segunda-feira, 30 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 35 -

- Penelope Cruz -
- 35 -
A BUSCA
O velho homem ficou sisudo a pensar no dizer ao Coronel Godinho à marcha tomada pelo Prefeito Jorge Nepomuceno na noite anterior. Quelé sabia muito bem do caminho. Ele estava um homem acabado, corcunda por assim dizer, magro mais do que era quando homem sério, mãos tremulas e nem sequer um cigarro de palha para despistar as horas derradeiras da vida. Na verdade, Quelé era um verdadeiro molambo. As calças rotas encobriam a sua senilidade. Ele caminhava a pé quantas léguas fosse preciso, de manhã ao anoitecer. Se precisar fosse vivia da caridade alheia. Era uma vida tirana aquela do ancião no derradeiro degrau da vida. A cabeça abaixada e sem saber como começar ou mesmo falar Quelé era um vulto de um passado remoto. Em algum lugar do passado Quelé era um homem valente para matar ou morrer. Tremendas batalhas ele enfrentou ao sinal do meio dia. Por acaso ele recordava naquele derradeiro instante a grande luta a qual se chamou “A luta de Quelé”! Um bando de jagunços ao ataque da força principal dos soldados chamados “macacos”. Quelé não temia a luta nem ele combatia. Ele era igual a um comandante de turma em plena campanha a seguir sempre à frente. Seus ancestrais eram irlandeses e seu nome – Quelé - era Agressivo. E seguindo o seu rumo Manoel Quelé aos acabados feitiços da vida. Naquele momento estava ele diante do poderoso senhor de terras, o Coronel Marcolino Godinho, homem de seiscentas vidas. E Quelé tinha de encontrar um meio de dizer a verdade.
Quelé:
--- O senhor pode buscar Jerônimo Alvino. Ele vai ensinar como se chega ao prefeito. – respondeu o homem descaído.
Coronel:
--- Alvino? Quem é esse homem? – indagou embaraçado o Coronel por não conhecer ninguém com esse nome.
O ancião quis sorrir. Alvino era um nome alemão e tinha sentido de “Nobre Amigo”. Era costume de povos antigos por um nome em uma criança a representar algo. Alvino era um dos tais. E depois de algum tempo Quelé discorreu:
Quelé:
--- Ele é o meu filho de criação. Eu o peguei numa contenda com a turma dos “macacos” na Aba da Serra de Taperoá, para os lados de Pernambuco. – detalhou Quelé.
Coronel:
--- Alvino? Que nome! – respondeu com um gosto amargo na boca o coronel.
Júlio Medalha procurou resolver a inquietação do Coronel Godinho e falou:
Júlio:
--- Eu sei onde fica Coronel. Se ordenar, eu posso ir à busca de Alvino e digo que foi o seu pai quem mandou. – falou Júlio de forma resoluta.
A conversa então amainou e o Coronel Godinho se voltou para Júlio e esse de pé estava e de pé ficou. Cara seria sem chapéu por respeito ao Coronel, pois a cobertura da cabeça estava em suas mãos guardadas sobre o cheio peito.  Nesse ponto o doutor Godinho, alarmado falou:
Coronel:
--- Sabe mesmo? – perguntou de modo zangado.
Júlio:
--- De um tiro! – respondeu sem sorrir o pistoleiro Júlio Vento.
Coronel:
--- Pois traga o homem! Quero ver se sabe mesmo! – articulou com raiva o doutor.
Quelé:
--- A meu ver, eu mandaria logo buscar o homem. –disse muito manso o coiteiro.
Coronel:
--- Heim? Buscar? Mas como buscar? – respondeu irado o coronel Godinho.
Quelé:
--- Evita duas viagens e a possibilidade do homem fugir mais uma vez. – relatou o coiteiro.
Coronel:
--- Heim? Vocês estão me deixando louco! Pois faça assim. Mande-o trazer vivo ou morto! – decidiu o coronel mais tranquilo.
Júlio:
--- Morto, Coronel? – indagou Júlio já pensando em liquidar o preso.
Coronel:
--- É! Morto! – sentenciou o Coronel Godinho.
Ludmila:
--- PAPAI? – falou de forma rude a filha do Coronel como a dizer quem matasse estaria morto também.
Coronel:
--- Heim? Não! Vivo! É melhor assim! – contradisse o coronel a olhar cheio de zanga a sua filha.
E daí começou a caçada ao prefeito da cidade de Alcântara, fazendeiro Jorge Nepomuceno, homem ladino e cheio de manhas e traquinagens a se refugiar nos barrancos de Pernambuco para se proteger de uma caçada humana. Antes de se tornar prefeito por imposição do próprio coronel Godinho o homem já era fazendeiro e roubava gado dos criadores vizinhos e quase sempre deixava uma lista de sangue em sua passagem. Certa vez, ao assaltar um rancho ele deixou espichado no chão toda uma família de criadores e ainda tocou fogo na casa como ato de rebeldia. De outra vez, Jorge Nepomuceno montou tocaia contra um grupo de rancheiros. Os homens conduziam uma boiada de um sertão seco, pois não chovia há mais de dois meses e o pouco gado ainda restante estava definhando cada vez mais. Do pouco rebanho ainda restante, seu Jorge tomou tudo e ainda pôs morte nos boiadeiro, onde não sobrou viva alma. Essa atitude Jorge Nepomuceno fazia todo ano, principalmente de seca. Com isso os pequenos criadores o chamavam de “carniceiro”. Nunca foi preso por essas bagunças.
