- Daniela Escobar -
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ATEUS
À noite
daquele sábado por volta das oito horas o médico Eurípedes chegou à residência
onde Nara e seus familiares moravam. Ele bastante satisfeito por ter conseguido
contatar com o advogado de defesa do caso Margarida. Ao entrar na sala
Eurípedes fez um “ufa” de alivio e sorriu sem grande emoção. Nara estava na
sala alimentando o pequeno Netinho e olhou para o noivo balançando a cabeça
muito leve como que dizia: “A lá. Que coisa”. Mesmo assim, se teve ela a
intenção em falar, na verdade nada comentou. O pai de Nara estava entretido com
seu novo livro por título de DEUSES. Mesmo assim, ele avistou Eurípedes e fez
um aceno com a mão lhe desejando ‘boa noite’. O rapaz se aproximou do pequeno
Netinho e deu-lhe um beijo com as pontas dos dedos da mão direita a sorrir. O
garoto entendeu o gesto e buliu com os seus pés. Em seguida o rapaz beijou Nara
na face e esse sorriu leve e não comentou. Era como parecia: a raiva ainda
continuava presente por conta do arrebatamento da intimação do delegado de
Polícia. Mesmo assim, de nada valeu para Eurípedes. E com o afago ele queria
selar a paz entre ambos. Ele sorriu para a moça e se dirigiu para o mestre Sisenando.
O homem estava a ler o seu novo livro e apenas fechou o tomo ao sentir a
presença próxima do rapaz. Era conversa na certa. E Sisenando estaria pronto
para conversar.
Eurípedes:
--- Então? –
perguntou o rapaz se dirigindo à brochura.
Sisenando:
--- Muito bom.
Tem uns casos aqui que eu desaprovo. Mas... – disse o velho maçom.
Eurípedes:
--- São
opiniões divergentes? – indagou o médico.
Sisenando:
--- Questões
de ponto de vista. – falou o velho
Eurípedes
sorriu e indagou pouco depois:
Eurípedes:
--- O senhor
falou pela manhã que não existia Deus! Por quê? – indagou o médico.
O velho se
ajeitou na poltrona e respondeu devagar.
Sisenando:
--- Meu jovem:
não se debate pelo que não existe. Eu não discuto a existência de um deus.
Agora, as pessoas temem a esse deus inexistente. Por quê? – perguntou em
seguida o mestre.
Eurípedes
ficou a pensar no que responder. E então indagou:
Eurípedes:
--- Quem fez a
Terra? – sorriu o médico.
Sisenando:
--- A Terra ou
o Universo? Tem que se distinguir Terra de Universo. Veja: a Terra é um planeta
pequeno até. O Universo são todos aglomerados de planetas, sol, cometas e lá
vai borracha. Se você for contar em Terra como o Universo está se esquecendo
dos demais satélites. Veja que eu estou a falar apenas no sistema solar da nossa
Terra. Mas tem outros sistemas tão maiores que o nosso próprio sol ou coisa
assim. Grandes! Gigantes! Imensos! E esse sistema não é nada em comparação com
o Universo. Diz-se que o Universo está se afastando. Pois muito bem: ele se
afasta para dá lugar a outros sistemas que virão. Se você joga uma pedra dentro
de uma bacia com água, você verá círculos flutuando. Mas esses círculos são
apenas flutuações e nada mais. Veja só: Se o Universo se expande é porque novos
Universos estão surgindo no meio daquele Universo. Mas é toda uma coisa só.
Você me entendeu? – indagou o mestre.
O rapaz ficou a imaginar para logo após
responder:
Eurípedes:
--- Certo. Eu
não me expressei corretamente. Eu sei que existe o nosso sistema e outros que
fazem a Via Láctea. E sei muito bem que existem outras Vias nesse Universo por
assim dizer. Como Andrômeda que é outra galáxia. E também há nada menos que um
bilhão de galáxias com seus bilhões de satélites, cometas e Sol. Mas que formou
isso tudo? – indagou o médico.
O mestre se
levantou da cadeira, foi até a porta de casa, olhou para a rua e voltou
cruzando os braços no busto. Em seguida descruzou e levantou o punho a mostrar
o dedo indicador:
Sisenando:
--- Meu caro.
