quarta-feira, 22 de junho de 2011

DESEJO - 50 -


Na terça feira logo cedo, Canindé entrou na redação do jornal onde estavam apenas o chefe, José Fernandes e a repórter Marta Rocha a rebuscar em suas gavetas o que ainda prestava para ser divulgada na “Coluna da Marta”, façanha que obtivera desde o noivado de Armando Viana. Canindé entrou na sala de José Fernandes e foi logo informando ao chefe:
--- Terremoto!!! – falou apressado Canindé.
--- Heim? – perguntou Fernandes.
--- Não diga que não sabe! A terra tremeu em Umbuzeiro hoje de madrugada. – replicou o fotógrafo com muita pressa.
--- Tremeu, é? – perguntou o chefe de reportagem olhando o que estava impresso no jornal da manhã sem se dar conta da importância do novo fato.
--- Tá vendo. É o que dá. A gente busca a matéria e chega à redação logo cedo. Diz ao chefe e esse nem tá aí. – reclamou com muita raiva Canindé.
--- Eu ouvi o tremor! Parecia um caminhão passando lá por casa. Eu acordei e fiquei a escutar o barulho. Onde foi mesmo o estrondo? – indagou Marta ao fotógrafo meio assustada.
--- Foi em um município aqui preto. A torre da igreja rachou. Casas caíram. Falta luz elétrica. Não tem água potável. O povo está na rua. Tem mortos. – reclamou Canindé apavorado.
--- Nossa!!! E a gente vai ver isso? – indagou alarmada Marta.
--- Não sei. Acho que não. O chefe é quem decide agora. Como é? Vai mandar gente? – indagou Canindé a chefe Fernandes.
--- Não sei. A Universidade já sabe? – olhou para outros jornais o chefe Fernandes.
--- Tá vendo o que dá? Não sabe!!! Foi hoje! Eu sei lá quem sabe! Como é: manda ou não manda? – reclamou Canindé querendo uma definição de Fernandes.
--- Mais tarde eu resolvo. Onde foi mesmo? – perguntou alheio a tudo o que havia o chefe.
--- Ah bom. Não vai. Eu preciso falar com Armando!! – disse isso Canindé pegando o telefone do Gabinete.
--- Pera aí, cara. Não é assim não. Temos que ver se vale! – relatou Fernandes como tendo acordado de um sono profundo.
--- Deixa pra lá. O assunto agora é com o Secretário. Pronto! – relatou com raiva Canindé.
--- Eu estou pronta para seguir. – disse  Marta a Canindé.
--- Pera homem. Me diga como foi o caso? – reclamou Fernandes saindo de sua sala a procura de Canindé.
--- Como é? Manda ou não? – disse alarmado Canindé desligando o telefone de momento.
--- Eu preciso saber onde foi! – relatou alarmado o chefe de redação.
--- Eu já disse aonde foi. Umbuzeiro! Pronto. Igreja quebrada, gente morto e pronto. – relatou enfezado Canindé soando pelos poros.
--- Umbuzeiro? Onde fica esse lugar? – indagou Fernandes achando de certo modo distante.
--- Quer que eu diga, quer? – perguntou Canindé com bastante raiva.
--- Eu sei onde fica. – disse a moça ao chefe de redação.
--- Onde fica? – perguntou Fernandes a Marta.
--- Pertinho daqui. Logo ali. – respondeu Marta Rocha se sorrir.
--- Logo ali! Mas aonde? – perguntou enervado o chefe.
--- Depois da curva! – respondeu Marta sem sorrir.
E o telefone chamou o Gabinete do Secretario do Governador onde estava Armando Viana. Esse atendeu e do outro lado do fio estava Canindé a perguntar.
--- Como é? A gente vai ou não? – perguntou Canindé a Armando.
O chefe de redação continuava por perto de Canindé fotógrafo esperando a vez de falar com o Secretário de Comunicação.
--- Vai, homem. Vá embora. Pegue qualquer repórter. – reclamou Armando com voz tensa.
E Canindé desligou o telefone. Então Fernandes reclamou por não ter falado com Armando. O fotógrafo respondeu:
--- Ligue prá ele. Está no Gabinete. Vamos menina. A vez é nossa. – arrumou depressa o saco em seu ombro e partiu para sair pela escada levando consigo a garota Marta. Essa caminhada arrastando os pés no chão.
--- Alô. Alô. Quem fala? – disse Fernandes.
Esse lance Canindé e Marta já nem ouviram mais. Apenas o fotógrafo perguntou na carreira que ia se a moça sabia onde ficava Umbuzeiro. E a moça respondeu.
