segunda-feira, 23 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 28 -

- Monica Vitti -
- 28 -
SUPRESA


Por volta de duas horas da tarde, Renovato Alvarenga e a sua companheira de vagar, Ludmila se apearam de suas montarias em frente à estrebaria e por lá deixaram os cavalos aos vigiados de um cuidador de equinos. Os animais estavam exaustos e Renovato deu uma tapa nas ancas do seu animal como forma de carinho. Ludmila fez por igual. Ao percorrem o espaço para a casa grande, depressa estava a moça Emília a correr e declarar a Renovato:

Emília:

--- Tem visita para o senhor! – falou sorrindo a moça.

Renovato:

--- Para mim? Quem diabo pode ser? – e olhou depressa para Ludmila com forma desconfiada.

Emília:

--- Vá lá! Vá lá! Está bem à frente do casarão. Venha! – e puxou Renovato pelo braço.

O homem se inquietou e quis logo saber de quem se tratava. A moça sorriu e falou:

Emília:

--- Corra homem! É surpresa! – sorriu a donzela de forma angustiada por tão demora.

O pistoleiro não era acostumado a visitas de surpresa e até mesmo ainda pegou nas suas cartucheiras para verificar o estado das mesmas. O empurrado da garota era mais atrevido e Renovato fazia todo o possível para se largar de Emília a qualquer custo. Mas, isso era em vão. A tarde estava quente por demais e o suor nas costas dava a impressão a Renovato de menos chuva e mais calor no correr do dia. Além do mais, a garota tinha o dizer para ele de:

Emília:

--- O senhor precisa de um banho! Ora! – enquanto seguia pelo o alpendre em busca da frente da casa.

Isso provocava mais zanga no pistoleiro. Até o momento derradeiro quanto Renovato viu em meio das sombras do Jaboticabal a figura da Irmã Josefina a colher frutos da árvore. De imediato ele não a reconheceu. Porém, em poucos segundos o homem gritou sem dúvidas:

Renovato:

--- Josefina? Você aqui? – gritou o homem para a sua irmã.

E Josefina, tomada de sobressalto, largou as frutas e correu para o colo de Renovato. Foi um abraço terno e de plena simpatia. A Noviça Isabel sorria de modo calado. E a moça Emília colocava as mãos da boca enquanto lágrimas rolavam por sua face. Foi um eterno encontro talvez de alguns anos. Renovato chorou de emoção ao sentir em si a presença da irmã de carne e de tantos anos. Aquela presença entre os dois abraçados demorou por alguns minutos com o pistoleiro a sentir forte arrependimento por tudo o que fizera. O mundo rolou em sua mente como se a vida parasse naquele instante. Do mundo nada se leva, era o pensamento de Renovato. Mesmo assim, aquele mundo era apenas seu e de Josefina. Ela, uma Freira, Irmã vivendo confinada em um Convento onde nada de fora poderia incomodar. E naquele instante as duas almas separadas se uniam pela sagrada coroação do ser irmãos. Triste, combalido, o homem saía tão somente da sua altivez para apenas chorar. Um choro de criação, talvez. Doce e dor de recordação de tempos infindos. A sua irmã também chorava agarrada a Renovato igual um pato pequenino a voar para o ninho da sua eterna e terna mãe. As frutas caíam ao seu redor e eles nada podiam sentir. Aquele era apenas o momento de união e afago. A doce e real surpresa daquela tarde de verão.

Após certo tempo, o casal de irmão voltara para a varanda a procura de um assento onde pudesse conversar. Ao subir os degraus Renovato encontrou Emília a quem apresentou a sua irmã e vice versa. A dizer tal fato, ele acrescentou para a sua irmã:

Renovato;

--- Essa é a braba da corte. Ela me obriga a tomar dois banhos por dia. E tem uma cabeça dura que nem Deus duvida. – fez vez o pistoleiro.

Emília:

--- Pra ver! Ele passa um mês sem tomar banho e ainda bota queixo! – respondeu Emília meio zangada a mostrar o queixo duro que  rapaz costumava fazer.

Josefina:

--- Ô. Também não é assim meu adorado irmão! Um mês? – quis saber a freira assombrada.

Renovato afinal desconversou e pôs a culpa na mocinha Emília tirando de fora a seringa de injeção bem preparada para ser aplicada em seu atlético músculo.

Renovato:

--- É tudo conversa da oposição. Eu tomo banho sim. – refez o rapaz.

E Emília logo advertiu com força.

Emília:

--- Conversa, não. Pode tirar seu cavalinho da chuva. Eu não estou para mentiras! Ora! – rechaçou a moça com ênfase de escândalo.

Josefina:

--- Calma gente! Calma! Tudo se ajeita. Eu não quero namoro desfeito por uma bobagem! – refez a irmã para contornar a situação.

Renovato:

--- E eu estou a namorar a ninguém! – rebateu Renovato todo abusado.

Emília:

--- Quem? Eu? A senhora está louca! – fez ver a moça com muita aparente raiva.

Josefina:

--- Sei que não está, Emília! É força de expressão. Mesmo assim, ele é um bom partido! – resolveu a irmã de Renovato.

Emília bateu de leve com a ponta dos pés no assoalho e virada para outro lado com os braços cruzados fez ainda um:

Emília:

--- Thuc! – fez a moça com a boca fechada.

Então, Josefina com todo jeito, fez os dois se abraçarem como amigos e talvez namorados.

Josefina:

--- Cheguem aqui vocês! Abracem-se para não guardar mágoa um do outro! – resolveu o intricado problema a Irmã.

E os dois pombinhos se abraçaram com Emília temerosa, mas mesmo assim satisfeita. Renovato não tinha jeito de abraçar uma moça e fez de conta em dar mesmo um aperto com Emília ao seu peito. Era um calor tremendo aquele a fazer ao inicio da tarde. Nem mesmo assim a moça se importou em sentir o azedo perfume do suor do rapaz. O que mais perturbava a moça era a coronha do revolver a lhe tocar a barriga. De qualquer modo não tardou em esquecer a arma e se deleitou no abraço acochado daquele tao profundo ser. As aves de arribação passaram em bandos a procura do sul daquela terra íngreme e calcinada com apenas o vento brando a cortar.

Após esse angustiado momento Renovato foi sentar junto a Josefina e com Emília sou das noticias de fora. A sua mãe ainda era viva e o seu pai também, como informara a Irmã ao seu perdido irmão. Por algum momento Renovato chorou. Ele nem sabia se era de remorso ou de vergonha. Já fazia um bom tempo aquele momento de felicidade. Junto à irmã Josefina ele queria apenas saber de casos de alegria e nada mais. O tempo se foi e as duas Irmãs tiveram de ir a prometer a Noviça voltar em breve para novos convívios de emoção. Aquele era o momento de paz para Renovato. Uma paz tao distante por sinal. A Freira Josefina estava a morar no Mosteiro próximo a cidade. E sentiu demais a falta de Renovato, homem perdido em suas andanças pelas caatingas do sertão, outrora um profundo oceano.

Josefina:

--- Até breve, meu querido irmão. – voltou-se a Freira para a despedida.

Um cavalo relinchou na cocheira como se desse também um até breve. Os dois namorados se abraçaram de vez.

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