terça-feira, 28 de maio de 2013

"NARA" - 66 -

- Isabelle Drummond -
- 66 -
UM MÊS
Um mês depois os exames clínicos do senhor Amaro Borba Castro estavam concluídos e o homem teria de se submeter a uma cirurgia de próstata aparentemente benigna, pois não havia enfermidade na qual o comprometesse. De um modo ou de outro ele chorou por demais e deu adeus ao novo membro da loja de produtos para o gado. José Tomaz se fez de forte e disse apenas estar o velho muito em breve na fazenda. O seu filho, o médico Eurípedes tranquilizou de forma carinhosa e não falou em risco algum durante a cirurgia. O velho Amaro era um homem bastante forte capaz de aguentar tais atropelos. Enquanto isso, dona Clotilde continuava no Rio de Janeiro na esperança de ter o filho de volta muito em breve. Fabiana, a sua filha fazia plantão no Hospital para dar maior atenção ao seu irmão Jonas. Ele, um doutor formado em advocacia, mantinha seu emprego no Ministério da Fazenda. Por isso mesmo, o quatro de visitas era intenso nos primeiros dias. Depois amornou e já estando a um mês de hospitalização quase ninguém do Ministério aparecia salvo um amigo mais chegado de nome Magela. Esse rapaz de mais de quarenta anos todas as tardes se acercava do Hospital para cumprimentar Jonas e sorrir a vontade com qualquer pilheria dita pelo enfermo.
Magela:
--- E aí? – perguntava Magela ao doente.
Jonas:
--- Esperando que a chuva passe para dar minhas cambalhotas. – respondia sem sorrir.
Nesse ponto era tudo o esperado por Magela para então gargalhava às pencas. E depois de muito sorrir o rapaz voltava a indagar.
Magela:
--- Não rapaz. Eu estou falando sério. E aí? – ele fazia a igual pergunta
E mesmo assim o homem respondia.
Jonas:
--- Não estou afirmando! Cambalhotas! – respondia sem sorrir
Com isso, o rapaz de quase meia idade voltava a sorrir com toda a graça que Deus lhe deu. Ele, apesar de ainda jovem, não era casado e se tinha algo escondido, era bem escondido, uma vez não falar do assunto a ninguém. Magela morava na companhia de duas irmãs, sendo uma casada e a outra separada como se costumava falar. Foi nesse tempo que urgiu a enfermeira a verificar o estado de saúde do doutor Jonas e dar seu parecer na tabuleta. Nesse instante Magela olhou de forma atraente a enfermeira, mas sem nada falar. Jonas o observou e deu seu parecer para o visitante na frente da enfermeira;
Jonas:
--- Que tal? É boa? Uma potranca dessas! – olhou a enfermeira e fez sinal para Magela a declarar para ele avançar.
Magela, temeroso, não disse nada. Apenas pigarreou. Ele quis sorrir mais não teve coragem. E preferiu ficar calado com seus olhos delicados a observar apenas Jonas sem ao menos sorrir. Então Jonas, sempre metido, falou sem vergonha.
Jonas:
--- Vai lá homem. Atraca a fera. Ela está esperando. – declarou o rapaz.
A moça sorriu e quis desmanchar o curativo feito no braço do homem, com a cara ligeiramente maldosa e por fim foi dizendo:
Fabiana:
--- Vem! Vem! Prá ver o que eu faço! Vem! Corno frouxo! – respondeu a irmã do enfermo.
Jonas:
--- Olhe! Não faça isso! Eu digo ao padre! – disse o irmão diante de Magela sem saber serem os dois de uma só família.
Fabiana;
--- Pois vem! Você não presta mesmo. E esse? Parecem dois porquinhos! Comem no mesmo coxo! – disse a irmã de Jonas a sair toda atraente em direção à porta do apartamento solitário.
Ela foi saindo e da porta estirou a língua para o irmão. Nesse ponto Magela, cabisbaixo,  tremendo de medo, indagou do enfermo:
Magela:
--- Quem é? Tua parenta? Homem! Você me colocou em uma tremenda enrascada! – falou temeroso o visitante.
Jonas:
--- Que nada! É minha irmã! Eu “brigo” com ela para azucrinar! Mas ela é gostosa, não achas? – indagou o paciente ao seu amigo.
Magela:
--- Homem! Ela a tua irmã! – sorriu condescendente e face ligeiramente envergonhada.
A fala branda de Magela ao se referir ao pensar não foi muito além do irmão de Fabiana. Mesmo assim e de qualquer forma, Jonas continuou a perturbar o moço para sentir o ponto do mesmo gargalhar ou de ir embora. Não que Jonas quisesse expulsar Jonas do seu amargo e silencioso apartamento. Porém pelo fato de se divertir cada vez melhor. Há certo instante o enfermo vacilou e pediu a Magela de falar algo de sua vida. O rapaz levantou a face e se pôs a gargalhar. Inconformado, Magela indagou:
Magela:
--- Que pretendes saber? – indagou o rapaz a gargalhar
Jonas:
--- Nada. Apenas para mudar de conversa. – rebateu o homem.
Magela gargalhou como nunca e não disse coisa alguma. Apenas gargalhava quando olhava a cara de Jonas. Uma situação incoerente a dos dois amigos de repartição. Diante de todo o exposto Jonas mergulhou mais calmo e voltou a indagar.
Jonas:
--- O teu nome é Geraldo Magela Gonçalves. Disso eu sei. Nasceu em Natal, Rio Grande do Norte. Também sei. Data de nascimento; 02 de janeiro de não sei quanto. Isso é segredo. Mas falta-me saber a hora exata do parto. – sorriu o enfermo.
Essa foi à conta: Magela gargalhou de bater a cabeça no joelho. E rodopiou até cair sentado. Depois de demorado tempo o rapaz se levantou de onde caíra e olhou a cara sem vergonha do amigo e voltou a gargalhar batendo com as mãos na face. Nesse momento entrou no apartamento do Hospital a virgem Fabiana. A olhar com temeroso espanto o resto de homem se arrastando no chão foi a vez de indagar;
Fabiana:
--- O que está havendo aqui Santo Deus? Ave Jesus! – foi o que pode dizer sem mais assunto.
Nesse momento Magela se levantou de onde estava e foi declarar ser o Jonas culpado de tudo aquilo, mesmo ainda a gargalhar. Ele apontava apenas o indicador.
Magela:
--- Foi ele. Esse imprestável. – respondeu a gargalhar o rapaz.
Jonas:
--- “Foi ele” uma ova! Eu perguntei apenas a hora de nascimento dele! – disse o rapaz a sorrir.
Fabiana:
--- Você não presta mesmo. – cuidava Fabiana da mudança do lençol da cama.
Jonas:
---E tem mais: Ele quer casar com você. Disse a mim: “Como uma moça tão bela como Fabiana não arranja um namorado?”. Foi ele quem disse. Foi ele! – apontou o indicador para Magela.
Magela:
--- É conversa dele dona. Eu não disse nada disso. Ele é quem se apaixonou pela senhora. – respondeu Magela a gargalhar com a mão a cobrir o rosto.
Fabiana:
--- O senhor também parece ser igual ao traste! – respondeu Fabiana arranjando a cama.
Magela:
--- Eu? Eu? É danado! Agora sou eu? – indago a gargalhar o visitante.
Fabiana;
--- Para mim nenhum dois presta. – aventou a moça arrumando a cama do doente.
 

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