quinta-feira, 19 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 24 -

- Doris Day -
- 24 -
A SORTE

O soldado da polícia ficou admirado com a destreza do pistoleiro em atirar três vezes sobre o morto e indagou como um pistoleiro fazia algo assim. O outro policial respondeu ter sido uma questão de honra, pois um pistoleiro não queria saber se o defunto era enterrado ainda com vida.
Policial Dois:
--- Para pistoleiro, defunto só tem validade se está bem morto. – respondeu o outro policial cuspindo fumo pelo canto da boca.
Policial Um:
--- Imagine só! Com aqueles disparos eu até pensei: Se sangue fede eu então estou baleado. – respondeu o policial um
O carregador Um disse então ao policial com a cara bem raivosa não querendo ouvir resposta.
Carregador Um:
--- O senhor está é todo cagado! – e cuspiu fumo pela a boca como forma de tapar as suas narinas.
Policial Um:
--- Quem? Eu? – e passou a mão nas calças.
Atormentado pela ação do pistoleiro em disparar três vezes sobre o morto, o homem se lambuzou sem sentir e as fezes estavam a sair pelas bocas da calça. De repente, ao notar o seu desespero, o policial um saiu a correr até o mato a tirar as calças, limpar a cueca em desespero e tiraras fezes das calças com um medo terrível por estar completamente sujo. O outro policial disse logo em cima da bucha:
Policial Dois:
--- Desse jeito o senhor não pega na estaca do punho da rede. Pode procurar o que vestir! – relatou com raiva o policial Dois por ver o outro soldado todo nu a retirar da farda a sua sujeira
Policial Um:
--- Que? E o que visto agora? – indagou atormentado o palerma policial.
Carregador Um:
--- Use folha do mato! – e gargalhou a beça o homem carregador.
O soldado com a cara amuada nada mais queria responder. Apenas limpava as calças e o cuecão para ver se a coisa melhorava de aspecto. Folhas e mais folhas do mato ele arrancava com toda a fúria em uma espécie de zanga com ele mesmo ou com os outros condutores do cadáver de Fabiano, pistoleiro malsinado até após a morte. E o policial nem olhava o céu quase coberto de aves de rapina, o gargalhar das hienas, o uivo dos lobos entre o rosnar dos cães bravios moradores do pleno mato. O despenhadeiro da Caveira do Diabo ainda estava bem longe do local estacionado pelos quatro condutores por causa do aparecimento do pistoleiro Teodoro Fogaça, atirador de esmero ainda a cumprir a triste sina de meter bala no algoz já falecido para ter a certeza do homem está bem morto matado. Essa era a dita dos bandoleiros do sertão árido do nordeste brasileiro.
No árido terreno do sertão bruto o cavalo de Teodoro Fogaça tomava rumo desconhecido atropelando a terra seca e a levantar um poeirão desgraçado onde já não podia se vislumbrar ao todo o caminhar do cavaleiro. Com um pouco de tempo ele se enveredou pelas matas desiguais até topar o mundo também desigual. Quem ficou a observar o cavaleiro em desembestada carreira pode assim dizer:
Carregador Um.
--- Ele tomou a direção da vila da Lagoa, com certeza. – disse o homem pensativo no matador de aluguel.
Carregador Dois:
--- Eu já ouvir falar dele. É um caboclo malsinado o qual se chama Teodoro. Teodoro Fogaça. – cuspiu para um lado uma golfada de fumo o carregador.
Carregador Um:
--- Ele é dos tais? – indagou o outro carregador.
Carregador Dois:
--- O povo diz que é. Ninguém escapa de sua pontaria. Homem mau. Perverso. Não tira camisa pra matar. – relatou com ligeira cisma o carregador Dois.
Carregador Um:
--- Eu já ouvi falar também. Trabalha só ele. Não quer ajuda de ninguém. Cara brabo que só bêia. – cuspiu para um lado o carregador Um.
Policial Dois:
--- Foi por isso que ele matou o homem que já estava morto. –relatou o policial Dois.
Carregador Dois:
--- Só não quero que ele venha pra cima de mim. Com Jesus ou sem Jesus eu lhe enfinco o ferro. Humpf! – faz o carregador Dois perpetrando o gesto de enfiar a peixeira.
Policial Dois;
--- Não diga isso meu senhor! Não diga isso! – gritou alarmado o policial.
Carregador Um:
--- É. Homem, nessa Terra só tem validade se matar primeiro! – cuspiu de lado o Carregador Um.
Com um pouco de tempo o soldado Um saiu da mata com um improviso de roupa no corpo feito com folhas de mato. Ele então reclamava as maiores doidices em ter de usar folhas de mato em lugar da farda. Os outros a olhar o soldado Um não aguentaram e caíram na gargalhada. O outro soldado a dizer:
Soldado Dois:
--- Onde está a farda, excelência? – e gargalhou ainda mais.
Solado Um:
--- Não faz graça comigo! Não faz graça! – disse de vez bem mal humorado o solado Um.
E o carrego do morto teve continuidade até as escarpas do despenhadeiro da Caveira do Diabo aonde entre inúmeras moscas, lagarto, hienas, cães vadios e mesmo lobos chegara ao fim. Em baixo, muito além, onde nada se podiam enxergar de fato os quatro carregadores despejaram a carga de osso e carne de corredeira abaixo. Os carregadores procuraram ouvir o baque profundo do cadáver de Fabiano. Porem nada se ouviu. Apenas as aves de rapina a traçar algo fresco como um presente do céu. As aves fizeram festas com a nova vítima de homens maus. Nada mais havia a fazer e os solitários carregadores, sendo dois soldados, retornaram as suas tarefas originais. Apenas um soldado se valeu da pena do seu companheiro e foi buscar vestimenta apropriada para o soldado militar vestir. E não parava de sorrir o soldado Dois por ver a cara do soldado numero Um agachado entre abrolhos a pestanejar constante a espera de seu fardamento.
Soldados Dois:
--- Mas tu com uma cara! – sorria o soldado Um.
Soldado Um:
--- Me dá a roupa seu bosta. – disse de vez o soldado Um que ainda estava melado de merda.
E os dois carregadores se plantaram a sorrir vendo a cara do militar agachado procurando a todo custo vestir o novo-velho fardamento com uma cara estupida de não sei o que. Após isso feito por detrás de uma moita, o militar correu como pode para tomar banho na delegacia de policia, pois só assim tirava o mau cheiro parecia carcomido em seu corpo.
Carregador Dois:
--- Essa foi boa. Não precisa nem pagar pelo enterro do Fabiano, pois essa não tirou mais a cara de se poder querer achar graça. – relatou o carregador.
E daí em diante acabou a graça.

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