quarta-feira, 15 de maio de 2013

"NARA" - 55 -

- Daniela Escobar -
- 55 -
ATEUS
À noite daquele sábado por volta das oito horas o médico Eurípedes chegou à residência onde Nara e seus familiares moravam. Ele bastante satisfeito por ter conseguido contatar com o advogado de defesa do caso Margarida. Ao entrar na sala Eurípedes fez um “ufa” de alivio e sorriu sem grande emoção. Nara estava na sala alimentando o pequeno Netinho e olhou para o noivo balançando a cabeça muito leve como que dizia: “A lá. Que coisa”. Mesmo assim, se teve ela a intenção em falar, na verdade nada comentou. O pai de Nara estava entretido com seu novo livro por título de DEUSES. Mesmo assim, ele avistou Eurípedes e fez um aceno com a mão lhe desejando ‘boa noite’. O rapaz se aproximou do pequeno Netinho e deu-lhe um beijo com as pontas dos dedos da mão direita a sorrir. O garoto entendeu o gesto e buliu com os seus pés. Em seguida o rapaz beijou Nara na face e esse sorriu leve e não comentou. Era como parecia: a raiva ainda continuava presente por conta do arrebatamento da intimação do delegado de Polícia. Mesmo assim, de nada valeu para Eurípedes. E com o afago ele queria selar a paz entre ambos. Ele sorriu para a moça e se dirigiu para o mestre Sisenando. O homem estava a ler o seu novo livro e apenas fechou o tomo ao sentir a presença próxima do rapaz. Era conversa na certa. E Sisenando estaria pronto para conversar.
Eurípedes:
--- Então? – perguntou o rapaz se dirigindo à brochura.
Sisenando:
--- Muito bom. Tem uns casos aqui que eu desaprovo. Mas... – disse o velho maçom.
Eurípedes:
--- São opiniões divergentes? – indagou o médico.
Sisenando:
--- Questões de ponto de vista. – falou o velho
Eurípedes sorriu e indagou pouco depois:
Eurípedes:
--- O senhor falou pela manhã que não existia Deus! Por quê? – indagou o médico.
O velho se ajeitou na poltrona e respondeu devagar.
Sisenando:
--- Meu jovem: não se debate pelo que não existe. Eu não discuto a existência de um deus. Agora, as pessoas temem a esse deus inexistente. Por quê? – perguntou em seguida o mestre.
Eurípedes ficou a pensar no que responder. E então indagou:
Eurípedes:
--- Quem fez a Terra? – sorriu o médico.
Sisenando:
--- A Terra ou o Universo? Tem que se distinguir Terra de Universo. Veja: a Terra é um planeta pequeno até. O Universo são todos aglomerados de planetas, sol, cometas e lá vai borracha. Se você for contar em Terra como o Universo está se esquecendo dos demais satélites. Veja que eu estou a falar apenas no sistema solar da nossa Terra. Mas tem outros sistemas tão maiores que o nosso próprio sol ou coisa assim. Grandes! Gigantes! Imensos! E esse sistema não é nada em comparação com o Universo. Diz-se que o Universo está se afastando. Pois muito bem: ele se afasta para dá lugar a outros sistemas que virão. Se você joga uma pedra dentro de uma bacia com água, você verá círculos flutuando. Mas esses círculos são apenas flutuações e nada mais. Veja só: Se o Universo se expande é porque novos Universos estão surgindo no meio daquele Universo. Mas é toda uma coisa só. Você me entendeu? – indagou o mestre.
O  rapaz ficou a imaginar para logo após responder:
Eurípedes:
--- Certo. Eu não me expressei corretamente. Eu sei que existe o nosso sistema e outros que fazem a Via Láctea. E sei muito bem que existem outras Vias nesse Universo por assim dizer. Como Andrômeda que é outra galáxia. E também há nada menos que um bilhão de galáxias com seus bilhões de satélites, cometas e Sol. Mas que formou isso tudo? – indagou o médico.
