quinta-feira, 2 de maio de 2013

"NARA" - 44 -

- Agatha Moreira -
- 44 -
TRAGÉDIA
O caso tomou maior impacto quando Margarida descobriu um corpo sem a sua cabeça. Um grito de comoção e horror se ouviu de parte a parte dos que estavam a vasculhar o destroço daquilo que fora um ônibus. E entre gritos e prantos as ainda poucas pessoas vasculhavam os escombros em uma curva acidentada onde houve o desastre. Ouviam-se gemidos de dor com muitos doentes, quase todos sem nada poder fazer. Alguns não tinham um braço. Outro lhe faltava uma perna e os melhores estavam todos ensanguentados por conta de outros feridos. A enfermeira da ambulância fez-se de dura a procura dos ainda vivos, pois a morte campeava no chão árido. E aos poucos chegavam carros vindos da parte de Caicó, Currais Novos e outros municípios e a ajuda então toma folego. Os feridos eram de imediato posto nos carros os quais seguiam destino a fora em busca de Santa Cruz. Com esse tempo surgiu uma equipe de soldados, nada mais que cinco homens, incluindo o delegado de Santa Cruz. Por não terem condução eles vieram em carros particulares. Alguém falou em uns militares de Currais Novos. Esses também vieram em suas motos. Eram poucos. Não mais de três. Equipes de paramédicos de Santa Cruz também vieram ao local do acidente. Aos poucos se juntavam todos: um verdadeiro batalhão a procura de ajuda. Alguém contou os mortos.
Alguém:
--- Eu contei vinte corpos. – relatou um dos ajudantes da tragédia.
Outro:
--- Mas tem três ali. – dizia outro todo molhado de suor e sangue. E apontava o seu dedo em direção aos três mortos.
Um policial detinha um dos que estavam na ajuda, pois pegara o rapaz a saquear as vítimas. E assim o militar seguia com o desastrado a procura de um pé de pau onde o poria amarrado com cordas.  Margarida procurava a cabeça de uma mulher. Essa mulher perdera a cabeça e Margarida a chorar nada pode divisar entre o matagal existente na ribanceira. Um rapaz disse então;
Rapaz:
--- Encontrei uma cabeça. – e mostrou soerguendo em suas mãos
A moça quase desmaia de tanto horror sentido.
Margarida:
--- Ai meu Deus! É da defunta! – disse alarmada a moça.
O homem subia a rampa com uma criança de colo. Outro ajudava um ancião a caminhar. Nem sempre podia e tinha de conduzi-lo nos braços.
Homem:
--- Vamos meu pai! É logo ali! – recomendava o moço.
Nesse meio tempo uma guarnição do DNER ( Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) chegou ao local e outras viaturas particulares faziam a retirada das pessoas com vida e partiam como loucas em busca de outras cidades para atender aos pacientes. Era um tumulto, pois aquele acidente não era mais o único havido naquela estrada cuja ribanceira de mais de cinquenta metros de profundidade provocava vertiginosos tombos de carros, carretas e ônibus a fazer percurso entre Natal e interior. Eram mais de duas horas de trabalho e Margarida nem ouviu o chamar do seu pai adotivo, uma vez ter ela o trabalho constante de ajudar aos mais dedicados. Quando tudo chegou ao seu final, o número de mortos foi contado: trinta e seis ao todo. Pouca gente sobrou com vida.  
Margarida:
--- Pronto! Terminei! Agora é com você! – fez ver a moça.
Na tarde daquele dia Margarida se limpava de todo sujo quase como pregado em seu corpo. O velho senhor Amaro Boba Castro lamentava o acidente a conversar com o vaqueiro Tomaz. Entre outros assuntos, o velho chegou a dizer ter de ir ainda naquele dia para a Capital, pois levaria a moça para deixar os negócios esfriarem um pouco.
Amaro;
--- Nunca se sabe o que pode acontecer. Por isso é melhor eu levar a moça. – comentou com vista para os lados.
Tomaz:
--- E se a Polícia. .... – sem completar o dito.
Amaro.
--- Bem! Você diz que eu fui. E que a moça saiu para a casa de um padrinho ou qualquer coisa desse modo. – falou com voz baixa o homem.
