domingo, 5 de maio de 2013

"NARA" - 47 -

- Evan Rachel Wood -
- 47 -
CONTINUA
A conversa continuou por mais tempo quando Amaro e seu filho tomavam café da manhã na sala de serviços. A questão de Margarida era o toque principal. Ela era menor de idade. Isso seria bom.  E estava pendente o caso de defloramento. Esse era bem mais grave. Contudo, o motorista foi morto em consequência de o tiro desferido por Margarida. Sempre que há crime existe um culpado. Nesse caso “todos” viram um “homem” de fora atirar em Salvador, o motorista. Mesmo com o depoimento de quem estava por perto, não valeria muito se a defesa da vítima, no caso Salvador, pusesse por terra tal questão. Seria alegação por demais de “falso testemunho” para todos os efeitos. A Polícia não havia procurado a moça até aquela data. Nesse caso, o fato estava a “esfriar” um pouco mais. Era essa a chave da questão levantada por Eurípedes. Ligando-se a saída de Margarida para a capital se teria então a “fuga”. Esse caso seria levantado pela Promotoria. E a conversa entre pai e filho não terminaria nesse ponto. O melhor seria constituir um advogado para Margarida, uma vez ter havido suspeita de a moça ter arribado da fazenda.
Eurípedes:
--- Doutor Vilaça é um bom advogado. Seria bom consulta-lo. – lembrou o médico.
O velho observou se havia gente por perto e nada comentou. Com um pouco de tempo surgiu Margarida vida do quintal e passando na sala de jantar. Então a moça cumprimentou o médico como se nunca o tinha visto e saiu a galope. O velho Amaro olhou para o filho sem nada dizer. Eurípedes foi quem chamou:
Eurípedes:
--- Menina! Volte aqui! – disse o médico com alegria.
Margarida:
--- Eu? – perguntou surpresa e sorriu.
Eurípedes:
--- Nós não nos falamos desde que a senhoria voltou. Venha! – continuou a chamar.
Margarida sorriu e deu meia volta se acercando de Eurípedes. De imediato foi dizendo:
Margarida:
--- Bom dia. Em que posso ser útil? – sorriu a mocinha.
Eurípedes:
--- Apenas um beijo. E me contar as novidades. – sorriu o médico.
De pronto a moça concordou com o pedido e disse não ter muita coisa a contar. E assim  ficou de pé junto Eurípedes a sorrir bastante. Enfim, Eurípedes puxou a moça pela cintura e fez a mesma se sentar em seu colo. Naquele instante o rapaz reclamou e pediu que Margarida saísse:
Eurípedes:
--- Cu duro! Vai matar o cão! – disse o rapaz a sorrir enquanto a moça saía de cima do doutor.
Margarida:
--- Foi o jeito de me sentar. – disse a moça a sorrir.
E os dois conversaram um tempo, não muito, é verdade, porém o instante desejado pelo médico. Ele não quis se adiantar no assunto do crime de Salvador, mas perguntou por sua mãe  Clotilde e a moça deu como resposta ter a mulher saído logo cedo com uma comadre para assistir o Santo Oficio da Missa devendo retornar dentro de instantes. O médico sorriu e agradeceu dando-lhe um tapa nas nádegas ao se despedir por instantes. A moça olhou para trás e nada falou. Apenas sorriu com a molecagem do seu irmão. Nesse mesmo instante entrava na sala de jantar a jovem Rócia com acara de sono. E de imediato pediu a benção do seu pai e deu um beijo no rosto do seu irmão. Os dois conversaram um pouco e Rócia saiu para o toalete do banheiro. De longe, Eurípedes falou a gracejar:
Eurípedes:
--- Veja se não fede! – falou um pouco alto.
A moça nada respondeu, mas deu uma boa gargalhada.  
Pouco antes das nove horas Eurípedes estava em casa de Nara. Consultas ou coisa e tal mais a lembrança de, na segunda feira, Nara teria de ir à Maternidade para fazer o acompanhamento por conta a enfermidade descoberta. O pai de Nara chegou do mercado onde fora tagarelar e cumprimentou o seu futuro genro. Na ocasião Sisenando falou sobre as aulas dos Grupos e Colégios. Nesses locais não havia aulas por esses dias devido ao terremoto. Os professores teriam assembleias nesse sábado para decidir o futuro dos escolares, pois em algumas escolas a situação era vexatória. Além de escolas, outros departamentos federais, estaduais e do próprio município entraram em colapso.  O Departamento de Transito foi um dos tais.
