segunda-feira, 28 de março de 2011

DESEJO - 14 -

- Faye Dunaway -
- 14 -
O comandante avançou bar adentro empurrando com os próprios pés as portas dos quartos onde alguns noturnos dormiam a vontade enquanto outros militares detinham o dono do bar, seu Neco, o repórter e o fotógrafo. O repórter Armando Viana não faz qualquer esboço de fuga como também o fotografo Canindé. Esse, aproveitando a ocasião registrou a ação da policia. Os soldados estavam totalmente aparelhados e apenas diziam:
--- Deita! Deita! Deita! – relatavam os policiais.
Era uma balburdia tremenda aquela que acordava a todos no instante da manhã. No bar, os homens nem tentavam correr, pois a porta de saída e de entrada estava fechada por militares fardados e fortemente armados de revolver e escopeta. As poucas mulheres que estavam a despachar apenas choravam com medo não se sabe de que ou por que. O Coronel empurrou com um pontapé a porta do quarto onde estava dormindo ainda os três jagunços e estes ao acordar, viram-se cercados pela tropa armada. Um deles tentou puxar a arma, porém a tropa toda acudiu o coronel disparando sem cessar os tiros de escopetas contra o jagunço. O marginal caiu deitado, esparramado contra a parede, ficando de qualquer jeito, pernas abertas, corpo todo crivado de bala, mãos abertas e apenas um grito de terror ele soltou.
--- Ai! – gritou o jagunço a morrer.
Os dois outros se levantaram e disseram:
--- Não atire meu coronel! Não atire! Estamos rendidos! – gritaram apavorados os jagunços.
A tropa toda caiu em cima dos dois marginais enquanto alguém da tropa retirava do encosto da parede o jagunço ferido de morte. Esse nem mais falava. O Coronel foi até a sala dos fundos e encontrou o restante da tropa fazendo revista nos outros homens que estavam detidos. Ao ver o repórter, ele mandou soltá-lo bem como o fotógrafo. Ficou apenas Neco, dono do bar. Esse era apontado pelo militar como cúmplice dos jagunços. Daí em diante, o repórter Armando Viana foi tomar mais novos apontamentos ouvindo o Coronel da Polícia. O fotógrafo Canindé aproveitou da oportunidade para fazer novos flagrantes. O Coronel pediu o nome de Armando e esse disse como também o do fotógrafo. O Coronel sorriu e findou dizendo:
--- Vocês foram mais rápidos que a Polícia! – falou com um sorriso trancado o coronel.
O repórter Armando nem precisou perguntar o nome do coronel militar, pois o mesmo estava estampado na lapela do fardamento: Coronel Ferreira.  Com isso, dessa matéria estava tudo concluído faltando apenas os depoimentos dos dois assassinos, vez que o terceiro jagunço estava morto, tendo sido deixado onde a perícia seria feita pelo médico legista algumas horas depois. Três soldados bem armados guardavam o corpo da vítima. O bar, naquela hora não mais funcionou. Seu dono, Neco, foi levado igualmente para o Distrito Policial onde prestaria depoimento a respeito de hospedar os três jagunços responsáveis pela morte de Alfredo Lopes na manha do dia passado. O repórter Armando Viana teve um dia cheio de afazeres, pois seria o único a visualizar a prisão dos criminosos. E Canindé fotógrafo ainda comentou:
--- Eu sabia que ainda ia dar confusão! – respondeu Canindé quando chegou a Delegacia.
No dia seguinte Armando Viana recebeu em seu kitnet a visita da moça do Cartório. Seu nome: Norma. O rapaz já estava de saída para o Café do Mercado. E até se assustou com a tal vista tão inesperada para ele. De qualquer forma não mostrou a sua desatenta conduta. E assim Armando se mostrou tranquilo a ver Norma em dia de trabalho, vestindo um verde claro, saia longa, busto proeminente, cintura fina e uma flor ao lado do busto. Ele quando abriu a porta de seu kitnet se deparou com aquela imagem de mulher sedutora. E um sorriso lhe chegou tão assim de repente daquela nobre e extasiante figura de jovem moça. O rapaz se refez da extasiante juvenil moça a qual nada pode dizer. Apenas o que ele confessou:
--- Ora viva! Tão cedo e por aqui? – disse Armando a moça procurando não demonstrar seu susto de tal inesperada visita.
--- Eu já ia a passar e vi você que ainda estava no seu apartamento. – sorriu a moça Norma espraiando um leve perfume de flor.
--- Ah sim. Eu já estava de saída. E foi quando você chegou tão de repente. – argumentou o rapaz ajeitando-se por completo.
--- Eu sei, Também já vou trabalhar. E te quero deixa essa humilde lembrança. – sorriu Norma ao entregar uma rosa ao seu galante personagem.
