sábado, 25 de junho de 2011

DESEJO - 53 -

- 53 -
Eram cinco e meia da manhã de uma segunda feira quando Canindé fotógrafo chegou ao Café de dona Gloria no Mercado da Cidade. Ele olhou em volta e viu não estar o seu velho amigo, Armando Viana. Com certeza ainda não saíra do seu modesto quitinete, a uma quadra a mais de distancia. Seguramente, Armando estaria a fazer as corriqueiras obrigações matinais do dia e se vestindo a rigor, pois estaria em seu Gabinete de despacho depois de visitar o Café de dona Glória. Por isso mesmo, Canindé fotógrafo olhou para fora tentando distinguir ao longe o automóvel de Armando, porem não o avistara de modo algum. O movimento na calçada da rua onde morava Armando ainda era pequeno. As mulheres caminhavam para assistir a Santa Missa na Catedral, e nada mais. Um balaieiro passou com pressa de um lado para outro. Era tudo o que Canindé podia ver. Os habituais freqüentadores do Café estavam a discutir os preços cada vez mais altos das mercadorias postos a venda pelos mercadores daquele próprio municipal.
--- É um horror! Como pode uma coisa dessas!!! – reclama um por conta da alta do feijão.
--- E onde está o Governador? - - respondia outro sobre o mesmo assunto.
--- Ele está nas brenhas, que é o certo. – rezingava mais outro mais sem querer tomar partido da situação calamitosa.
E a conversa prosseguia sempre com as críticas as autoridades Governamentais. Dona Glória tomava conta de despachar as mercadorias para os seus habituais freqüentadores e não se importava com tanta reclamação ouvida.
Em poucos instantes chegou ao local do Mercado Público o jovem Armando Viana reclamando horrores pelo serviço do seu automóvel. O negocio era um defeito na parte da ignição de carro e o mecânico levou todo o seu dinheiro no domingo passado. Pelo que demonstrava Armando o negocio lhe deixou com muita raiva por tal defeito e pelo cobrar do mecânico.
--- É uma afronta!!! Se eu soubesse que era tão caro aquela desgraça eu jamais compraria um carro!!!! – relatou com bastante raiva o rapaz ainda inquieto com a situação.
--- Carro velho é isso. – destacou Canindé.
--- Carro velho? Carro velho uma porra! O carro é novo!!! - rechaçou Armando Viana.
--- Pois é. Então carro novo. Não pode dar defeito. – sorriu Canindé em cima da hora.
--- Você está gozando com minha cara, é?! – perguntou com muita raia Armando.
--- Não senhor. Eu estou apenas comentando. – sorriu Canindé a toda prosa.
--- É por isso que um compadre meu só anda de burro. – relatou um homem que estava sentado na cadeira para tomar café.
--- Sabe que ele tem razão!!  Eu vou comprar um burro!!! – ressaltou Armando com muita raiva.
--- E mulo! – declarou Canindé. E caiu na risada.
---  Vai pra merda, vai. Corno!!! – reclamou Armando ainda com muita raiva.
--- Tá. Se eu tenho culpa. Você não quis se fazer de um bom moço? Então se obrigue. – ralou Canindé.
E Armando Viana não se contentava batendo no balcão do Café de dona Gloria e dizendo:
--- Porras! Porras! Porras! – proferiu por conta Armando.
--- Tenha calma. Olhe o coração. Depois não vá cair por ai. – orientou Canindé.
--- Vai, vai...Você só sabe desprezar os outros. – reclamou Armando.
--- Que foi que eu fiz? Homem! Sabe de uma coisa? Vou-me embora. Tenho coisas mais a fazer de que ouvir reclamações de o velho barrigudo. – falou Canindé pegando sua mochila e saindo.
--- Velho barrigudo é. ... – calou por fim Armando.
--- Diga o resto! Barrigudo! – lembrou Canindé. E desceu as escadas do batente que dava para fora do Mercado.
Armando Viana coçou a cabeça e sorriu. Naquele mesmo momento ele chamou Canindé de volta. Esse disse:
--- Não volto não. Vá pagar a quem deve. – disse Canindé.
--- Volte aqui, homem. Preciso conversar com você! – falou mais uma vez o jovem Armando.
--- Tome aqui, ó! – e Canindé, tomando a calçada em frente estirou o dedo e partiu.
