imediato. Seu traje era de um branco meio cor de rosa. Ela usava em torno à cintura uma espécie de cordão para fazer o tipo de bela jovem. Mesmo assim, nenhum dos presentes notou esse adorno. No mesmo instante em que o garçom pedia o serviço do café a mulher Nazaré levou o copo de Nancy para ser lado e colocar o café. Logo depois ainda Nazaré lhe perguntou se teria algo mais a pedir.
--- Um bolo de coco. – sorriu Nancy para a mulher do balcão.
Então a Nazaré serviu a moça um bolo de coco enquanto o garçom passava o lenço na testa procurando enxugar o molhado do suor.
Quando acabava de descer a escadaria do Palácio onde esteve a entrevistar um parlamentar, Armando topou com seu amigo Canindé fotógrafo. Esse vinha do lado de dentro do Palácio, bem de dentro onde tinha o setor de comunicação por rádioescuta, todo suado e alertando a Armando estar a haver conflitou no bairro da Ribeira.
--- Têm confusão as pampas! – relatou Canindé fotógrafo
--- Quem confusão? – indagou Armando procurando se compenetrar após a entrevista.
--- Mataram um. – descreveu Canindé enxugando o suor da testa.
--- Ah. Isso não é comigo. – disse por vez Armando.
--- Não? Pois sim. O homem que mataram era o filho do meio do coronel Lustosa. – apostou o fotógrafo ao relatar tal fato.
--- Lustosa? E quem matou? Onde foi isso? – indagou Armando querendo saber com pressa de maiores detalhes.
--- Eu não sei. E vou pra lá agora. Hotel Internacional. Rua das Laranjeiras. Faz pouco tempo. O corpo está estendido do chão. Lustosa é inimigo do coronel Vitorino. Está toda a Polícia em estado de alerta. – disse de vez Canindé fotógrafo procurando ajeitar sua câmera.
--- Puta merda! E quem disse? – perguntou atarantado Armando Viana.
--- Quem disse uma merda. Você vai ou não vai? – declarou Canindé procurando se ausentar do Palácio com rancor.
--- Espere! Eu preciso de mais subsídios! Não é assim, não! Seu porra! – reclamou Armando.
--- Vai procurar teus subsídios que eu vou bater as fotos do morto. – reclamou Canindé aborrecido.
--- Espera porra! Eu preciso saber do nome da vítima. Como se chamava.! – relatou Armando afogueado com a notícia.
--- Era belzebu! – alarmou o fotógrafo afogueado e com pressa.
--- Espera seu bosta! Não é assim que se faz matéria. Temos que ir com muita calma! – relatou Armando correndo atrás do fotografo.
--- Vai com tua calma que eu vou fazer as fotos! -  correu Canindé batente a baixo.
--- O nome dele! O nome dele! – reclamou Armando a todo instante.
--- Vai no carro da assessoria ou não vai? – indagou com pressa o fotografo.
--- Vou! Deixa-me chamar o motorista de plantão! O nome do morto! – perguntou mais uma vez Armando.
--- Parece que é Alfredo ou coisa assim. -  falou Canindé enxugando o suor da testa com pressa.
Quando o fotógrafo e o repórter chegaram com pressa a Rua das Laranjeiras, próximo ao Hotel Internacional, o tumulto era generalizado. Gente muita ao redor do corpo da vitima. A polícia organizou o cerco em torno para afastar os curiosos. Mulheres da vida a chorar, outras a sorrir baixinho, homens a conversar.
--- Quem era o morto? – perguntava alguém.
--- Não sei. Nunca nem vi. – respondia outro.
Era um tumulto generalizado. Canindé viu o outro fotógrafo do Instituto Médico batendo fotos do corpo para a perícia. Ele não quis entrar no meio da roda e buscou subir em uma firma existente em frente ao Hotel, pegou a escada que dava para o primeiro andar, e com a permissão de alguém pulou para fora da firma ficando em cima de um parapeito e de lá pode tirar fotos do corpo da vítima, do pessoal enlouquecido para ver o morto, da rua nos dois sentidos. Enquanto isso, Armando procurava ouvir o tenente de guarda. O oficial era quem mandava o povo sair para mais distante formando um cerco em torno da vítima. Armando ficou sabendo o nome da vítima: Dr. Alfredo Lopes, filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes. E assim foi fazendo a matéria com todas as respostas obtidas com o comandante da corporação no local.  Depois de obter essas informações, Armando foi até o dono de o Hotel Internacional saber de maiores detalhes a respeito da vitima.
--- Eu não sei muito. – declarou o hoteleiro inquieto com aquela multidão e de ser entrevistado o momento inoportuno.
--- Mas o senhor viu ou ouviu os tiros? – indagou Armando ao hoteleiro.
--- Bem. Eu ouvi os tiros. A porta estava fechada. Quando eu abri a porta já encontrei o morto caído. – respondeu o hoteleiro um tanto aborrecido.
--- Mas o morto sempre vinha a este hotel? – voltou a indagar Armando de modo calmo.
--- Sempre vinha. Sempre vinha. Ele tratava dos assuntos da fazenda do seu pai. – declarou o hoteleiro com o rosto tenso.
--- E já havia feito reservas para esse dia? – indagou Armando ao hoteleiro.
--- Não. Ele não precisava fazer reservas. Tem um quarto só para ele no Hotel. – respondeu o hoteleiro um tanto aborrecido.
--- E a vítima tinha carro? Ele veio de carro? – perguntou Armando Viana.
--- Tinha, mas deixava no posto. É o que eu sei. – respondeu o hoteleiro impaciente.
--- O grupo que atirou nele? O senhor viu algum deles? – perguntou Armando.
--- Não. Isso eu não vi. Ouvi somente um chiado de borracha depois dos tiros. Foram bem uns dez ou doze. – lamentou o hoteleiro ao afirmar esse estrago.
--- O carro saiu na contramão? – perguntou Armando ao hoteleiro.
--- Saiu na mão mesmo. – relatou o hoteleiro franzindo a testa.

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