segunda-feira, 18 de julho de 2011

VÊNUS ESCARLATE - 03 -

- Provocação -
- 03 -
Tão logo Glauco Rodrigues saiu da loja de artigos de vendas com o seu receptor levando embrulhado em baixo do braço, alegre como um menino, a sineta tocou na repartição da caixa chamando com urgência a funcionária Racilva Arantes. O chamado era do diretor da firma, um homem de certa idade, gordo, de pouca estatura, cabelos rentes à cabeça. Racilva atendeu ao chamado com a maior pressa possível. O diretor, Haroldo Dória, estava a escarrar no cesto de papel usado quando a moça chegou. Ela ficou de pé esperando as instruções. O homem ainda cuspia no cesto como se estivesse engasgado com alguma coisa. Após esse tempo, por sinal. Muito curto, mas deixando a moça nauseada, Haroldo Dória lhe perguntou o que aquele consumidor havia comprado:
--- Um rádio, apenas. – respondeu Racilva quase querendo vomitar.
--- Radio! Sabe quem é aquele homem? – indagou Haroldo Dória.
--- Não senhor. – respondeu Racilva ainda preocupada com os escarrados do seu chefe.
--- Ele trabalha na Recebedoria de Rendas. É podre de rico. Podre de rico. A mulher que se casar com ele vai ficar podre de rica. – rebateu o homem ainda a escarrar na lixeira.
--- Ah sim. – respondeu Racilva como se nada daquilo lhe adiantasse.
--- Podre de rico. E vem aqui comprar um rádio. Ele poderia até comprar essa firma. Ninguém dá nada por ele. Todos pensam, quem o vê, lá vai passando um pobretão. Eu queria ter dez por cento do que ele tem. Podre de rico. – cuspiu Haroldo na cesta.
--- O senhor está precisando de algo mais? – perguntou Racilva a seu patrão.
--- Preciso, sim. Vá até a Recebedoria comprar selos para essa fatura. É para mandar para o Governo. Essa aqui. E aqui está o dinheiro. – disse Haroldo a Racilva.
--- Está bem. Isso é tudo? – perguntou a moça para poder sair.
--- É sim. Mande a moça da entrega ficar no seu lugar. – respondeu o patrão Haroldo.
--- Pois não. - respondeu Racilva e logo saiu da sala da diretoria.
Enquanto isso, na rua em frente, passava um entregador de peixes frescos na carreira, gritando para os transeuntes que estavam a sua frente:
--- Olha o melado! Olha o melado! Olha o melado! – gritava o homem de corpo bastante musculoso, cor negra, cara achatada e roupas um trapo.
Quem seguia adiante se assustava com o carregador e procurava imediatamente sair. O homem passava com a sua gritaria enquanto outros sorriam com a besteira de quem se assustava naquele momento. Um homem magro vinha como quase correndo a oferecer a rifa de um sapato, mostrado um sábado em cima da caixa de sapatos em sua mão. Outros vendedores de bilhetes da loteria federal passavam devagar oferecendo a “sorte” a um possível comprador.
Nesse instante Racilva saiu da casa comercial e ganhou o destino da Recebedoria de Rendas a procura das estampilhas para por na nota fiscal e encaminhar ao Governo do Estado. Isso era comum para a moça. Sempre tinha que ir à Recebedoria fazer as compras de selos. Na metade do caminho, antes de chegar a rua das Virgens, Racilva encontrou uma colega da Faculdade com quem conversou um curto espaço de tempo sobre assuntos ligados as matérias expostas pelo professor querendo uma resposta para aquela noite. Racilva explicou como fez e logo em seguida caminhou a rua passando por uma casa de móveis. Ela olhou bem os preços das estantes  e logo em seguida tomou o seu caminho. Ao chegar na Recebedoria de Rendas não olhou muito bem para os que estavam a trabalhar. Porém, alguém a notou e veio ao seu encontro pelo lado de dentro do balcão. Era ele o senhor Glauco Rodrigues. O seu nome, a moça estava com ele na mente, pois recebera um cheque para ser descontado na Caixa. Tão de repente Glauco pode ver o estilo do vestido completo o que lhe foi impossível de notar por causa do balcão do caixa naquela hora em que fora pagar a conta do rádio. Era uma moça sensual e sedutora aquela jovem com de natureza. Ao chegar ao balcão, Glauco cumprimentou Racilva e lhe perguntou em seguida:
--- O que procuras nessa Repartição tão cheia de gente? – indagou a sorrir o homem.
