sexta-feira, 27 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 32 -

- Mariana Ximenes -
- 32 -
LUDMILA
Os dois cavaleiros saíram com pressa sem dizer algo a ninguém, nem mesmo aos outros dois cavaleiros, Antero Soares, o Foguetão, e Renovato Alvarenga, o chamado Chulé. Para surpresa de  Renovato, os dois cavaleiros passaram em disparada pela frente do casarão. E este estava sentado em uma poltrona afundada e ainda avistou Otelo Gonçalves e Júlio Vento a partir em disparada para a saída do sitio. Em um instante depois ele viu um jagunço a sair em disparada tentando alcançar os outros dois pistoleiros. Nesse ponto, Renovato gritou:
Renovato:
--- Hei! Pra onde vocês pensam ir com tanta pressa? – indagou indeciso o terceiro pistoleiro.
Qualquer resposta não foi dada. Renovato, desapontado, sacudiu o chapéu na perna como quem estava a dizer:
--- Porras! Nem me chamam! – relatou o pistoleiro com toda a raiva do mundo.
Em poucos instantes um tropel de cavalo. Renovato apenas viu a sombra. Mas então de imediato reconheceu a figura de Ludmila. E gritou novamente:
Renovato:
--- A senhora também? É o mundo todo! – e saiu correndo para a estrebaria a selar seu cavalo e sair em busca da moça a toda pressa.
Era uma fileira enorme de cavaleiros, sendo dois muito a frente com as suas montarias a toda marcha. A noite era densa, pois nem sequer havia lua. Estrelas no céu a brilhar como eternos vagalumes. Nuvens pacatas nem sequer fazia sombra no firmamento. Apenas se ouvia o cantar amorfo da coruja de um tronco de pau qualquer que fosse. Os cinco cavaleiros cavalgaram por mais demeia hora, um atrás do outro em distancia considerável até avistar a Vila da Lagoa onde, provavelmente estaria acolhido o pistoleiro Teodoro Fogaça, homem sagaz nas armas possuídas. Não raro Teodoro estaria no bar sempre a tomar café, coisa estranha para os demais jagunços e pistoleiros daquela simples bodega, única existente no vilarejo. Alí era o Professor quem mandava, apesar de não aparecer no recinto. Com toda a certeza o atirador estaria no bar iluminado por candeeiros e lampiões. As mesas do bar eram mais frequentadas no final de semana. Os pistoleiros ali jogavam seu carteado. Quando havia tumulto um dos tais acertava contas no local. Mulheres damas da noite apenas entravam durante o cair da tarde. Elas eram as visitantes dos jagunços e pistoleiros. Algumas roupas sumárias e dançavam ao som de rabecas. A taberna funcionava quase a noite toda, enquanto houvesse um cliente a pagar sua conta. As damas da noite suportavam o linguajar do beberrão.
No instante como esse entrou no bar a dupla de pistoleiros:  Otelo Satanás e Júlio Vento. Vagarosos como sempre, cada um entrou por portas diferentes. Olharam bem os artífices dos crimes e logo avistaram o homem magro, duas faixas carregadas de balas em torno do peito e um chapéu amassado no meio, dessa vez, jogado para trás. Otelo não teve a oportunidade de ver as duas armas a estar presa no Colt. Mesmo assim, não ligou, pois esses revolveres 45 era a manha do pistoleiro. Os dois pistoleiros se encaminharam para frente de Teodoro e trocaram conversa sem graça:
Otelo:
--- Ora veja só! O famoso atirador de tocaia aqui nessa espelunca! – disse Otelo querendo sorrir, uma forma de provocação.
O pistoleiro olhou para Otelo e não disse palavra alguma. Continuava ele a tomar café. O outro bandoleiro afastado da banca de Teodoro orientava os demais jagunços a deixar de imediato o salão apenas apontando a arma. No balcão, ligeiramente afastado, estava o dono do bar sem nada mais a fazer. Apenas contemplava com seu olhar alarmado. O bodegueiro estava acuado feito onça com as suas mãos se bem parecia querer segurar em algo inexistente. Por fim, após um breve período de silencio Teodoro falou:
Teodoro:
--- Não tenho nada contra o senhor. – relatou em tom calmo o pistoleiro sem temor.
