- Adriana Birolli -
- 31 -
O PISTOLEIRO
Algumas semanas após, dois
jagunços conversavam no terreiro da Fazenda Guandu, sede do doutor Godinho.
Sobre assuntos recentes acontecidos. Dizia um de eles ter visto na Vila da
Lagoa e, por acaso, notou a presença de um forasteiro bem armado, cinturão de
balas a fazer um X no peito e outro cinturão na cintura a segurar dois Colts
45. O homem, todo de negro, nada falava. Apenas olhava os outros jagunços com
sua vista profunda, calado, a tomar café sem nada perguntar. Apenas olhava ele
os outros atiradores de aluguel. O pistoleiro chegava a dar arrepios, pois de
conversa o verdugo nada falava.
Jagunço Um:
--- Nome! Indagou o jagunço
numero Um
Jagunço Dois.
--- Não sei ao certo. Parece-me
ter o tal o nome de Teodoro. Eu nada falei. Apenas bebi a cachaça e sai como
entrei. – relatou o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- E tu pensas o que? – indagou
outra vez o jagunço Um.
Jagunço Dois:
--- Eu não penso nada. Mas um
forasteiro não vem a Vila por qualquer preço. Ainda mais do que eu ouvi em uma
conversa com as mulheres do Vai Quem Quer. – relatou o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- Que diziam as mulheres? –
indagou desconfiado o jagunço Um
Jagunço Dois:
--- Não foram muitas. Uma falou
ter o pistoleiro a dormir no seu catre e, certa vez, um bilhete caiu do bolso
de sua calça e estava nele o nome do Coronel e uns apontamentos. – falou
baixinho o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- O senhor já falou para o
coronel? - quis saber o jagunço Dois.
Jagunço Dois:
--- Não. Estou falando agora para
o senhor. Eu devo contar? – indagou o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- É bom. Mas é preferível falar
com Satanás. Ele é o homem de segurança do Coronel. – fez ver o jagunço Um.
E o jagunço se voltou e foi à
procura de Satanás, pistoleiro rápido no gatilho Era um dia de sexta feira.
Satanás não havia retornado de viagem com o seu patrão, o coronel deputado
Marcolino Godinho. Então resultou em esperar a volta de Otelo Gonçalves, o
Satanás. O tempo era de estio e o vai e vem das carroças pela passagem do
curral era tão comum com abelhas no favo. O pistoleiro ficou a olhar as
carroças a palitar os dentes. Por esse tempo pensava ele no que dizer ao
sanguinário Satanás homem tido como um brutal carniceiro. Na arcada do alpendre
estava Renovato Alvarenga parecendo cochila, pois estava com o seu chapéu a cobrir
os olhos e as pernas estiradas para o chão. De imediato chegou à moça a lhe
oferecer café:
Emília:
--- Toma! Fiz agora! – disse a
moça a Renovato.
O bandoleiro soergueu a aba do
seu chapéu e olhou bem devagar para a moça. Em seguida tomou a xicara de café
sem deixar de olhar para aquela arrumação de mulher. Esse, por caso, quase
deixou cair a xicara e se voltou para sair. Na sua volta ela olhou para Renovato
e foi para dizer ser dia de banho. O bandoleiro apenas sorriu. O jagunço Dois estava sentado em um toco de
pau logo abaixo do alpendre e notou o namoro dos dois. Mesmo assim não disse
nada como se nada tivesse visto. Logo após surgiu a moça Ludmila a convidar o
bandoleiro para um tira-teima no estande de tiro.
Ludmila:
--- Vamos? – perguntou a moça a
sorrir.
O bandido tomou o seu café e de
imediato se levantou, recolhendo os pés e se soerguendo a contento. De
imediato, ajeitou o chapéu e saiu sem nada falar. O bandoleiro ajeitou a cela
do seu cavalo a verificar se estava tudo em ordem. O mesmo fez a moça Ludmila e
montou rápido largando afinal para o estande. Em companhia seguiu Renovato. O
jagunço Dois ficou a olhar a ambos e depois deito na parede do alpendre. Ele
baixou o chapéu como se fosse dormir com seus pés estirados para frente do
banco. E se passou um tempo imenso até a chegada do carro a conduzir o Coronel
e o seu guarda-costas Satanás. De imediato, o jagunço Dois se dirigiu ao açougueiro
de vidas humanas e se pôs a falar.
Jagunço Dois:
--- Meu senhor. Tem um sujeito na
Vila de nome Teodoro. Até aí nada mal. Mas uma mulher me informou ter visto
caindo do seu bolso dele um papel com o nome do Coronel e uns números marcados.
Ela não soube dizer os números. Só me disse isso. – falou manso o jagunço
Satanás:
--- O senhor a alguém? –
perguntou Otelo.
Jagunço Dois:
--- Eu falei somente com o meu
orientador. – fez ver o jagunço.
Satanás:
--- E porque está me dizendo? –
indagou sem achar graça o celerado.
Jagunço Dois:
--- Foi por ordem do meu patrão.
Ele mandou procurar o senhor. – disse mais o jagunço.
Satanás:
--- O senhor vai para Vila? –
indagou meio cismado o bandido.
Jagunço Dois.
--- Só se o senhor quiser! –
respondeu sem graça o jagunço.
Satanás:
--- Espere um instante! – fez vez
o pistoleiro.
De imediato Otelo Satanás foi até
o quarto do motor para falar com Júlio Medalha, seu lugar-tenente e convidar
para um acerto de contas com o bandoleiro Teodoro. Júlio estava entretido com o
motor e nem deu por conta de quem estava falando. Apena só ouviu quando Satanás
lhe chamou pelas ouças e então percebeu o desacerto.
Júlio:
--- A gente vai aonde? – indagou
meio confuso Júlio Vento.
Satanás:
--- Apressa com esse motor! Vamos
a Vila da Lagoa e ver de perto esse tal bandoleiro. – respondeu áspero o líder
do grupo.
Júlio:
--- Como o senhor irá conhecê-lo?
– indagou ainda perplexo o lugar-tenente.
Satanás:
--- Eu vou perguntar a mãe dele,
não é? Quem não conhece Teodoro nessas terras? Ora que pergunta! – respondeu
irado Otelo Satanás.
Júlio:
--- E o Coronel? – perguntou
Júlio maio apavorado.
Satanás:
--- Ele não sabe de nada! Só vai
saber quando nos três voltarmos! – respondeu Satanás verificado seu revolver.
Júlio:
--- Três? Por que três? – indagou
perplexo o bandido Júlio Vento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário