sábado, 16 de julho de 2011

VENUS ESCARLATE - 01 -

- VENUS -
- 01 -
Eram sete horas da manhã quando Glauco Rodrigues concluiu as suas obrigações matinais e voltou, em seguida, para o quarto de dormir onde tinha ele uma cama de casal, um guarda-roupa para as suas obrigações, uma toalete com espelho na qual ele punha os perfumes entre os demais eventos de sua necessidade. Além do mais, no quarto pequeno e úmido, tinha duas cadeiras, um criado mudo, uma banquinha para ele escrever e, nas paredes, um quadro de Renoir, uma folhinha com uma dama totalmente despida onde ele podia ver da sua Vênus escarlate todo o seu corpo suave e belo. Um cabide estava bem próximo à porta de saída. Afinal, essa porta era a única existente no quarto de um hotel de segunda categoria cujo nome era Hotel Belas Artes. Esse nome estava pregado na parede da frente do hotel e Glauco pouca importância lhe dava. No local da cama de dormir havia um tapete vermelho no qual o homem sacava os seus sapatos na hora de dormir ou calçava uma alpargata quando sentia necessidade para poder se levantar e operar outro qualquer negócio. O homem, viúvo há oito anos, ainda lembrava-se de sua querida mulher, tão bela mulher de vinte e sete anos de idade, ou menos e sempre aos sábados lhe levava flores para colocar em seu túmulo. Glauco costumava falar sozinho como quem se esquecera de algo.
Adélia Agar era o nome de sua mulher falecida há oito anos. Glauco casou ainda novo quanto estava com vinte e cinco anos. Adélia era uma mulher esmeradamente bela. Ele a conheceu quando concluía os seus estudos em Direito. Foi um romance rápido e logo se casaram. Porém Adélia adoeceu de repente, logo após o casamento. Tudo foi muito rápido e a mulher morreu antes de um ano do matrimônio. Os médicos diagnosticaram como sendo tuberculose. Após a morte de Adélia Agar o homem passou a viver solitário e apenas vivia do seu trabalho na Recebedoria de Rendas do Estado. O seu casarão ficou ao leu cuidado apenas por um vigia. Glauco não costumava ir ao casarão para não viver o drama do confuso amor. Sempre, as vezes, ele estava a lembrar da sedutora Adélia e, talvez, por isso, era o que sempre recitava sozinho quando estava em seu quarto de Hotel. Nesse dia, Glauco estava se preparando para tomar café na sala de jantar do Hotel e ainda assim procurava ver o que estava a lhe faltar para poder sair.
--- Relógio! Está aqui! Pente! Lenço!. – recitava o homem.
Em seguida, após estar todo arrumado seguia para a porta de saída onde colocava o seu chapéu de panamá olhando mais uma vez para a folhinha do quarto onde estava a mulher desnuda postava deitada, de frente, vendo-se sua Vênus escarlate. A mulher estava com o rosto pendido para o lado direito e uma das suas mãos estiradas para o lado esquerdo fazendo com os dedos uma cena invulgar de quem estirava o dedo maior para quem a visse dessa forma.  Glauco simplesmente olhou e trancou a porta. Ele estava todo arrumado, de calça e paletó, cinto, camisa, gravata, um relógio de algibeira, carteira de dinheiro, lenço, meias, sapatos de couro de crocodilo e um pouco de perfume de aroma suave. Era esse o traje de Glauco Rodrigues de toda a manhã.
--- Eu acho que não me esqueci de nada. – comentava baixinho o homem.
Glauco caminhava pelo corredor do Hotel, passando pelas portas ainda fechadas dos demais quartos e chegando até a mesa da sala de jantar ou do café matinal e almoço ao meio dia. Ele sempre lembrava a mulher do Hotel, dona Dalila, se estava ou não presente para as demais refeições da casa. Com isso, ele punha tudo em seu calendário de bolso: almoço e janta.
Ao chegar na mesa da sala já encontro várias pessoas a fazer sua refeição. Quase não havia lugar vago. Com cuidado ele puxou uma cadeira onde não havia ninguém e sentou de imediato não se esquecendo de dar bom dia a todos os circunstantes. Um homem ao lado foi quem puxou a conversa:
--- Você soube da morte de ontem? – indagou o homem a tomar sua canja de milho cozido.
