- Mariana Ximenes -
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LUDMILA
Os dois cavaleiros saíram com
pressa sem dizer algo a ninguém, nem mesmo aos outros dois cavaleiros, Antero
Soares, o Foguetão, e Renovato Alvarenga, o chamado Chulé. Para surpresa
de Renovato, os dois cavaleiros passaram
em disparada pela frente do casarão. E este estava sentado em uma poltrona
afundada e ainda avistou Otelo Gonçalves e Júlio Vento a partir em disparada
para a saída do sitio. Em um instante depois ele viu um jagunço a sair em
disparada tentando alcançar os outros dois pistoleiros. Nesse ponto, Renovato
gritou:
Renovato:
--- Hei! Pra onde vocês pensam ir
com tanta pressa? – indagou indeciso o terceiro pistoleiro.
Qualquer resposta não foi dada.
Renovato, desapontado, sacudiu o chapéu na perna como quem estava a dizer:
--- Porras! Nem me chamam! –
relatou o pistoleiro com toda a raiva do mundo.
Em poucos instantes um tropel de
cavalo. Renovato apenas viu a sombra. Mas então de imediato reconheceu a figura
de Ludmila. E gritou novamente:
Renovato:
--- A senhora também? É o mundo
todo! – e saiu correndo para a estrebaria a selar seu cavalo e sair em busca da
moça a toda pressa.
Era uma fileira enorme de
cavaleiros, sendo dois muito a frente com as suas montarias a toda marcha. A
noite era densa, pois nem sequer havia lua. Estrelas no céu a brilhar como
eternos vagalumes. Nuvens pacatas nem sequer fazia sombra no firmamento. Apenas
se ouvia o cantar amorfo da coruja de um tronco de pau qualquer que fosse. Os
cinco cavaleiros cavalgaram por mais demeia hora, um atrás do outro em distancia
considerável até avistar a Vila da Lagoa onde, provavelmente estaria acolhido o
pistoleiro Teodoro Fogaça, homem sagaz nas armas possuídas. Não raro Teodoro
estaria no bar sempre a tomar café, coisa estranha para os demais jagunços e
pistoleiros daquela simples bodega, única existente no vilarejo. Alí era o
Professor quem mandava, apesar de não aparecer no recinto. Com toda a certeza o
atirador estaria no bar iluminado por candeeiros e lampiões. As mesas do bar
eram mais frequentadas no final de semana. Os pistoleiros ali jogavam seu
carteado. Quando havia tumulto um dos tais acertava contas no local. Mulheres
damas da noite apenas entravam durante o cair da tarde. Elas eram as visitantes
dos jagunços e pistoleiros. Algumas roupas sumárias e dançavam ao som de
rabecas. A taberna funcionava quase a noite toda, enquanto houvesse um cliente
a pagar sua conta. As damas da noite suportavam o linguajar do beberrão.
No instante como esse entrou no
bar a dupla de pistoleiros: Otelo
Satanás e Júlio Vento. Vagarosos como sempre, cada um entrou por portas
diferentes. Olharam bem os artífices dos crimes e logo avistaram o homem magro,
duas faixas carregadas de balas em torno do peito e um chapéu amassado no meio,
dessa vez, jogado para trás. Otelo não teve a oportunidade de ver as duas armas
a estar presa no Colt. Mesmo assim, não ligou, pois esses revolveres 45 era a
manha do pistoleiro. Os dois pistoleiros se encaminharam para frente de Teodoro
e trocaram conversa sem graça:
Otelo:
--- Ora veja só! O famoso
atirador de tocaia aqui nessa espelunca! – disse Otelo querendo sorrir, uma
forma de provocação.
O pistoleiro olhou para Otelo e
não disse palavra alguma. Continuava ele a tomar café. O outro bandoleiro
afastado da banca de Teodoro orientava os demais jagunços a deixar de imediato
o salão apenas apontando a arma. No balcão, ligeiramente afastado, estava o
dono do bar sem nada mais a fazer. Apenas contemplava com seu olhar alarmado. O
bodegueiro estava acuado feito onça com as suas mãos se bem parecia querer
segurar em algo inexistente. Por fim, após um breve período de silencio Teodoro
falou:
Teodoro:
--- Não tenho nada contra o
senhor. – relatou em tom calmo o pistoleiro sem temor.