Armando voltou a sua banca e por lá ficou a meditar piamente. Ele queria fazer a matéria com as Clarissas e depois fazer outra com o Santo Graal. Afinal ele estava de posse de uma foto de Maria Madalena e os três meninos no colo. Graal, ele sabia muito bem ser o sangue da nobreza. O caso, de Jesus. Enraivecido com o descaso dado pela Abadessa do Mosteiro das Clarissas, Armando Viana resolveu dar prosseguimento as matérias dos Homens das Estrelas. Ao saber da opinião da Abadessa de tudo não passar de “Lendas”, o rapaz resolveu prosseguir com o tema. E tal assunto Armando queria debater com o fotógrafo Canindé, o seu particular amigo de sempre.
Às oito horas Armando Viana já estava em seu Gabinete do Palácio onde discou direto para a Prefeitura querendo falar com a repórter Marta Rocha. Passado um instante de Marta Rocha atendeu ao telefone.
--- Preciso falar com você. – destacou Armando.
--- Agora? – perguntou Marta, apreensiva.
--- Se possível. – respondeu Armando.
--- Vou já para aí. – disse Marta saltando em um pé e outro.
De imediato, Marta Rocha seguiu para o Palácio e foi até ao Gabinete de Armando, onde viu a sua secretária arrumando as gavetas do escritório. Marta não disse nada e prosseguiu para o interior o Gabinete. A secretaria ainda olhou a moça e quis dizer não poder entrar. Porém resolveu não dizer coisa alguma. A secretária permitiu a moça entrar, sem cerimônias. Sem dar a mínima importância ao fato, Marta adentrou pelo Gabinete. Ao chegar, a moça foi recebia com bastante alegria por parte de Armando. Ao passar a porta, ela foi bem orientada de que fechasse o trinco. Marta se surpreendeu, porém de certa forma obedeceu a recomendação. Nos primeiros instantes foram perguntas amenas. Logo em seguida, vieram as mais fortes. Como por exemplo:
--- Você e casada? – indagou Armando a sorrir.
--- Deus me livre! – respondeu assustada a moça batendo com o dedo maior de sua mão direita na ponta do birô.
--- Tem namorado? – perguntou novamente Armando. Sorrindo sempre.
--- Também não. – respondeu Marta ao rapaz.
--- Tem família? – indagou o Secretário à moça.
--- Pai e mãe. Mas por que essas perguntas? – quis saber Marta ao Secretário.
--- É o seguinte: se você conseguisse um trabalho fora do Estado, você teria condições de ir? – perguntou Armando à Marta Rocha.
--- Depende do trabalho e depende do local. – sorriu Marta ao dizer tal coisa.
--- Mas estou falando sério. Você diz: sim ou não. – falou Armando de forma tensa.
--- Pois é. Depende do trabalho e depende de onde é! – sorriu mais uma vez a moça.
--- Está bem. O local é Brasília! Deu para entender? – perguntou Armando a inquieta moça.
--- Brasília? Nossa! Brasília? Já estou indo? Quando é? – perguntou ansiosa a moça.
--- Bem. Não é agora. É em breve. Estou contatando com você, pois preciso ter gente de minha inteira confiança  para o novo cargo. – respondeu Armando Viana.
--- Nossa! Meu Deus do Céu. Você me deixou de pernas bambas. – sorriu e chorou ao mesmo tempo Marta Rocha.
--- Acalme-se. Acalme-se.  Não fale a ninguém. Apenas aos seus pais. E nem precisa dizer de tão imediato que foi convidada para trabalhar em Brasília. Diga apenas: em outro jornal. Você entende. Por que vai haver eleição agora e o candidato ao senado me convidou para estar com ele. – ressaltou Armando Viana.
--- Mas Brasília! Que loucura! Eu. Um pobre pé raspado a trabalhar em Brasília? – e Marta chorou rios de lágrimas.
--- Bem. É isso que eu tinha de te falar. Agora é aguardar o pleito. Tenha calma. Não saia gritando por ai a fora: “a esquindou, esquindou”. É bom ter calma. – refletiu Armando a conversar com a moça.
--- Quem é esse senador? – quis saber Marta se antecipando e parando de chorar, apesar de na sua face despejar rios de lágrimas.
--- É o Governador. Ele ganhando em vou para Brasília. – relatou Armando a Marta.
--- Nossa! Ave Maria! E ele me conhece? – perguntou assustada a  moça.
--- Bem isso é segredo. Tudo tem o seu tempo. Certo? – quis saber Armando.
--- Nossa senhora. O que vou dizer em casa? Sabe? Meu pai é paralitico. A minha mãe é quem resolve tudo. Ele sofreu um derrame e foi aposentado pela Rede Ferroviária. Eu tenho duas irmãs. Elas têm a vida delas. E um irmão. Coisa imprestável. Em minha casa, tem o ordenado do meu pai. De uns meses para cá, eu tenho dado o que eu recebo do Jornal e da Prefeitura.

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