quinta-feira, 31 de março de 2011

DESEJO - 17 -

- Penelope Cruz -
- 17 -
Após o almoço Armando Viana estava a repousar na sala de entrada e a contemplar as figuras expostas na parede de cima das estantes. Quadros bem velho. Talvez tirados de um desenho qualquer. Era o mundo de sonhos e quimeras para os herdeiros de tudo aquilo. Sonhos de um dia muito distante. Nesse instante a moça Norma Vidigal surgiu com vagas de entre a porta. Era uma verdadeira deusa aquela mulher sedução. E trazia consigo um copo de ponche ou algo assim para ofertar a Armando. Aquele era um convite de uma emoção em flor para o rapaz já imensamente cansado das aventuras inolvidáveis de uma manhã de sol. Enfim Armando aceirou o ponche trazido pela sua nova namorada, talvez, talvez. Ele estava a olhar um quadro de um homem de barbas longas. A moça notou e indagou do rapaz:
--- É belo o quadro? – indagou a moça ao rapaz.
--- Sugestivo. Talvez fosse uma pintura. Magistral. – respondeu o rapaz coçando o queixo.
--- Aquele é o coronel. Feitor de tudo isso onde hoje nós pisamos. – sorriu a moça.
--- Interessante. Há quanto tempo. Ele nem pensava em mim. – sorriu o rapaz em comentários.
Norma a sorrir se pôs a sentar no tapete a forrar o alcochoado de veludo do sofá se deitando com a sua cabeça no ombro amado de Armando. Ela também ficou a cismar os velhos retratos estampados na parede tudo aquilo como se fosse um sonho da eterna afeição. O retrato do Coronel Epaminondas Vidigal chamado de apenas Coronel Vidigal era o primeiro de todos da lista imensa estendida na ampla sala de visitas.
--- Epaminondas Vidigal era o seu nome. Porém todos o chamavam de Coronel Vidigal. Homem severo. Ele fez diversos tuneis por baixo da casa grande. Eu me lembro bem de dois. Um em direção as pedras da praia. E o outro em direção à  serra chamada de Serrote do Coronel. Esse se chamava de “Três Bocas”. Meu pai me contava quando eu era criança. Certa vez, o Coronel fez emboscada a um bando de bandidos sanguinários comandados por tal alemão. Já nem me lembro o nome do facínora. Parece ser Josef. O Coronel emboscou a turma toda em Três Bocas e ele matou quase todos. Só escaparam uns poucos para contar a historia.
--- Puxa! – falou Armando alarmado com a estória.
--- Ora mais. Na Pedra Grande, a que dá na praia, ele matou um sem numero de corsários. Eles chegaram num Galeão para roubar tudo o haver de fortuna, prata, ouro, diamantes e comida mesmo. O velho Coronel Vidigal quando soube do saque deslocou os seus capangas e índios aqui servindo pelo túnel da Pedra Grande e esperou o momento de atacar. Os jagunços, os índios e mais uns escravos libertos.  A praia se encheu de corsário. Tudo quito. Quando os corsários se arrancharam, os índios atiraram flechas umas atrás das outras acertando em cheio os bandidos. Esses corsários começaram a atirar. Foi à vez dos jagunços do Coronel fazer fogo também. Era flecha pelo ar e as carabinas comendo fogo. Só sobraram os que fugiram para o Galeão. A praia ficou coalhada de bandidos mortos. – descreveu Norma a sena.
--- Ora merda! – respondeu alarmado o jovem Armando.
--- Quer saber de outra? – indagou sorrindo a jovem Norma.
Sem querer forçar a mente da moça cuja emoção era maior daquele momento, Armando, sem muito querer disse-lhe apenas se tinha outra historia capaz de contar.  Norma sorriu e respondeu de muitas aventuras e peripécias do coronel e outros famigerados donos de terra em busca de tomar mais terra. A do Coronel Vidigal era uma das maiores terras já vistas na região. E por isso ela era muito cobiçada por outros fazendeiros. Ao pedir algo mais do acontecido nos tempos do Coronel, a moça Norma fez um:
--- Depois eu conto mais. Agora nós vamos tomar banho de mar. Passear na praia. É o que se deve fazer de melhor. Ver a praia. – sorriu franca a jovem enamorada.
Armando Viana sorriu e concordou até por que não teria a intenção de fazer a jovem e augusta moça tanto falar dos seus ancestrais, uma vez ter o assunto um tanto desgastado para ele, um repórter de cidade vindo de província. Com certeza o velho Coronel Vidigal devia ter sido um português misturado enfim com puro espanhol, certamente. Nisso pensava bem Armando matutando consigo mesmo. Tomaria por sinal Armando a partir de Vidigueira, de pura origem espanhola. Família de punho linho Real. Com isso o rapaz deu por encerrado o seu raciocínio sobre o sobrenome Vidigal.