Teodoro pôs o pé em cima de um
tamborete para se o homem se mexia e mostrasse suas armas. Mesmo assim nada
balançou a quietude de Teodoro. E Otelo falou então.
Otelo:
--- É. Parece. Com certeza, não.
Mas eu tenho. – relatou Otelo para Teodoro.
O homem não se enervou e apenas
indagou:
Teodoro:
--- O que é que o senhor tem
Satanás? – falou ainda a se sentar o pistoleiro Teodoro.
E Otelo então sorriu. E alertou
seu amigo Júlio Vento.
Otelo:
--- Bem se vê ser um homem
bastante educado. Mas eu tenho outra certeza! – disse Otelo ao pistoleiro.
Teodoro:
--- Qual certeza Satanás? – indagou
sem pressa o pistoleiro. E então, sorrindo, se levantou da cadeira.
Devagar, com calma e paciência
Otelo Satanás disse ao bandoleiro aquilo pelo qual se falava a seu respeito
numa forma sutil de provocação.
Otelo:
--- A que se diz por aí. ...O
senhor é um sulista, baixo, covarde e mentiroso. – falou devagar Otelo.
O bandoleiro começou a sorrir e
nada fez para atirar. Ele olhou para um lado e para outro vendo se tudo estava
bem e sacou da arma. Porém, Otelo foi mais rápido e desfechou dois balaços nos
peitos do bandoleiro. Os tiros empurraram de vez o bandoleiro a cair sobre um
monte de caixas de bebidas e se esparramando no chão. Ao ser atingido, Teodoro
já estava morto. O balaço fatal não permitiu qualquer imediata reação. Otelo
por fim rodou a sua arma e a guardou no Colt. Nesse instante, uma voz e um
tiro:
Ludmila:
--- Cuidado senhor! – e disparou
o seu rifle para uma montanha de sacos armazenados por trás do bodegueiro.
Do alto dos sacos caiu um segundo
bandoleiro atingido no peito pela a moça Ludmila. Isso não permitiu sequer ao
bandoleiro notar. Mais atirador era morto. Nessa ocasião chegaram mais os dois
pistoleiros: Renovato e o jagunço. Tao logo Renovato entrou na bodega foi logo
a dizer ser bom verificar os papeis tidos no bolso de Teodoro.
Renovato:
--- Veja os papeis que ele
apontava! Depressa! O jagunço me disse! – falou com segurança o pistoleiro
Renovato.
O pistoleiro Otelo Gonçalves, o
Satanás, verificou os bolsos do homem morto e encontrou vários assentamentos a
indicar ser pagamento da Prefeitura ou do Prefeito de Alcântara. Foi todo ele
remexido e o pessoal se destinou até a casa onde se hospedava o pistoleiro. Por
lá foi encontrado mais documento onde tudo incriminava o Prefeito Jorge
Nepomuceno. Sabedor do acontecido com Teodoro Fogaça, o prefeito achou por bem
viajar para local e nem sabido onde podia acompanhar toda a história sem ser
visto ou sabido. Os pistoleiros do Coronel de imediato voltaram para a fazenda
em companhia de sua filha Ludmila. Era para além de meia noite quando a turma
acabou a jornada. O Coronel Godinho estava a dormir e a sua filha resolveu
deixa-lo para apenas transmitir as informações da manhã seguinte.
Na manhã seguinte, logo após o
desjejum, o coronel foi chamado por sua filha para uma conversa muito séria.
O Coronel Godinho se irritou e foi logo
a querer saber:
Godinho;
--- Se for para treinar tiro nem
me chame! – disse o velho a bufar.
Ludmila;
--- Não é isso meu pai! É serio!
– ponderou a sua filha.
Godinho:
--- Pode ser aqui? – indagou o
coronel.
Ludmila:
--- No escritório é melhor! –
recomendou paciente a sua filha.
Godinho:
--- No escritório? Eu só trato de
política! – falou serio o coronel.
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