Após dois dias e duas noites de viagem Júlio Vento chegou ao seu destino em uma bodega de um arruado fora do município de Taperoá. No lugar o pistoleiro indagou por Alvino, pois estava à procura do mesmo há dois dias, uma vez ter o “dono da terra posto à venda”. Essa era a senha acordada entre o pai de criação e o seu filho. Quando quisesse ele alguém diria ter o dono da terra ter posto à venda. Claro que ninguém usaria como senha e nem desconfiaria de um homem a vender as suas terras. Com isso, o dono de alguma bodega onde Alvino pudesse estar compreenderia o negócio das terras e avisaria a Alvino ter alguém a sua procura. Dai por diante era só conversa.  Quando Júlio Vento largou a senha o dono da bodega ainda quis saber.
Dono da bodega:
--- Que dono de terra é esse? – indagou meio cismado o bodegueiro.
Júlio;
--- O pai de Alvino é quem mandou dizer. – relatou o pistoleiro.
Dono da bodega:
--- Eu não vi mais esse homem que o senhor procura. – disse mais o bodegueiro puramente desconfiado.
Júlio:
--- Não tem importância. Quando Alvino aparecer, por favor, dê o recado. Eu vou agora para o bereu. – disse Júlio como uma contrassenha.
O dono bodega um tanto meditado olhou muito bem para Júlio vendo as armas bem expostas prontas para atirar ainda relatou:
Dono da bodega:
--- Aqui não tem esse tipo de comercio. – falou o bodegueiro querendo despistar o bandido.
Júlio:
--- Ah bom. Eu me arranjo. – relatou mais uma vez o bandoleiro.
Júlio Vento ajeitou o seu chapéu na cabeça, deu as costas e saiu bem devagar.

domingo, 29 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 34 -

- Bruna Marquezine -
- 34 -
COITEIRO
Otelo Gonçalves Dias esperou a licença dada pelo Deputado Marcolino Godinho para se sentar ao tempo em que ficou de pé. O homem carrancudo e sério por algum tempo não notou estar Otelo de pé em frente a ele e quase encostado ao birô.  O deputado se conservava sereno a olhar os papeis postos a sua mesa todos eles incriminando o prefeito de Alcântara, Jorge Nepomuceno. Eram papeis com os dados de entrada e saída do Coronel da cidade ou quando o mesmo ficava por longo período na fazenda. Dados sobre seus jagunços e coiteiro; moradas dos coiteiros a casos seguros e fortes do Coronel Godinho. Estava anotado também o seguir da campanha eleitoral e o nome de Otelo Gonçalves Dias para suplente. O velho observou tudo com bastante cuidado e depois de alguns minutos foi soerguendo a cabeça para onde estava o bandoleiro e viu naquela hora estar o homem em pé e bastante quieto. Então, Godinho indagou do seu ajudante:
Godinho:
--- O senhor viu isso aqui? – indagou o homem com voz tranquila.
Otelo:
--- Não senhor. Tudo ficou com a senhoria Ludmila. – respondeu Otelo com paciência.
Godinho:
--- E o coiteiro quem é? – perguntou cismado o Coronel.
Otelo:
--- Quem sabe é a senhorita. Logo depois de nós entramos na casa de Teodoro ela saiu. E depois foi embora. É provável ter encontrado o coiteiro na estrada. – respondeu Otelo sem temor.
Godinho:
--- Na estrada! E Renovato estava aonde? – indagou o Coronel um tanto desconfiado.
Otelo:
--- Bem! O pistoleiro, provavelmente, estava com a senhorita. – respondeu Otelo um tanto temeroso.
O coronel ficou calado e mandou Otelo sentar. E esse obedeceu. Em seguida o Coronel especulou para saber se o pistoleiro não tinha visto o seu nome escrito nos papei. E o homem respondeu que não:
Otelo:
--- Não vi não senhor!  - respondeu o pistoleiro.
Godinho:
--- E o coiteiro? Nem isso o senhor sabe? Pois vamos ver quem é o homem. Peço que chame o Renovato aqui. – respondeu de vez o Coronel.
Otelo:
--- Sim senhor! – disse de vez o pistoleiro e se levantou para ir até à frente da casa.
Foi e veio. Otelo e Renovato. O rapaz estava tranquilo. Nada o assustava. Foi quando o Coronel indagou para Renovato quem seria o coiteiro. O rapaz olhou para Otelo e de imediato respondeu:
Renovato:
--- Manoel Quelé, meu senhor! – respondeu sem titubear o pistoleiro.
Coronel:
--- Quelé? Quelé? Quelé? Filho de uma puta! Aquele corno sabia de tudo! – reclamou exaltado o velho coronel.
Renovato:
--- Penso que não. Ele arranjou uma arenga com o prefeito e, por isso, falou tudo o que ele sabia. Mas apenas a senhorita Ludmila. Eu estava presente à conversa! – respondeu Renovato.
Coronel:
--- E onde ele foi posto agora? – indagou perplexo o Coronel.
Renovato:
--- Aqui mesmo senhor! Espera apenas que o chame! – respondeu azougado o pistoleiro.
Coronel:
--- Aqui? Nas minhas barbas? – falou alto o coronel cheio de ira.
