domingo, 1 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 19 -

- Esmeralda Moya -
- 19 -
DESACERTO
Quando chegou à tarde, o pistoleiro Renovato Alvarenga estava espojado na cadeira estofada, a sua predileta, sob o alpendre em frente a casa grande fazendo uma raspa com seu canivete em um pedaço de palito de algum galho qualquer. Com seu chapéu posto na cabeça ele notou a presença de um garrote se aproximar. O garrote parou em frente ao alpendre, mesmo no local onde estava o pistoleiro, sendo na parte de baixo, olhou para Renovato e deu um mugido. Renovato olhou para o bezerro e de momento fez com o dedo polegar estirado que a sua mãe estava na vacaria. O bezerro parece ter entendido o informe e saiu a galope, chutando as patas de trás para um lado e para o ouro e continuava a mugir alegremente. Então o pistoleiro sorriu e baixou o seu chapéu cobrindo os olhos se deitado um pouco com as pernas esticadas para frente e o busto quase em “L” para o encosto da cadeira. Nesse momento, a mocinha Emília sorriu como que. O pistoleiro nem prestou atenção quando Emília chegou no alpendre. Mas, a garota percebeu toda a cena do bezerro e o mandar de volta pelo pistoleiro apenas a apontar com o dedo polegar sem dizer palavras. E com isso, Emília resolveu indagar do pistoleiro se ele sabia a linguagem dos bezerros. O pistoleiro suspendeu a aba do chapéu e olhou de lado para onde estava a moça. E disse:
Renovato:
--- Certamente ele estava perguntando por sua mãe. E eu apontei para a vacaria. – respondeu Renovato e depois abaixou a aba do chapéu voltando a sossegar no estofado.
Emília:
--- (sorrindo) – Mas não é possível! Um pistoleiro entender a linguagem dos bezerros? – respondeu descrente a moça.
O pistoleiro então suspendeu a aba do seu chapéu e respondeu para Emília:
Renovato:
--- Menina! Antes de me tornar pistoleiro, como você sente que eu sou deveras eu sou alguém. Alguém do ser humano. E alguém vivedor pelas caatingas do sertão. – e baixou novamente a aba do seu chapéu.
A moça calou por alguns segundo, Parou de sorrir, pois entendeu ter ofendido por demais o pistoleiro. Mesmo assim, ela veio para o que veio e entregou uma foto a Renovato.
Emília:
--- Perdão pelo que te falei. Agora vim te dar a foto da tua mulher. Estava caída no banheiro da casa grande. – respondeu magoada a mocinha.
O rapaz se moveu apressado para olhar se a foto era mesmo a de Josefina, a sua irmã. Ele apalpou o bolso na correria e se levantou do estofado respondendo em seguida:
Renovato:
--- A foto? Josefina? Estava no chão? Quase a perdi! Ela é minha mana! Josefina! É freira! Aqui, ela era apenas mocinha. Foi antes de entrar para o convento! – e beijou a foto pondo então na algibeira.
Emília:
--- Sua irmã? Pensei que fosse sua esposa! –respondeu a moça totalmente desnorteada.
Renovato:
--- Não! Ela me salvou de boas nessa vida malsinada que eu tenho! Minha única irmã! Deus tenha como uma magnífica freira! Querida! – reportou Renovato um pouco a chorar.
Emília ficou atormentada com a foto da moça Josefina por longo período, pois já a tinha visto em outra vez quando a entregou a Renovato na ocasião onde o homem estava a tragar comida na sala dos vaqueiros e esse beijou a foto do mesmo jeito dessa ocasião. Um nó prendeu a sua voz e Emília não podia sequer falar. Na verdade, a moça chorou de emoção por ver a irmã do renegado pistoleiro, homem disposto a matar para viver. Uma Freira, com certeza. Era tudo, a saber, a jovem Emília. De imediato, a moça rodou nos pés e se enveredou na carreira pela varanda onde entrou na casa grande e a chorar continuamente em desespero e comoção. A sua mãe passou por perto e Emília desguiou a rota para não deixar ser percebida de seu desdito sobressalto. A mulher ainda procurou ver se estava tudo bem, mas a moça se largou casa a fora e entrou no banheiro feminino. Dona Iracema nada mais falou ou perguntou a sua filha.