Andando por mais extensos passos ele viu uma encosta de cerca de vinte metros de altura. E ficou Armando a imaginar ser aquele o local da chamada Pedra Grande. E ele então indagou a Norma não ser aquele o local assumido pelo Coronel Vidigal para ser à saída do túnel cuja entrada era bem estreita, dando passagem a um homem. Ela ficou curiosa com o acerto tido por Armando e chegou a lamentar ter sido tão desprevenida a contar uma estória de longos tempos. E então ela perguntou ao rapaz.
--- Como você descobriu a entrada ou saída da Pedra Grande? – indagou a moça plenamente assustada.
--- Perguntei por perguntar. Apenas isso. – sorriu Armando a decifrar o tal segredo da Pedra.
--- Mas você é daqui mesmo ou é um estudioso das façanhas dos antigos homens da região? – averiguou a moça assustada.
--- Nada disso. Eu vi a Pedra, examinei com perfeição o local e aventurei a indagar de você. – sorriu Armando acochando a moça ao seu peito.
--- Vou acreditar no que você diz. – sorriu a moça a olhar a Pedra Grande.
--- Tem muitas falésias por toda a região. Pelo menos uma era a que mais se destacava entre as demais falésias. – argumentou o rapaz.
--- Inteligente e curioso você. – sorriu a moça se acomodando no peito do rapaz a verificar de modo amplo o segredo da Pedra Grande.
--- São coisas simples as que guardam maiores segredos. – sorriu Armando ao explicar a sua descoberta da Pedra Grande.
--- Tens pura e total razão. – sorriu a moça por ser tão desprevenida com o assunto.
E a partir desse ponto Norma Vidigal tomou por dianteira a dizer o lugar ser proveitoso para o Coronel Vidigal fazer o seu extenso túnel por entre a casa grande e a praia e a enfrentar os pretensos invasores aventureiros e piratas por ventura existentes naquela região desprovida de maior vigilância no tempo de 1850 quando o velho coronel se apossou do lugar por ordem do Rei do Portugal. Outros posseiros também chegaram ao interior e fizeram do lugar o seu sustento para si e a sua família. Foram muitos os posseiros de terra devoluta a residir no novo Continente descoberto por Portugal. Era uma região inóspita só habitada por fazendeiros, seus vaqueiros, capangas e índios pacificados. A guerra pela posse das terras era um inferno onde o mais forte dominava o mais fraco. E Norma relatou:
--- Eu vivo hoje. Porém, quando eu era menina, um velho, seu Homero, chegou a me dizer ter havido muito sangue derramado por essas bandas. E relatou: no túnel do Coronel Vidigal havia coisas estranhas, como uma sala dos mortos vivos. Os escravos eram confinados ali para o resto da sua vida. Esse os escravos rebeldes. O que fugisse era capturado e levado para o salão dos mortos vivos. Eu tremi de medo com esse relato. E tinha um buraco sem fim. Quem caía do buraco não mais se achava. Era como quem chegava ao inferno. – contou Norma ao seu amado.
--- Nossa!!! Será que tem ainda esse buraco? – indagou Armando assombrado.
--- Deve ter. Deve ter. Eu nunca fui ver. Aliás, eu nunca entrei no túnel, se você quer saber. – descreveu Norma assustada também.
--- Você não tem coragem de ir agora comigo? – indagou Armando à moça para ver sua reação.
--- Deus me livre! Nunca! – respondeu Norma assustada até a medula.
--- Vamos! Só perto. A gente não bole em nada! – sorriu Armando cutucando a moça.
--- Vai tu se tens coragens! – deflagrou Norma se soltando de Armando para encetar corrida.
Armando Viana soltou uma bela gargalhada e perseguiu a jovem linda e atormentada pelo convite que lhe fizera o rapaz. A moça corria e atrás dela, Armando. Dizia apenas:
--- Espere! Espere! Não corras! Eu estava galhofando. Espere! – respondeu Armando a moça.
Mas não houve conversa. Quando terminou as forças de Norma essa caiu ao chão. E quase desmaiada olhou para o seu namorado e lhe disse:
--- Por favor. Nem fale nessas coisas. – reclamou Norma quase a chorar.
O rapaz lhe fez agrados como se estivesse acabrunhado por ter feito a moça quase chorar. Ele na verdade, não queria fazer o que fez. Apenas procurou fazer uma graça com a moça. E se ajoelhou junto a Norma fazendo mil carinhos. Ela se compenetrou e apenas relatou:
--- Eu contei essa estória, mas você nem fale a meu pai, se um dia conhecê-lo. Eu peço que você jure pelo amor de Deus.! – soluçou a moça se estreitando ao peito do homem.
--- Eu juro. Pode deixar. Não falo a ninguém. – respondeu Armando  compassivo.

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