domingo, 27 de março de 2011

DESEJO - 13 -

- Mischa Barton -
- 13 -
Canindé fotógrafo chegou esfogueado logo após fazer as fotos do Dr. Alfredo Lopes, inclusive a Identidade Civil onde continha a foto do homem e se largou para o laboratório de revelação. Ele estava agoniado por tudo e por nada. Suava por todos os poros. Ao entrar na sala olhou e viu Armando Viana. O rapaz já estava a digitar a matéria sobre o crime de morte do advogado filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes conhecido muito bem por Coronel Lustosa. Canindé ainda perguntou a Armando se a polícia tinha alcançado os matadores de Alfredo Lopes. Em resposta Armando disse apenas:
--- Não! Mas pegam! – falou Armando com os olhos pregados na máquina de datilografia.
--- Ah Bom. Tenho a foto da vitima. – relatou Canindé e entrou no laboratório.
Armando estava só, pois aquela manhã o seu outro redator não aparecera no escritório, pois estava de serviço da FAB. Humberto Patrício era o seu nome. O horário da FAB variava dia após dia. Naquela manhã Humberto chegaria à tarde para o trabalho. O seu rádio estava desligado e Armando nem pensava em ligar o imenso rádio todo feito de ferro. Se alguém perguntasse o que era aquilo, Armando apenas respondia:
--- Um rádio. – e se trancava em seu serviço.
O equipamento sonoro fora conseguido por Humberto Patrício no setor de despachos da FAB. Porem, ele levou para o escritório. E quando ele estava digitando matérias no escritório de Armando ouvia o radio apenas em suas transmissões de código Morse. Isso, de certa forma deixava Armando um pouco aborrecido, pois reclamava constantemente.
--- Isso é uma mania desgraçada. Passa o dia a ouvir esse ti-ri-tim-tim. – reclamava Armando.
--- Hê Hê! – fazia Humberto a sorrir.
Na matéria do morto Armando abriu com vexame: - ALFREDO LOPES – em corpo maior. Em seguida pôs: Assassinato à Sangue Frio. – Esse era um subtítulo. E daí começou a matéria contando a narrativa do trucidamento da vítima. Alfredo Lopes era advogado e estava na Cidade a trato de negócios da fazenda do seu pai. Era costume ele se hospedar como de fazia no Hotel Internacional e naquele dia estava a chegar quando um bando de jagunços lhe alvejou pelas costas. Após o trucidamento, os bandidos fugiram em um automóvel para lugar incerto. A polícia foi acionada para a captura dos jagunços em toda a região da capital. A matéria foi extensa, pois Armando teve a contar ser Alfredo Lopes filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes, homem de severas posições políticas e tendo como inimigos ferrenhos diversos personagens de igual patente no interior do sertão. Naquele dia Alfredo Lopes tinha chegado a capital para tratar de assuntos com efeito ao abate de gado. Essas entre outras noticias do homem morto.
Logo após essa trágica noticia Armando apenas olhou as fotos trazidas por Canindé e pôs a da Identidade junto com a cena do aglomerado de gente na Rua da Laranjeira e em seguida levou todo o material da o jornal “A Imprensa” para efeitos de publicação. O fotógrafo Canindé seguiu com o companheiro até a redação do jornal.
Quando chegava às dezoito horas, Armando Viana caminhava para o restaurante onde fazia costumeiramente as suas refeições do meio dia e da noite. Ele caminhava de cabeça baixa pensando no desatino sofrido pelo advogado Alfredo Lopes, na ação da Policia para a captura dos algozes assassinos e o que faria no dia seguinte. Nesse instante alguém tocou as suas costas. Ele estremeceu de susto. Armando olhou de imediato para ver quem era e de imediato distinguiu a figura de Norma. Um frio lhe cortou a espinha, porém logo ficou alegre por ser alguém que ele há tempos não tinha noticias apesar de trabalhar no Cartório da mesma rua onde morava. Atento a situação ele se refez do susto. E Norma sorriu do medo que empregou no rapaz.
--- Teve susto? – indagou a sorrir a moça.
--- Nossa! E muito! Como vai você? – indagou Armando a Norma.
--- Normal! Normal! Não tanto como alguém tão ilustre como você. -  sorriu Norma adiantando o passo para seguir de perto o seu amigo.