O tempo nublado deu um sono no pistoleiro e esse agarrou no sono em plena tarde. Era um sono profundo e o homem dormiu de abrir a boca e ressonar. E teve um sonho não bem entendido pelo pistoleiro. Estava ele deitado em uma cama de algum lugar quando ouviu ao surpreendente. Era uma ave ou coisa assim a emitir gritos loucos e ele não sabia de onde vinha nem mesmo de qual espécie de ave era aquele matraquear. De repente, após sobrevoar diversos espaços, a ave veio se alojar em seu peito. O caso assombrou o pistoleiro. De repente o homem acordou e sentiu batimentos em seu coração. E por fim tudo não passava de um pesadelo. Renovato procurou se aquietar e viu chegar à moça Ludmila. A jovem olhou para o céu nublado e se desvaneceu do pretendido. Ela olhou para Renovato e falou:
Ludmila:
--- Ainda vai chover daqui pra mais tarde! – relatou a moça tirando a mão da testa.
O pistoleiro recolheu as pernas, passou a mão nos olhos e não disse nada. Esperou da moça se sentar em uma almofada bem próxima à dele. E foi o feito em consequência. Ludmila, com as pernas ligeiramente arqueadas, perguntou ao pistoleiro.
Ludmila:
--- O senhor estava a dormir? – indagou a jovem.
O pistoleiro então se espreguiçou com os braços para cima e respondeu quase sem querer.
Renovato:
--- Um pouco. Nada de mais! – bocejou o homem
A moça sorriu. E depois de instantes respondeu ao pistoleiro:
Ludmila:
--- Eu vi uma coisa que me deu vontade de sorrir. Antero dormindo. Mas parecia um bebê. – disse a moça a sorrir.
Renovato:
--- A gente se cansa de tanto vera morte! – disse mais Renovato.
Ludmila:
--- Cruz, Credo! O senhor também! – fez vez Ludmila  se benzendo toda.
O pistoleiro então falou bem sério.
Renovato:
--- Verdade, moça! Eu estou aqui apenas de plantão! A qualquer instante posso está matando alguém. A senhora não sabe como isso ocorre. Se não fosse o acordo eu já estaria de mundo a fora. – relatou o pistoleiro.
Nesse momento chegou a sua charrete conduzida por um cavalo e tendo mais dois cavaleiros o prefeito da cidade de Alcântara, o senhor Jorge Nepomuceno.  Ele foi logo descendo do veículo e dando boa tarde a senhorita Ludmila. Ela em troca respondeu. O homem fez um sopro de quem estava cansado e perguntou pelo deputado Godinho:
Ludmila:
--- Ele dorme senhor. Mas eu creio não ser tao urgente à visita, pois eu vou chama-lo com certeza. – respondeu Ludmila.
Jorge:
--- Pois não. Eu o espero. Se não for incomodo a senhorita! – disse ainda o prefeito
E Ludmila entrou em sua casa grande enquanto o pistoleiro se levantou e foi até a esquina do alpendre se escorando no pilar, com um dos pés a escorá-lo e a olhar bem para os dois jagunços, pois os mesmos não inspiravam a menor segurança a saúde de Jorge Nepomuceno. Os jagunços também não se inquietavam nem um pouco com a saúde do pistoleiro Renovato homem muito esperto para se notar. Renovato percebeu quando um jagunço começou a descer de sua montaria, como se fosse algo bem difícil. O jagunço a olhara a cara de Renovato até tocar o pé no chão e o pistoleiro com seu duplo carregamento de armas a olhar quieto o jagunço. Aquele era o tipo de jagunço o qual Renovato não temia nem de olhos fechados. Por isso, ele ficou tranquilo, porém cismado por qualquer ação iminente do jagunço mais parecido com um remoto pistoleiro. Após apear de sua montaria, o jagunço, cheio de calma foi até a bomba de água e retirou um caneco para poder beber. Isso, a todo instante a olhar para o pistoleiro Renovato. E o pistoleiro também fitou o jagunço a todo instante.

Nenhum comentário:

Postar um comentário