quinta-feira, 30 de junho de 2011

DESEJO - 61 -

- Diane Kruger -
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Quando o dia bem não começava, o Governador pediu uma ligação para a residência de Paulo Barra, atual redator chefe do Jornal A IMPRENSA. No outro lado do fio atendeu uma mulher.  A mulher ao ser informada ser o Governador, ela mais que depressa foi até a cama do seu patrão, insistindo para acordá-lo de um sono profundo. Barra tinha vindo às primeiras horas do dia do seu cercado onde criava porcos. Sono pesado o homem tinha. Como não havia acordo em acordá-lo a mulher resolveu voltar e dizer ter o patrão dormido naquela hora. O Governador não se conteve e, acintosamente mandou a empregada acordá-lo com toda a pressa.  A mulher ficou sem saber o que dizer ao Governador. E deixou o telefone desligado e procurou acordar Paulo Barra por mais uns instantes.
--- Merda! Esse homem quando pega no sono parece um porco barrão. Nem responde. Bosta! – reclamou a empregada em desaforo.
E ao passar pelo telefone deixou o aparelho desligado, pois daquela maneira ninguém mais haveria de importuná-la.
--- Fica aí, peste! – reclamou a mulher pegando a vassoura velha e roída foi para fora de o apartamento olhar o dia nascer.
Por acaso de há muito o dia já havia nascido para os notívagos por volta das cinco horas e trinta minutos. Contudo, a doméstica queria apenas ver o movimento de gente no ir e vir, buscado o pão na padaria o que ela achava bastante gratificante para os seus olhos. Almerinda era uma típica mulher de uma cidade do interior. Qualquer coisa lhe causava surpresa ou lembranças de homens empurrando o carrinho de mão oferecendo o pão quentinho. Por ali ela ficou um bom tempo e quando passava pelo telefone dependurado sempre dizia:
--- Peste! – e torcia a cara para um lado.
Por volta das nove horas, Barra acordou e se levantou, indo para o banheiro. Ele fez as suas necessidades e de volta foi até a escrivaninha ler o jornal A IMPRENSA para ver se tudo saíra certo, pôs o conteúdo ele já sabia. Na ocasião ele notou fora do gancho o seu velho telefone e, de imediato indagou a Almerinda:
--- Quem pôs esse telefone fora do gancho? – perguntou direto para a cozinha, ele sentado onde estava sentado.
A mulher de onde estava, respondeu com uma desculpa:
--- Só não fui eu. Deve ter sido o gato. – respondeu Almerinda torcendo a cara e lavando as panelas.
--- Gato? Que gato? Aqui não tem gato! – respondeu o homem Barra irrequieto.
--- Não tem? Ora essa! Tem e muito! – respondeu a domestica sorrindo baixo.
--- Pois ponha pra fora todos eles! – resmungou Barra.
--- Ponho, mas voltam. E derrubam tudo o que encontram pela frente. – sorriu a mulher.
--- Bosta de gato. E se alguém telefonou para a minha casa? – perguntou Barra folheando o jornal.
--- Telefona de novo. Só dava ocupado, na certa! – sorriu a doméstica bem baixinho.
A manhã passou rápida sem maiores atropelos. Antes do almoço, Barra avisou ter de sair para ver as revistas e voltava em dez minutos, tempo de a mulher terminar seu almoço. Quando desceu do seu apartamento se encontrou com um motorista de um veículo oficial do Governo do Estado. Barra de imediato pensou em ter sido a matéria a publicada de forma errada. Porém não era nada de matéria.
--- O Governador está a vossa espera. – confessou o motorista.
--- A mim? – perguntou o homem com os olhos arregalados.
--- Sim senhor. – respondeu o motorista.
--- Agora mais essa. O que o Governador está querendo? – indagou cismado o homem.
Ele teve que voltar ao seu apartamento para dizer ter de voltar mais tarde, pois teria maior compromisso na cidade.  A doméstica entendeu de pronto e guardou o prato posto à mesa. E assim, Paulo Barra pegou do seu veículo e seguiu o outro com apenas o motorista. No meio do caminho ele pensava em mil e uma maneiras de enfrentar o Governador.
Ao chegar no Gabinete do Governador se deparou com um punhado de gente a conversar. Barra não deu a menor importância. Apenas disse a secretária  ter ele sido chamado pelo o chefe do Estado.
--- Por favor, avise que estou aqui. – falou Paulo Barra enxugando a testa molhada de suor.
Demorou apenas um pouco e a secretaria permitiu ele entrar no Gabinete.
Às duas horas da tarde do mesmo dia Armando Viana chegou à redação do Jornal A IMPRENSA quando um rapaz chegou até ele e disse estar informando de uma reunião dos membros da Diretoria Executiva naquela hora. E a sua presença era por demais imprescindíveis para tal. Armando estranhou o acontecimento, pois nunca fora chamando pela Diretoria Executiva do Jornal em qualquer ocasião. Ele conhecia muito bem os três membros da Diretoria. Porém ser chamado para tal acontecimento era por veras estranho. De qualquer forma Armando indagou a que horas era para estar na sala de reuniões.
