quarta-feira, 25 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 30 -

- Meenakshi Thapa -
- 30 -
O CONTRATO
Nesse ponto o homem já bem desconfiado com as artimanhas de amigos ou inimigo mandou Anselmo entrar primeiro e ficou no aguardo do acontecer seguinte. Anselmo, pistoleiro afamado em toda a região não fez questão e entrou sem dar qualquer aviso. Em seguida foi também Teodoro, apesar de inquieto com a cabana armada no meio do nada, local escolhido pelo prefeito para combinar uma ação feita pelo bandoleiro. Com todo o cuidado Teodoro entrou na cabana e se pôs em ação temerosa em todos os sentidos. Anselmo era o mais tranquilo entre os dois pistoleiros. Nada o fazia temer. Apenas aguardava a chegada do seu chefe. E foi assim passando os minutos. Meia hora. E o chefe chegou. Ele era o prefeito Jorge Nepomuceno, astuto e sagaz, senhor de terras, as mais longínquas possíveis, capangas e muito mais dos homens decadentes do sertão. Nepomuceno mandou chamar o quadrilheiro Teodoro para um acerto de morte. Isso era todo o combinado. Após a caminhada. O rijo senhor de terras mostrou a ver o seu pensar ao matreiro homem mau.
Jorge:
--- Eu quero do senhor há averiguar o tempo em que sai e entra no sitio o Coronel Godinho. Isso é parte do plano. Ele é homem de pouca conversa. E o senhor fica no aguardo do acontecer. Apenas o senhor entra em ação após o pleito eleitoral. Nada antes. Só após a votação. Até lá o senhor fica hospedado em uma casa fora da cidade. Na Vila, pode ser. É bom não fazer nenhum assombro. – falou o homem prefeito de Alcântara.
Teodoro:
--- Nesse ponto o senhor me paga a metade do contrato antes e tem a minha estadia também. – acertou o pistoleiro.
Jorge:
--- Ótimo! Tudo acordado! E numerário segue amanhã. O senhor acompanhe o pistoleiro  Anselmo, pois ele mostra a tua hospedaria.  – falou sem graça o prefeito
Logo após esse acerto, o Prefeito Jorge Nepomuceno tomou o seu cavalo e, na companhia de pistoleiros caminhou para o seu destino. Teodoro fez o mesmo em companhia do pistoleiro Anselmo, homem duro de roer.
A Vila da Lagoa, canto remoto onde houve o assassínio de outros bandoleiros, era de uma distancia bem longa no casebre onde Jorge Nepomuceno se encontrou com o quadrilheiro Teodoro. Ao cair da tarde, Anselmo chegou uma espelunca onde não morava ninguém e mostrou a Teodoro a sua nova habitação.
Anselmo:
--- É aqui! – disse o pistoleiro Anselmo.
O bandoleiro desceu vagarosamente do seu cavalo e olhou para um lado e para o outro da rua já um pouco deserta de mulheres e crianças. Apenas alguns bandoleiros estavam a sentar em tamboretes na calçada da bodega da esquina um pouco mais além. Teodoro mandou Anselmo abrir a porta e entrar primeiro. Sempre com bastante cuidado, a olhar para um lado e para outro, até mesmo na cobertura das residências o bandido entrou afinal na moradia. Todo era calmo no recinto.  Cama, rede, sala mobiliada com pouca coisa, armário, guarda-louças, mesa, cadeira, tamborete, sanitário, banheiro e um quintal razoável. O bandoleiro viu tudo. Anselmo mostrou calado todas às dependências da casa. Mas há certo instante ele salientou:
Anselmo:
--- Uma mulher vem cuidar da habitação. – relatou o pistoleiro.
Teodoro o ouviu, porém não deu maior sentido a explicação. Apenas olhava o teto da casa para notar a segurança a poder servir. Após tudo explicado, Anselmo deu boa noite e saiu da casa.
A primeira noite em uma casa não surtia o efeito de satisfação para o celerado. Por isso Teodoro foi se aconchegar na Rua do Vai Quem Quer onde havia mulheres acalentadoras. Por lá também estavam alguns salteadores, porém nada fizeram de atropelos. Teodoro arranjou uma mulher para si e ficou a bebericar até a hora de entrar em um quarto desprotegido de qualquer coisa. Alguém falou alto no salão, porém Teodoro nada respondeu. Era caso de um alcoólatra. Os seus revolveres estavam juntos com ele. A dama se deitou a fazer carícias do homem. A noite era escura e após algum tempo tudo era silêncio.
