quinta-feira, 23 de maio de 2013

"NARA" - 63 -

- Rita Guedes -
- 63 -
CHUVA
Quando Eurípedes, a sua noiva Nara e a sua mãe, Clotilde chegaram ao Rio de Janeiro o tempo era de chuva. Muita chuva. Do aeroporto ao Hotel demorou e tanto. O taxi levou bastante tempo por causa do transito e as enxurradas. Quase faminto, pois no avião ele nada comeu por ser refeição não apreciável. O rapaz não sabia se aliviava gases do estomago vazio ou se rumava à pé, enfrentando chuva e buracos. Já estava passando horas e ele impaciente. A sua mãe Clotilde apenas rezava o oficio de forma calada. A noiva Nara reclamava da chuva. Nada se percebia por volta de cinquenta metros. Após a espera irritante com os seus comentários evasivos, por fim, o taxi parou em um Hotel. Eurípedes nem perguntou qual a classe. Apenas buscou os pertences levados também pelo taxista e quase a vomitar pediu as chaves dos apartamentos que fossem ligados um ao outro. O recepcionista atendeu ao hóspede com presteza, mas tinha no rosto uma expressão enfadonha. Hospedes e frequentadores do salão de jogos seguiam para um lado e para outro. Um hóspede procurou sair, porém desistiu, pois a chuva era intermitente e cada vez volumosa. O frio enregelou os ossos na noiva de Eurípedes. Em um dado instante a moça se encolheu toda a dizer:
Nara:
--- Frio! – falou a moça totalmente encolhida.
Carros passavam pela rua larga a espalhar a lama em todas as direções. As pessoas a passar  procuravam se livrar de um total banho. Namorados a sorrir buscavam a proteção de um amparo qualquer. Meretrizes vagavam molhadas pelo temporal. Ébrio fazia discurso com a mão para cima e um dedo apontando para o Céu a falar algo incompreensível.  O temporal implacável rugia pelo som dos trovões e se iluminava pelas fagulhas dos relâmpagos. O mar parecia sentir todo o fragor da tempestade. Um uivo distante era ouvido parecendo o ladrar de uns cães selvagens. O inferno aplacou suas selvagens garras como titãs cruéis. E caiu de vez com brutais ondas de terror a invadir o chão noturno do calçamento da Avenida Atlântica na praia de Copacabana. Volumosas ondas abocanhavam sinistras suas vitais arrebatantes entranhas de horror. Vidros se estilhaçavam caindo ao chão vindo das imensas alturas dos arranha-céus. Era o verdadeiro terror a enfrentar as vertiginosas ondas do intranquilo oceano. Um quiosque se arrebentou de repente na estranha fúria do mar caindo por cima de todos e tudo. Mais a frente o mar cruel avançou arrogante a penetrar com raiva em um Hotel de verdadeiro luxo. As ondas bárbaras devastavam tudo aquilo encontrado pela frente. Era o caos. A exata e apreensiva desordem. Ao furor da tempestade o médico Eurípedes galgou depressa com a sua mãe e a noiva amada para o apartamento de esmerado luxo a procura de qualquer agasalho para os intranquilos hóspedes.
Nara:
--- Ave Maria! Que tempestade! É o furor dos deuses! – disse a moça ao recordar seu pai.
Euripedes:
--- Isso somente é uma chuva de passagem. Amanhã está tudo calmo. – foi o que o rapaz falou
Clotilde:
--- Meu filho amado. É o que eu penso. – disse a mulher a rezar sem parar com seu oráculo.
Já pleno de aborrecimento o rapaz pediu ligação externa para a capital do País. A telefonista de imediato atendeu. E feito o chamado a irritante espera. Demorou certo período até uma voz do outro lado do fio responder. Pelo visto era uma doméstica. De qualquer forma o rapaz indagou se era da residência de doutor Jonas:
Eurípedes;
--- Quem fala é o seu irmão Eurípedes. Preste-me uma informação. Eu estou no Rio. Como ele está? Depressa por favor. – perguntou intranquilo o rapaz.
Demorou certo período até a voz falar.
Voz:
--- Ele está no Hospital. – disse com receio a voz.
Eurípedes;
--- Sei. Mas como está! O estado de saúde. É grave? – perguntou o médico
Voz:
--- Não sei dizer. Mas eu acho que não. Mas o senhor é médico? – indagou.
Eurípedes:
--- Sim. Mas isso não vem ao caso. Em que hospital está Jonas? – indagou intranquilo.