--- Olá. Como o mundo é pequeno! Selos! – respondeu a jovem a Glauco.
--- Ah bem. Mas tem gente demais. Você espera tanto tempo? – indagou Glauco a sorrir.
--- É o jeito. O que se pode fazer? – refletiu em troca Racilva.
--- Faz tempo que você trabalha naquela firma? – indagou Glauco.
--- Três anos. - sorriu a moça ao responder a indagação.
Nesse momento, Glauco estendeu a sua mão para pegar a mão de Racilva e apertar-lhe sem força e tomar a documentação necessária para por os selos. Ao pegar a mão da moça levou até aos seus lábios e depositou um beijo no anel de enfeite. E disse enfim:
--- Com licença. Eu vou ver o que posso fazer por você. – sorriu Glauco com ternura.
--- Não. Não se cuide. Eu espero. Até não tem tanta gente assim. Eu queria saber como se faz para conseguir uma colocação no Estado. – perguntou a moça querendo distrair o homem e pegou a sua mão, encolheu os seus dedos e se ajeito junto ao seio.
--- Teve medo de mim? Ora, ora! Mas, para se entrar, não é preciso de muita coisa. Se você tem um deputado, peça a ele uma recomendação ao Governo. – explicou Glauco a sorrir baixo
--- É simples assim? Deputado eu tenho. Um rapaz. Todos lá em casa votam com ele. – sorriu Racilva com a mão encolhida ainda.
--- Pois fale com ele. Se não conseguir, venha falar comigo mesmo. – sorriu Glauco pedindo  as notas fiscais.
A moça sorriu e por fim entregou as notas ao homem dizendo:
--- Ora que incomodo. – sorriu com vergonha.
Após um breve tempo, Glauco voltou com a nota fiscal e os selos para que fossem colocados no documento a ser mandado para o Governo do Estado. Ele sorriu e disse:
--- Está vendo como é fácil. – sorriu Glauco a beijar a mão de Racilva.
--- É. Mas o senhor está aí dentro. É muito mais fácil. Eu estou do outro lado. – sorriu Racilva envergonhada.
--- Bem. Tem esse segredo. Faça a sua tentativa. Se não conseguir venha falar comigo. – sorriu Glauco para a moça.
A moça olhou nos olhos de Glauco e esse recitou o seu nome para a surpresa da moça.
--- Como o senhor sabe meu nome? – perguntou Racilva.
--- Creio que você me disse, hoje cedo, a poucos momentos. – sorriu Glauco.
--- É. Pode ser. – sorriu a moça envergonhada com o decifrar do seu nome.
--- Veja. O rádio que eu comprei a você, eu vou instalar a noite. Eu deixei. Então verei se é bom de fato. – falou com orgulho Glauco Rodrigues.
--- O senhor foi deixar o rádio em casa? – indagou surpresa a moça.
--- Eu moro próximo daqui. – sorriu Glauco.
--- Ah sim. Está bem. Eu vou fazer o que o senhor me disse. – falou sorrindo a moça e por fim se despediu.
--- Faça. Vai dar certo. – respondeu o homem para Racilva olhado de fato o corpo da mulher e sentindo forte ereção em si. A moça saiu e até a porta um vento forte lhe cobriu a saia do vestido e a moça procurou se resguardar daquela cabida aragem. Glauco Rodrigues se entusiasmou cada vez mais. Por precaução, após ter visto o panorama por inteiro das coxas daquela Vênus, ele preferiu se retirar com a augusta festa que fez toda aquela ventania. Racilva procurou se arranjar abaixando a sua saia. Ela sentiu vergonha por ter mostrado as suas partes intimas a multidão de apenas bem pouca gente, pois a lufada havia se alongado Ribeira adentro até o mundo se acabar. Dentro da repartição, a rajada de vento também teve os seus senões. Os papeis se espalharam por cima das escrivaninhas. Glauco chegou a tempo de salvar alguns documentos. Ribeiro, homem forte, procurou ajudar seu chefe ajuntando os papeis espalhados pelo chão. As moças que trabalhavam na repartição gritavam aflitas por conta da ventania inesperada. Após poucos minutos tudo voltou a calma. A conversa era sobre o vendaval onde deixou depositado a sua marca.
--- Pronto Chefe. Está tudo ajeitado. – disse o homem Ribeiro a Glauco.
--- Obrigado. Muito obrigado mesmo. – respondeu Glauco a Ribeiro.
A manhã transcorreu tranquila depois daquela ventania, porém todos comentavam o vexame pelo qual passaram naqueles momentos.

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