quinta-feira, 23 de junho de 2011

DESEJO - 51 -

- Isabele Jacob -
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A matéria de Marta Rocha ilustrada com as maravilhosas fotos de Canindé fotógrafo foi de um impacto tremendo na sociedade de todo o Estado. Com um dia depois já estavam no local às equipes de sismos da Universidade e outros jornais e estações de rádio. Doações foram feitas de alimentos, águas, roupas e até mesmo de querosene para o povo de Umbuzeiro. Entre outros sangues sugas, estavam presentes pastores evangélicos de diferentes seitas. As doações foram recebidas pela Governadoria do Estado e demais organizações, como a Cáritas e a Maçonaria. Os hereges aproveitavam para fazer discursos de escombro em escombro das casas derrubadas. A questão tomou vulto nacional e por Umbuzeiro estavam altas autoridades governamentais do País. Marta Rocha fez matérias nos dias seguintes retratando a situação do povo flagelado onde nenhuma casa ficou de pé. Na capital, uma nova repórter fez matéria com os professores da Universidade sobre o flagelo. Era ela Walquíria Stern, casada com um técnico alemão, trabalhador no posto sismográfico da Universidade. Foi uma semana de publicação sobre o terremoto. No final das contas o tremor atingiu 7,2 graus na Escala Richter de 9,5 causando a morte de 22 pessoas e deixando milhares ao desabrigo. As cestas básicas continuaram a chegar junto com roupas e água para a cidade de Umbuzeiro por mais de trinta dias. Um político arranjou um meio de entrega levando em caminhões baú para entregar aos flagelados com o apoio da Igreja Católica.
Um mês depois, Marta voltava ao seu assunto comum. Da Prefeitura teve a informação de ser chamada para compor a parte da Assessoria. Ela levou o assunto ao conhecimento do Secretário de Comunicação do Governo, Armando Viana e ouviu desse a palavra de:
--- Você é quem decide.  – falou Armando.
--- Não. Mais eu quero saber de você. Se você fosse chamado, aceitava ou não? – perguntou alarmada Marta Rocha.
--- Bem. Eu me pondo no seu caso, aceitava. Até por que em breve terá eleições. E não se pode prevenir o que acontece depois. – falou Armando com pouco entusiasmo.
--- Isso é uma merda. Tudo por causa de um diploma. Mas eu vou estudar no ano que vem. Vou sim. – relatou a moça acabrunha com a sua situação.
--- Então, aceite. E estamos encerrados. E você fica do jornal? – perguntou Armando.
--- Fico sim. Ora essa! Quem já se viu? A não ser que me ponham para fora. – reclamou brava a moça Marta.
--- Não. Não. Não se trata disso. Vá para a Prefeitura e depois eu converso com você. – sorriu o Secretário.
--- Conversa o que? Conversa o que? Conversa o que? – perguntou vexada Marta Rocha.
--- Nada de importância. Estude e depois nós conversamos. – sorriu Armando e foi atender ao telefone do Gabinete que lhe chamava constante.
A moça ficou por mais algum tempo e depois saiu para a Prefeitura da Capital. Por lá, ela procurou falar com o Secretário de Imprensa, Samuel Alencar, e contou o seu caso, a procura de antecipar todos os deslizes. Samuel ouviu com atenção e logo respondeu:
--- Não tem importância. Você entra como estudante de jornalismo. Está bem? – perguntou Samuel a moça.
--- Está. O negócio é não parar. – sorriu Marta para Samuel.
--- Pois bem. Você redige as matérias que chegarem e fica até o meio dia. Está bem assim? – perguntou Samuel.
--- Mas, pela manhã eu tenho o Jornal. – respondeu inquieta a moça.
--- Você transfere para à tarde o que faz de manhã. – sorriu Samuel.
Marta coçou a cabeça como quem não achou nenhuma graça em trocar horário de Jornal. Ela pensava em tralhar à tarde, pois dessa forma seria melhor para cumprir as suas obrigações no Jornal A IMPRENSA. Depois de algum tempo perguntou a Samuel:
--- E à tarde? – quis saber Marta de outro expediente.
--- À tarde não se tem trabalho aqui. – falou Samuel desapontado.  
--- Eu só tenho à tarde. Manhã tem pauta na Cidade. – relatou a moça ao Secretário Samuel.
--- Mas você pode mudar esse expediente. O que faz de manhã passa a fazer de tarde! – sorriu Samuel procurando ser gentil.
--- Você trabalhou em Jornal? – perguntou de supetão a moça.
--- Já. Trabalhei sim. Agora estou afastado. – relatou Samuel a sorrir devagar.
--- E polícia você cobriu? – perguntou Marta a Samuel.
--- De certo modo eu fiz policia. Mas polícia não tem o que fazer. Você sendo uma colunista, por que pensar em polícia? – recomendou Samuel.
--- É verdade. Mas tem outras matérias que acontecem pela manhã. – relatou Marta.
--- E tem matérias que acontecem à tarde e à noite. – sorriu Samuel.
--- Ora bolas. Você tem resposta para tudo. – sorriu Marta para Samuel.
--- A questão é que eu tenho a intenção de lhe contratar. Por isso é que estou falando todo isso. Se você fosse contratada para fazer um programa de rádio pela manhã, você aceitaria? – indagou o jovem Samuel.
--- Não pensei nisso. Pensei em outras coisas. – sorriu Marta.
--- Pois é. Pense nisso. – recomendou Samuel.
--- Eu apresentar um programa de rádio? – falou assustada a moça.
--- De início, não. Mas pode ser com mais um tempo. Pense. – relatou Samuel.
--- Eu? Com essa voz de taboca rachada? – indagou mais do que alarmada a moça.
--- É. Com essa voz mesmo. Pense! – fez questão em dizer Samuel.
--- Assim é demais. A que horas é o programa? – indagou a moça de sobressalto.
--- Eu não digo que tem o programa. Mas que poder ser apresentado. O rádio é o mundo. Você fala aqui para ser ouvida no mundo inteiro. Certo? – indagou Samuel para a moça.

