- Rita Guedes -
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CHUVA
Quando
Eurípedes, a sua noiva Nara e a sua mãe, Clotilde chegaram ao Rio de Janeiro o
tempo era de chuva. Muita chuva. Do aeroporto ao Hotel demorou e tanto. O taxi
levou bastante tempo por causa do transito e as enxurradas. Quase faminto, pois
no avião ele nada comeu por ser refeição não apreciável. O rapaz não sabia se
aliviava gases do estomago vazio ou se rumava à pé, enfrentando chuva e
buracos. Já estava passando horas e ele impaciente. A sua mãe Clotilde apenas
rezava o oficio de forma calada. A noiva Nara reclamava da chuva. Nada se
percebia por volta de cinquenta metros. Após a espera irritante com os seus
comentários evasivos, por fim, o taxi parou em um Hotel. Eurípedes nem
perguntou qual a classe. Apenas buscou os pertences levados também pelo taxista
e quase a vomitar pediu as chaves dos apartamentos que fossem ligados um ao
outro. O recepcionista atendeu ao hóspede com presteza, mas tinha no rosto uma
expressão enfadonha. Hospedes e frequentadores do salão de jogos seguiam para
um lado e para outro. Um hóspede procurou sair, porém desistiu, pois a chuva
era intermitente e cada vez volumosa. O frio enregelou os ossos na noiva de
Eurípedes. Em um dado instante a moça se encolheu toda a dizer:
Nara:
--- Frio! –
falou a moça totalmente encolhida.
Carros
passavam pela rua larga a espalhar a lama em todas as direções. As pessoas a
passar procuravam se livrar de um total
banho. Namorados a sorrir buscavam a proteção de um amparo qualquer. Meretrizes
vagavam molhadas pelo temporal. Ébrio fazia discurso com a mão para cima e um
dedo apontando para o Céu a falar algo incompreensível. O temporal implacável rugia pelo som dos
trovões e se iluminava pelas fagulhas dos relâmpagos. O mar parecia sentir todo
o fragor da tempestade. Um uivo distante era ouvido parecendo o ladrar de uns
cães selvagens. O inferno aplacou suas selvagens garras como titãs cruéis. E
caiu de vez com brutais ondas de terror a invadir o chão noturno do calçamento
da Avenida Atlântica na praia de Copacabana. Volumosas ondas abocanhavam
sinistras suas vitais arrebatantes entranhas de horror. Vidros se estilhaçavam
caindo ao chão vindo das imensas alturas dos arranha-céus. Era o verdadeiro
terror a enfrentar as vertiginosas ondas do intranquilo oceano. Um quiosque se
arrebentou de repente na estranha fúria do mar caindo por cima de todos e tudo.
Mais a frente o mar cruel avançou arrogante a penetrar com raiva em um Hotel de
verdadeiro luxo. As ondas bárbaras devastavam tudo aquilo encontrado pela
frente. Era o caos. A exata e apreensiva desordem. Ao furor da tempestade o
médico Eurípedes galgou depressa com a sua mãe e a noiva amada para o
apartamento de esmerado luxo a procura de qualquer agasalho para os
intranquilos hóspedes.
Nara:
--- Ave Maria!
Que tempestade! É o furor dos deuses! – disse a moça ao recordar seu pai.
Euripedes:
--- Isso
somente é uma chuva de passagem. Amanhã está tudo calmo. – foi o que o rapaz
falou
Clotilde:
--- Meu filho
amado. É o que eu penso. – disse a mulher a rezar sem parar com seu oráculo.
Já pleno de
aborrecimento o rapaz pediu ligação externa para a capital do País. A
telefonista de imediato atendeu. E feito o chamado a irritante espera. Demorou
certo período até uma voz do outro lado do fio responder. Pelo visto era uma
doméstica. De qualquer forma o rapaz indagou se era da residência de doutor
Jonas:
Eurípedes;
--- Quem fala
é o seu irmão Eurípedes. Preste-me uma informação. Eu estou no Rio. Como ele
está? Depressa por favor. – perguntou intranquilo o rapaz.
Demorou certo
período até a voz falar.
Voz:
--- Ele está
no Hospital. – disse com receio a voz.
Eurípedes;
--- Sei. Mas
como está! O estado de saúde. É grave? – perguntou o médico
Voz:
--- Não sei
dizer. Mas eu acho que não. Mas o senhor é médico? – indagou.
Eurípedes:
--- Sim. Mas
isso não vem ao caso. Em que hospital está Jonas? – indagou intranquilo.
