terça-feira, 1 de março de 2011

DESEJO - 05 -

- Rachel Weisz -
- 05 -
Eram às 17 horas quando o veículo do Governador atolou por completo no meio do arvoredo, distante de qualquer casa ou casebre. A chuva era intensa e intermitente. O motorista do Governador fez fica-pé no acelerador para ver se tirava o veículo do atoleiro. Com a chuva, a estrada de barro onde o carro de metera, era um verdadeiro lamaçal. Quando mais o motorista acelerava o carro, mas o veículo se afundara em um enorme buraco feito, com certeza, pela tração dos animais. O carro-de-boi era o mais fácil de conseguir tirar de um atoleiro como aquele. O motorista do veículo abaixou se molhando todo com a tempestade que caía. Ele procurou limpar as rodas dianteiras, porém viu o seu insucesso. O veiculo estava atolado até a metade das rodas. Giba veio logo para ajudar o colega motorista. Com o atoleiro do carro da frente, o de Giba ficava um pouco distante de se ver em igual circunstância. E o temporal caía a qualquer preço. Os dois motoristas lutaram a finco para retirar o veículo do lamaçal. Dentro do carro, o Governador se impacientava por demais. Ele tecia comentário desfavorável a Secretaria de Obras que não cuidava da estrada.
--- Mas aqui é uma estrada particular. Quem deve cuidar é o dono do local. – declarou o Secretario de Imprensa.
--- Mesmo assim. Alguém tem que cuidar. Do contrario eu tomo as rédeas do poder a qualquer custo. – reclamou o Governador cheio de suor pelo rosto apesar de estar fazendo frio.
A chuva ainda não amainava e os dois motoristas perguntaram um ao outro como poderia sair daquele atoleiro. A chuva fria e forte, a ventania acoitava toda a região. Longe de qualquer lugar para pedir qualquer socorro, Hemetério, o motorista do Governador perdeu todas as esperanças em sair do buraco aberto pelo rodar dos pneus. Apenas declarou que era preciso clarear o dia e então poder sair daquele atoleiro sem precedentes.
--- Governador! Vamos ter que passar a noite aqui mesmo. – declarou Hemetério todo encharcado de lama e barro deslizante.
--- O carro está atolado até o eixo! – disse também o motorista senhor Giba.
--- Isso é uma porra! E eu aqui feito um bosta! – reclamou o Governador.
--- Se não chovesse tanto assim, eu procuraria ver se tinha uma casa para o senhor ficar. – relatou o Secretário de Imprensa.
--- Casa que nada! Eu quero urinar, botar merda pra forra, limpar as mãos. E nada disso posso fazer por causa da bosta dessa porcaria de chuva. E do atolado carro nessa merda de uma porra. – esbravejou com todo o furor o Governador.
--- Governador. Tenha calma. Sossegue. Nós temos que passar a noite toda nesse buraco. – relatou o Secretario de Imprensa.
--- Calma uma PORRA!!!! –se enfezou o governador.
A chuva continuava e nem sinal de gente nas redondezas. O tempo estava escuro. A chuva açoitava forte. Relâmpagos e trovões açoitavam a rebelde tempestade. Nenhum carro passara até as dez horas da noite. E mesmo depois desse tempo. Já eram três horas da madrugada e o Governador conciliou o sono ao lado dos seus secretários. O motorista Hemetério também pegara uma madorna e no carro de trás, dormiam tranqüilo o repórter, o fotografo e o motorista. Foi então que a tempestade parou. Ouviam-se trovões vindos de longe. Um acoite era relâmpago também distante. Nesse ponto, o motorista despertou. A lua vaga e branca no céu parecia despontar por entre nuvens esmaecidas dando o sinal de que tudo afinal amainara por completo. O motorista Hemetério viu os ocupantes do seu carro a dormir. Ele fez sinal para o Secretário de Imprensa mostrado a luz da lua a navegar por entre nuvens. O Secretário de Imprensa viu o tempo calmo e então fez leve pigarro para despertar o Governador. Porem, esse estava de sono ferrado. A cabeça lhe pendia para a direita relatando um sono profundo. Hemetério fez ver ao Secretario de Imprensa ser melhor deixá-lo dormir, pois somente quando o dia clareasse tomaria a decisão de desatolar o gigante carro do Governo.
Ás 4 horas da manhã o motorista viu um rebanho de vacas a se aproximar. Conduzindo o gado estava um rapaz. O jovem ficou admirado de ver dois automóveis parados bem a sua frente. E nem falou por essa conta. Hemetério, espantando o gado, falou para o vaqueiro atônito.
--- Amigo, onde nós estamos? – indagou Hemetério todo sujo de lama.