Glauco não procurava nem mais saber do fato da moça morta por tiros. Ela estava a fugir do seu marido quando o homem sacou do revolver e desfecho três tiro contra a sua esposa. Essa caiu na calçada da praça e o homem ainda foi ao local para ver se a mulher estava morta. E fez mais um disparo na sua fronte. Nesse momento, um soldado da Policia viu a cena e perseguiu o criminoso para prendê-lo. O assassino procurou fugir e o soldado disparou um tiro que lhe atingiu a perna fazendo o criminoso ir ao chão. O tiro certeiro rompeu uma artéria e o assassino nem sequer ele durou cinco minutos tento morte instantânea se acabando em sangue. O soldado olhou para a sua vitima e logo fugiu do local. A gente de toda a parte se aglomerou no local onde a mulher estava estirada ao chão e do homem morto a tiro. Cada qual tinha a sua versão:
--- Eu vi tudo! – dizia um circunstante.
--- E o homem quem era? – perguntava outro.
--- Sei lá. Talvez eles estivessem em algum cabaré. - respondia alguém.
--- Tá morto? Tá morto o homem? – indagava um alguém.
--- Deve estar. Só pode! – respondia o mais requisitado pela multidão.
--- Bem feito! Quem manda beber cana? – respondia um bêbado ainda querendo se por de pé.
Esse foi o crime ocorrido na manha do dia anterior na praça onde estava situado o Hotel. E o homem tecia comentário alusivo sobre o fato. Glauco Rodrigues já nem queria saber. Ele apenas chamou a mulher e pediu um prato de mungunzá e um pouco de café, pois ainda estava cheio do jantar da noite passada.
--- Vem já! Vem já! – sorriu Dalila sem maiores comentários.
E o homem estava a conversar sobre a tragédia perguntando a Glauco algo mais a respeito. Esse respondeu não ter ouvido falar.
--- Não ouvi falar. Eu estive sempre ocupado no trabalho. – respondeu Glauco querendo por fim a conversa
Uma moça de seus dezoito anos chegou com um prato de mungunzá e colocou na mesa à frente do local onde estava Glauco.
--- Quer açúcar? – perguntou a moça a Glauco.
--- Pode deixar que eu me sirvo. O café, por favor. – falou baixo Glauco.
--- Vem já. – respondeu a moça sem sorrir.
A moça fazia pouco tempo de emprego no Hotel, pelo que observou Glauco Rodrigues. Ela era de um tipo baixo, meio franzino, pele clara, cabelos encaracolados, olhos vivos, mãos primorosas, andar decente e vestido abaixo do joelho. Pelo visto, ela devia ter seus vinte anos ou menos até. Glauco a observou quando a moça saiu de perto da mesa onde o pessoal comia e conversava sobre assuntos diversos. As moscas infernizavam o prato de mungunzá de Glauco e ele estava possesso de tanto espantar os insetos.  E o homem, seu vizinho, a desarnar sobre o crime havido na manha do dia passado e de outros crimes parecidos como aquele. Assim era o caso do trapezista. O trapezista matou a amante quando na cama em um lupanar nas Rocas em um dia à noite.
Com pouco tempo a moça chegou com o café e ainda perguntou se não queria bolo o pão com queijo como alguns outros estavam a consumir também. O homem recusou a oferta e ainda indagou se já fazia muito tempo que ela era empregada do Hotel. A moça respondeu ser aquele o segundo dia e nada mais respondeu. Ela saiu cantarolando uma música saída em um gramofone posto em algum canto da sala. Glauco apenas observou o trejeito de andar daquela bela moça as primeiras horas da manhã.
--- Bonita moça! – disse o seu vizinho parando de falar no crime da praça.
O homem quase nada respondeu a não ser um:
--- Rum! Rum! – faz com um gesto o homem Glauco.
Ao terminar o seu repasto Glauco Rodrigues já estava a sair e fez menção a dona Dalila para lhe dizer não vir ao meio dia para o almoço. A mulher concordou com o aviso e seguiu com Glauco até mais a frente. Quando não havia mais ninguém por perto ela falou:
--- Aquela moça que serviu o seu café, é uma pela moça! Se o senhor quiser, então eu a mando para o seu quarto, logo mais. – disse a mulher sorrindo baixo.
--- Pode ser. Eu estou do volta às nove horas da noite! – respondeu Glauco ajeitando o seu chapéu.
--- Está bem. Ela é limpa. – respondeu a mulher ao dizer ser a moça sem doença.
--- Está bem. Estou às nove horas. – relatou Glauco.
Dalila sorriu e foi até a porta de saída do hotel vendo se o carro do lixo já havia passado àquela hora da manhã logo cedo. Porém o carro não passara. Isso devia acontecer por volta das nove horas da manhã. Dalila olhou para um lado e para o outro vendo apenas carros e ônibus a circular. Glauco saiu em seguida e se despediu da mulher.

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