- Esmeralda Moya -
- 19 -
DESACERTO
Quando chegou à tarde, o
pistoleiro Renovato Alvarenga estava espojado na cadeira estofada, a sua
predileta, sob o alpendre em frente a casa grande fazendo uma raspa com seu
canivete em um pedaço de palito de algum galho qualquer. Com seu chapéu posto
na cabeça ele notou a presença de um garrote se aproximar. O garrote parou em
frente ao alpendre, mesmo no local onde estava o pistoleiro, sendo na parte de
baixo, olhou para Renovato e deu um mugido. Renovato olhou para o bezerro e de
momento fez com o dedo polegar estirado que a sua mãe estava na vacaria. O
bezerro parece ter entendido o informe e saiu a galope, chutando as patas de
trás para um lado e para o ouro e continuava a mugir alegremente. Então o
pistoleiro sorriu e baixou o seu chapéu cobrindo os olhos se deitado um pouco
com as pernas esticadas para frente e o busto quase em “L” para o encosto da
cadeira. Nesse momento, a mocinha Emília sorriu como que. O pistoleiro nem prestou
atenção quando Emília chegou no alpendre. Mas, a garota percebeu toda a cena do
bezerro e o mandar de volta pelo pistoleiro apenas a apontar com o dedo polegar
sem dizer palavras. E com isso, Emília resolveu indagar do pistoleiro se ele
sabia a linguagem dos bezerros. O pistoleiro suspendeu a aba do chapéu e olhou
de lado para onde estava a moça. E disse:
Renovato:
--- Certamente ele estava
perguntando por sua mãe. E eu apontei para a vacaria. – respondeu Renovato e
depois abaixou a aba do chapéu voltando a sossegar no estofado.
Emília:
--- (sorrindo) – Mas não é
possível! Um pistoleiro entender a linguagem dos bezerros? – respondeu
descrente a moça.
O pistoleiro então suspendeu a
aba do seu chapéu e respondeu para Emília:
Renovato:
--- Menina! Antes de me tornar
pistoleiro, como você sente que eu sou deveras eu sou alguém. Alguém do ser
humano. E alguém vivedor pelas caatingas do sertão. – e baixou novamente a aba
do seu chapéu.
A moça calou por alguns segundo,
Parou de sorrir, pois entendeu ter ofendido por demais o pistoleiro. Mesmo
assim, ela veio para o que veio e entregou uma foto a Renovato.
Emília:
--- Perdão pelo que te falei.
Agora vim te dar a foto da tua mulher. Estava caída no banheiro da casa grande.
– respondeu magoada a mocinha.
O rapaz se moveu apressado para olhar
se a foto era mesmo a de Josefina, a sua irmã. Ele apalpou o bolso na correria
e se levantou do estofado respondendo em seguida:
Renovato:
--- A foto? Josefina? Estava no
chão? Quase a perdi! Ela é minha mana! Josefina! É freira! Aqui, ela era apenas
mocinha. Foi antes de entrar para o convento! – e beijou a foto pondo então na
algibeira.
Emília:
--- Sua irmã? Pensei que fosse
sua esposa! –respondeu a moça totalmente desnorteada.
Renovato:
--- Não! Ela me salvou de boas
nessa vida malsinada que eu tenho! Minha única irmã! Deus tenha como uma
magnífica freira! Querida! – reportou Renovato um pouco a chorar.
Emília ficou atormentada com a
foto da moça Josefina por longo período, pois já a tinha visto em outra vez
quando a entregou a Renovato na ocasião onde o homem estava a tragar comida na
sala dos vaqueiros e esse beijou a foto do mesmo jeito dessa ocasião. Um nó
prendeu a sua voz e Emília não podia sequer falar. Na verdade, a moça chorou de
emoção por ver a irmã do renegado pistoleiro, homem disposto a matar para
viver. Uma Freira, com certeza. Era tudo, a saber, a jovem Emília. De imediato,
a moça rodou nos pés e se enveredou na carreira pela varanda onde entrou na casa
grande e a chorar continuamente em desespero e comoção. A sua mãe passou por
perto e Emília desguiou a rota para não deixar ser percebida de seu desdito
sobressalto. A mulher ainda procurou ver se estava tudo bem, mas a moça se
largou casa a fora e entrou no banheiro feminino. Dona Iracema nada mais falou
ou perguntou a sua filha.