--- Se possível agora. – respondeu o rapaz sem qualquer gesto de sorriso.
--- Logo agora. Eu tinha que telefonar... Mas. Deixa pra lá. – falou Armando aborrecido com o convite.
E então logo foi à reunião no prédio vizinho onde era impresso o jornal. A IMPRENSA carecia de espaço físico, pois funcionava em uma parte a feitura do matutino e sua impressão era feita em outro prédio. A tarde prometia chuva, pois o céu estava nublado e começava a ventar forte um sinal de chuva a qualquer instante. No comércio da Rua Visconde do Uruguai o pessoal corria às pressas temendo um banho de chuva a qualquer hora. As casas de comércios protegiam as entradas com sacos de pó de serra. No Jornal, os operários se preparavam para o pior com as toneladas de papel sendo arranjadas em locais mais seguros. Era um fervilhar de gente já àquela hora temendo a chuva. Era um vento frio e forte a soprar. Armando entrou no prédio do Jornal e procurou saber onde era a reunião para a qual foi chamado.
--- Aqui nessa porta. Pode bater. – sorriu o rapaz que o chamou no prédio vizinho.
--- Ah. Bom. – e Armando agradeceu a presteza e tocou na porta para poder entrar.
Dentro da sala, ao abrir devagar, Armando Viana viu de imediato ao fundo um quadro de uma pintura de Santa Maria Madalena mostrado o seu ventre proeminente invocando ser uma mulher em estado de gravidez. A pintura era de um metro por setenta centímetros de largura. A imagem dominava a sala para quem entrava. No birô feito em Marfim, todo coberto com um agasalho de almofada de veludo vermelho. Um tinteiro estava em cima do birô. Outros importantes documentos também estavam espalhados por todo o birô. Por fim, uma Bíblia bem ao meio do móvel confrontando com o homem em pé. Ele era magro, vestia traje de alfaiataria, toda branca, inclusive a camisa, gravata e paletó. O homem era conhecido por Mateus Ernesto de Coimbra e certamente era o presidente da Diretoria Executiva chamada também de Conselho. Ao seu lado, sentado, tinham dois outros Conselheiros ocupados em fazer cálculos e a leitura de jornais do dia. Olhando para trás Armando viu a imagem soberana do Cristo Redentor dependurada mais acima da porta por onde ele entrou. Ao lado do Cristo, pela direita, via-se a imagem de Maria Mãe e  do outro, a sua esquerda, via-se Maria Madalena de braços cruzados em prece – Maria Mãe – e a de Madalena de olhar fixo para o rosto de Jesus. Ele notou tudo isso calado. Umas poltronas tinham ao redor da sala. E para ele, uma poltrona recoberta de alcatifa, igual ao recobria o birô do presidente Coimbra, como era então chamado o senhor daquele vetusto Conselho. Por fim, ao passo de alguns eternos segundos o presidente de rosto afilado convidou a Armando para se sentar ao seu lado.
--- Podemos sentar. Esteja à vontade. Os dois ilustres Conselheiros estão atentos ao que vamos conversar. – e fez a apresentação dos demais Conselheiros.
Na conversa bastante longa o doutor Coimbra fez um amplo relato do saber de Armando; de seu ordenado no Jornal e de casos terminados à tarde do dia anterior, como foi o do Secretario de Comunicação do Governo. E quis saber de viva voz do rapaz o motivo da renúncia do cargo de Secretario ao que disse Armando Viana ser questão de foro íntimo. E ele não entrou em detalhes por não saber para que fosse chamado ao Gabinete do Conselho.
--- Bem. Muito bem. Eu então convido o senhor para ser o membro do Conselho, por vários motivos e, principalmente pele fato do senhor ser um jovem. – relatou Coimbra se sorrisos.
--- Eu não sei nem o que dizer. Para mim é um cargo muito alto. – sorriu Armando Viana.
--- Ah. Bem. Isso não é. O senhor irá ter a função de secretariar as reuniões do Conselho vez que o nobre cavalheiro secretario já está bem cansado de vistoriar os assuntos em pauta. – falou Coimbra apontando para o atual secretário.
--- Terei tempo para pensar? – perguntou Arando a tremer todo.
--- Sem dúvida. Desde que não seja muito tempo esse. -  falou o doutor Coimbra.
--- Eu pergunto: não irá afetar a minha função de jornalista? – indagou o rapaz.
--- Qual nada. O velho secretário ainda tem a função de promotor público. – relatou o velho Coimbra.
O tempo passou depressa como ninguém esperava. A chuva copiosa caída aos píncaros por toda a Ribeira deixava as pessoas temerosas de novo alagamento das lojas ao seu redor. Uns corriam. Outros se encolhiam nas portas de farmácia, lojas de discos e em armazéns. O tempo fechou como um todo e a escuridão vieram com a ventania ocupar seu espeço desejado. Na sala do Conselho Armando sozinho a pensar no que dizer. E por fim, ele se levantou e disse:
--- Aceito o Cargo de Secretario. – fez ver Armando ao presidente.


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