Nesse momento a porta se abriu e a moça Ludmila entrou com o sujeito Manoel Quelé. Ele meio acanhado, já sem forças para andar, a segurar um chapéu de palha nas mãos, roupas sujas e rasgadas, um cinturão de cordas na cintura, sem armas de qualquer natureza. Apenas pedindo a proteção do Coronel Godinho.
Ludmila:
--- Eis aqui o homem. Coronel. Já velho por demais. Ele quer apenas um lugar para morrer. Foi ele quem falou tudo o que eu sei. – reprovou a senhorita Ludmila.
O Coronel ficou abismado com aquele traste velho. Antes, um homem corajoso, valente por sinal, coiteiro de fama. E naquela hora um traste perdido no meio da selva.
Coronel:
--- Não acredito no que estou vendo! Quelé é o senhor mesmo? – indagou perplexo o Coronel Godinho ao rever aquele coiteiro.
Quelé:
--- Sou eu mesmo Coronel. É a vida! A gente não sabe o dia do amanhã. Mas sou sim!  - respondeu o coiteiro Quelé todo arrasado.
Coronel:
--- O que é feito da tua vida? Como o senhor está acanhado? Velho e sujo! Eu tenho pena até. Um protetor de jagunços e bandoleiros!...Francamente! Bem! Vamos ao que interessa! Onde o senhor estava que eu nem ouvi falar? – perguntou de modo austero o Coronel.
Quelé:
--- Andando! Andando! Vez aqui. Vez acolá! Não mais me meti com tropas de “macacos” e nem com jagunços. E mesmo as autoridades. Tudo o que eu faço é andar! – disse Quelé com voz débil.
O coronel olhou Ludmila e se voltou para Quelé.
Coronel:
--- E o que mais tem a dizer? Como soube do caso de Teodoro? – indagou meio sem jeito o Coronel.
Quelé:
--- Teodoro era um pistoleiro de aluguel. Era pago para matar! Mas não teve sorte dessa vez! O pistoleiro Satanás foi mais ágil que ele e o matou sem dó nem piedade. A moça do senhor também teve sorte. Ela chegou ao fim da luta e alvejou um capanga. Eu vi tudo! A menina leva jeito com as armas! E, afinal, eu disse para a senhora. Quem mandou foi o prefeito Jorge Nepomuceno. Agora ele está escondido fora daqui. É o que eu sei! – reportou Quelé.
Coronel:
--- Mas o senhor sabe de tudo isso e não me procurou? – relatou perturbado o Coronel.
Quelé:
--- O senhor não acreditaria no que Quelé dissesse. – pontuou o guardador de bandidos.
Coronel:
--- Tem razão! Tem razão! Eu não acreditaria!  O senhor mesmo é quem o diz! Mas, me diga uma coisa: para onde foi o prefeito? – indagou o Coronel Godinho.
O impasse se deu para todos os ouvintes de Quelé.

sábado, 28 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 33 -

- Reese Witherspoon -
- 33 -
O CASO
O Coronel estava sentado em sua poltrona encostado para trás com a cara mais sisuda como sempre estava, a barriga grande, camisa desabotoada por completo, mão no queixo, dedo indicador para cima como a espera de ouvir. Na sala do escritório estava em frente do birô a sua filha, Ludmila, ladeada por Otelo Gonçalves, pelo lado direito, e Júlio Medalha pelo esquerdo esperando a vez de falar. O clima era tenso para Ludmila a espera da reação do seu pai. Tudo era silencio no escritório e todos queriam ouvir a moça falar. Porém a decisão de Ludmila estaria na voz do Coronel Godinho. E assim, o silencio prosseguiu. O homem olhava direto para a fisionomia de sua filha e calado estava calado continuava. Era uma espécie de briga de gato e rato. Um passo do lado de fora do escritório não perturbou o Coronel. Era talvez a senhorita Emília. O caminhar passou em busca da saída da porta da casa grande. Nesse ponto, o deputado Godinho por desafogo de consciência ofereceu a pergunta a Ludmila:
Godinho:
--- Fale o que tem a contar! – discorreu o pai de Ludmila.
A moça estava bem habilitada e não teve receio em falar. Esperou apenas a oportunidade:
Ludmila:
--- O Prefeito é nosso inimigo. – razoou a moça.
O coronel cruzou os braços em torno o ventre e fez como não tivesse ouvido.
Godinho:
--- Conte mais! – falou manso o coronel.
A moça suspirou, levantou os olhos para o céu e voltou a falar.
Ludmila:
--- O homem que ele trouxe está morto. – explicou a moça sem titubear.
O coronel se levantou da poltrona e percorreu a sala até a estante ao lado, Ele olhou para a janela e essa estava fechada. Ele foi verificar o trinco. Sacolejou e deu por certo. E falou:
Godinho:
--- Que homem? – perguntou displicente o coronel.
A moça não sorriu. Porém indagou:
Ludmila:
--- O senhor sabe que estava sendo perseguido? – indagou a moça seu pai.
O homem, do alto de sua barriga, perguntou a Ludmila.
Godinho:
--- Por quem? – indagou sem pressa o coronel.
Ludmila fez um sorriso irônico e depois de alguns segundos falou com um temperamento nada convidativo, pois sentia no comportamento do velho Coronel algo de não quer saber de coisa alguma. E assim falou calma, mas explosiva.
