sexta-feira, 1 de julho de 2011

DESEJO - 63 -

- Astrid Bergers -
- 63 -
Às sete horas da noite Paulo Barra já dera por encerrado seu serviço. Apenas os diagramadores terminavam o seu oficio. A primeira página já estava fechada. A moça, Marta Rocha já entregara a sua página a sua diagramadora e se pôs a conversar com a moça sobre questões da redação. A diagramadora ouvia tudo. Apenas ouvia. O diagramador da primeira página se espreguiçou como se estivesse cansado demais. E a certo ponto indagou a outra diagramadora se a moa estava disposta a ir beber uma cerveja para descansar um pouco da lida. A moça respondeu com um sorriso. Marta Rocha comentou:
--- Nossa! Como vocês bebem! – comentou Marta fazendo careta.
--- É a vida menina. É a vida. – respondeu o diagramador da primeira pagina cujo nome era Mesquita.
--- Eu vou para o Teatro. – respondeu por sua vez a terceira diagramadora, chama por Vera.
--- Está havendo espetáculo? – pergunto u a segunda diagramadora que estava com Marta. Ela estava de cabeça baixa e assim ficou para dia gramar a sua página. Seu nome era Flávia.
Paulo Barra foi até a sala de arquivo onde a moça Suzana estava a guardar as fotos do dia. O homem assobiou como de costume. Era uma forma de dizer ter terminado o seu trabalho. Suzana olhou para ele e sorriu. Colhendo as fotos ela perguntou:
--- Terminou o trabalho? – indagou Suzana prestando atenção aos retratos.
O homem disse que sim com um aceno de cabeça. E então passou a olhar as fotos dispostas no birô. Canindé passou vezado para ir embora dizendo para quem ficava.
--- Podem falar de mim agora. Já estou indo embora. – disse Canindé ajeitando sua câmera.
Duas moças entraram na redação. As duas conversavam e caminhavam de sala adentro por demais apressadas. Elas entraram em outra porta e se trancaram. Era as moça da colagem. Paulo Barra olhou as moças e nada conversou sobre as mesmas. Apenas se sentou no birô para apreciar as fotos do dia. Em determinado instante ele observou Suzana abaixada e com parte de suas pernas à mostra enquanto fazia a guarda dos envelopes. Ele nada comentou, mas uma ereção se fez presente. Em seguida a moça se levantou e mostrou uma foto de relance.
--- Bonita essa foto. – sorriu Suzana ao guardar a foto na página apropriada.
O home não disse nada. Apenas comentou:
--- Armando não veio hoje. O que terá havido? – indagou Barra sobre o desaparecimento de Armando Viana.
--- Alguém falou dele estar aqui logo cedo. – comentou Suzana.
--- Estou cansado e com sono. Dormi mal à noite. – refletiu Barra apoiando-se na cadeira posta para encostar-se à parede.
--- Parece que o senhor está com sono mesmo. – falou a moça enquanto dava a volta até a estante de guardar fotos.
--- Eu, hoje, rejeitei uma oferta do governador. – falou Paulo Barra preocupado.
--- Que oferta? – perguntou a moça abaixada na estante de guardar fotos. As suas pernas estavam à mostra, em parte.
--- Secretário de Comunicação. Parece que Armando Viana deixou o cargo. – comentou baixo o homem.
--- E por que o senhor não aceitou! – perguntou a moça fazendo a volta e se levantar. Pelo canto do olho Barra pode ver as calcinhas de Suzana.
--- Eu disse que estava aqui por cortesia de Armando. Não queria outro cargo. – falou Barra.
--- Por que Armando deixou a função? – indagou Suzana a guardar as fotos de sobra do dia nos envelopes, muito tranquila.
--- Não sei. Não falei com Armando até agora. – confessou Paulo Barra com um olhar atento para a moça Suzana. Embora ele falando com a vista para a redação.
Com um momento passou pela porta do arquivo o rapaz levando a página diagramada para as moças da colagem. E disse ao Chefe de Redação.
--- A minha está pronta. Faltam apenas as das moças. – disse Mesquita ao chefe Paulo Barra.
--- Sim senhor. – respondeu Barra olhando a página.
Um rapaz veio buscar as fotos que estavam diagramadas. Ele levaria todas para a sala de fotos do jornal. Era o sufoco de todos os dias da redação do jornal A IMPRENSA. O rapaz ainda olhou para Paulo Barra e fez aceno com as fotos querendo dizer de está certo. O homem entendeu e não disse coisa alguma. Apenas pensou em Armando. Ele deveria ter vindo até a redação, apenas para conversar. Porém nada fez nesse sentido. De imediato, o motorista da redação em companhia do fotógrafo Canindé chegou apressado. Canindé foi quem disse ao Chefe:
--- A noiva de Armando morreu nesse momento. – relatou com susto o fotógrafo.
--- Como? A noiva? E agora? – declarou o chefe Paulo Barra.