O tempo nublado deu um sono no
pistoleiro e esse agarrou no sono em plena tarde. Era um sono profundo e o
homem dormiu de abrir a boca e ressonar. E teve um sonho não bem entendido pelo
pistoleiro. Estava ele deitado em uma cama de algum lugar quando ouviu ao
surpreendente. Era uma ave ou coisa assim a emitir gritos loucos e ele não
sabia de onde vinha nem mesmo de qual espécie de ave era aquele matraquear. De
repente, após sobrevoar diversos espaços, a ave veio se alojar em seu peito. O
caso assombrou o pistoleiro. De repente o homem acordou e sentiu batimentos em
seu coração. E por fim tudo não passava de um pesadelo. Renovato procurou se
aquietar e viu chegar à moça Ludmila. A jovem olhou para o céu nublado e se
desvaneceu do pretendido. Ela olhou para Renovato e falou:
Ludmila:
--- Ainda vai chover daqui pra
mais tarde! – relatou a moça tirando a mão da testa.
O pistoleiro recolheu as pernas,
passou a mão nos olhos e não disse nada. Esperou da moça se sentar em uma
almofada bem próxima à dele. E foi o feito em consequência. Ludmila, com as
pernas ligeiramente arqueadas, perguntou ao pistoleiro.
Ludmila:
--- O senhor estava a dormir? –
indagou a jovem.
O pistoleiro então se espreguiçou
com os braços para cima e respondeu quase sem querer.
Renovato:
--- Um pouco. Nada de mais! –
bocejou o homem
A moça sorriu. E depois de
instantes respondeu ao pistoleiro:
Ludmila:
--- Eu vi uma coisa que me deu
vontade de sorrir. Antero dormindo. Mas parecia um bebê. – disse a moça a
sorrir.
Renovato:
--- A gente se cansa de tanto
vera morte! – disse mais Renovato.
Ludmila:
--- Cruz, Credo! O senhor também!
– fez vez Ludmila se benzendo toda.
O pistoleiro então falou bem
sério.
Renovato:
--- Verdade, moça! Eu estou aqui
apenas de plantão! A qualquer instante posso está matando alguém. A senhora não
sabe como isso ocorre. Se não fosse o acordo eu já estaria de mundo a fora. –
relatou o pistoleiro.
Nesse momento chegou a sua
charrete conduzida por um cavalo e tendo mais dois cavaleiros o prefeito da
cidade de Alcântara, o senhor Jorge Nepomuceno.
Ele foi logo descendo do veículo e dando boa tarde a senhorita Ludmila.
Ela em troca respondeu. O homem fez um sopro de quem estava cansado e perguntou
pelo deputado Godinho:
Ludmila:
--- Ele dorme senhor. Mas eu
creio não ser tao urgente à visita, pois eu vou chama-lo com certeza. –
respondeu Ludmila.
Jorge:
--- Pois não. Eu o espero. Se não
for incomodo a senhorita! – disse ainda o prefeito
E Ludmila entrou em sua casa
grande enquanto o pistoleiro se levantou e foi até a esquina do alpendre se
escorando no pilar, com um dos pés a escorá-lo e a olhar bem para os dois
jagunços, pois os mesmos não inspiravam a menor segurança a saúde de Jorge
Nepomuceno. Os jagunços também não se inquietavam nem um pouco com a saúde do
pistoleiro Renovato homem muito esperto para se notar. Renovato percebeu quando
um jagunço começou a descer de sua montaria, como se fosse algo bem difícil. O
jagunço a olhara a cara de Renovato até tocar o pé no chão e o pistoleiro com
seu duplo carregamento de armas a olhar quieto o jagunço. Aquele era o tipo de
jagunço o qual Renovato não temia nem de olhos fechados. Por isso, ele ficou
tranquilo, porém cismado por qualquer ação iminente do jagunço mais parecido
com um remoto pistoleiro. Após apear de sua montaria, o jagunço, cheio de calma
foi até a bomba de água e retirou um caneco para poder beber. Isso, a todo
instante a olhar para o pistoleiro Renovato. E o pistoleiro também fitou o
jagunço a todo instante.
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