O vaqueiro coçou a cabeça e se mostrou inquieto.
Tomaz;
--- Que padrinho? – indagou.
Amaro:
--- Não sei. Inventa um nome qualquer. Diz que a moça foi para repousar do cansaço do desastre. – comentou
Tomaz;
--- Bom. Está bem. Eu invento. – falou o vaqueiro.
No caminho de volta o velho Amaro Castro ficou a meditar como faria para por a moça em casa, apesar de sua mulher saber do apadrinhado do homem. Mas, era de supor ter a mulher Clotilde, ficar de orelha em pé em ele buscar a filha adotiva assim nem mais. Tantas coisas e ele a pensar de negócios sem maior importância. Afinal o rapaz estava morto de vera. De vera. O caminho era um pouco longo, principalmente à tarde/noite como era de fazer. Amaro ainda olhou mulheres e crianças a arrumar suas casas quando era quase noite. O terremoto foi sentido também naquele mato grande de fazer medo. Homens, quando muito mal vestidos, procuravam ainda um chinelo para calçar. Outros ficavam a olhar o tempo para ter a certeza do estrado já haver passado de vez. Alguns vaqueiros escutavam um homem já idoso. Amaro viu esses instantes apenas ao passar de carro pela cercania da cidade ainda longe. Aquela cidade interiorana muito longe da capital. Na Igreja Católica as portas estavam abertas e o pessoal adentrava. Era sinal de haver novena ou coisa assim. Algum falava na praça em frente a matriz. Assuntos os quais a ele só interessava. Os pássaros já estavam recolhidos. Apenas as aves noturnas cruzavam o céu. Um cão atravessou lentamente a estrada calçada. Já era a cidade. Gente em uma padaria. Um bar. Uma casa de residência. Outra. Um, dois, três e mais carros estacionados. Caminhão carregado de torta. E seu Amaro Borba não se importava com tudo o que estava percebendo. A moça, Margarida, pediu a seu pai de criação uma parada em um restaurante de estrada:
Margarida:
--- Pare ali no restaurante. – falou a moça sem nenhum motivo.
Amaro:
--- Está com fome? - indagou o homem.
Margarida;
--- Pão com queijo. – disse a moça.
Amaro:
--- Não almoçou? – indagou
Margarida:
--- Coisa alguma. –declarou.
Começava a anoitecer. O veículo estacionou em um ponto reservado. Um casala de jovens passavam a discutir sobre algo. Margarida ficou sozinha no interior do carro. Um garoto chegou com uma flanela e despejou água no para-brisa. Depois passou o pano. E nada o garoto falou. Esperava tão somente a gorjeta. A moça o olhava se motivo. Pessoas entravam no restaurante. Outros veículos chegavam. Um rapaz descia do carro. A mulher também. Era um casal. Uma garota ficou dentro do automóvel. E gritou:
Garota;
--- Sequilho! – pediu a menina com voz ativa.
Um ônibus cruzava a estrada. O caminhão voltava. Tudo era o comum. Mesmo no posto de combustível onde os prestadores de serviços atendiam aos clientes de viagem. A virgem ligou o rádio do carro para ouvir qualquer assunto. E logo a notícia se espalhou. Um ônibus virou na curva da estrada de Santa Cruz. Havia mortos e feridos. Muita gente a prestar imediato socorro. Margarida não queria saber de mais nada. E desligou o rádio do automóvel. Demorou um instante para seu Amaro Borba retornar. Ele trazia dois hambúrgueres, espécie de sanduiche de carne com queijo, bacon, ovos fritos além de cebolas, alface e tomate. Além dos alimentos Amaro trazia copos de sucos. Ele entregou uma parte a Margarida e ficou com a outra. O homem também não almoçara a contento. E ali mesmo de refastelaram. Nuvens no céu demonstravam sinal de chuva. O homem se alegrou. E de imediato pensou em Margarida. Ele tentava saber de algo mais. Mesmo assim, calou.
Amaro:
--- Chuva! Ótimo! – disse o homem.
Em instantes o automóvel partiu e estava na cidade às oito horas da noite. Havia carros demais na estrada.

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