--- Ilustre! É o que você pensa! Operário da noticia! – reclamou Armando  a moça.
--- História! E estás indo para onde? – indagou a moça.
--- Vou ao café. Apenas. – sorriu Armando para a moça Norma.
--- Ah bom. Eu saí um pouco mais tarde e estava vagando quando descobri então você. – sorriu a moça como distraída.
--- É verdade. Eu e meio mundo. O pessoal está saindo agora do trabalho. – relatou Armando.
--- É verdade. Mas os outros são os outros. Apenas você é quem dá maior importância. – sorriu Norma a gracejar com Armando.
--- Você quer ir ao café? – indagou o rapaz desnorteado com a conversa.
--- Não. Eu vou seguir em frente. Até a minha casa. Amanhã a gente se encontra! – relatou a moça seguindo direto para a rua de sua casa.
--- Amanhã! Está certo! Eu sigo por aqui mesmo. Até! – respondeu Armando a Norma.
No dia seguinte, logo cedo Armando Viana estava no café do mercado a ouvir conversas. Na mesma hora também estava ao seu lado o amigo Canindé fotógrafo. Um dos presentes comentou a noticia do jornal “A Imprensa” adiantando não saber o porquê o jornal não teria posto o nomes dos criminosos, pois ele adiantava que eram três os jagunços autores da morte: Zé Coelho; Canhoto e Cininha.
--- Quem te deu a notícia? – indagou Armando de sobressalto.
--- Ora! Todo mundo viu os jagunços. Só o jornal não deu! – respondeu o homem falante.
--- E eles onde estão? – voltou a perguntar Armando.
--- Agora eu não sei. Mas eles estavam no bar de Neco. – respondeu o homem.
--- Naquela hora? – indagou Armando querendo saber mais.
--- O dia todo. Eles estavam lá há dois dias. – falou o homem com altivez.
Nesse ponto o fotógrafo Canindé se preparou para fazer o flagrante do homem entusiasmado em saber demais que a Polícia, pois àquela hora continuava às tontas a procura dos jagunços. E Armando Viana esquadrinhou o homem de meio a meio se ele sabia tanto então por que não dizia a ninguém o assunto.
--- Eu não! Eles que se virem! Duvido que eles descubram! – reclamou o homem enfezado.
--- Como é o seu nome? – indagou Armando ao homem.
--- Porfírio. José Porfírio. Seu criado! – relatou o homem a Armando.
--- Vamos fazer um negócio. O senhor me diz o que sabe e eu não revelo quem me disse! Feito? – indagou Armando jogando as cartas na mesa.
--- Não! Pode por que fui eu. E quem é o senhor? – perguntou Porfírio a Armando.
--- Eu trabalho no jornal. E não sabia quem eram os jagunços. E você conhece o homem Neco? – perguntou insistente o repórter.
--- E quem não conhece? Ele tem um bar na Alameda Quatorze perto da Rua Quinze! – relatou o homem cheio de si.
E Armando Viana pôs a conversa em dia levando a seu lado o homem até ao seu escritório onde conversou por um bom tempo entre várias questões alusivas ao assassinato de Alfredo Lopes, filho do Coronel Manoel Lustosa Lopes. Após diversas fotos e conversas, algumas sem nexo, o homem seguiu com Armando Viana até o bar do Neco. Por precaução, Armando evitou a entrada de Porfírio e buscou informação direto como o dono do estabelecimento. De início, Neco relutou em falar, dizendo apenas meia conversa. Não sabia quem eram os homens. Mas eles estiveram no bar. E quando Armando falou em ameaça a imprensa então foi que Neco concordou em falar sob rigoroso sigilo.
--- Os três estão a dormir nos quarto reservado. – respondeu Neco dentro da casa do bar.
--- Eles estão aqui mesmo? – indagou alarmado o repórter com o auxilio do fotógrafo ao seu lado a registrar a fala de Neco.
--- Mas eu não quero ver nem a polícia aqui! – declarou alarmado com os olhos arregalados com medo dos jagunços acordarem.
Nesse justo instante três carros da rádio-patrulha estacionaram em frente ao bar do Neco. As viaturas estavam cheias de soldados fortemente armados. Homens carrancudos, alguns com o rosto coberto por um capuz. Eles se posicionaram em frente ao bar, na Alameda Quatorze em um verdadeiro aparato militar sem contemplação. Um coronel da Policia se adiantou de vez penetrando no bar seguido por uma tropa muito bem armada e gritando.
--- Ninguém se mexe. Todos estão detidos! – gritou o oficial de campanha.

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