--- Ela ainda está no Hospital. E a família. Armando também está. – disse o fotógrafo.
--- É um fato importante. Mande Mesquita buscar a primeira página. E depois sigam para o Hospital. Eu estou indo para o Hospital também. – falou depressa o Chefe de Redação.
Após pedir para Suzana Barreto ficar mais um pouco a esperar Paulo Barra seguiu correndo em companhia do motorista. Paulo seguia em seu próprio carro e o motorista seguia no carro da redação. Canindé chamou a repórter Marta Rocha para lhe acompanhar, pois sabia da necessidade de um repórter na ocasião. Em poucos minutos toda a imprensa do Jornal estava no Hospital. Marta Rocha ouviu primeiro o seu amigo, Armando Viana sobre o que houve mesmo de tão grave, uma vez ter ela estado em companhia de Norma Vidigal no local da praia onde houve o acontecido com um asteroide caído e causado graves destruições, inclusive morte de nove pessoas. Armando, um tanto em longos prantos disse-lhe ter a moça Norma Vidigal adormecido à noite do dia de segunda feira e não mais acordado.
--- A equipe de médicos deu o diagnóstico de trombose no cérebro enquanto ela dormia. – relatou Armando Viana chorando com a dor da perda.
--- Há quando tempo ela está no hospital? – indagou Marta sem chorar.
--- Desde cinco horas da tarde. Ela não sobreviveu até às sete horas. Morreu como estava. Parecia dormir. – lembrou Armando a chorar.
--- Qual a idade de Norma? – perguntou Marta.
--- Vinte e cinco anos. – lembrou o rapaz com copiosa lágrima.
E foi assim perguntando ao noivo de Norma que Marta foi colhendo as mais informações necessárias para fazer o seu texto. Marta ainda indagou do pai da moça, senhor Teodomiro, mas o homem pouco ou nada pode dizer. A mãe, Maria Helena, sofreu um desmaio ao receber a noticia do médico. Ela foi levada para o pronto-socorro do próprio Hospital e ainda estava em observação junto com as duas outras filhas. As moças não paravam de chorar. Armando ficou fora da capela junto com o pai de Norma, Teodomiro e mais outros parentes e amigos.
O sepultamento aconteceu na tarde do dia seguinte com um acompanhado de carros em grande estilo e a urna mortuária embalada com grinaldas e flores saindo o féretro da Catedral da Cidade após ter sido celebrada missa de corpo presente. O fato bastante singular foi não ter comparecido o Governador do Estado, apesar de ter sido eleito com o apoio a Família Vidigal, expoente das eleições no Estado. A Família Vidigal era uma importante e temível força por trás da eleição de qualquer candidato nas eleições do Estado. Todo e qualquer candidato teria de consultar algum dos membros dessa família para saber se convinha ou não sua eleição para o mandato de vereador, deputado estadual ou federal, senador e Governo do Estado. Vidigal era fatalmente uma força oculta no poder, desde um secretario a alguém mais forte ainda. A ausência do Governador na cerimonia fúnebre da senhorita Norma Vidigal seria um passo para a total derrota do candidato ao Senado. Isso se ouviu por entre frases de pessoas presentes a cerimonia fúnebre.
--- Essa do Governador foi forte! – disse alguém a sussurras baixinho a um companheiro.
--- Eu nem quero estar no pelo dele! – comentou o outro.
--- Ela era casada? – indagou o cochichador.
--- Parece que tinha um namorado. – respondeu o outro.
--- Quem é ele? – voltou a indagar o cochichador.
--- Não sei. Eu não conheço. Ouvi falar apenas. - respondeu o encrenqueiro.
--- Depois eu sei quem é o rapaz. – cochichou o que abriu a conversa.
O tempo era frio apesar do sol já no ocaso quando o féretro chegou ao cemitério. A mãe de Norma caminhava chorando com o rosto totalmente coberto por um véu negro de filó. Toda a sua indumentária era de luto, assim como as irmãs de Norma a segurar a velha mãe. O pai, Teodomiro, seguia logo atrás da mulher, Maria Helena, na companhia de Armando Viana e os seus dois genros. A cada instante o homem suspirava pela perda da filha amada. Um dos genros segurava no ombro de Teodomiro enquanto o rapaz Armando caminhava bem próximo ao seu futuro sogro. O féretro coberto de rosas e de grinaldas seguia a frente do cortejo muito vagaroso e solene ao som dos tenros pássaros a sibilar canções de tristeza e desalento. O sepultamento ocorreu meia hora depois ao toque do carrilhão da Catedral ainda distante. Velas em profusão foram acesas pelos parentes de Norma Vidigal. Uma revoada de andorinha pôs o final aquele angustiante e melancólico entardecer para os acompanhantes do féretro.

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