quarta-feira, 27 de julho de 2011

VENUS ESCARLATE - 12 -

- SONHOS -~
- 12 -
Nessa ocasião Walquiria chamou o seu tio Glauco para ir também dançar na folia armada no salão ao lado onde todos brincavam. Porém, Glauco se desculpou dizendo estar com as pernas bambas e também começava a sentir cansaço. Ele pediu licença e se ausentou. A moça Racilva também estava muito cansada e estirou as pernas no solar de alpendre. Ela estava ao lado de dona Nair e do coronel Arthur que não parava de bater com as mãos e com os pés para acompanhar o folguedo logo abaixo no terreiro. Um pouco decepcionada com os seus parceiros de vagem, a donzela Walquiria resolveu entrar para o interior do casarão.
--- Para onde vocês foram mesmo? – indagou dona Nair como se fazia a alguém.
E Racilva respondeu enfadada da viagem.
--- Ao casarão da Lagoa das Garças. – respondeu Racilva toda rescindida da viagem.
--- Ah sim. Um belo lugar. Faz tempo que eu não vou aquela lagoa. – declarou a mulher sem entrar em detalhes.
Nair sabia do retrato suspenso com a foto de Adélia Agar e por isso resolveu não despertar demais a curiosidade da moça. E o tempo passou. Era quase hora antes da janta. Racilva pediu licença para ir até o banheiro tomar banho de cuia. Dona Nair concordou e a moça também entrou para tomar banho de cuia no banheiro da casa. De passagem, encontrou Walquiria e disse-lhe estar bastante cansada.
--- Vou tomar banho. – falou Racilva à sua amiga.
--- Eu já tomei o meu. – respondeu Walquiria a sorrir.
--- Tem água lá? – perguntou Racilva.
--- Tem. E a luz é do gerador. Ele funciona o dia todo. Ouça! – respondeu Walquiria.
--- Certo. Eu ouvi um barulho como de um gerador quando cheguei pela manhã. – falou Racilva
A amiga sacudiu Racilva pelos ombros, mordendo os lábios com os dentes e comentado de forma meiga.
--- Doida! Ele é teu! – comentou Walquiria se referendo ao tio Glauco.
Nesse pondo, Racilva ficou pensativa por momento e perguntou a moça Walquiria.
--- Ele quem? – indagou Racilva do modo absorto.
E Walquiria saiu olhando a moça e sorrindo como uma gazela.
--- Vá em frente, mulher! – falou ainda Walquiria. E assim pegou o rumo da porta do casarão
Nesse ponto Racilva ficou a pensar no homem Glauco, pois era ele o único em ter a vista. De um modo ou de outro, ela calou e entrou no quarto de dormir para apanhar sua toalha e alguns pertences próprios ao banho. No quarto não havia ninguém. E Racilva sentiu um leve arrepio com se alguém a observasse. Ela olhou em volta e nada pode verificar de pronto. Racilva apanhou os seus pertences e caminhou direto para o banheiro. De ida cruzou com três rapazes. Eles estavam vindo do banho de cuia também. Ela dessa forma somente olhou sem cumprimentar. Glauco não estava por perto. Racilva entrou no banheiro onde não havia mais ninguém. E ligou o interruptor de luz. Logo em seguida caminhou até a porta do banheiro e a trancou por dentro. Um frio enregelou a moça. Ela tremeu um pouco. Porém, não teve maiores conversas e tomou o seu banho de cuia. Água gelada pela força da ventania e até mesmo da hora noturna. Quando o banho tomou já ía a sair quando entrou outra moça no banheiro feminino. Era uma mulher semelhante a do retrato do casarão da Lagoa das Garças pendurado em tamanho natural. Ela desconfiou e sorriu para a mulher. Essa voltou um sorriso leve e entrou no banheiro. Tão logo se viu só, ela pensou em contar o fato a amiga Walquiria. Contudo Racilva se esqueceu do caso. Uma mulher passou depressa pelo corredor onde estava o quarto das moças. Racilva ouviu a mulher gritar:
--- O jantar está na mesa, gente! Venham! – gritou a mulher de fora do casarão.
O grito da mulher deixou espantada a moça Racilva. No momento seguinte alguém abriu a porta do quarto e entrou depressa. Era uma das sobrinhas de Glauco. A visitante disse apenas o seguinte:
--- Olá! – e sorriu. Em seguida se voltou a procurar o que estava perdido.
--- Olá! – respondeu Racilva na volta e sorriu também.
--- Meu sabonete, gente! – quis saberá moça a procurar na bolsa de viagem.