Teodoro pôs o pé em cima de um tamborete para se o homem se mexia e mostrasse suas armas. Mesmo assim nada balançou a quietude de Teodoro. E Otelo falou então.
Otelo:
--- É. Parece. Com certeza, não. Mas eu tenho. – relatou Otelo para Teodoro.
O homem não se enervou e apenas indagou:
Teodoro:
--- O que é que o senhor tem Satanás? – falou ainda a se sentar o pistoleiro Teodoro.
E Otelo então sorriu. E alertou seu amigo Júlio Vento.
Otelo:
--- Bem se vê ser um homem bastante educado. Mas eu tenho outra certeza! – disse Otelo ao pistoleiro.
Teodoro:
--- Qual certeza Satanás? – indagou sem pressa o pistoleiro. E então, sorrindo, se levantou da cadeira.
Devagar, com calma e paciência Otelo Satanás disse ao bandoleiro aquilo pelo qual se falava a seu respeito numa forma sutil de provocação.
Otelo:
--- A que se diz por aí. ...O senhor é um sulista, baixo, covarde e mentiroso. – falou devagar Otelo.
O bandoleiro começou a sorrir e nada fez para atirar. Ele olhou para um lado e para outro vendo se tudo estava bem e sacou da arma. Porém, Otelo foi mais rápido e desfechou dois balaços nos peitos do bandoleiro. Os tiros empurraram de vez o bandoleiro a cair sobre um monte de caixas de bebidas e se esparramando no chão. Ao ser atingido, Teodoro já estava morto. O balaço fatal não permitiu qualquer imediata reação. Otelo por fim rodou a sua arma e a guardou no Colt. Nesse instante, uma voz e um tiro:
Ludmila:
--- Cuidado senhor! – e disparou o seu rifle para uma montanha de sacos armazenados por trás do bodegueiro.
Do alto dos sacos caiu um segundo bandoleiro atingido no peito pela a moça Ludmila. Isso não permitiu sequer ao bandoleiro notar. Mais atirador era morto. Nessa ocasião chegaram mais os dois pistoleiros: Renovato e o jagunço. Tao logo Renovato entrou na bodega foi logo a dizer ser bom verificar os papeis tidos no bolso de Teodoro.
Renovato:
--- Veja os papeis que ele apontava! Depressa! O jagunço me disse! – falou com segurança o pistoleiro Renovato.
O pistoleiro Otelo Gonçalves, o Satanás, verificou os bolsos do homem morto e encontrou vários assentamentos a indicar ser pagamento da Prefeitura ou do Prefeito de Alcântara. Foi todo ele remexido e o pessoal se destinou até a casa onde se hospedava o pistoleiro. Por lá foi encontrado mais documento onde tudo incriminava o Prefeito Jorge Nepomuceno. Sabedor do acontecido com Teodoro Fogaça, o prefeito achou por bem viajar para local e nem sabido onde podia acompanhar toda a história sem ser visto ou sabido. Os pistoleiros do Coronel de imediato voltaram para a fazenda em companhia de sua filha Ludmila. Era para além de meia noite quando a turma acabou a jornada. O Coronel Godinho estava a dormir e a sua filha resolveu deixa-lo para apenas transmitir as informações da manhã seguinte.
Na manhã seguinte, logo após o desjejum, o coronel foi chamado por sua filha para uma conversa muito séria. O  Coronel Godinho se irritou e foi logo a querer saber:
Godinho;
--- Se for para treinar tiro nem me chame! – disse o velho a bufar.
Ludmila;
--- Não é isso meu pai! É serio! – ponderou a sua filha.
Godinho:
--- Pode ser aqui? – indagou o coronel.
Ludmila:
--- No escritório é melhor! – recomendou paciente a sua filha.
Godinho:
--- No escritório? Eu só trato de política! – falou serio o coronel.

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