domingo, 17 de julho de 2011

VENUS ESCARLATE - 02 -

- ARTE NUA -
- 02 -
Ao sair do Hotel onde se hospedara e era praticamente a sua morada, Glauco Rodrigues atravessou a rua onde ficava o hotel e, consequentemente a sua repartição, então enveredou por outra rua, aonde tinha a Praça Augusto Severo e, por ali saiu em gente, passando a Rua das Virgens, uma transversal cujo fim era naquela outra rua. Então, Glauco pode observar o comércio já estado a funcionar, com os operários em seus interiores. Do outro lado da Rua ficava o tradicional Tabuleiro da Baiana, um bar e café de gente mais simples. Naquele local, em suas duas partes serviam-se café e bebidas, da cerveja ao uísque e até mesmo a cachaça. Os ébrios dormitavam pela calçada do Tabuleiro  até o efeito da cachaça se esvair. Glauco olhou sem querer e notou a franca e modesta freguesia a ser atendia pelos garçons da plena noite. Ele lembrou um fato ocorrido com um bêbado. Ele estava no bar até altas horas da noite e, quando não havia mais condução para o bairro do Alecrim, o homem resolveu sair para a sua casa, perambulando com vagar. A certa altura do percurso, quando o ébrio alcançava a Rua Rio Branco e estava próxima a outra rua chamada Apodi, notou a presença de uma jovem bonita trajando vestes de noiva a sair correndo de uma esquina para a Avenida Rio Branca. Ele, ébrio, não deu maior importância. Quando a moça se aproximou do ébrio e indagou as horas.
--- Quase meia noite! – respondeu o ébrio.
--- Ah bom. O senhor vai para o Alecrim? – perguntou a moça.
--- É o meu interesse! – respondeu o ébrio meio tonto.
--- Eu posso te acompanhar? – indagou a moça vestida de noiva..
--- Pode. Não vejo razão por que a senhora ai tão tarde para a sua casa. – disse mais o ébrio
--- Eu me descuidei da hora. – sorriu a bela jovem noiva.
--- E o seu noivo não tinha relógio? – indagou o ébrio um tanto tonto.
--- Ele estava a dormir. – sorriu a noiva a responder ao ébrio.
--- E a senhora estava em alguma festa? – quis saber o ébrio.
--- Nosso casamento. – sorriu a noiva encantada pela noite calma.
--- E a senhora fugiu da festa? – indagou de novo o ébrio.
--- É. Fugi. Agora vou para a minha casa. – respondeu sorrindo a doce noiva.
E ambos seguiram para o Alecrim, percorrendo o Canal de Baldo, subindo a avenida depois do canal e os dois, por fim chegaram ao cemitério do Alecrim. O ébrio perguntou a linda noiva se estava próxima a sua casa e ela, ao chegar ao portão central do cemitério, respondeu:
--- Eu moro aqui mesmo! – sorriu a noiva com entusiasmo e entrou no portão totalmente fechado,  desaparecendo na penumbra.
Glauco relembrou da estória e sorriu baixinho do que ouvira um dia o bêbado contar ter acontecido com ele mesmo.
Na esquina da Rua Dr. Barata, o homem entrou e topou com um gazeteiro a oferecer o jornal O POVO daquela manha. O gazeteiro perguntou ao homem.
--- Vai querer O POVO? Noticias de hoje! – sorriu o pequeno gazeteiro.
Glauco aceitou o jornal e deu uma moeda ao garoto agradecendo em seguida. O jornal nem era daquele dia,  pois trazia artigos comunistas colhidos da emissora Radio Central de Moscou. Era um jornal feito nas coxas por um grupo de militantes do Partido Comunista Brasileiro e distribuído quase todos os dias. Glauco olhou sem pressa o jornal comunista trazendo artigos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O jornal mostrava a população entusiasmada com o novo regime do País e aproveitando as praias existentes na URSS, os novos trens, os soldados russos, as belas moças a transitar pelas ruas de Moscou entre outras coisas a mais. O homem sorriu com aquela aventura dos jovens brasileiros.
--- União Soviética! Quero ver de perto esse pessoal. A KGB. O morticínio do Czar. Toda a sua família. Anastásia, filha de Nicolau II. Nada fala de Anastásia. – comentou consigo mesmo o homem.
Um velho homem passava por Glauco e disse apenas o seguinte:
--- É pena o Czar não ter vivido para contar a história. Essa juventude brasileira apenas fala do que é bom para o povo. Eu estive bem perto da Rússia. Não tem quem aprove o regime. – e cuspiu de lado o ancião.
--- O senhor esteve na Rússia? – indagou Glauco meio preocupado.
--- Perto. Bem perto. No país não se entra. É uma verdadeira cortina de ferro. – falou o homem
--- Qual país o senhor esteve? – quis saber Glauco.
--- Noruega. – respondeu o ancião cuspindo de lado pela ojeriza sentida pelos russos.
--- Ah bom. Um pouco longe. – relatou Glauco.
--- No mar tudo é perto. Quase morri de frio naquele País. Eu estava com dezoito anos nesse tempo. – falou o ancião.
--- Imagino! – fez uma cara trancada o homem Glauco.
E os dois se despediram sendo o ancião tomando o rumo da praça e Glauco seguiu em direção ao escritório de Onofre um seu amigo. Ele então pôs o jornal no bolso do paletó e se preparava para atravessar a estreita rua Dr. Barata quando de relance observou uns Rádios “PYE” expostos em uma loja de artigos domésticos. O homem se deteve e procurou ver de perto aqueles rádios emissores. Era um tipo de rádio bem acabado. Caixa toda de madeira fornida, pequenos, por sinal e a loja nem fazia propaganda do equipamento. Glauco apenas foi até a casa e pôs-se a observar tal equipamento. Ele sentiu um forte orgulho de ver de perto aqueles rádios. Por certo, Glauco se lembrou de outro rádio similar visto em residência de certo conhecido seu e, desde aquele tempo ficou seduzido pelos rádios “PYE”, uma sobriedade de equipamento, por sinal. Um auxiliar de vendas se aproximou de Glauco e logo foi dizendo:
--- Um belo equipamento, senhor! – falou o vendedor a Glauco.
--- Esse rádio! Há um bom tempo não tinha notícias de um rádio “PYE”. – discorreu pensativo  e com orgulho o homem.
--- Esses chegaram a princípios da semana. Nós temos vendidos uma enormidade! – relatou o vendedor a Glauco.
O homem cativado não pensou muito bem no que disse o vendedor, pois se tivesse, haveria de entender ser apenas modo de falar e de vender.
--- Porém tem uns maiores! – narrou, com efeito, o homem interessado por demais nos rádios.
--- Os maiores trazem o “olho mágico”. – respondeu o vendedor.
--- Ah bom. Esse é o segredo. E há diferença de preços entre os dois equipamentos? – quis saber Glauco muito mesmo interessado.
--- Um pouco. Esse olho mágico serve para sintonizar a estação. Quando está totalmente sintonizada, o olho fecha por completo. Eu mostro ao senhor como fazer. – disse ainda o vendedor.
E daí então foi feito os experimentos com um radio e outro, sua capacidade de alcançar longas estações do Brasil e do exterior. O rádio era simplesmente espetacular. Estados Unidos, Cuba, Argentina, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Suécia, Suíça e vários outros países sem se contar com as rádios do Brasil capitadas com um sinal fiel. Após vários experimentos Glauco decidiu por levar o radio do olho mágico.
--- Muito bem. O senhor não vai se arrepender. – sorriu o vendedor ufanado tirando um dos equipamentos da prateleira.
E Glauco se endereçou ao caixa para efetuar o pagamento de sua preciosa joia adquirida por um acaso. Ao chegar ao balcão do caixa preencheu o cheque e pagou pela aquisição do seu rádio. A moça gradeceu a deferência pelo acerto da compra e Glauco, nesse tempo, olhou a moça e teve a impressão de conhecê-la de algum lugar. Mesmo assim quis saber o seu nome
--- Racilva. Racilva, senhor. – sorriu a moça ao receber o cheque.
--- Racilva!  – articulou Glauco pensativo de onde conhecera a bela jovem.
A moça sorriu. Sua vestimenta era de uma esmerada sobriedade. Roupa leve, longa, cor de  bege, cobrindo-lhe o busto e – com certeza, as pernas. E por mais que tivesse as melhores intenções ele não chegava a verificar as suas pernas, pois o caixa não permitia ver além da cintura. Sua face era alva, idade talvez de vinte e cinco anos, cabelos encaracolados cobertos por lenço de cor branca. E então Glauco articulou:
--- Você é verdadeiramente bela. – falou o homem a moça.
A moça sorriu e lhe entregou a nota de venda.