O mestre se levantou da cadeira, foi até a porta de casa, olhou para a rua e voltou cruzando os braços no busto. Em seguida descruzou e levantou o punho a mostrar o dedo indicador:
Sisenando:
--- Meu caro. Eu vejo em você uma luz deslumbrante. Brilhosa por demais. Agora lhe falta uma direção. Pois muito bem: Quem fez o mundo?! Se eu disser que o mundo não foi feito o que o senhor me diz? – indagou o mestre.
Eurípedes:
--- Como assim? Não foi feito? E o Big Bem? – indagou surpreso.
Sisenando:
--- Deixemos o big-bem sossegado. O Universo sempre existiu. Não foi feito pedra por pedra. Sempre existiu. Aquela cabotagem - (alusão a Sebastião Caboto navegador veneziano que explorou a América do Norte) – de procurar um porto seguro em baixo ou em cima, isso não condiz com a verdade. O Universo sempre existiu se refazendo constantemente. Veja uma teia de aranha. Tem ali bilhões de ruas entre outras teias. Naquele complexo sempre surge um novo Sol. E com esse novo Sol vem os planetas. Se o Mundo está se afastando é porque estão surgindo novos espaços ocupados por milhares de novos Mundos. Não seria necessário da presença de um único Deus para fazer todo esse complexo. O Universo existe e sempre existiu. E vai existindo constantemente. Se hoje a nossa galáxia vive só nesse pouco de Universo, amanhã essa mesma galáxia será tragada por outra bem maior e se fundirá com seus novos sistemas. Temos aí Andrômeda. – falou exaltado o velho maçom.
Eurípedes:
--- Bem. No vosso entender não se pode provar o que não existe? – indagou o médico.
Sisenando:
--- Muito certo. É uma questão de raciocínio lógico. O Universo sempre esteve em uma ordem. Os astros não andam às tontas. Eles têm o seu sentido. Eles caminham em um mesmo espaço. Se houvesse desordem, o Universo nunca caminharia como faz. Há uma ordem dentro dessa realidade.  O Cosmo não poderia existir se não houvesse ordem. Veja bem; se um moleque faz travessuras mesmo na rua, ele é um moleque. Isso o senhor não aceita. Furar um pneu? Nunca! Essa é a ordem existente na vossa realidade. O mesmo ocorre com o Universo. Os planetas são como esferas a rodar todas em um mesmo sentido. Se elas voltarem no meio do caminho, elas estão em um contrassenso. Então vem um cataclismo universal. Nada se entenderia. Um Universo de loucos. Veja bem: A ciência extrai de rota os loucos porque esses homens são mesmo loucos e estão fora da realidade racional. E  tais contradições não podem existir. Se o senhor trata da criação do Universo pela fé está destruindo a sua confiança e a validade de sua própria mente. Se o senhor trata da criação pela razão, então não pode acreditar em um Deus. Deus é fé. Apenas fé. E não a razão. Razão é o racional. A mente. – falou o mestre apontando o seu cérebro com o dedo.
Eurípedes:
--- Quer dizer que não se pode esperar em um Universo pela fé? – indago paciente o médico.
Sisenando:
--- É o mesmo que esperar pela vida eterna. O senhor pode olhar o Universo a achar lindo. Mas se olhar pela razão está seguindo em uma direção contrária da emoção, da fé. Quem se orienta pela fé perde o sentido da razão. – refletiu o mestre maçom
Eurípedes:
--- E o senhor é contra a religião católica? – indagou de surpresa o médico.
Sisenando
--- Não vejo nas religiões nenhuma evidencia dos dogmas cristãos ou não. As religiões de qualquer estilo inventam a existência de um deus. E para mim não tem valor. Não pode existir nenhum razão prática para acreditar no que não é verdade. – relatou o maçom.
Eurípedes:
--- Isso seria uma traição à integridade intelectual? – perguntou o médico
Sisenando:
--- O mesmo que acreditar em algo porque se acha útil e não porque é verdade. – fez questão de afirmar.
Eurípedes:
--- E  os dogmas cristão ao ser ver estão errados? – perguntou o médico
O homem sorriu para depois afirmar.
Sisenando:
--- Dogma é uma crença estabelecida por uma religião, quer cristã, Judia, islamita ou mesmo os evangélicos. É aquilo de aparenta: opinião o crença. Pensar, supor ou imaginar.  – falou calmo o mestre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário