quinta-feira, 30 de junho de 2011

DESEJO - 62 -

- Audrey Hepburn -
- 62 -
Eram quatro horas da tarde de terça-feira quando o carro parrou em frente ao portão da casa da moça Suzana Barreto. E o seu proprietário, Paulo Barra, tocou a buzina do veículo por duas vezes a chamar a moça. Nesse mesmo momento, Suzana saiu de casa beijando a sua filha e recomendando ter cuidado para não fazer “artes”. A doméstica estava ao lado a pequena e sorriu para a menina Cristina. E respondeu a jovem mãe.
--- Pode deixar. – sorriu de novo a domestica
A chuva já estava parada àquela hora da tarde. Chovera muito na cidade por volta das duas horas, porém o tempo voltou ao normal e pondo Suzana Barreto ao desconforto por não saber se ainda cairia temporal durante a noite, na hora em que ela largasse do emprego por volta das sete horas. De um modo ou de outro, ela chegou até o carro e agradeceu a oferta do homem em fazer aquele serviço talvez à contra gosto. E por isso mesmo a moça fez questão de agradecer, por certo, da demora não havida. Paulo Barra sorriu e disse não haver nada a agradecer. No percurso para a redação do Jorna ele olhou o céu e não mais viu as nuvens trovejantes havidas à tarde, no começo da tarde. Com certeza, para ele não haveria mais progresso de chuva. E lembrou-se de perguntar a moça Suzana Barreto sobre o pai de Cristina, a filha da moça.
-- Você é casada? – indagou o homem preocupado com a resposta.
--- Não. O pai de Cristina morreu próximo ao nosso casamento. – relatou Suzana envergonhada
--- Ah, Bom. E sua morte foi natural? – voltou a indagar Barra.
--- Nada. Acidente de carro. Ele voltava do interior e ao passar pela linha do trem foi colhido de repente. Teve morte no local. – respondeu a moça.
--- Uma pena. E a menina já havia nascido? – questionou o homem.
--- Eu estava no sétimo mês de gravidez. Um negócio que não gosto nem de lembrar. – falou a moça olhando o campo ao redor por onde o carro transitava.
--- Desculpe então. Perguntei até demais. – falou Barra de modo arrependido.
--- Não há de que. Na verdade o senhor ainda não sabia de fato sucedido. – argumentou a moça querendo chorar.
--- Verdade. Estamos no mesmo barco. Eu perdi a esposa. – falou tenso Paulo Barra.
E o silencio se formou entre os dois ocupantes do veículo. O vento frio, consequência da chuva do inicio da tarde, soprava nos cabelos da fêmea e doce ninfa. Ela, distraída com a conversação apenas pensava em seu amor antigo cuja fatalidade o levou para sempre. E assim, a moça não pensava mais em ter outro amor para completar a sua solidão compensada apenas pela meiga e infantil criança fruto do seu primeiro amor. O carro correu rápido e ao chegar ao bairro da Ribeira ainda se pode ver a consequência do temporal de duas horas passadas. Paulo Barra teve apenas que circundar a rua até chegar ao local onde o homem teria de trabalhar naquele fim de tarde.
Em contra partida, Armando Viana, deixando a sala de reuniões do Conselho, pois teve seu prestigioso conceito reconhecido pelo Presidente Coimbra, partiu para a residência de sua noiva, Norma Vidigal para saber como estava passado à namorada. Ele pensou em passar primeiro pelo Cartório onde Norma trabalhava, porém resolveu ir direto a sua moradia poucos metros adiante do Cartório. A sua cabeça fervia de temor com o acontecido no dia que passou, pois daquele instante nada mudara afinal. Armando desceu do carro e foi até a porta da casa onde bateu palma dizendo o seu nome. Uma empregada veio de dentro como se chorasse e foi até a porta onde o rapaz estava. Armando, de logo indagou por sua noiva Norma. A empregada de vez chorou. O homem não suportando perguntou:
--- O que há de novidade? – quis saber Armando.
A mulher chorava bastante quase sem poder falar. Prantos e soluços. Ela era um mero feitio de gente como sem poder viver. Afinal apontou apenas para o local distante:
--- Que há de novo mulher! Diga-me! – falou atarantado o rapaz.
Entre soluços e lagrima a mulher conseguiu falar.
--- No hospital! – declarou a mulher bastante aflita e com imenso choro.
--- Como no hospital? Quem mandou para lá? Fale de vez! – falando serio e cheio de temor assim falou Armando.
--- O doutor! – ao dizer tal coisa a mulher caiu no choro tal como uma criança.
--- Foi com a mãe e o pai? – indagou Armando para tirar duvidas.
--- Todo mundo foi com ela. A pobre está com um negócio na cabeça. – e voltou a chorar cada vez mais intenso.
--- Cabeça? Que cabeça? – indagou com surpresa o  namorado de Norma.
--- A dela! Não desperta! Está quase morrendo! – respondeu a mulher aos prantos.
Em seguida, sem mais conversa, apressado, Armando Viana entrou em seu automóvel, ligou a chave e desandou em tremenda carreira por cima de pau e pedra. Ele nem pensava o que estava a  fazer. Homens gritavam desaforos, mulheres corriam para os cantos das lojas, um guarda de transito apitou pelo desmando do automóvel. Peças de lama da chuva caída durante a tarde era o menor fato de Armando a prosseguir viagem. Na memoria do rapaz apenas vinha Norma Vidigal e o seu coração pulsava mais forte ainda ao saber de um mal talvez não sabido por ele, a família de Norma e nem mesmo pelos médicos. O suor lhe descia a fronte ao percorrer o destino do Hospital àquela hora final da tarde. Pássaros voavam ao passar do carro em desabala carreira. Gente olhava com o tal sucedido: o homem sozinho a dirigir sem paz.
--- Ave  Maria! Que homem louco. – dizia uma mulher católica.
Sem ouvir os reclamos das alarmadas pessoas Armando Viana trafegou até chegar ao hospital onde estava a sua amada em uma central de UTI, com certeza. De imediato, o rapaz brecou o carro e saltou do automóvel um tanto temeroso à procura de alguma informação. Ele, completamente exausto a ponto de desmaiar, encontro de surpresa o pai de Norma quase como a mãe, ambos tementes, preocupados e chorosos. As irmãs também estavam na entrada do Hospital em pé, passeando com temor de um lado para outro a espera de uma boa notícia da infeliz irmã. Armando se dirigiu ao velho pai e indagou:
--- O que foi que houve? Por que está aqui? Quem mandou? E como vai Norma? – indagou desesperado, a todo custo, o rapaz.
 Teodomiro alheio a toda a conversa apenas refletiu e declaro:
--- Não sabemos de nada. Ela foi levada para dentro, talvez na UTI e esperamos resposta. – declarou Teodomiro, atormentado de dor.
A um lado estava Maria Helena, mãe de Norma Vidigal, totalmente a chorar baixinho em uma verdadeira angustia de dor e desespero, como se mundo terminasse para ela por saber da sua filha está bem doente assim. Uma de suas filhas se aproximou da mãe e consolou contrita na esperança de que o medico viesse de repente para dar a boa noticia de sua irmã. No salão quase não havia ninguém e a plantonista era a única pessoa alheia a tudo na esperança de algum telefonema de alguém. Uma enfermeira veio de dentro com um pacote de papeis e largou em cima do birô da telefonista. E disse após:
--- É para o médico de plantão. – disse isso e saiu com pressa.
Por certo, naquele embrulho não havia notícia de Norma, com certeza. Essa notícia somente era fornecida pelo o medico que atendera Norma, com toda a certeza. A família olhou para a enfermeira e o pacote de papes, mas nada perguntou. Apenas uma das irmãs declarou:
--- Que demora!! – disse a irmã de Norma certamente apreensiva.
Armando Viana foi quem falou depois de alguns minutos de espera.
--- Eu vou ficar aqui também, a espera de ver Norma. – falou Armando como a chorar.
Teodomiro calou, mas entendeu o rapaz dizer. Talvez o médico viesse dar alguma satisfação convincente nos próximos minutos. Depois de uma hora a porta se abriu e dois maqueiros passaram vexados para prestar auxilio a outro doente na parte de fora e que acabara de chegar em uma ambulância. A família do novo paciente também acompanhava o doente e foi até a moça atendente e prestou as informações devidas. O salão de entrada do hospital era um corredor de cerca de dez metros de comprimento por quatro metros de largura. Do lado direito do salão tinha duas portas. Essas portas Armando não deu atenção por conta da confusão mental em favor de Norma. Do lado esquerdo, tinha também duas portas todas altas. Ele se lembrou da cor das paredes do salão: era branca. A mãe de Norma em certo momento pediu a Irmã Religiosa que abrisse uma das portas da capela que estava ao lado esquerdo para poder rezar em favor de sua filha. A Irmã Religiosa compreendeu e pediu um só momento para apanhar as chaves. A Freira saiu depressa e com mais rapidez voltou, abrindo a porta da capela. Dona Maria Helena agradeceu e entrou na Capela onde se via a imagem de Nossa Senhora Protetora dos Aflitos. Era a padroeira da capela. Ao lado tinha Jesus Crucificado e do outro lado à imagem de uma santa a olhar para Nossa Senhora como quem pedia sua proteção.
Eram seis horas da tarde. O sino plangente repicou a hora o Ângelus. Nada era mais tão solitário do que aquele momento onde os corações contritos pediam a Santa Virgem Maria a sua proteção. Na capela, imbuído de igual pensamento a família de Norma também fazia igual prece. Era a Ave Maria, Rainha do céu a proteger os cristãos de todo o mundo. A hora do Ângelus era o mais precioso momento para se pedir em prece um momento de penitencia. O sino a tanger. A lenta agonia dos familiares de Norma também estava a pedir a proteção da Santa em favor da jovem moça presa no seu quarto de enferma. Sinos tangiam como alma dorida recordando o tempo de se fazer a prece. Na rua, um carro buzinou tristonho. Do outro lado do Hospital as sirenes das ambulâncias acudiam aos enfermos a entrar a procura de socorro. Tudo aquilo acontecendo como uma prece lenta de agonia e de dor. Nesse instante, um médico adentrou ao templo da capela a trazer notícias de Norma. A mãe da moça olhou fraternal ao médico e lembrou-se de distantes momentos em que ali estivera.  

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