sexta-feira, 17 de junho de 2011

DESEJO - 47 -

- Kristen Stewart -
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Ao final da tarde Armando Viana chegou à redação do Jornal A IMPRENSA para saber como foi a primeira hora de expediente de José Fernandes à frente do matutino. Ambos colheram informações a respeito do incêndio da fábrica de tecidos durante a manhã da segunda feira. E aproveitando a oportunidade, Armando findou por apresentar a todos os jornalistas o novo chefe de redação, José Fernandes, pessoa bem conhecida do meio de jornais. E disse apenas que ele – Armando - seria apenas colaborador, pois a função de Secretario de Comunicação do Governo lhe levava grande parte do tempo. Armando findou por apresentar a todos os presentes e, de modo especial, a Marta Rocha, uma novata, querendo ele dizer ser uma competente estagiaria capaz de qualquer matéria para ser feita. E disse mais ser Marta Rocha à responsável pela coluna diária do jornal onde apontava os acontecimentos da plena sociedade. Nesse ponto a jovem moça se sentiu vaidosa, por ser a única em destaque na redação. Com certeza, José Fernandes ainda não conhecia Marta Rocha e após aquela apresentação ficou sabendo quem era a infante personagem. Após esse discurso passageiro, Armando Viana apresentou o fotografo Canindé, como já tinha feito na manha daquele dia e dizendo ter o fotografo suas fontes reservadas às quais podiam “furar” qualquer jornal da cidade.
--- Estou sabendo dos “furos” que ele aprontou. – sorriu José Fernandes ao ser apresentado informalmente a Canindé.
--- E amanhã tem outro “furo”. Espere! – disse Canindé gozando o editor chefe.
--- Tem greve! – sorriu Fernandes ao ser orientado a Canindé.
--- É. Tem greve e outras coisas. – falou Canindé ajeitando a sua câmera na cintura.
A terça feira chegou com bastantes relâmpagos, trovões e chuvas torrenciais. No Mercado Público da Cidade os freqüentadores da manhã logo cedo, todos tremiam de frio ou se assustavam ao ouvir o trovejar a romper parecendo até em cima da cobertura do grande prédio. Às seis horas da manha o movimento ainda era fraco por conta da chuva. Ouvia-se o pessoal a gritar constante:
--- Olha a Chuva!!! – gritava alguém.
--- Tá como nunca!!! – gritava outro.
--- Gente! É muito frio!!! – relatava a mulher, dona Glória, dona do ponto do Café.
E assim Glória se esfregava a todo instante, tremendo de frio, indo para um lado e para o outro a fim despachar o café dos seus freqüentadores. Eram ainda bolos, macaxeira, batata doce, cuscuz, mungunzá, pães, leite e café propriamente dito. Na roda de freqüentadores estavam Canindé fotografo e Armando Viana. Canindé a reclamar do frio querendo sair do seu lugar. Armando, mais afável, procurava tirar a dúvida do rapaz dizendo:
--- Senta aí, pô! Parece menino! – reclamava Armando Viana com a cara retorcida.
E o rapaz obedecia ao amigo acercando-se mais para perto do fogão procurando sentir um pouco mais de calor.  Nas bancas de carne era um paradeiro total apesar dos vendedores bater com os seus facões em cima da pedra e a gritar.
--- Olha carne gente!! Está do mesmo preço de ontem! – gritavam os açougueiros procurando vender tudo e do melhor.
--- Carne! Carne! Carne! – gritava outro.
A mulher da tapioca nem ligava para a chuva e continuava a cozinhar suas tapiocas.  Com seu vestido rendado lembrava uma mulher de senzala.
--- Tem tapioca? – perguntava um voraz comedor de tapioca.
--- Tem sim. Quantas o senhor vai querer? – perguntava a mulher.
--- Bastam duas! – sorria o comprador a tremer de frio.
--- Pronto. – respondia a mulher com sua voz chorosa.
E assim a manha ia avançando com os relâmpagos e trovoes e a chuva incessante a atormentar os vivos. O aguaceiro descia ladeira abaixo à procura do bairro da Ribeira onde o comercio nem abrira àquela hora cedinho da manhã. Água aos borbotões como um açude a sangrar.  No bairro baixo, a lama se aglomerava por todos os cantos. A maré estava cheia e o rio não tinha como suportar tanto aguaceiro. Por fim, faltava energia na cidade e os bondes estavam parados sem poder sair da estação. Apenas alguns ônibus trafegavam pelas ruas do centro vindas de bairros então mais elevados.