--- Nem de longe. Eu disse para atentar o chefe. – sorriu Marta a correr com seus pés miúdos.
O fotógrafo e a repórter caminharam até a praça de taxi e rumaram no carro de José Giba para o centro da cidade, onde Canindé procurava resolver se continuava ir de automóvel ou se havia alguém disponível na garagem para que ele pudesse trocar de carro.  No percurso, Marta reclamou a falta de carro na redação do jornal, pois a reportagem sentia essa ausência.
--- Eu já falei a Armando. Ele está ciente do fato. – respondeu Canindé.
--- Mas não é? – reclamou a moça ao que ocorria sempre.
--- É chato demais. Acontece que, se o Governo põe um carro a disposição da redação, outra Secretaria quer o mesmo. – respondeu Canindé.
--- Ele põe para as outras também. Só não podemos é ficar na dependência de taxis. – relatou Marta com raiva.
O taxi parou no Palácio e Armando já estava a sair para saber se tudo estava bem.
--- Só falta você. – respondeu a moça.
--- Não. Eu fico. Na certa vocês irão de taxis mesmo. – respondeu Armando.
--- Não disse.  É a mesma coisa de sempre. Vamos em frente, para Umbuzeiro. – relatou Canindé ao motorista.
--- A terra do treme-treme. – sorriu José Giba.
--- É lá mesmo. Você sabe do estrondo de hoje? – perguntou Canindé.
--- Eu já estava na praça. Passei a noite toda na praça. – relatou o motorista.
Quando o veículo se aproximava de Umbuzeiro já era ouvido o clamor das pessoas. Casas caídas, outras em destroços, o frágil comercio não abriu; armazéns de açúcar estavam na pior situação de todos os tempos. O terremoto durou apenas três minutos, mas havia outros a acontecer durante o dia a cada cinco segundos. A Igreja Católica rachou as paredes pondo ao chão os seus sinos. Essa igreja era o mais alto templo da cidade. A repórter Marta caminhou entre os destroços das casas. Mulheres e crianças a chorar. Uma dezena de mortos. Feridos muito mais. A água havia sido suspensa, pois o cano rompera. Não tinha luz elétrica em nenhum ponto da cidade; havia falta de gêneros alimentícios para, principalmente, as crianças; A situação era mais amenizada pela chuva caída nas ultimas horas; o povo era só um clamor; o padre, esfarrapado procurava dar guarida em um centro improvisado; as melhores casas do centro da cidade estavam completamente destroçadas. O terremoto da madrugada atingiu sete graus na Escala Richter, tendo sido o maior de sua historia a acontecer em Umbuzeiro.
--- É alarmante! – reclamou em certo tempo a repórter Marta Rocha.
--- E aqui não tem nem estação de rádio. Apenas uma estação de radio da policia. – relatou o motorista.
--- Você conhece essa cidade? – perguntou Marta.
--- Eu venho sempre trazer e levar mercadorias. – respondeu o motorista.
--- O que pode ter causado esse abalo? – indagou a repórter.
--- Eu não sei ao certo. Talvez algo como falha geológica a alguns quilômetros abaixo da superfície. – falou o motorista José Giba.
--- E destrói tudo isso? – perguntou apavorada a repórter.
--- Ah sim. Dependendo de sua intensidade. A região próxima a placa tectônica é a de maior dano. Ao que se indica, nessa região, há terremoto constante, porém pouco perceptível. Esse de agora foi mais intenso. – relatou Giba.
--- O senhor conhece bem a questão dos terremotos? – indagou Marta.
--- Não muito. Só por ouvir dizer. Mas, eu presumo ser a liberação da energia liberada pelo movimento de duas placas tectônicas, uma sobre a outra. Com o deslizamento rápido de uma há a liberação da energia acumulada. Essas são ondas de choque ou ondas sísmicas que se espalham pelas rochas  e provocam tremores de terra. É isso o que dizem os técnicos. – recitou o motorista.
--- Puxa. Com uma dessa eu nem precisava vir aqui. – replicou a moça.

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