A voz parou de
responder até outra pessoa atender. E foi perguntando se ele era o medico e
onde estava naquele momento. O medico respondeu e quis saber do estado de saúde
de Jonas e da sua esposa Claudia. Houve silêncio. Com pouco de tempo a voz
falou:
Milena:
--- Eu sou
Milena. Minha irmã veio a óbito. – e caiu em prantos.
O rapaz se
inquietou de repente. Porém se manteve tranquilo perante a sua mãe. O silencio
permaneceu por alguns segundos. E na sequência o medico indagou a que horas
houve o óbito e a moça informou ter sido coisa de duas horas mais ou menos. O
sepultamento do corpo seria na manhã ou à tarde do dia seguinte. Milena
informou ainda ser a enfermeira. Tudo isso a moça dizia a chorar. Havia mãe, pai
e outros irmãos no Hospital naquele momento. O esposo não sabia do estado de
saúde da mulher. Por sinal ele estava dopado. Além de medicado, Jonas estava
engessado das costelas, braço e perna. Ele não podia se mover. A perna direita
estava imobilizada. Os médicos mantinham severa vigilância de paciente. Por
isso, o homem ficara totalmente anestesiado. A visita apenas pela tarde.
Eurípedes:
--- Como pela
tarde? Eu quero meu irmão em uma sala de primeira qualidade. Eu vou seguir até
esse Hospital. Eu sou médico. E os médicos devem entender muito bem disso! –
reclamou ostensivamente.
O tempo
continuou carrancudo com relâmpagos e trovões a todo instante sem dar a menor
trégua de amenizar. Eram cinco horas da manhã do dia seguinte quando tudo se
acalmou de verdade. O mar deixava as suas manchas no calçamento e, mesmo assim,
os habitués já estavam a fazer o seu caminhar diurno como se nada houvesse a
temer na Avenida Atlântica, na praia de Copacabana. O vento frio deixava
antever a manhã de sol. Os rapazes do banho de mar já estavam a surfar com suas
pranchas desde a Leme até o Forte. Os menos atrevidos faziam o percurso em
pleno calçadão. No Hotel, o serviço de quartos começava a atender aos
visitantes da noite e outros dias. Dona Clotilde após a sua prece da manhã
tomou o seu café com leite e bolachas enquanto Nara estava em seu banho. O seu
filho bateu à porta e entrou. De instantes verificou se tudo estava certo e
logo foi dizendo.
Eurípedes:
--- Eu vou um
pouco antes para saber como está Jonas. A senhora deve ir ao sepultamento de
Claudia, às dez horas da manhã. Eu irei também É um clima de luto. A senhora
deve trajar vestido escuro, uma malha. Leve também o terço. – falou muito calmo
o rapaz.
Clotilde:
--- Eu sei
disso. Não precisa lembrar! – falou áspera a mulher.
O rapaz não
sorriu. Esperou apenas por sua noiva para dar iguais recomendações. E perguntou
a esmo.
Eurípedes:
--- E Nara tem
trajes para tal? – indagou cismado.
A sua mãe não
respondeu. Apenas ficou a lambiscar os biscoitos molhados no café com leite. Em
dado instante, Nara surgiu do banheiro. E vendo o noivo ali perto se trancou de
novo. E foi logo dizendo:
Nara:
--- Preciso
sair! Fora! – falou a moça em tom de desespero.
Eurípedes:
--- Eu sei.
Vou sair. Pergunto se você tem trajes de sepultamento! – indagou sem motivos.
Nara:
--- Não. Agora
cai fora! – discursou a moça.
Euripedes:
--- É bom
adquirir um vestido no magazine. E agora eu vou embora. Imagine! Quem te viu
nua! – gracejou o rapaz.
A moça ouviu e
arremessou uma sandália contra o rapaz indignada com a alusão por conta dos
exames feitos na Maternidade quando a moça teve de se mostrar aos médicos na
hora da hemorragia uterina. O médico se livrou da agressão e saiu do quarto
a gracejar.
Nara:
--- Bruto!
Estúpido! Néscio! – falou magoada.
Logo depois
das sete horas, Eurípedes já estava no Hospital, todo paramentado, inclusive
com seu crachá a procura do médico de plantão. Após o dialogo com o médico, foi
de pronto autorizada à transferência para novo apartamento. O sepultamento de
Claudia Rizzo ocorreu às dez horas da manhã daquele dia.
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