2 comentários:

  1. Análise Transacional do Corpo Feminino em “A Missão da Roupa: Da Moda ao Discurso Nas Performances”.
    http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3420619/a-missao-da-roupa-da-moda-ao-discurso-nas-performances/

    “Troca de expressão” tem a ver com a expansão da consciência.
    O BATOM AO PINTAR OS LÁBIOS FEMININOS ALFORRIOU A VAGINA APRISIONADA.
    Ver o que não via antes ao sair da rasante mental subindo para o ápice com maior visibilidade é como trocar de olhos que enxergam menos por outros de longo alcance.
    Temos opção de trocar de olhos assim como trocamos de roupa ou um desejo por outro. A expansão da consciência é a troca de roupa da alma ou de uma expressão por outra.
    Como a Natureza programada para embelezar-se, florir; Princípio do Universo é a expressão da vida, esta, contudo, tem preço: dá trabalho, a começar com o parto. E a roupa inaugura-se, primariamente ao vestir o corpo com as paredes do útero. Ao desnudá-lo pelo nascimento, gera memória. Ao vesti-lo com tecidos ativa o SLIDE destas sensações.
    No ato sexual, na gestação, o corpo feminino é roupa. Ao criar a sua própria – e com esta desfilar -, vestindo-a e tirando-a faz despertar ideias, conceitos, a consciência… Antes de ser esculpido nu na estátua, David era prisioneiro dos gigantes blocos de mármore; da matéria. Ao concebê-lo libertando-o com genital exposto: destacando-o com valor, a arte revela autogeração: dá à luz a si mesma superior ao preconceito. O batom, por exemplo, remonta a vagina aprisionada. A boca torna-se a matéria apropriada para reconstruí-la. Sua expressão, valorizando-se, é a arte revolucionando-se.

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    1. Mamede, boa noite. Pela primeira vez alguem faz comparaçao de meus Livros com algo mais surpreendente. É claro que os negocios se sucedem, como o fato de David. Mas é tambem prodigioso saber das vestimentas e pinturas da mulher ao longo desse tempo. O que está explanado pelo amigo é a pura verdade. Eu nem me lembrava de ter escrito esse Venus Escarlate. Foi vce buscar la dentro a moda da mulher de ontem com a mulher de hoje. Obrigado por sua atençao. Alderico

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