Ludmila:
--- Olha velho! Veja esses bilhetes! Veja quem mandou! Veja quem recebeu! E fique sabendo ter o homem morrido por bala! – falou então bastante abusada a moça.
O Coronel Godinho olhou os papeis com os dizeres de longe, em cima do birô e sem querer tomar um deles para ver melhor. Ele estava de pé com as mãos para trás e olhou do alto de sua ignorância. E depois de algum tempo o homem falou:
Godinho:
--- Quem deu cabo do homem? – quis saber o Coronel um tanto cismado.
Otelo se aproximou um pouco da mesa e declarou:
Otelo:
--- Eu, Coronel! O bandoleiro tinha tudo isso no bolso e parte na casa dele. E se não fosse a senhorita eu não estaria contando história. – relatou o homem ao Coronel.
O Coronel Godinho se aproximou um pouco para ver um dos tais documentos e ainda indagou revoltado.
Godinho:
--- Quem mandou à senhora sair de casa em plena noite? Heim? Heim? Heim? – indagou autoritário o valho Coronel bastante aborrecido.
A moça, então, subiu a cabeça para dizer:
Ludmila:
--- Eu! E fique o senhor sabendo de que o Prefeito fugiu da cidade! Eu fui! Eu! E não preciso ordem de ninguém! Nem mesmo do senhor! – declarou em cima de sua sabedoria a moça.
Nesse momento o pistoleiro Júlio Medalha resolveu falar para acalmar os ânimos dos dois contendores: filha e pai.
Júlio:
--- Tenha calma, moça! Tenha calma! Não precisa vexame! É melhor o senhor Otelo falar de vez e contar a historia. – fez ver Medalha olhando sério para Otelo.
O Coronel se sentou na poltrona e se pôs a espera daquilo tudo para ser dito. E então Otelo Gonçalves contou toda a história desde a chegada à fazenda do até a morte de Teodoro. Com relação a presença de Ludmila ele nem sequer notara, pois a moça seguiu por conta própria e fora do grupo formado por Otelo, Júlio e um jagunço. Ela chegou à bodega quando já estava tudo terminado. Apenas notou Ludmila  outro pistoleiro  fazer mira contra a pessoa de Otelo e fez fogo, matando o facínora.
Godinho:
--- É verdade isso? – perguntou com severidade o Coronel.
Otelo:
--- Do jeito que eu contei! – respondeu Otelo.
Godinho:
--- E a história do prefeito foragido? – ainda perguntou o Coronel a cada um dos três.
Otelo:
--- Isso é com ela! Apontou Otelo para a moça.
Ludmila:
--- Um coiteiro me falou depois de sair da casa de Teodoro! – falou a moça um tanto malcriada
Godinho:
--- Onde está o coiteiro? – indagou cismado o Coronel.
Ludmila:
--- Em lugar seguro! – respondeu com rispidez a moça.
Godinho:
--- Mas eu perguntei: ONDE! – falou bravo o Coronel a se levantar de sua poltrona e dando um muro na bancada do birô.
Ludmila:
--- Olhe aqui meu senhor! Vamos deixar de abuso para cima de mim! Se quiser saber, procure o senhor! – e deu uma rabissaca saindo em seguida de porta a fora.
Godinho:
--- Que moleca mais atrevida! Puxa ao avô! Ora! – relatou o Coronel suado até demais.
Ainda olhou para Otelo e disse a ele ter ainda uma conversa.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 32 -

- Mariana Ximenes -
- 32 -
LUDMILA
Os dois cavaleiros saíram com pressa sem dizer algo a ninguém, nem mesmo aos outros dois cavaleiros, Antero Soares, o Foguetão, e Renovato Alvarenga, o chamado Chulé. Para surpresa de  Renovato, os dois cavaleiros passaram em disparada pela frente do casarão. E este estava sentado em uma poltrona afundada e ainda avistou Otelo Gonçalves e Júlio Vento a partir em disparada para a saída do sitio. Em um instante depois ele viu um jagunço a sair em disparada tentando alcançar os outros dois pistoleiros. Nesse ponto, Renovato gritou:
Renovato:
--- Hei! Pra onde vocês pensam ir com tanta pressa? – indagou indeciso o terceiro pistoleiro.
Qualquer resposta não foi dada. Renovato, desapontado, sacudiu o chapéu na perna como quem estava a dizer:
--- Porras! Nem me chamam! – relatou o pistoleiro com toda a raiva do mundo.
Em poucos instantes um tropel de cavalo. Renovato apenas viu a sombra. Mas então de imediato reconheceu a figura de Ludmila. E gritou novamente:
Renovato:
--- A senhora também? É o mundo todo! – e saiu correndo para a estrebaria a selar seu cavalo e sair em busca da moça a toda pressa.
