sexta-feira, 22 de julho de 2011

VENUS ESCARLATE - 07 -

- TERNA -
- 07 -
Ao meio dia, hora de saída para o almoço, o homem, Glauco Rodrigues já estava saindo do prédio quando topou com aquela figura leve que passava. Era Racilva. Ela ainda se desculpou, pois temia ter abordado a moça inesperadamente. Ela sorriu e disse por seu lado não ter havido nada demais. Apenas foi um tombo imprevisto.
--- Eu sei. Mas você vinha na rua e eu saí apressado e não vi. – sorriu Glauco a se desculpar.
--- A culpa foi toda minha, pois estava colada a parede. – sorriu a moça com o declarar do homem educadamente.
Os dois ficaram alí sem saber o que falar e então Glauco tomou a dianteira e disse:
--- Para onde você vai agora? – indagou Glauco ajeitando o seu chapéu.
A moça refletiu um pouco e respondeu em seguida.
--- Eu saí agora da loja e pensava em ir para o almoço. – sorriu a jovem.
--- Pensava! Pois eu estou indo almoçar no restaurante do Grande Hotel. E peço a senhorita me acompanhar até o local. Enfim, você é uma bela jovem e me fazer companhia é um grande prazer para mim. – respondeu Glauco sorrindo e pegando o chapéu em sua cabeça.
--- Grande Hotel! Pode ser. É um restaurante fino. Eu jamais sonhei em almoçar em tal restaurante. – sorriu a moça ao declarar que sim.
E o casal seguiu para o restaurante. Ele, animado com a presença da moça. Um rapaz vindo pela rua deu boa tarde ao casal o que fez tremer de susto o homem por não quem era aquele “atrevido” e olhou mais que depressa a moça para ver se notava algo de anormal. Nada observou.
--- “Ciúmes?” – perguntou a si mesmo o homem e ficou calado por alguns segundos.
Os ônibus passavam rápidos em um sentido e no outro fazendo ranger aqueles velhos novos motores para os que passavam. Lufada de fumaça enveredava pelas narinas dos mais sensíveis aos escapes dos ônibus. Carros a toda velocidade também passavam pelo local onde esperava atravessar a rua o amoroso casal recém-conhecido.
--- É terrível esperar atravessar essa rua tanto tempo assim. – comentou Glauco a sua companheira de poucos minutos.
--- Eu tenho a impressão de que os ônibus fizeram uma briga apenas para nos atrasar. – sorriu Racilva ao dizer o seu pensamento ao homem.
Um homem que vinha deu boa tarde a Glauco e esse respondeu incontinente. Depois ele informou a jovem paciente ser aquele o ourives do bairro.
--- Esse homem entende de joias raras como ninguém. É metido em ouro e vive pobre. – fez ver o homem com certa ironia do destino.
--- Imagino. Tem gente que vive das riquezas dos outros. – disse por sua vez a moça.
Um recesso na passagem dos ônibus e dos carros, e o casal atravessou a rua de um lado para o outro. A frente de Glauco pairava imponente o prédio da Associação Comercial, local onde ele sempre estava na hora do jantar para conhecer as últimas do dia. O restaurante era soberbo, não como tanto o do Grande Hotel. Glauco, nesse momento pronunciou a Racilva.
--- Um local, esse. – comentou Glauco a meia voz.
--- Eu nem sabia que ali também era um restaurante. – sorriu a moça  um tanto entusiasmada com a companhia de Glauco.
---Na cidade tem bons restaurantes. Mesmo assim, eu prefiro o Grande Hotel. Não é questão de preço ou de status. É pela convivência que se tem. – respondeu o homem
A essa altura o casal já começava a subir os degraus de entrada Hotel. Um automóvel estacionou na frente do prédio fazendo com que o casal desse a volta por trás do auto. Uma autoridade, pelo visto, estava a descer do carro. A moça pensou:
---“Que chique” – pensou a moça com os seus botões.
Ao entrar na antessala do restaurante, o homem se deparou com a figuram impagável de Paulo Lyra a dedilhar os seus maviosos “Fox” ao piano. E Glauco fez questão em dizer a Racilva ser aquele o pianista solene do recinto.
