segunda-feira, 30 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 35 -

- Penelope Cruz -
- 35 -
A BUSCA
O velho homem ficou sisudo a pensar no dizer ao Coronel Godinho à marcha tomada pelo Prefeito Jorge Nepomuceno na noite anterior. Quelé sabia muito bem do caminho. Ele estava um homem acabado, corcunda por assim dizer, magro mais do que era quando homem sério, mãos tremulas e nem sequer um cigarro de palha para despistar as horas derradeiras da vida. Na verdade, Quelé era um verdadeiro molambo. As calças rotas encobriam a sua senilidade. Ele caminhava a pé quantas léguas fosse preciso, de manhã ao anoitecer. Se precisar fosse vivia da caridade alheia. Era uma vida tirana aquela do ancião no derradeiro degrau da vida. A cabeça abaixada e sem saber como começar ou mesmo falar Quelé era um vulto de um passado remoto. Em algum lugar do passado Quelé era um homem valente para matar ou morrer. Tremendas batalhas ele enfrentou ao sinal do meio dia. Por acaso ele recordava naquele derradeiro instante a grande luta a qual se chamou “A luta de Quelé”! Um bando de jagunços ao ataque da força principal dos soldados chamados “macacos”. Quelé não temia a luta nem ele combatia. Ele era igual a um comandante de turma em plena campanha a seguir sempre à frente. Seus ancestrais eram irlandeses e seu nome – Quelé - era Agressivo. E seguindo o seu rumo Manoel Quelé aos acabados feitiços da vida. Naquele momento estava ele diante do poderoso senhor de terras, o Coronel Marcolino Godinho, homem de seiscentas vidas. E Quelé tinha de encontrar um meio de dizer a verdade.
Quelé:
--- O senhor pode buscar Jerônimo Alvino. Ele vai ensinar como se chega ao prefeito. – respondeu o homem descaído.
Coronel:
--- Alvino? Quem é esse homem? – indagou embaraçado o Coronel por não conhecer ninguém com esse nome.
O ancião quis sorrir. Alvino era um nome alemão e tinha sentido de “Nobre Amigo”. Era costume de povos antigos por um nome em uma criança a representar algo. Alvino era um dos tais. E depois de algum tempo Quelé discorreu:
Quelé:
--- Ele é o meu filho de criação. Eu o peguei numa contenda com a turma dos “macacos” na Aba da Serra de Taperoá, para os lados de Pernambuco. – detalhou Quelé.
Coronel:
--- Alvino? Que nome! – respondeu com um gosto amargo na boca o coronel.
Júlio Medalha procurou resolver a inquietação do Coronel Godinho e falou:
Júlio:
--- Eu sei onde fica Coronel. Se ordenar, eu posso ir à busca de Alvino e digo que foi o seu pai quem mandou. – falou Júlio de forma resoluta.
A conversa então amainou e o Coronel Godinho se voltou para Júlio e esse de pé estava e de pé ficou. Cara seria sem chapéu por respeito ao Coronel, pois a cobertura da cabeça estava em suas mãos guardadas sobre o cheio peito.  Nesse ponto o doutor Godinho, alarmado falou:
Coronel:
--- Sabe mesmo? – perguntou de modo zangado.
Júlio:
--- De um tiro! – respondeu sem sorrir o pistoleiro Júlio Vento.
Coronel:
--- Pois traga o homem! Quero ver se sabe mesmo! – articulou com raiva o doutor.
Quelé:
--- A meu ver, eu mandaria logo buscar o homem. –disse muito manso o coiteiro.
Coronel:
--- Heim? Buscar? Mas como buscar? – respondeu irado o coronel Godinho.
Quelé:
--- Evita duas viagens e a possibilidade do homem fugir mais uma vez. – relatou o coiteiro.
Coronel:
--- Heim? Vocês estão me deixando louco! Pois faça assim. Mande-o trazer vivo ou morto! – decidiu o coronel mais tranquilo.
Júlio:
--- Morto, Coronel? – indagou Júlio já pensando em liquidar o preso.
Coronel:
--- É! Morto! – sentenciou o Coronel Godinho.
Ludmila:
--- PAPAI? – falou de forma rude a filha do Coronel como a dizer quem matasse estaria morto também.
Coronel:
--- Heim? Não! Vivo! É melhor assim! – contradisse o coronel a olhar cheio de zanga a sua filha.
E daí começou a caçada ao prefeito da cidade de Alcântara, fazendeiro Jorge Nepomuceno, homem ladino e cheio de manhas e traquinagens a se refugiar nos barrancos de Pernambuco para se proteger de uma caçada humana. Antes de se tornar prefeito por imposição do próprio coronel Godinho o homem já era fazendeiro e roubava gado dos criadores vizinhos e quase sempre deixava uma lista de sangue em sua passagem. Certa vez, ao assaltar um rancho ele deixou espichado no chão toda uma família de criadores e ainda tocou fogo na casa como ato de rebeldia. De outra vez, Jorge Nepomuceno montou tocaia contra um grupo de rancheiros. Os homens conduziam uma boiada de um sertão seco, pois não chovia há mais de dois meses e o pouco gado ainda restante estava definhando cada vez mais. Do pouco rebanho ainda restante, seu Jorge tomou tudo e ainda pôs morte nos boiadeiro, onde não sobrou viva alma. Essa atitude Jorge Nepomuceno fazia todo ano, principalmente de seca. Com isso os pequenos criadores o chamavam de “carniceiro”. Nunca foi preso por essas bagunças.
Após dois dias e duas noites de viagem Júlio Vento chegou ao seu destino em uma bodega de um arruado fora do município de Taperoá. No lugar o pistoleiro indagou por Alvino, pois estava à procura do mesmo há dois dias, uma vez ter o “dono da terra posto à venda”. Essa era a senha acordada entre o pai de criação e o seu filho. Quando quisesse ele alguém diria ter o dono da terra ter posto à venda. Claro que ninguém usaria como senha e nem desconfiaria de um homem a vender as suas terras. Com isso, o dono de alguma bodega onde Alvino pudesse estar compreenderia o negócio das terras e avisaria a Alvino ter alguém a sua procura. Dai por diante era só conversa.  Quando Júlio Vento largou a senha o dono da bodega ainda quis saber.
Dono da bodega:
--- Que dono de terra é esse? – indagou meio cismado o bodegueiro.
Júlio;
--- O pai de Alvino é quem mandou dizer. – relatou o pistoleiro.
Dono da bodega:
--- Eu não vi mais esse homem que o senhor procura. – disse mais o bodegueiro puramente desconfiado.
Júlio:
--- Não tem importância. Quando Alvino aparecer, por favor, dê o recado. Eu vou agora para o bereu. – disse Júlio como uma contrassenha.
O dono bodega um tanto meditado olhou muito bem para Júlio vendo as armas bem expostas prontas para atirar ainda relatou:
Dono da bodega:
--- Aqui não tem esse tipo de comercio. – falou o bodegueiro querendo despistar o bandido.
Júlio:
--- Ah bom. Eu me arranjo. – relatou mais uma vez o bandoleiro.
Júlio Vento ajeitou o seu chapéu na cabeça, deu as costas e saiu bem devagar.

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