--- Tá danado! Com essa chuva ninguém vai trabalhar na Rua Visconde  do Uruguai. – declarou Canindé sem notar a presença de Armando.
--- Vai! E por que não? Vai sim! Ou corto o ponto! – lamentou Armando Viana.
--- De quem? – indagou Canindé ao seu amigo como a lembrar onde ele não era mais redator.
--- Deixa pra lá. Nem lembrava mais. – ressentiu-se Armando.
--- Eu vou embora antes que me corte o ponto. – reclamou Canindé se levantado depressa e saindo do café.
--- Pera aí, rapaz. Vamos conversar. – lamentou Armando ao ver Canindé saindo e descendo os batentes do calçadão, tomando de vez o caminho ignorado.
Com o passar do tempo a chuva grossa não parava por todos os meios. Armando Viana pagou a sua conta e se levantou para sair acompanhando o mesmo caminho o qual fizera o amigo Canindé. Esse não era mais visto em canto algum. Armando pegou a chave e destrancou o carro e em seguida tocou no arranco fazendo meia volta e seguindo para o Palácio a procura do seu Gabinete. Quando Armando passava em frente a uma bodega viu o seu amigo Canindé todo encolhido pelo frio que fazia. E então ele disse:
--- Entra aqui. Homem! Entra aqui! Vamos conversar! Esse homem, ô! – relatou Armando.
Canindé ainda desconfiado pelou a calçada e entrou no carro de Armando Viana, guardando a sua sacola com a câmera fotográfica. O carro era quente e Canindé não se importou em limpar a manga da camisa. Em seguida, Armando sugeriu a Canindé.
--- Vamos ao Alecrim? – expôs Armando.
Canindé não disse nada. Apenas puxou a sua mochila caqui e retirou de dentro a sua máquina fotográfica onde se pôs a manusear o filme em seu interior e observar com o olhar a câmera para longe do carro. Enfim, colocou a câmera em cima do colo e se pôs a esperar algum instante fotográfico. Quando Armando chegou ao Baldo, viu não poder passar, pois todo o caminho estava atolado de lama. Por falta de energia, um bonde ficou parado na saída da garagem onde o mesmo foi posto na noite anterior. Os carros não passavam pela única via existente no local. A grossa chuva fez cobrir uma ponte e arrastou todo o percurso por ode os carros passavam. A água era o temor de todos. No riacho do Baldo tinha uma ponte ligando à parte sul à parte norte da Cidade. Com o rompimento da ponte não havia passagem para os carros. Nesse ponto, Canindé preparou a câmera e começou a fazer imagens do aguaceiro. Do interior o carro ele fazia o máximo de imagens.
--- Espere ai. Vou avança com o carro. – relatou Armando sentindo o calor de uma reportagem a ser feita a qualquer custo.
Canindé não deu a menor importância e saiu do carro, pegando de qualquer forma as imagens mais seguras e sombrias do aguaceiro a fazer uma verdadeira tempestade. Era apenas uma vez a de Canindé a fazer aquelas fotos de forma tão tempestuosa. Ao cabo de algum tempo, ele voltou completamente molhado para o interior de automóvel e refez o filme o guardando na mochila de pano de cor caqui.
--- Pronto! A minha parte está feita. – relatou Canindé enxugando a testa da chuva.
--- Pena não poder se passar para o outro lado da ponte. – disse Armando angustiado.
--- Vai pelo Tirol. Por lá você pega uma rota melhor para a Lagoa Seca e Carrasco. A chuva deve ter aberto verdadeiras crateras nesses bairros. - descreveu Canindé aprontado seu material fotográfico.
--- Puta merda! É mesmo! Eu nem liguei para tal fato! – pronunciou Armando a tal idéia de Canindé.
E então, os dois amigos seguiram a toda pressa procurando ganhar caminho para o bairro do Tirol e pegar os melhores momentos da tempestade tropical. Relâmpagos e trovões se fazia soar naquela manhã de terça feira por toda a capital do Estado. A Lagoa Seca estava rompida pelo aguaceiro. Armando teve de procurar outro caminho para poder passar. Canindé fez as fotos da lagoa e a quantidade de chuva aos borbotões a fazer redemoinhos. As casas pobres por lá existentes caíram a todo instante por força das águas da chuva. Isso tudo foi documentado por Canindé. A prosseguir no seu caminhar, Armando atingiu os bairros mais pobres de toda a região onde homens, mulheres, moças e meninos cuidavam de fazer as pressas suas arrumações e abandonar as casas onde até então moravam.  A cidade sofria com o aguaceiro do inverno.

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