O Deputado Estadual e Coronel, Doutor Marcolino Godinho chegou a sua fazenda em companhia de seu guarda-costas na sexta-feira, por volta das dez horas da noite. Ele passaria o final de semana na casa grande a examinar gados, cavalos e demais animais além de pesquisar o motor de luz já nesse tempo sob os cuidados do pistoleiro Júlio Medalha, chamado de Júlio Vento. Nada demais tinha ocorrido a não ser a morte do pistoleiro Fabiano perpetrada por seu empregado, Antero Soares, o Foguetão.  Disse o homem ter matado Fabiano em defesa própria e narrou o acontecido. Fabiano, como era sabido, vivia de contrato com o Prefeito Jorge Nepomuceno, homem forte da cidade de Alcântara. O coronel ficou calado logo depois do notificado. Disse ele ter de conversar com Nepomuceno na manhã seguinte. E manter calado o jovem Antero, pois nada seria útil nesses dias de acontecer o pleito eleitoral. Antero ficou acanhado por ter matado Fabiano, porém nada havia ocorrido contra o arremessador de punhais.
No dia seguinte, pela manhã, o prefeito Nepomuceno foi convidado pelo deputado a comparecer a sua fazenda. E foi. Entre conversas de gado e cavalos veio a tona a situação do matador Fabiano. Esse era ainda o assunto a ser ventilado. Contudo, o prefeito deu a desculpa de quem matou fez por bem. Afinal o morto era um desajuizado. O pistoleiro não tinha qualquer combinado com o prefeito, e se houve morte foi fora da sua repartição. E até mesmo o delegado estava de prova.
Jorge:
--- Quem matou, matou. Vamos deixar de arengas por causa de um celerado. Afinal foi ele mesmo quem comprou a briga. O delegado nem encontrou provas para prender o coitado. Para mim, a morte foi praticada pelo outro morto antes de morrer. Eu disse ao delegado: “Deixa pra lá, É menos um”! Foi o que eu disse ao sargento Tobias. Ta aí ele de prova! – relatou o prefeito ao Coronel.
Coronel:
--- E quem foi que matou? – indagou meio desconfiado o Coronel.
Jorge:
--- Eu não sei e nem me interessa saber. Eu até dou as condecorações da Cidade a quem o fez afinal o homem era um pistoleiro. – respondeu o prefeito olhando por baixo a fisionomia do Coronel.
Coronel:
--- Assim é melhor! E as eleições? O senhor vai sair mesmo para prefeito? – indagou o Coronel.
Jorge:
--- O senhor é quem sabe. Eu vou para qualquer lugar. Nem ainda comecei a campanha. Ou prefeito, ou suplente. Qualquer coisa me serve. – respondeu o Prefeito.
Coronel:
--- Está muito bem. E eu vejo ter havido exaltação de uma minoria pedindo mudanças.  Isso nem me preocupa. Afinal o Governo é quem manda mesmo. Quem for eleito e der apoio ao Governo terá o seu apoio. Eu estou do lado da situação. É isso! – respondeu de pronto o Coronel Godinho.
Jorge:
--- Eu digo o mesmo. Quem manda é o Governador. E, por sua vez, com o apoio da bancada federal e do Presidente. É assim que eu vejo! – relatou o prefeito de Alcântara.
Coronel:
--- Então está desfeita a lengalenga. Estamos com a barriga seca e vamos nos preparar para comer. – sorriu o Coronel convidado o prefeito a almoçar.
E dois homens foram para a mesa onde foram postos os mais nobres pratos da casa. Estavam presentes, além do prefeito e do coronel os homens da segurança, como os pistoleiros Otelo Gonçalves Dias, Júlio Medalha, Renovato Alvarenga e Antero Soares, o matador do perverso assassino de aluguel o homicida Fabiano, cujo corpo foi despejado em um canto da Caverna do Diabo. Ainda se fazia presente à esposa do coronel Godinho, senhora Cantídia e a filha de ambos a moça Ludmila. Para servir a mesa era apenas a moça Emília. Quando se fazia necessário outra doméstica estava presente. No curral ouvia-se o estalar do chicote sobre o dorso dos equinos. Um realejo solitário entoava uma canção de certo gosto como se tivesse posto para fazer tal ato. A tarde começava e nada mais acontecia.

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