A voz parou de responder até outra pessoa atender. E foi perguntando se ele era o medico e onde estava naquele momento. O medico respondeu e quis saber do estado de saúde de Jonas e da sua esposa Claudia. Houve silêncio. Com pouco de tempo a voz falou:
Milena:
--- Eu sou Milena. Minha irmã veio a óbito. – e caiu em prantos.
O rapaz se inquietou de repente. Porém se manteve tranquilo perante a sua mãe. O silencio permaneceu por alguns segundos. E na sequência o medico indagou a que horas houve o óbito e a moça informou ter sido coisa de duas horas mais ou menos. O sepultamento do corpo seria na manhã ou à tarde do dia seguinte. Milena informou ainda ser a enfermeira. Tudo isso a moça dizia a chorar. Havia mãe, pai e outros irmãos no Hospital naquele momento. O esposo não sabia do estado de saúde da mulher. Por sinal ele estava dopado. Além de medicado, Jonas estava engessado das costelas, braço e perna. Ele não podia se mover. A perna direita estava imobilizada. Os médicos mantinham severa vigilância de paciente. Por isso, o homem ficara totalmente anestesiado. A visita apenas pela tarde.
Eurípedes:
--- Como pela tarde? Eu quero meu irmão em uma sala de primeira qualidade. Eu vou seguir até esse Hospital. Eu sou médico. E os médicos devem entender muito bem disso! – reclamou ostensivamente.
O tempo continuou carrancudo com relâmpagos e trovões a todo instante sem dar a menor trégua de amenizar. Eram cinco horas da manhã do dia seguinte quando tudo se acalmou de verdade. O mar deixava as suas manchas no calçamento e, mesmo assim, os habitués já estavam a fazer o seu caminhar diurno como se nada houvesse a temer na Avenida Atlântica, na praia de Copacabana. O vento frio deixava antever a manhã de sol. Os rapazes do banho de mar já estavam a surfar com suas pranchas desde a Leme até o Forte. Os menos atrevidos faziam o percurso em pleno calçadão. No Hotel, o serviço de quartos começava a atender aos visitantes da noite e outros dias. Dona Clotilde após a sua prece da manhã tomou o seu café com leite e bolachas enquanto Nara estava em seu banho. O seu filho bateu à porta e entrou. De instantes verificou se tudo estava certo e logo foi dizendo.
Eurípedes:
--- Eu vou um pouco antes para saber como está Jonas. A senhora deve ir ao sepultamento de Claudia, às dez horas da manhã. Eu irei também É um clima de luto. A senhora deve trajar vestido escuro, uma malha. Leve também o terço. – falou muito calmo o rapaz.
Clotilde:
--- Eu sei disso. Não precisa lembrar! – falou áspera a mulher.
O rapaz não sorriu. Esperou apenas por sua noiva para dar iguais recomendações. E perguntou a esmo.
Eurípedes:
--- E Nara tem trajes para tal? – indagou cismado.
A sua mãe não respondeu. Apenas ficou a lambiscar os biscoitos molhados no café com leite. Em dado instante, Nara surgiu do banheiro. E vendo o noivo ali perto se trancou de novo. E foi logo dizendo:
Nara:
--- Preciso sair! Fora! – falou a moça em tom de desespero.
Eurípedes:
--- Eu sei. Vou sair. Pergunto se você tem trajes de sepultamento! – indagou sem motivos.
Nara:
--- Não. Agora cai fora! – discursou a moça.
Euripedes:
--- É bom adquirir um vestido no magazine. E agora eu vou embora. Imagine! Quem te viu nua! – gracejou o rapaz.
A moça ouviu e arremessou uma sandália contra o rapaz indignada com a alusão por conta dos exames feitos na Maternidade quando a moça teve de se mostrar aos médicos na hora da hemorragia uterina.  O  médico se livrou da agressão e saiu do quarto a gracejar.
Nara:
--- Bruto! Estúpido! Néscio! – falou magoada.
Logo depois das sete horas, Eurípedes já estava no Hospital, todo paramentado, inclusive com seu crachá a procura do médico de plantão. Após o dialogo com o médico, foi de pronto autorizada à transferência para novo apartamento. O sepultamento de Claudia Rizzo ocorreu às dez horas da manhã daquele dia.

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