quinta-feira, 21 de julho de 2011

VENUS ESCARLATE - 06 -

- MARILYN MONROE -
- 06 -
No dia seguinte Glauco Rodrigues estava, pela manhã, no escritório do seu amigo Onofre onde aproveitava para passar em revista os assuntos do dia (anterior) saídos nos jornais matutinos da capital. No escritório de Onofre tinham dois “secretários” como Onofre assim os chamava porque eles nunca faziam coisa alguma a não ser ler os jornais de algum dia deixados na mesa posta no meio da sala. Onofre tinha a mania de escarrar no depósito de papeis e isso provocava riso nos secretários dizendo ser esse o costume dos chefes de escritórios.
--- Isso é costume e não mareia mais. – dizia um dos secretários sorrindo sacolejando o corpo
--- São catarros, seus vermes. – retrucava Onofre.
E outro observava.
--- Isso eu imagino quanto sofre a esposa de Onofre. – comentava o segundo secretário.
--- Vai lavar essa merda antes que eu sacuda na tua cara. – argumento em definitivo Onofre
--- E ele se viga na gente! – comentava o primeiro para o segundo secretário.
--- Vai chupar cu de passarinho que é melhor. – respondia o segundo secretario.
E para quebrar a rotina da conversa entre Onofre e os secretários, foi a vez de Glauco falar sobre tal assunto que ele não contara.
--- Eu conheci ontem uma garota que trabalha na loja aqui perto. Ela é uma esbelta criatura. – foi o que disse Glauco ao seu amigo Onofre.
--- É virgem? – indagou de imediato o velho amigo Onofre.
--- Deve ser. Eu fui comprar um receptor e a moça foi quem estava no Caixa. – argumentou Glauco passando em revista o jornal.
--- Pena! Eu sou Leão. – respondeu Onofre querendo ser diferente da moça.
--- Ah bom. Eu não especulei esse aspecto. – falou Glauco em cima da bucha.
Onofre gargalhou e depois declarou.
--- Eu conheço a moça. É filha do velho Arantes. Se for essa. Também você acha todas as moças um encanto! – disse Onofre sorrindo.
--- Não! Mas essa é mesmo encantadora. Veste bem, corpo escultural. ... – falava Glauco.
--- E não tem regras! – sorriu a vontade Onofre e os seus secretários.
O homem se inquietou e aproveitou para sair pondo o chapéu na cabeça.
--- Eu vou embora, pois a manhã é de chuva. – relatou Glauco vendo o céu estar limpo para não cair uma gota de água. Ele disse aquilo apenas para se ausentar.
Ao sair do escritório ele topou com outro vindo às pressas e pegou o homem pelo pé ao dizer sem cerimônias.
--- Aguenta que o tempo hoje tá brabo, seu Chega. – arrotou o homem ao visitante.
O homem vindo ficou meio perplexo e se lembrou em dizer em troca:
--- Chega-lhe a Bufa é você seu corno. Ora bosta. – reclamou Valdomiro.
Valdomiro era um tipo enfezado e a qualquer preço ele deflagrava contra o seu rival toda a sanha acolhida dentro do peito. Ele se chamava Valdomiro, mas desde o tempo de menino a turma chamava de Chega-lhe a Bufa. Era um apelido que Valdomiro tinha raiva por demais quando alguém o chamava de tal jeito.
--- Não estou dizendo que o tempo está brabo. – sorriu com pressa o amigo Glauco.
E então ele saiu beco a fora rompendo o assoalho de madeira até chegar as escadas onde Glauco seguia para o seu trabalho. Ao chegar da porta do edifício de apenas um andar, o homem pensou um pouco e fez a volta. Em vez de ir para a Recebedoria ele foi para a loja de utensílios domésticos onde comprara o seu rádio. Na porta de entrada avistou, lá dentro, no Caixa, a moça que o atendera com satisfação. Glauco pediu licença ao vendedor e teve a audácia de ir até a jovem postada no seu birô.  Em lá chegando ele se lembrou do nome da jovem Racilva Arantes  até por que assim lembrou há poucos instante o seu amigo Onofre. E chegando ao balcão do caixa, Glauco cumprimentou  moça e teve a imprudência de lembrar se ela era a filha do velho Arantes. A moça estranhou o fato, porém respondeu que sim.
