segunda-feira, 2 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 20 -

- Bianca Bin -
- 20 -
FABIANO
Ambos estavam em raio de mira. Era apenas uma questão de puxar a arma. E quem atirasse primeiro teria maior condição de acerto. O bandoleiro Renovato teria tanta chance quanto o jagunço do Prefeito de Alcântara. Se alguém disse: Fogo! Já!  Era um milionésimo de segundos para quem acertava primeiro. Renovato teve o conhecer do jagunço por ocasião de sua estadia no rancho do deputado Marcolino Godinho. Certo jagunço falara na sala dos vaqueiros em um novo capanga a serviço do prefeito da cidade. O nome era Fabiano tão somente. Para alguns era um capanga de alto risco. Outros, contudo, apenas ouviu falar nesse tal Fabiano, pistoleiro afamado nos sertões da caatinga do nordeste brasileiro. O pistoleiro era um pouco franzino, porém musculoso, pele clara, olhos suaves, boca pequena e usava luvas quando era para matar. Disso tudo Renovato estava a olhar. Até mesmo o chapéu preto. Fala mansa isso ele também era dono. E na cintura dois revólveres Colt 45. No andar era tranquilo. Tinha um porte de homem de boa estatura. E Renovato explorou todo um semblante do também bandoleiro afamado do sertão. Algum minuto após o destemido bandoleiro Fabiano voltou a sua montaria tomando assento bem devagar igualmente como fizera ao descer. Do seu lado, Renovato não piscou os olhos o deixando à vontade.
Com um espaço de tempo chegou ao alpendre o deputado coronel Marcolino Godinho acompanhado por dois pistoleiros da casa: Otelo Gonçalves e Júlio Medalha. Os dois se revezavam noite após noite na proteção do coronel. O tempo frio da tarde já fazia efeito no coronel a se sentir dores nas juntas. Mesmo assim, ele estava disposto como pau para toda obra. Os pistoleiros ficaram separados um do outro a deixar o coronel à vontade. E do outro lado da casa estava o terceiro homem: Antero Soares atento a todo movimento dos dois homens fortes do Prefeito Jorge Nepomuceno. Em meio à conversa entre Nepomuceno e Godinho, os temerosos bandoleiros nada conversavam. Apenas vigiavam o coronel, pois a conversa era apenas de política. Em meio de tudo Nepomuceno indagou do coronel se não fora ao sepultamento do fazendeiro Severino Policarpo. E o coronel respondeu:
Coronel:
--- Homem. ...O senhor sabe muito bem.  Eu não me dava bem com o fazendeiro... E ainda por cima estava chovendo muito esta manhã.  Então eu preferi ficar em casa. Amanhã tenho que viajar a Capital... Reuniões e mais reuniões. E por isso achei por bem não ir. O senhor sabe muito bem! – falou tentando explicar a sua ausência o coronel.
Jorge:
--- Sei. Sei. Eu perguntei por perguntar. Afinal era uma rixa de longos tempos. – falou com calma o prefeito.
O deputado pensou um pouco e então seguiu com as desculpas:
Coronel:
--- Não é propriamente uma desculpa. Eu não tinha raiva do Severino. Foi mais por causa da minha dos nas articulações. Esse braço quando chove dói que chega ser um inferno. O tempo chuvoso, trovão para tudo que era canto, frio de matar. Tudo isso me fazia debilitado. Você vai entender muito bem quando tiver a minha idade. – argumentou o deputado coronel falando manso como quem sentia dor de artrose.
Artrose sendo a forma mais comum de reumatismo é uma das doenças mais frequentes na espécie humana e um dos principais fatores determinantes de incapacidade física no individuo idoso. O coronel fazia uma cara amarga de quem sofria terrível dor a incomodar terrível homem de seis de sessenta anos. Outras dores eram na coluna. O coronel Godinho mostrava sempre os nós nos dedos de suas mãos da luta mantida nos albores da mocidade arrancado todo e plantado mato para dar de comer ao gado do seu pai. Tudo isso fazia com que o coronel chegasse à idade sessentona com dores terríveis da coluna de trabalhar quase deitado.