Era uma fileira enorme de cavaleiros, sendo dois muito a frente com as suas montarias a toda marcha. A noite era densa, pois nem sequer havia lua. Estrelas no céu a brilhar como eternos vagalumes. Nuvens pacatas nem sequer fazia sombra no firmamento. Apenas se ouvia o cantar amorfo da coruja de um tronco de pau qualquer que fosse. Os cinco cavaleiros cavalgaram por mais demeia hora, um atrás do outro em distancia considerável até avistar a Vila da Lagoa onde, provavelmente estaria acolhido o pistoleiro Teodoro Fogaça, homem sagaz nas armas possuídas. Não raro Teodoro estaria no bar sempre a tomar café, coisa estranha para os demais jagunços e pistoleiros daquela simples bodega, única existente no vilarejo. Alí era o Professor quem mandava, apesar de não aparecer no recinto. Com toda a certeza o atirador estaria no bar iluminado por candeeiros e lampiões. As mesas do bar eram mais frequentadas no final de semana. Os pistoleiros ali jogavam seu carteado. Quando havia tumulto um dos tais acertava contas no local. Mulheres damas da noite apenas entravam durante o cair da tarde. Elas eram as visitantes dos jagunços e pistoleiros. Algumas roupas sumárias e dançavam ao som de rabecas. A taberna funcionava quase a noite toda, enquanto houvesse um cliente a pagar sua conta. As damas da noite suportavam o linguajar do beberrão.
No instante como esse entrou no bar a dupla de pistoleiros:  Otelo Satanás e Júlio Vento. Vagarosos como sempre, cada um entrou por portas diferentes. Olharam bem os artífices dos crimes e logo avistaram o homem magro, duas faixas carregadas de balas em torno do peito e um chapéu amassado no meio, dessa vez, jogado para trás. Otelo não teve a oportunidade de ver as duas armas a estar presa no Colt. Mesmo assim, não ligou, pois esses revolveres 45 era a manha do pistoleiro. Os dois pistoleiros se encaminharam para frente de Teodoro e trocaram conversa sem graça:
Otelo:
--- Ora veja só! O famoso atirador de tocaia aqui nessa espelunca! – disse Otelo querendo sorrir, uma forma de provocação.
O pistoleiro olhou para Otelo e não disse palavra alguma. Continuava ele a tomar café. O outro bandoleiro afastado da banca de Teodoro orientava os demais jagunços a deixar de imediato o salão apenas apontando a arma. No balcão, ligeiramente afastado, estava o dono do bar sem nada mais a fazer. Apenas contemplava com seu olhar alarmado. O bodegueiro estava acuado feito onça com as suas mãos se bem parecia querer segurar em algo inexistente. Por fim, após um breve período de silencio Teodoro falou:
Teodoro:
--- Não tenho nada contra o senhor. – relatou em tom calmo o pistoleiro sem temor.
Teodoro pôs o pé em cima de um tamborete para se o homem se mexia e mostrasse suas armas. Mesmo assim nada balançou a quietude de Teodoro. E Otelo falou então.
Otelo:
--- É. Parece. Com certeza, não. Mas eu tenho. – relatou Otelo para Teodoro.
O homem não se enervou e apenas indagou:
Teodoro:
--- O que é que o senhor tem Satanás? – falou ainda a se sentar o pistoleiro Teodoro.
E Otelo então sorriu. E alertou seu amigo Júlio Vento.
Otelo:
--- Bem se vê ser um homem bastante educado. Mas eu tenho outra certeza! – disse Otelo ao pistoleiro.
Teodoro:
--- Qual certeza Satanás? – indagou sem pressa o pistoleiro. E então, sorrindo, se levantou da cadeira.
Devagar, com calma e paciência Otelo Satanás disse ao bandoleiro aquilo pelo qual se falava a seu respeito numa forma sutil de provocação.
Otelo:
--- A que se diz por aí. ...O senhor é um sulista, baixo, covarde e mentiroso. – falou devagar Otelo.
O bandoleiro começou a sorrir e nada fez para atirar. Ele olhou para um lado e para outro vendo se tudo estava bem e sacou da arma. Porém, Otelo foi mais rápido e desfechou dois balaços nos peitos do bandoleiro. Os tiros empurraram de vez o bandoleiro a cair sobre um monte de caixas de bebidas e se esparramando no chão. Ao ser atingido, Teodoro já estava morto. O balaço fatal não permitiu qualquer imediata reação. Otelo por fim rodou a sua arma e a guardou no Colt. Nesse instante, uma voz e um tiro:
Ludmila:
--- Cuidado senhor! – e disparou o seu rifle para uma montanha de sacos armazenados por trás do bodegueiro.
Do alto dos sacos caiu um segundo bandoleiro atingido no peito pela a moça Ludmila. Isso não permitiu sequer ao bandoleiro notar. Mais atirador era morto. Nessa ocasião chegaram mais os dois pistoleiros: Renovato e o jagunço. Tao logo Renovato entrou na bodega foi logo a dizer ser bom verificar os papeis tidos no bolso de Teodoro.
Renovato:
--- Veja os papeis que ele apontava! Depressa! O jagunço me disse! – falou com segurança o pistoleiro Renovato.
O pistoleiro Otelo Gonçalves, o Satanás, verificou os bolsos do homem morto e encontrou vários assentamentos a indicar ser pagamento da Prefeitura ou do Prefeito de Alcântara. Foi todo ele remexido e o pessoal se destinou até a casa onde se hospedava o pistoleiro. Por lá foi encontrado mais documento onde tudo incriminava o Prefeito Jorge Nepomuceno. Sabedor do acontecido com Teodoro Fogaça, o prefeito achou por bem viajar para local e nem sabido onde podia acompanhar toda a história sem ser visto ou sabido. Os pistoleiros do Coronel de imediato voltaram para a fazenda em companhia de sua filha Ludmila. Era para além de meia noite quando a turma acabou a jornada. O Coronel Godinho estava a dormir e a sua filha resolveu deixa-lo para apenas transmitir as informações da manhã seguinte.