--- Pelo que vejo eu só tenho uma opção. Dizer sim ou não. – falou sorrindo a moça.
--- Marta Rocha falando para o Mundo! – sorriu Samuel.
--- Tá bom. Eu aceito. Quanto paga? – fez a moça como não soubesse o salário.
E daquela hora em diante estava a moça contratada pela Prefeitura da Capital. Apenas a pensar em falar ao vivo em um programa de rádio
Marta Rocha fez a transferência de horário do serviço do Jornal, após ouvir novamente os vitais conselhos de Armando Viana. Ela estava eufórica com o contrato junto a Prefeitura. Felizmente aquilo chegara à boa hora e Marta já nem pensava em ser demitida ou não do Jornal, pois sem diploma, ela conseguira um emprego em um órgão público como havia outros colegas de oficio trabalhando em Secretarias de Estado e Municipio. E até mesmo em organismos federais ou em Assessoria da Câmara Municipal. No dia seguinte, de outra veste, a moça estava presente no escritório da Secretaria de Imprensa da Prefeitura. Como não havia nada para ser feito, Marta ocupou um lugar ao lado do birô do Secretario Samuel Alencar e ficou a ler os jornais do dia da cidade, inclusive o Jornal A IMPRENSA. A falta de trabalho dava um sono na moça embora ali estivessem outros repórteres a conversar assuntos diversos. Um rapaz chegou com uma bandeja contendo as xícaras com café e ofereceu aos demais. Em cima da hora Marta aceitou aquele café muito quente. Pois com esse café tirava-lhe um poço do cansaço da lida. Ela ficou a pensar em Canindé e nos assuntos de Polícia. Por volta das nove horas surgiu o secretário de Imprensa, Samuel Alencar desejando bom dia aos presentes.
Ele despachou com os repórteres e ficou apenas com Marta Rocha para saber sobre suas opiniões a respeito da Prefeitura. A moça cabisbaixa não tinha nada a dizer, pois era o seu segundo emprego na vida. Em seguida, Samuel lhe falou sobre um programa de radio. Ele pensava em fazer o tal programa e gostaria de receber opiniões sobre o assunto.
--- Eu nunca fiz programa de rádio. – sorriu a moça ao dizer sobre o que Samuel lhe perguntara
--- Eu sei. Eu sei. Mas como você gostaria que fosse feito o tal programa? – perguntou Samuel
--- E eu pergunto: programa de que? – disse por sua vez Marta.
--- Bem. Um programa sobre principalmente variedades. Não me refiro à política. Musica comentários, notícias, ponto de vista. Coisa assim. – falou Samuel.
--- Você já traçou o programa. Agora falta saber a duração, a apresentação e os caracteres musicais, por assim dizer. – relatou a moça ao rapaz.
--- A principio. A característica qual seria? – indagou Samuel querendo testar a moça.
--- Depende. Depende muito. Eu não sei se você vai por em uma rádio, qual o sortimento de música dessa rádio, bem como quantos caracteres musicais você se propõe a oferecer. – respondeu Marta Rocha.
--- Eu já trabalhei em uma rádio e sei bem ter bom sortimento de música. Mas eu queria ouvir a sua opinião sobre tal assunto. – sorriu Samuel.
--- Bem. É preciso saber se o programa é diário ou não. – respondeu Marta.
--- Não. A principio;  é semanal. – relatou Samuel sem mais nem menos.

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