O rapaz ficou na duvida em responder. E Hemetério prosseguiu.
--- Tenho aqui o Governador do Estado e seus secretários. Lá fora tem outro carro com gente de igual patente. Eu vinha pela a estrada. A ponte ruiu. Eu fiquei sem saber o que fazer. Entrei por essa estrada. A chuva que caía massacrou o carro. Ele está atolado até o eixo. E eu queria saber se tem alguém que me ajude a levantar esse monstro. – relatou Hemetério.
--- Aqui é a fazenda do Major Theodomiro. Se o senhor quiser eu posso puxar o carro com o carro de boi. – falou o moço vaqueiro.
--- Ótimo! Ótimo! Vamos fazer isso. – disse o motorista abrindo um largo sorriso.
--- O senhor espera? – perguntou o vaqueiro.
--- Mas é claro. Eu não tenho para onde ir. – sorriu desbravado o motorista.
O vaqueiro tangeu o gado para o pasto e foi buscar o carro de boi para tocar o serviço. Nesse ponto o Governador acordou e quis sair do automóvel. Porem a lama que estava por fora impediu a qualquer a ação do homem. E resolveu mesmo ficar sentado no banco traseiro do seu automóvel. O motorista veio lhe dar as boas novas. Então, o homem se alegrou. Armando, que já acordara, e o seu motorista, vieram para saber as novidades:
--- Carro de boi! – sorriu o motorista Hemetério.
--- Carro de boi que não geme não é bom. Carro de boi bom é o gemedor. – cantou Giba alegre e feliz com a solução do vaqueiro.
Em poucos momentos estavam no local o jovem vaqueiro e outras pessoas para alavancar o carro atolado. Com um pouco de tempo depois também chegou outro rapaz com um trator para puxar o carro. E com o tratorista veio também o Major Theodomiro bastante alegre a cumprimentar o governador, agora seu aliado.
--- O senhor não sabe a desgraça de se passar preso dentro de um carro numa estrada sem ter noção de onde se estava. – vez ver o Governador.
--- Agora o senhor está em boas mãos. Vamos até a minha tapera e lá nós conversaremos mais a vontade. Vamos montar um cavalo e depois o senhor descança de verdade, falou risonho o major ao seu triste companheiro.
O trator foi quem fez o trabalho alavancando o carro e puxando para fora do enorme buraco que conseguiu fazer ao se atolar. Depois, foi o carro de Giba. E finalmente, o fotografo Canindé tirou fotos de vários ângulos do trator e de ambos os veículos. Todos os que caminharam até aquela estrada estavam cansados e sem motivo pelo menos de sorrir. Após as seis horas da manhã, a destemida caravana de carros e trator chegou à frente da casa grande do Major Theodomiro.
--- Eu quero é água. – comentou o fotógrafo Canindé.
--- Água agora? E que fizeste da chuva? – sorriu Armando a galhofar de Canindé.
--- Pois é. Quero é água. – relatou vagaroso Canindé dizendo estar com uma sede danada.
Em meio a tudo isso estava o major Theodomiro a conversar com o Governador, soltando boas gargalhadas. Via-se o Governador aperreado, talvez a solicitar do seu protetor um instante para ele ir ao banheiro fazer suas necessidades habituais, pois era normal o Governador está àquela hora a precisar e ir à privada e até de tomar banho para se limpar de vez. O Major aceitou a ponderação do Governador e ensinou o local da privada. Do lado de fora, Armando e Canindé esticava os ossos enquanto duas mocinhas com sua pressa comum da idade desciam os batentes da escada do alpendre da casa grande a sorrir baixinho uma para outra. Ao passar por perto de Armando uma das quais o olhou sorrateira e ainda mais sorrio. O  rapaz fez de volta o sorriso a cumprimentar a mocinha.
--- Olá! – disse Armando a sorrir.
Isso de nada adiantou, pois as moças saíram na carreira procurando prender o riso afável. Canindé, por seu lado, apenas disse o que tinha a dizer:
--- Tem cuidado não! – falou Canindé a seu amigo Armando Viana.
--- Que tem de mais? Eu só cumprimentei, ora bolas! – replicou Armando a Canindé.
--- Sei Não tá mais aqui quem falou! – disse baixo Canindé.
Os secretários do Governador estavam no alpendre da casa grande a conversar baixinho. Não se sabe bem o que eles falavam. Porém, por algum motivo, o Secretario de Impressa teria dito da situação pela qual eles passaram e os crimes de morte entre vaqueiros e jagunços.
--- Cala tua boca. É melhor não falar nada! – respondeu o outro Secretário de Interior e Justiça.

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