Na manhã seguinte, logo após o desjejum, o coronel foi chamado por sua filha para uma conversa muito séria. O  Coronel Godinho se irritou e foi logo a querer saber:
Godinho;
--- Se for para treinar tiro nem me chame! – disse o velho a bufar.
Ludmila;
--- Não é isso meu pai! É serio! – ponderou a sua filha.
Godinho:
--- Pode ser aqui? – indagou o coronel.
Ludmila:
--- No escritório é melhor! – recomendou paciente a sua filha.
Godinho:
--- No escritório? Eu só trato de política! – falou serio o coronel.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 31 -

- Adriana Birolli -
- 31 -
O PISTOLEIRO
Algumas semanas após, dois jagunços conversavam no terreiro da Fazenda Guandu, sede do doutor Godinho. Sobre assuntos recentes acontecidos. Dizia um de eles ter visto na Vila da Lagoa e, por acaso, notou a presença de um forasteiro bem armado, cinturão de balas a fazer um X no peito e outro cinturão na cintura a segurar dois Colts 45. O homem, todo de negro, nada falava. Apenas olhava os outros jagunços com sua vista profunda, calado, a tomar café sem nada perguntar. Apenas olhava ele os outros atiradores de aluguel. O pistoleiro chegava a dar arrepios, pois de conversa o verdugo nada falava.
Jagunço Um:
--- Nome! Indagou o jagunço numero Um
Jagunço Dois.
--- Não sei ao certo. Parece-me ter o tal o nome de Teodoro. Eu nada falei. Apenas bebi a cachaça e sai como entrei. – relatou o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- E tu pensas o que? – indagou outra vez o jagunço Um.
Jagunço Dois:
--- Eu não penso nada. Mas um forasteiro não vem a Vila por qualquer preço. Ainda mais do que eu ouvi em uma conversa com as mulheres do Vai Quem Quer. – relatou o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- Que diziam as mulheres? – indagou desconfiado o jagunço Um
Jagunço Dois:
--- Não foram muitas. Uma falou ter o pistoleiro a dormir no seu catre e, certa vez, um bilhete caiu do bolso de sua calça e estava nele o nome do Coronel e uns apontamentos. – falou baixinho o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- O senhor já falou para o coronel?  - quis saber o jagunço Dois.
Jagunço Dois:
--- Não. Estou falando agora para o senhor. Eu devo contar? – indagou o jagunço Dois.
Jagunço Um:
--- É bom. Mas é preferível falar com Satanás. Ele é o homem de segurança do Coronel. – fez ver o jagunço Um.
E o jagunço se voltou e foi à procura de Satanás, pistoleiro rápido no gatilho Era um dia de sexta feira. Satanás não havia retornado de viagem com o seu patrão, o coronel deputado Marcolino Godinho. Então resultou em esperar a volta de Otelo Gonçalves, o Satanás. O tempo era de estio e o vai e vem das carroças pela passagem do curral era tão comum com abelhas no favo. O pistoleiro ficou a olhar as carroças a palitar os dentes. Por esse tempo pensava ele no que dizer ao sanguinário Satanás homem tido como um brutal carniceiro. Na arcada do alpendre estava Renovato Alvarenga parecendo cochila, pois estava com o seu chapéu a cobrir os olhos e as pernas estiradas para o chão. De imediato chegou à moça a lhe oferecer café:
Emília:
--- Toma! Fiz agora! – disse a moça a Renovato.
O bandoleiro soergueu a aba do seu chapéu e olhou bem devagar para a moça. Em seguida tomou a xicara de café sem deixar de olhar para aquela arrumação de mulher. Esse, por caso, quase deixou cair a xicara e se voltou para sair. Na sua volta ela olhou para Renovato e foi para dizer ser dia de banho. O bandoleiro apenas sorriu.  O jagunço Dois estava sentado em um toco de pau logo abaixo do alpendre e notou o namoro dos dois. Mesmo assim não disse nada como se nada tivesse visto. Logo após surgiu a moça Ludmila a convidar o bandoleiro para um tira-teima no estande de tiro.
Ludmila:
--- Vamos? – perguntou a moça a sorrir.
O bandido tomou o seu café e de imediato se levantou, recolhendo os pés e se soerguendo a contento. De imediato, ajeitou o chapéu e saiu sem nada falar. O bandoleiro ajeitou a cela do seu cavalo a verificar se estava tudo em ordem. O mesmo fez a moça Ludmila e montou rápido largando afinal para o estande. Em companhia seguiu Renovato. O jagunço Dois ficou a olhar a ambos e depois deito na parede do alpendre. Ele baixou o chapéu como se fosse dormir com seus pés estirados para frente do banco. E se passou um tempo imenso até a chegada do carro a conduzir o Coronel e o seu guarda-costas Satanás. De imediato, o jagunço Dois se dirigiu ao açougueiro de vidas humanas e se pôs a falar.
Jagunço Dois:
--- Meu senhor. Tem um sujeito na Vila de nome Teodoro. Até aí nada mal. Mas uma mulher me informou ter visto caindo do seu bolso dele um papel com o nome do Coronel e uns números marcados. Ela não soube dizer os números. Só me disse isso. – falou manso o jagunço
Satanás:
--- O senhor a alguém? – perguntou Otelo.