--- Esse é Paulo Lyra. Mestre ao piano. Tem tempo que outros músicos se fazem presentes. – declarou o homem a Racilva.
Por fim, o casal foi penetrando no recinto do restaurante onde havia um aglomerado de pessoas, sempre as mesmas do dia anterior. Um zumbido de abelhas era o que se formava da conversa dos tradicionais frequentadores. Racilva, assustada, pegada ao braço de Glauco se prendia de tanta emoção ao ver pela primeira vez a fina flor da sociedade alí presente. Uma senhora com o seu esposo, olhou com abuso o vestir da moça a entrar no restaurante. Ela, por sinal, deve ter feito um sinal para o marido. Esse não entendeu por certo. Racilva teve medo de ver tanta gente reunida em um só lugar. Um homem cuidou de recitar uma prosa e dizer não ser dele:
--- Essa é de Moises Sesiom. –
“Saindo de uma bodega,/De meio lastro a queimado,/Com muito jeito e agrado/Pude iludir uma cega/./Rolando na beldroega,/Fazendo vez de muçu,/Pra  furnicar me puz nu,/Faz tempo, mas me recordo,/Virei a cega de bordo/Dei-lhe uma foda no cú.”
Gargalhadas homéricas de toda gente. Algumas ilustres senhoras não fizeram riso, porém ainda achavam graça mesmo assim por dentro de si da impetuosidade do bardo. Racilva teve ainda um medo maior com aquele bardo a recitar tamanha poesia. Ela pensava ser o restaurante algo muito fino. Porém bem que havia de tudo um pouco.
--- Que horror. Essa poesia foi de mais. – ressaltou a moça ao seu companheiro.
--- Nem se vexe.  Esse é o bardo. – sorriu Glauco procurando amenizar a moça do seu susto.
A moça corou de medo do bardo e não quis mais ouvir as poesias do homem. Ela estava no final do curso de magistério e pensar em um caso desse era o fim do que podia se contar em uma sala de aula. Enquanto isso, Glauco procurou arranjar uma mesa um pouco distante e alí ele fez ver a Racilva ter a estória todo o lugar para ser dita. E explicou ter nascido Moises Sesiom no interior de Caicó, município do Estado, Porém foi de tudo um pouco. Em Assú, cidade onde escolheu para morar, Sesiom recitou versos imortais, porem nunca os publicou. A moça ouviu tudo e calou. Ela perscrutava apenas as mulheres chiques do restaurante a vestir seus modelos mais carro da moda.
--- Só tem gente rica aqui. – comentou de modo baixo a moça a Glauco.
--- Isso tudo não passa de aviões sem cauda! – lembrou Glauco a moça.
--- Como assim? – indagou a moça.
--- Voa duro. Eles são os mesmos que fazem suas domésticas nas suas moradias. – segredou o homem.
--- Não creio. As mulheres do mato são mais sérias. – remendou Racilva.
--- Pode ser. Mas todos defecam. – lembrou Glauco a sorrir.
--- Que horror!!! O senhor me tirou a fome! – confirmou Racilva ao seu mestre.
--- Deixa prá lá. Esqueça. – sorriu o homem a amenizar o seu pensamento.
O garçom se aproximou da mesa e fez a indagação rotineira. Glauco indagou de Racilva o que ela queria como almoço. Ela pensou e disse:
--- Tem o que eu pedir? – indagou a moça assustada,
--- O que a senhora quiser! – respondeu o garçom cheio de boas maneiras.
Ela olhou para Glauco e perguntou o que poderia ser de fato. O homem alertou para o peixe. Ela concordou com o peixe.
--- Por favor, peixe; - respondeu a moça ao garçom.
--- Arabaiana? – perguntou o garçom de forma modesta.
Ela de nada entedia, E por isso olhou para o seu companheiro de mesa a perguntar o que era arabaiana.
--- É um peixe. Ótimo! Vale a pena experimentar. – respondeu Glauco.
--- É. Traga esse. Ara não sei o que. – respondeu Racilva saem achar graça ao garçom.
--- Vinho, senhor? – ainda indagou o garçom.
--- Sim. Branco seco. – mencionou o homem e olhou Racilva com ternura.

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