Godinho:
--- E a coluna é um caso sério. O espinhaço todo dói. É um horror essa dor das costas. No inverno é que afeta mais. – relatou o deputado se torcendo para conseguir uma melhor posição na cadeira estofada.
Jorge:
--- Entendo! Entendo! É sacrifício o senhor ter que ir para a Capital com esse mau tempo. Eu sei bem do que se trata. Minha mãe quem o diga. – relatou o prefeito de cabeça abaixada.
E a conversa prosseguiu de assunto a outro; do enterro de Severino Policarpo; do irmão dele; de outras coisas sem mais ter o que e nada então de importância. A noite se preparava e Jorge Nepomuceno se preparou para a viagem de volta a desejar boa sorte em sua viagem do dia seguinte, pois teria de fazer levantamento do débito da fazenda de Severino e as contas de dívidas pendentes do homem. Afinal, Severino Policarpo devia o mundo e o fundo a toda gente da redondeza e, dificilmente a venda das terras teria como pagar.
Quando o prefeito Nepomuceno saiu da Fazenda do Coronel Godinho acompanhado dos seus dois pistoleiros o homem indagou de Otelo quem seria o guarda - costas a estar acompanhado do homem forte da cidade de Alcântara.  Porém, Otelo desconhecia o pistoleiro. E quem falou foi Renovato Alvarenga a dizer ser o mesmo um pistoleiro de aluguel.
Renovato:
--- É pistoleiro de aluguel. Seu nome é Fabiano. Há quem diga ser perigoso. – relatou Renovato.
Antero:
--- É da banda de Malheiros. Eu ouvi falar ter ele para mais de vinte mortes. Só atira de frente e com as luvas nas mãos. – continuou a explicar o homem Antero.
Coronel:
--- Dá prá ver. Seu Jorge! Onde ele buscou um pistoleiro de fama? – indagou por vez o Coronel.
Otelo:
--- Isso é tipo que busca dinheiro de cidade em cidade. Não tem casa! – fomentou Otelo
Júlio:
--- Eu conheço sua fama. Ele estava alugado quando nós chegamos à Vila. Fabiano é temeroso. E só pega quem anda armado. Ele é rápido no gatilho. Não tem inveja de quem morre! – disse ainda o lugar-tenente do pistoleiro Otelo.
Godinho:
--- Será que ele é melhor do que você? – perguntou no deboche o coronel Godinho.
Otelo:
--- Taí uma pergunta para Renovato! – respondeu Otelo enquanto os demais pistoleiros sorriram a valer.
Renovato girou nos pés e fez de conta não ter ouvido a chalaça. De vez, o pistoleiro foi sentar no seu sofá acolchoado e por lá baixou o chapéu como quem quer pegar no sono. Nada mais se ao viu dizer naquela tarde/noite. O deputado, sorrindo, entrou em sua casa falando asneiras da visita do Prefeito de Alcântara à sua morada e cobrou por igual às promessas feitas pelo agricultor Jorge Nepomuceno de outras vezes quando foi visita-lo.
Godinho:
--- É um político borra botas! Só tem farol e nada mais! – fomentou o deputado.
Com isso, o segurança Otelo Gonçalves olhou para Júlio Medalha e sorriu calado torcendo a cabeça para um lado como quem diz:
Otelo:
--- É o caso coronel! É o caso! – fez de conta  ter dito isso e sorriu.
Emília chegou ao alpendre da frente e chamou o pistoleiro Renovato para jantar. Já passavam das sete horas da noite. Renovato se espreguiçou e puxou a aba do chapéu a olhar o corpo da moça. Ela estava exuberante com um vestido de malha totalmente alongado cobrindo até as sandálias. A moça agiu de forma inteligente e argumentou a Renovato ter ele a mesa do canto em confronto com o coronel Godinho.
Emília:
--- Fui eu quem escolheu o teu lugar. Vamos logo senão a sopa esfria! – fez ver a moça.
Renovato:
--- Mas agora? Sem que nem mais? Olha a minha pança? – mostrou Renovato a altura da barriga.

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