Jagunço Dois:
--- Eu falei somente com o meu orientador. – fez ver o jagunço.
Satanás:
--- E porque está me dizendo? – indagou sem achar graça o celerado.
Jagunço Dois:
--- Foi por ordem do meu patrão. Ele mandou procurar o senhor. – disse mais o jagunço.
Satanás:
--- O senhor vai para Vila? – indagou meio cismado o bandido.
Jagunço Dois.
--- Só se o senhor quiser! – respondeu sem graça o jagunço.
Satanás:
--- Espere um instante! – fez vez o pistoleiro.
De imediato Otelo Satanás foi até o quarto do motor para falar com Júlio Medalha, seu lugar-tenente e convidar para um acerto de contas com o bandoleiro Teodoro. Júlio estava entretido com o motor e nem deu por conta de quem estava falando. Apena só ouviu quando Satanás lhe chamou pelas ouças e então percebeu o desacerto.
Júlio:
--- A gente vai aonde? – indagou meio confuso Júlio Vento.
Satanás:
--- Apressa com esse motor! Vamos a Vila da Lagoa e ver de perto esse tal bandoleiro. – respondeu áspero o líder do grupo.
Júlio:
--- Como o senhor irá conhecê-lo? – indagou ainda perplexo o lugar-tenente.
Satanás:
--- Eu vou perguntar a mãe dele, não é? Quem não conhece Teodoro nessas terras? Ora que pergunta! – respondeu irado Otelo Satanás.
Júlio:
--- E o Coronel? – perguntou Júlio maio apavorado.
Satanás:
--- Ele não sabe de nada! Só vai saber quando nos três voltarmos! – respondeu Satanás verificado seu revolver.
Júlio:
--- Três? Por que três? – indagou perplexo o bandido Júlio Vento.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

OS QUATRO CAVALEIROS - 30 -

- Meenakshi Thapa -
- 30 -
O CONTRATO
Nesse ponto o homem já bem desconfiado com as artimanhas de amigos ou inimigo mandou Anselmo entrar primeiro e ficou no aguardo do acontecer seguinte. Anselmo, pistoleiro afamado em toda a região não fez questão e entrou sem dar qualquer aviso. Em seguida foi também Teodoro, apesar de inquieto com a cabana armada no meio do nada, local escolhido pelo prefeito para combinar uma ação feita pelo bandoleiro. Com todo o cuidado Teodoro entrou na cabana e se pôs em ação temerosa em todos os sentidos. Anselmo era o mais tranquilo entre os dois pistoleiros. Nada o fazia temer. Apenas aguardava a chegada do seu chefe. E foi assim passando os minutos. Meia hora. E o chefe chegou. Ele era o prefeito Jorge Nepomuceno, astuto e sagaz, senhor de terras, as mais longínquas possíveis, capangas e muito mais dos homens decadentes do sertão. Nepomuceno mandou chamar o quadrilheiro Teodoro para um acerto de morte. Isso era todo o combinado. Após a caminhada. O rijo senhor de terras mostrou a ver o seu pensar ao matreiro homem mau.
Jorge:
--- Eu quero do senhor há averiguar o tempo em que sai e entra no sitio o Coronel Godinho. Isso é parte do plano. Ele é homem de pouca conversa. E o senhor fica no aguardo do acontecer. Apenas o senhor entra em ação após o pleito eleitoral. Nada antes. Só após a votação. Até lá o senhor fica hospedado em uma casa fora da cidade. Na Vila, pode ser. É bom não fazer nenhum assombro. – falou o homem prefeito de Alcântara.
Teodoro:
--- Nesse ponto o senhor me paga a metade do contrato antes e tem a minha estadia também. – acertou o pistoleiro.
Jorge:
--- Ótimo! Tudo acordado! E numerário segue amanhã. O senhor acompanhe o pistoleiro  Anselmo, pois ele mostra a tua hospedaria.  – falou sem graça o prefeito
Logo após esse acerto, o Prefeito Jorge Nepomuceno tomou o seu cavalo e, na companhia de pistoleiros caminhou para o seu destino. Teodoro fez o mesmo em companhia do pistoleiro Anselmo, homem duro de roer.
A Vila da Lagoa, canto remoto onde houve o assassínio de outros bandoleiros, era de uma distancia bem longa no casebre onde Jorge Nepomuceno se encontrou com o quadrilheiro Teodoro. Ao cair da tarde, Anselmo chegou uma espelunca onde não morava ninguém e mostrou a Teodoro a sua nova habitação.
Anselmo:
--- É aqui! – disse o pistoleiro Anselmo.
O bandoleiro desceu vagarosamente do seu cavalo e olhou para um lado e para o outro da rua já um pouco deserta de mulheres e crianças. Apenas alguns bandoleiros estavam a sentar em tamboretes na calçada da bodega da esquina um pouco mais além. Teodoro mandou Anselmo abrir a porta e entrar primeiro. Sempre com bastante cuidado, a olhar para um lado e para outro, até mesmo na cobertura das residências o bandido entrou afinal na moradia. Todo era calmo no recinto.  Cama, rede, sala mobiliada com pouca coisa, armário, guarda-louças, mesa, cadeira, tamborete, sanitário, banheiro e um quintal razoável. O bandoleiro viu tudo. Anselmo mostrou calado todas às dependências da casa. Mas há certo instante ele salientou:
Anselmo:
--- Uma mulher vem cuidar da habitação. – relatou o pistoleiro.
