sexta-feira, 1 de julho de 2011

DESEJO - 66 -

- Katherine  Heigl -
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Pouco antes das quatro horas da tarde, Paulo Barra, naquele dia após tanta celeuma na cidade com a notícia da cassação do Governador, fez a sua para (obrigatória) em frente à residência da moça Suzana Barreto, responsável pelo arquivo de fotos da redação do jornal. A menina, filha de Suzana, apareceu na porta e apontou com o dedo da  mão direita para Paulo e disse qualquer coisa como se: “ele está ali”. Paulo Barra olhou a menina, uma verdadeira gracinha e deu com a mão como que dando adeus. Ele sorriu para Cristina w, com isso, a menina entrou. Mesmo assim, ele ficou na espreita e viu a cabeça de Cristina querendo sair devagar pelo portal. O caso levou mais alguns minutos de esconde-esconde; de adeus-adeus. Foi algo impressionante para a menina e para Paulo Barra de não se conter em sorrir. Naquele meio tempo um automóvel se aproximou do carro onde estava Paulo Barra. Quando o veículo estacionou ao lado de Paulo Barra, ele reconheceu a pessoa: um velho amigo dos idos: Afonso Oliveira. O homem estacionou o carro ao lado e falou para Paulo Barra:
---  Tem greve! – sorriu Afonso ao falar a Paulo.                                                                                             
--- Estou sabendo. Desde ontem está à confusão. – respondeu Barra.
--- É. Mas agora à tarde pararam por tempo indeterminado. – retorquiu  Afonso quase serio.
--- É sempre a mesma coisa: salários. Não tem quem desmanche essa mexa. – disse mais o homem torcendo a cabeça para um lado e pra outro.
--- Porém, agora é pra valer. Faz quatro meses que o Governo não paga ao seu funcionalismo. – respondeu Afonso.
--- Nem paga e nem diz se não vai  ou se vai pagar. – falou Barra, aflito.
--- Olha! Eu tenho uma vizinha que é pensionista do marido. Ele trabalhava na Educação. E o Governo nem dá bolas para a mulher. E faz seis meses que não recebe sequer os proventos. – disse mais o amigo Afonso.
--- Ave Jesus. Essa merece uma reportagem. – relatou Paulo Barra indignado.
--- E não é só ela. Tem outras. No interior é que tem. Nos cafundós de Judas. La pra as brenhas. Vai-se encontra muito desse povo. A seca destruiu a plantação dos pequenos agricultores. E quem recebe montepio; esse, coitado. Se comer, só come barro. – falou serio o homem Afonso
---  Eu vou agir uma matéria nesse sentido. – relatou Barra.
--- Faça. O Jornal está bom. Eu leio todo dia. – disse mais Afonso
E o carro partiu na hora em que chegava Suzana Barreto. Nessa ocasião, ela ainda perguntou ao seu Chefe se ele conhecia Afonso Oliveira. Paulo Barra respondeu que “sim”. De há muito tempo.
--- Ele é padrinho de Cristina. – respondeu Suzana a sorrir.
Paulo Barra ficou de imediato, desconfiado com a parada daquele velho amigo à frente da residência de Suzana. Ele estava cogitando em ir a certo local antes de chegar à redação. Porém aquele gesto de um “compadre” lhe deixou de estribeira amarrada. Por tanto, teve de repensar em seu gesto e buscar nova ocasião, com certeza. É certo ter a moa plena confiança em Paulo Barra e nenhum momento teve algum sentido malicioso a respeito de seguir com Paulo Barra parra o seu trabalho. Era sabido ter Suzana um passado não muito bom, com o caso do pai de Cristina. Porém aquele foi um caso passado e ela procurava não se lembrar. Afinal, Barra também tinha seus remorsos e pesares escondido. E cada qual com os seus sentimentos a guardar. Paulo Barra, desde que perdeu a esposa, não arranjou outra mulher. Contudo ele sempre pernoitava com uma dama de veludo. Uma forma escondida de fazer amor sem ninguém saber a verdade. Do conjunto, ele seguiu viagem e ao passar pela frente do Sindicato dos Bancários viu as faixas informando – “Greve”. – “Fora o Governador” – e outras mais. A turma de grevista se concentrava em frente ao Sindicato para sair em passeata até o Palácio do Governo, fazendo discursos transmitidos por um carro de som. A greve era uma festa para os bancários. Mesmo assim, eles estavam com o seu pagamento em atraso há três meses como os demais servidores do Estado. Entraram em greve por tempo indeterminado nesse dia apenas os bancários do Banco do Estado. Outras manifestações de demais Casas de Crédito também estavam programa para os próximos dias.
Na redação do Jornal era um clima único. Até mesmo os repórteres vestiam camisetas com a marca do Sindicato dos Bancários em defesa do pagamento dos três meses de vencimentos dos funcionários do Governo. Para todos os repórteres aquele era um dia de festa. Até mesmo Marta Rocha vestiu a camiseta do Sindicato. Enquanto isso, Armando Viana estava atento as notícias chegadas por meio de seus repórteres. Um líder sindical dava entrevista a um repórter na sala de redação tendo a companhia de outros quatros sindicalistas.