Sisenando:
--- Caos! Um caos! – relatou com exatidão.
Por seu lado, àquela hora, o velho Amaro Castro chegava à fazenda. Ele teria de buscar outro caminhão tanque para fazer o abastecimento de água para o seu minguado gado.  Na cidade de Santa Cruz a situação era vexatória. Os carros tanques, quase todos, operavam para a Prefeitura a conduzir água para abastecer as moradias. Igualmente na cidade, não havia aulas nos Grupos e as repartições estavam paradas por ter havido prejuízos nas suas dependências por conta do recente terremoto. Até o cemitério do lugar se encontrava com muitas covas a descoberto. Também havia falta de água e os coveiros abandonaram o serviço.  Na Rodoviária ninguém mais estava. Era tudo desamparo. Havia uma parada de ônibus onde meninos vendiam cocadas e coisas assim. Uns ébrios a dormir sossegados como se nada houvesse a ter. Mulheres de roupas sujas andavam para um lado e para outro sem saber para onde ir. Um rapaz com um calão de água era tudo o que se via. Havia velhos a sentar em uma pedra e comentar a desgraça havida por causa do tremor. Uns cuspiam. Outros mascavam. Um mendigo passou para qualquer canto. Meninos jogavam com pedras como se fossem bolas de gude. Sol já quase a pino. Uma carroça passou conduzida pelo homem a levar uma carga de bananas. Gado solto pela rua. Isso era tudo o que existia em Santa Cruz esgotada pela seca. No igual instante chegou a praça o velho Amaro Borba em busca de um caminheiro qualquer. Dois ou três velhos estavam a cozinhar conversa e quase não ouviram o dono da terra. Tomaz acompanhava o patrão. E foi ele quem falou:
Tomaz:
--- Bom dia. Eu busco o homem do carro d’água. Por favor, os senhores sabem onde encontro? – indagou.
Velho olhou para Tomaz de cima abaixo como quem faz careta e logo declarou:
Velho:
--- Seu menino! O senhor espere um pouco, pois daqui a instantes chega um na praça. – falou o velho.
Tomaz:
--- Tem muitos? – indagou.
Velho:
--- Uma ruma! A maior parte trabalha pondo água para seu prefeito. Mas nem todos. Se mal lhe pergunto: como se chama? – indagou o velho.
Tomaz:
--- Eu me chamo Tomaz. Pois tá bom. Eu espero. – falou o vaqueiro.
E rodopiou nos pés caminhando para o local de onde tinha saído. Tirou o chapéu da cabeça para poder coçar. O velho era do mato e sabia muito bem quem era o vaqueiro. De imediato, Tomaz chegou até onde ficara o veículo e fomentou para o patrão ser possível encontrar alguém a transportar água. Mas, o pessoal estava fazendo transporte para a Prefeitura. Isso levaria algum tempo. Era preciso esperar alguém. O homem ficou amuado e salientou ser necessário se ir para uma sorveteria ou coisa assim. Ele estava com bastante sede. O vaqueiro concordou. E pediu para ficar a espera de alguém para fazer o trato.
Tomaz:
--- Eu fico aqui esperando o motorista. O senhor pode se dirigir aquele quiosque. – apontou o vaqueiro.
E o tempo se passou por um longo período até Tomar ouvir a zoada de um motor. Na verdade era um caminhão de transporte de água. Ele se pôs a beira da estrada e fez sinal para o motorista. Sem maior cuidado o motorista brecou o caminhão tanque próximo ao local onde estava Tomaz e indagou a razão. O vaqueiro disse que seu patrão precisava de água para o gado e não mais chovera no sertão.
Motorista:
--- Onde fica a fazenda? – indagou o motorista.
Tomaz:
--- Perto da Lagoa dos Burros. Tem estrada. Fazenda Boqueirão. Logo perto. – explicou com razão o matuto.
Motorista:
--- O patrão? – indagou cismado.

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