--- Ora, pois. Uma rosa. Que presente divino! – ele recebeu e cheirou a rosa.
--- Não se cheira rosas. Guarda-se  em locais  de toalete. – sorriu a moça ao repreender o rapaz
--- Eu não sabia de tal coisa. – sorriu Armando Viana.
--- A propósito: o que tens a fazer nesse próximo domingo? – indagou a sorrir a moça Norma.
--- Eu? Creio que nada! Leio os jornais, escuto rádio, além de tomar café no Mercado e também de ir almoçar no boteco do Sinésio. – sorriu com franqueza Armando à moça.
--- Bem. Eu tenho um programa mais interessante a fazer. – sorriu Norma esperando ouvir a indagação do rapaz.
--- É? Qual é esse programa? – indagou o moço Armando com surpresa.
--- Praia! – ressaltou a moça sem duvidar do impacto do motivo.
--- Na verdade, é um bom lazer: a praia. Porém resta-me saber qual é essa praia. – quis aventurar Armando uma resposta decisiva.
--- Tem várias praias nesse litoral. As mais afastadas são melhores. – sorriu Norma ao rapaz.
--- É verdade. Mesmo assim há um problema: condução! – respondeu Armando a moça.
--- Isso não é problema. Vai-se de carro. Você sabe dirigir? – indagou eufórica a moça.
--- Confesso que ainda não tirei a minha carta. E é bem certo também não saber dirigir um veículo automotor. – respondeu acabrunhado Armando vendo o seu passeio ir por água a baixo.
--- Por isso não se desiluda. Eu sei dirigir veículos. E o meu pai tem um automóvel. Ele sempre me oferece a dirigir em seu lugar. No domingo eu pretendo ir a uma praia bem mais distante que outras. – sorriu Norma ao formalizar o tal convite a Armando.
--- Quer dizer que vão você e o seu pai? – indagou com pressa o rapaz vendo o declínio da esperança em também poder ir a praia.
--- Não. O meu pai não sai de casa. Eu mesma pretendo ir. E se você quiser me fará companhia. - relatou a moça querendo saber das intenções de Armando.
--- Só você? – argüiu Armando de modo intranqüilo.
--- No caso, eu e você. – sorriu Norma ao sentir a fragilidade de Armando em sair de casa.
--- Sabe? Não me leve a mal! Temo por sua segurança. E no caso de uma praia distante é bem mais perigoso de se aventurar. – recomendou Armando a Norma.
--- Temos casas na tal praia. E não mora ninguém. Geralmente eu cuido da casa quando tenho a oportunidade de ir. Isso, aos domingos. – sorriu Norma cheia de orgulho.
--- A bom. Assim é outra coisa. Pois eu vou me arrumar para a tal viagem. Onde você mora mesmo? – perguntou Armando a Norma.
--- Aqui perto. Eu te pego em teu apartamento. – sorriu Norma ao ver cumprido sua missão.
E os dois saíram do kitnet caminhando em direção ao cartório. E, por sua vez, Armando se deslocou para o café do Mercado com a cabeça plena de idéias absurdas. Ele estaria só com a moça por todo o domingo. Com relação à Leane, essa ele daria um  jeito para atender aos seus anseios de moça tão dedicada ao seu doce lar. Na verdade, Armando namorava Leane, porém não era todo o dia que estava em sua casa. Isso por causa de compromissos de trabalho. Ainda havia os desacertos de namoro quando tudo terminavam em discussão. Armando costumava ir a casa de Leane apenas no sábado. Nos demais dias da semana, eles às vezes se encontravam e conversavam por pouco tempo. O trabalho de jornalista era árduo para Armando. Mesmo assim ele era um profissional dedicado ao oficio. Para bem dizer, o rapaz não bebia e nem fumava, coisa que era habito entre os demais companheiros. Outra coisa que ele era avesso se dizia o sindicato dos jornalistas. Quando havia assembléia geral. Ele até podia estar presente. Mesmo assim, por toda a vida jamais quis assumir um cargo ou função na direção do grêmio representativo da classe. Ele sempre alegava não haver tempo para tal caso. Era associado apenas do Sindicato e pagava regularmente as suas mensalidades.
--- Não tenho tempo! Estou ocupado! Estou a viajar para o interior! – dizia Armando.
E desse modo ele escapava de assumir funções na diretoria sindical. Havia gente que lhe perguntava o porquê de tudo isso. Ele apenas dizia estar ocupado e nada mais. Nem mesmo as promoções festivas do grêmio ele freqüentava. Apenas uma vez ele apareceu em um jantar de confraternização organizado pela entidade. E foi e logo saiu sem mais nem menos. Naquele instante, a vida sentimental do rapaz parecia ter tomado um novo rumo. Ele aceitou em ir à praia com a bela e estonteante Norma de Vidigal. A mulher insinuante aparecida em sua modesta existência.

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