--- Nós decidimos não voltar ao trabalho enquanto o Governador não pagar aos funcionários do Banco e aos demais servidores. É questão fechada. – respondeu o líder sindical.
--- E governador deve renunciar também. – alegou outro líder sindical.
Faixas foram postas ao longo do corredor do jornal como forma de adesão do matutino ao movimento grevista. Armando perguntou a um grevista se havia adesão de outras agências no interior do Estado. E o líder respondeu:
--- Temos informes de noventa por cento das agencias bancária das grades cidades estarem em greve também. Apenas as agencias pequenas existentes em sítios não fizeram adesão. São agencias a mando de fazendeiros cooperadores com o Governador. – respondeu o líder.
Paulo Barra chegou nesse exato momento e viu as faixas espelhadas pelo prédio. E não negou o apoio aos grevistas.
--- Isso, rapaziada. Eu quero ver é guerra. – sorriu Paulo Barra aos rapazes do Sindicato.
Na porta de entrada do prédio tinham outros grevistas fazendo propaganda do Sindicato com as bandeiras hasteadas esvoaçando para um lado e para outro. Um carro de som a transmissão de discursos de outros líderes sindicais. Um homem que naquela hora passava pela frente do Jornal reclamou horrores do barulho do carro de som.
--- Vão fazer essa zoada em frente à casa do Governador. - declarou enraivecido o homem procurando correr do local.
Após a entrevista dos lideres todos saíram em passeata até a frente do Palácio do Governo alavancando mais pessoal, até mesmo os bêbados contumazes. Esses faziam piruetas como se aquilo fosse um carnaval. A festa prosseguiu até a noite com discursos e falatórios. Havia gente muita em frente do Palácio. Até mesmo o expediente da Assembleia teve de ser suspensa por conta da barulheira da moçada na praça. Outras repartições encerraram o seu expediente um pouco antes por força do barulho feito pelos carros de som. A moçada se dispersou com seus apitos e indumentárias fazendo verdadeira algazarra por volta das sete horas.
Quando eram oito horas, Marta Rocha seguiu com Armando Viana até o seu apartamento ainda cheia de planos para o futuro. Armando ouvia apenas o tagarelar da moça falando pelos cotovelos os seus pensamentos e ideias. O auto de Armando ficou estacionado em uma praça no centro da cidade onde o rapaz convidou a moça para jantar em um restaurante de fino trato e ali poder conversar das suas ideias cujo teor ele tanto admirava. A moça desceu do carro e caminhou até o restaurante onde havia um conversar a miúde de pessoas alegres e descontraídas fomentando o melhor progresso para a Cidade.  Armando se sentou em uma cadeira existente no meio do salão e ouviu a moça Marta Rocha a tagarelar sobre diversos assuntos. O rapaz apenas sorria.
--- Você está escutando? – indagou Marta ao rapaz.
--- Estou. Pode falar. – respondeu Armando sorrindo baixo.
--- Pois é isso que eu penso. Ter diploma ou não pouco importa. Você pode verificar quantos diplomados em jornalismo estão perdidos por ai. Nem pensam em ser um jornalista. Eu penso. Mas diploma é da menos importância. Vai chegar um dia em que ter diploma não vai valer coisa alguma. Está certo. Eu vou tirar o meu diploma. Mas eu indago: quantos estão na sala de aula estudando para tirar os seus diplomas? Quantos? E quantos vivem a procurar um trabalho de jornalista com seu diploma na mão?  É isso o que me magoa! – falou por fim a jovem moça.
Após o jantar, o casal saiu e Armando quis saber para onde a moça Marta teria que ir àquela hora da noite. Ela não respondeu de imediato. Após algum breve momento Marta raciocinou e chegou à conclusão:
--- Seria bom eu pedir abrigo em seu apartamento? – fez questão em saber Marta.
--- De modo algum. Você pode dormir na cama e eu no sofá. – sorriu Armando.
E se lembrou nessa ocasião da sua noiva falecida Norma Vidigal. Já se passara coisa de dois meses e ele não pretendia ter novo romance de imediato.
No apartamento, Marta indagou de Armando se estava bonita com o seu novo vestido. Com isso, Armando, estando sentado em seu sofá, teve de se virar e olhar bem para Marta. E, com efeito, respondeu:
--- Para um homem até que está. – sorriu Armando para Marta.
Ela fora no quarto se vestir, pois estava apenas com o seu vestido de trabalho. Como não teve tempo em procurar uma roupa mais adequada, vestiu uma camisa e mangas compridas, colarinho e gravata sem contar outros detalhes propícios. A camisa era de Armando para vestir em certas ocasiões, uma vez ter ele adquirido com um fardamento próprio para ocasiões festinhas ou solenidades de ocasiões. Ela vestira a camisa cobrindo toda a parte do seu corpo até abaixo do joelho. O parecer de Armando fez gargalhar a moça.
--- É chique, não é? – indagou Marta abrindo de lado a camisa.
--- Senta bem em você. Para onde vai assim? – fez a pergunta o rapaz.
---Bobo. Sentar a beira do caminho! – disse Marta ao tempo em que se  deitou escorada nas pernas do rapaz e ficou a admirar sobremaneira o apartamento com negócios por todo o canto mais parecendo um ninho de amor a dois.
--- Linda a paisagem! – respondeu Armando a sorrir.
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