Teodoro o ouviu, porém não deu maior sentido a explicação. Apenas olhava o teto da casa para notar a segurança a poder servir. Após tudo explicado, Anselmo deu boa noite e saiu da casa.
A primeira noite em uma casa não surtia o efeito de satisfação para o celerado. Por isso Teodoro foi se aconchegar na Rua do Vai Quem Quer onde havia mulheres acalentadoras. Por lá também estavam alguns salteadores, porém nada fizeram de atropelos. Teodoro arranjou uma mulher para si e ficou a bebericar até a hora de entrar em um quarto desprotegido de qualquer coisa. Alguém falou alto no salão, porém Teodoro nada respondeu. Era caso de um alcoólatra. Os seus revolveres estavam juntos com ele. A dama se deitou a fazer carícias do homem. A noite era escura e após algum tempo tudo era silêncio.
O Deputado Estadual e Coronel, Doutor Marcolino Godinho chegou a sua fazenda em companhia de seu guarda-costas na sexta-feira, por volta das dez horas da noite. Ele passaria o final de semana na casa grande a examinar gados, cavalos e demais animais além de pesquisar o motor de luz já nesse tempo sob os cuidados do pistoleiro Júlio Medalha, chamado de Júlio Vento. Nada demais tinha ocorrido a não ser a morte do pistoleiro Fabiano perpetrada por seu empregado, Antero Soares, o Foguetão.  Disse o homem ter matado Fabiano em defesa própria e narrou o acontecido. Fabiano, como era sabido, vivia de contrato com o Prefeito Jorge Nepomuceno, homem forte da cidade de Alcântara. O coronel ficou calado logo depois do notificado. Disse ele ter de conversar com Nepomuceno na manhã seguinte. E manter calado o jovem Antero, pois nada seria útil nesses dias de acontecer o pleito eleitoral. Antero ficou acanhado por ter matado Fabiano, porém nada havia ocorrido contra o arremessador de punhais.
No dia seguinte, pela manhã, o prefeito Nepomuceno foi convidado pelo deputado a comparecer a sua fazenda. E foi. Entre conversas de gado e cavalos veio a tona a situação do matador Fabiano. Esse era ainda o assunto a ser ventilado. Contudo, o prefeito deu a desculpa de quem matou fez por bem. Afinal o morto era um desajuizado. O pistoleiro não tinha qualquer combinado com o prefeito, e se houve morte foi fora da sua repartição. E até mesmo o delegado estava de prova.
Jorge:
--- Quem matou, matou. Vamos deixar de arengas por causa de um celerado. Afinal foi ele mesmo quem comprou a briga. O delegado nem encontrou provas para prender o coitado. Para mim, a morte foi praticada pelo outro morto antes de morrer. Eu disse ao delegado: “Deixa pra lá, É menos um”! Foi o que eu disse ao sargento Tobias. Ta aí ele de prova! – relatou o prefeito ao Coronel.
Coronel:
--- E quem foi que matou? – indagou meio desconfiado o Coronel.
Jorge:
--- Eu não sei e nem me interessa saber. Eu até dou as condecorações da Cidade a quem o fez afinal o homem era um pistoleiro. – respondeu o prefeito olhando por baixo a fisionomia do Coronel.
Coronel:
--- Assim é melhor! E as eleições? O senhor vai sair mesmo para prefeito? – indagou o Coronel.
Jorge:
--- O senhor é quem sabe. Eu vou para qualquer lugar. Nem ainda comecei a campanha. Ou prefeito, ou suplente. Qualquer coisa me serve. – respondeu o Prefeito.
Coronel:
--- Está muito bem. E eu vejo ter havido exaltação de uma minoria pedindo mudanças.  Isso nem me preocupa. Afinal o Governo é quem manda mesmo. Quem for eleito e der apoio ao Governo terá o seu apoio. Eu estou do lado da situação. É isso! – respondeu de pronto o Coronel Godinho.
Jorge:
--- Eu digo o mesmo. Quem manda é o Governador. E, por sua vez, com o apoio da bancada federal e do Presidente. É assim que eu vejo! – relatou o prefeito de Alcântara.
Coronel:
--- Então está desfeita a lengalenga. Estamos com a barriga seca e vamos nos preparar para comer. – sorriu o Coronel convidado o prefeito a almoçar.
E dois homens foram para a mesa onde foram postos os mais nobres pratos da casa. Estavam presentes, além do prefeito e do coronel os homens da segurança, como os pistoleiros Otelo Gonçalves Dias, Júlio Medalha, Renovato Alvarenga e Antero Soares, o matador do perverso assassino de aluguel o homicida Fabiano, cujo corpo foi despejado em um canto da Caverna do Diabo. Ainda se fazia presente à esposa do coronel Godinho, senhora Cantídia e a filha de ambos a moça Ludmila. Para servir a mesa era apenas a moça Emília. Quando se fazia necessário outra doméstica estava presente. No curral ouvia-se o estalar do chicote sobre o dorso dos equinos. Um realejo solitário entoava uma canção de certo gosto como se tivesse posto para fazer tal ato. A tarde começava e nada mais acontecia.