Eu vejo em você uma luz deslumbrante. Brilhosa por demais. Agora lhe falta uma
direção. Pois muito bem: Quem fez o mundo?! Se eu disser que o mundo não foi
feito o que o senhor me diz? – indagou o mestre.
Eurípedes:
--- Como assim?
Não foi feito? E o Big Bem? – indagou surpreso.
Sisenando:
--- Deixemos o
big-bem sossegado. O Universo sempre existiu. Não foi feito pedra por pedra.
Sempre existiu. Aquela cabotagem - (alusão a Sebastião Caboto navegador
veneziano que explorou a América do Norte) – de procurar um porto seguro em
baixo ou em cima, isso não condiz com a verdade. O Universo sempre existiu se
refazendo constantemente. Veja uma teia de aranha. Tem ali bilhões de ruas
entre outras teias. Naquele complexo sempre surge um novo Sol. E com esse novo
Sol vem os planetas. Se o Mundo está se afastando é porque estão surgindo novos
espaços ocupados por milhares de novos Mundos. Não seria necessário da presença
de um único Deus para fazer todo esse complexo. O Universo existe e sempre
existiu. E vai existindo constantemente. Se hoje a nossa galáxia vive só nesse
pouco de Universo, amanhã essa mesma galáxia será tragada por outra bem maior e
se fundirá com seus novos sistemas. Temos aí Andrômeda. – falou exaltado o
velho maçom.
Eurípedes:
--- Bem. No
vosso entender não se pode provar o que não existe? – indagou o médico.
Sisenando:
--- Muito
certo. É uma questão de raciocínio lógico. O Universo sempre esteve em uma
ordem. Os astros não andam às tontas. Eles têm o seu sentido. Eles caminham em
um mesmo espaço. Se houvesse desordem, o Universo nunca caminharia como faz. Há
uma ordem dentro dessa realidade. O
Cosmo não poderia existir se não houvesse ordem. Veja bem; se um moleque faz
travessuras mesmo na rua, ele é um moleque. Isso o senhor não aceita. Furar um
pneu? Nunca! Essa é a ordem existente na vossa realidade. O mesmo ocorre com o
Universo. Os planetas são como esferas a rodar todas em um mesmo sentido. Se
elas voltarem no meio do caminho, elas estão em um contrassenso. Então vem um
cataclismo universal. Nada se entenderia. Um Universo de loucos. Veja bem: A
ciência extrai de rota os loucos porque esses homens são mesmo loucos e estão
fora da realidade racional. E tais
contradições não podem existir. Se o senhor trata da criação do Universo pela
fé está destruindo a sua confiança e a validade de sua própria mente. Se o senhor
trata da criação pela razão, então não pode acreditar em um Deus. Deus é fé.
Apenas fé. E não a razão. Razão é o racional. A mente. – falou o mestre
apontando o seu cérebro com o dedo.
Eurípedes:
--- Quer dizer
que não se pode esperar em um Universo pela fé? – indago paciente o médico.
Sisenando:
--- É o mesmo
que esperar pela vida eterna. O senhor pode olhar o Universo a achar lindo. Mas
se olhar pela razão está seguindo em uma direção contrária da emoção, da fé.
Quem se orienta pela fé perde o sentido da razão. – refletiu o mestre maçom
Eurípedes:
--- E o senhor
é contra a religião católica? – indagou de surpresa o médico.
Sisenando
--- Não vejo
nas religiões nenhuma evidencia dos dogmas cristãos ou não. As religiões de
qualquer estilo inventam a existência de um deus. E para mim não tem valor. Não
pode existir nenhum razão prática para acreditar no que não é verdade. –
relatou o maçom.
Eurípedes:
--- Isso seria
uma traição à integridade intelectual? – perguntou o médico
Sisenando:
--- O mesmo
que acreditar em algo porque se acha útil e não porque é verdade. – fez questão
de afirmar.
Eurípedes:
--- E os dogmas cristão ao ser ver estão errados? –
perguntou o médico
O homem sorriu
para depois afirmar.
Sisenando:
--- Dogma é
uma crença estabelecida por uma religião, quer cristã, Judia, islamita ou mesmo
os evangélicos. É aquilo de aparenta: opinião o crença. Pensar, supor ou
imaginar. – falou calmo o mestre.
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