--- Sou filha dele. – sorriu a moça cujo nome era Racilva.
--- Ah bom. Eu sabia que você me era por demais parecidas com alguém conhecido meu. – sorriu Glauco querendo por terra as suas inverdades.
--- E o senhor conhece meu pai? – perguntou a moça com viva audácia.
--- Ora se conheço. Ele foi meu professor no colégio Atheneu. – respondeu Glauco.
A moça nada quis comentar, pois seu pai nunca fora professor nem mesmo do Atheneu. Podia ser  outro Arantes, um seu tio ou coisa assim. Contudo ela sorriu com a mentira pregada por Glauco e cuidou de prestar mais atenção ao que o home lhe dizia.
--- Como vai o seu pai? – perguntou Glauco senhor de si.
--- Ah. Meu pai vai ótimo. Ele e suas galinhas. – respondeu Racilva ao achar graça.
--- É verdade! E ele cria galinhas? – indagou assustado o homem.
--- Sempre criou. É o seu passatempo. Galinhas e mais galinhas.- respondeu a moça a sorrir.
O homem ficou inquieto por ter dado um desacerto na conversa. De galinhas ele pouco sabia naquela altura dos acontecimentos. Por isso mudou de conversa:
--- E o advogado? – perguntou Glauco a moça.
--- Advogado? Que advogado? – perguntou Racilva a sorrir.
--- O que você falou que ia pedir para o governador enviar seus documentos. – fez ver de longe o que a moça perguntara a ele.
--- Ah bom. Eu não falei em advogado. O senhor me disse que eu procurasse um deputado e é o que vou fazer. – sorriu a moça para o homem.
O homem Glauco Rodrigues viu ter pisado na bola outra vez. E procurou alinhavar a conversa já um tanto chata.
--- É verdade. É verdade. Eu confundi tudo, hoje. Mas se não falar com o deputado pode me procurar. Nisso eu me ajeito. Você pode levar seu noivo ou namorado e a gente dá um jeito. – relatou Glauco para a moça essa manha de tempo quente.
--- Eu não tenho noivo nem namorado. E nem mesmo penso em casar por enquanto. No momento estou concluindo os meus estudos universitários. – disse Racilva a sorrir.
--- Faz bem. Faz bem. Eu também não penso em casar. – narrou Glauco com medo de dar um novo fora.
--- Mas o senhor já tem idade para se casar. – sorriu Racilva para sentir a reação do homem.
--- Já fui casado. – lembrou o homem de seu casamento com Adélia Agar.
--- Foi casado? E a sua mulher, o que houve? – perguntou surpresa a moça.
--- Morreu. Faz oito anos. Desde então eu não penso mais em casar. – falou Glauco sombrio.
--- Ah, Receba meus pêsames um pouco tardio. – lembrou Racilva da esposa de Glauco.
--- Obrigado. Mas a vida é assim mesmo. Uns morrem outros nascem. E nós continuamos lutando em viver.
--- É verdade. Uns nascem. ... – pensou Racilva consigo mesmo.
--- Bem. Já tomei o seu precioso tempo. Se quiser, me procure na Recebedoria. Eu estou o dia todo, menos na hora do almoço. – sorriu Glauco.
E a moça agradeceu o empenho eficaz do senhor Glauco em fazer questão em ter ela como funcionária do Estado. Logo em seguida Glauco saiu e Racilva Arantes nesse tempo ficou a meditar onde a mentira poderia ser verdadeira. E sorriu compenetrada para ela mesma. Glauco, entusiasmado com o colóquio era todo animado. Quando ele chegou à repartição já era o começo do expediente externo para atendimento a todos os que buscavam saber algo sobre firmas ou adquirir selos para os seus livros contábeis. Mesmo assim ele não tirava a imagem da moça de seu pensamento. Ribeiro, o atendente, chegou de mansinho à mesa do chefe e comentou um novo assunto. Glauco respondeu:
--- Está bem. Pode deixar. – respondeu Glauco.

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