--- Se não achar o seu, eu tenho um aqui. Está na embalagem. – respondeu Racilva.
A moça se soergueu e olhou para o sabonete. Em seguida tomou de mão o oferecido entre o dizer com graça.
--- Vou pegar o teu. Eu não acho o meu! – e sorriu contente a nova amiga.
--- Seu nome? – perguntou Racilva.
--- Renata. – respondeu a moça a sair do quarto em correria.
--- A água está fria. – proferiu Racilva mesmo sabendo ter Renata não ouvido a mensagem.
Após alguns minutos todos estavam à mesa para abocanhar o suculento jantar e dane de bode, de cabra e de gado. Quase não fazia a menor diferença para Racilva aquelas comidas. Afinal a moça ainda sentia-se cheia do almoço o tomaria apenas café com biscoito. Glauco a observou e perguntou:
--- Você não come nada? – quis saber o seu protetor Glauco.
--- Estou cheia do almoço. Não quero comer muita coisa. – respondeu a moça trocando olhar repentino com Glauco.
Esse sorriu. No lado de lá da mesa estava sentada Walquiria. Esse não disse nada. Mas deixou antever ser àquela hora de Racilva de acercar mais do seu pretendente. E Racilva olhou e viu Walquiria e nada respondeu para a amiga.
A noite continuavam com o arrasta-pé no salão improvisado ao lado do casarão onde toda gente a dançar com os seus gritinhos de alegria no meio do toque das sanfonas triângulos, zabumbas entre demais instrumentos e ao espocar de fogos de artificio subindo alto ao céu arranjado pelas estrelas cintilantes. O coronel Fabriciano pediu a palavra para agradecer toda aquela azafama que era feita em honra a sua homenagem e se despedia para ir dormir, pois no dia seguinte ainda tinha o que fazer e já era tarde da noite. Enfim, o ancião se retirou para o interior do seu casarão onde foi se deitar para dormir o sono dos justos. Em um pouco mais Glauco pediu a vez para dançar com Racilva e Walquiria olhou de modo alegre a dizer:
--- Enfrenta a onça, mulher! – disse Walquiria a Racilva.
Racilva sorriu e foi para o salão de baile dançar com Glauco. Afinal ela não estava tão cansada assim. E Walquiria foi atropelada por Renata a lhe fazer a pergunta triunfal.
--- Eles estão de namoro? – perguntou Renata atrevidamente.
--- Nada. É apenas namorico. Nem sei bem. Deixa pra lá. – respondeu Walquiria se afastando do local da parte alta do alpendre.
Na madrugada do dia seguinte, domingo, por volta das cinco horas da manhã, Racilva acordou sobressaltada com forte arritmia cardíaca talvez por um sonho como se ela tivesse caído de um precipício e fosse até ao chão. O suor lhe descia por todo o corpo. Um zumbido na cabeça lhe mais angustiada. Racilva olhou para o relógio de pulso e viu as horas. E olhou para as outras camas onde dormiam sossegadas as demais senhorinhas. Ela nada falou com medo de acordar o pessoal. E se lembrou de um sonho. Uma dama vinha pela calçada de uma rua da capital. A jovem não sabia qual era a rua. Simplesmente era uma rua muito estreita. Uns dois metros ou três onde circulava apenas um carro. A calçada era estreita. Calçamento de tijolos apenas no passeio público. No caminho, a rua era toda calçada com paralelepípedos. Racilva caminhava sozinha. Em contrário vinha uma mulher parecida à dama do retrato. Ambas andavam na mesma calçada. O tempo era de estio. Havia sol, porém não incomodava Racilva. As casas estavam fechadas ou não tinha casa nenhuma. Ela caminhava com passos firmes e a mulher vinda em sua direção apenas relatou a Racilva:
--- Tome conta dele! – pronunciou a mulher parecida com Adélia Agar.
Com isso, Racilva acordou sobressaltada, pensando na dama que ela avistara no dia anterior em um retrato tamanho normal. Nesse mesmo instante, o foguetório começou do lado de fora do casarão e pessoas já estavam a discorrer na frente da augusta casa grande. No quarto de dormir, Walquiria, com voz sonolenta, apenas perguntou a Racilva como quem não quisesse despertar do seu sono.
--- Que horas? – perguntou Walquiria abrindo a boca.
--- Cinco horas. – respondeu Racilva atordoada com o sonho tido até a hora de despertar.

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