sexta-feira, 24 de junho de 2011

DESEJO - 52 -

- Nirma Regina -
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E a conversa se prolongou por cerca de uma hora querendo a moça saber sobre os assuntos a abordar; duração do programa; horário de apresentação; quantos locutores para apresentar e mais diversos temas a abordar. Para tudo o que se propunha Samuel tinha uma resposta. Programa de uma hora, semanal, assuntos diversos, apresentação pela manhã, aos sábados ou domingos, horário de oito horas ou coisa assim. Não menos que isso.
--- Tem patrocínio? – perguntou a moça.
--- Deve ter. Deve ter. Quatro patrocinadores, mais ou menos. – relatou Samuel.
Nesse momento, o telefone tocou e Samuel Alencar teve que atender. Era o Prefeito. Ele acabara de chegar ao seu expediente diário. Samuel pediu licença e se ausentou de momento. Marta Rocha ficou em seu birô esperando notícias. Foi o seu primeiro dia como funcionaria da Prefeitura da Cidade.
No sábado, Armando Viana foi até o Mosteiro das Clarissas depois de tanto adiamento por conta do terremoto do Municipio de Umbuzeiro entre outros compromissos. As Irmãs Clarissas estavam no Brasil desde 1677. Desde esse tempo elas fincaram pé em desenvolver a sua vocação pelo Brasil a fora ensinando e obedecendo ao Cristo e a Irmã Clara na sua doutrina. Quatro Irmãs vieram para o Estado nesse tempo, quando passaram a construção do Mosteiro com a doação de um terreno bem amplo doado pelo Coronel Epaminondas Vidigal, desobedecendo até a ordem do Governo de Portugal de não favorecer as devotas de Santa Clara. O Coronel emprestou homens e escravos para a construção do Mosteiro, tendo ele inclusive doado uma planta de construção de mosteiros trazidos da pátria mãe. Foi muita luta a construção do Templo. As Irmãs Clarissas quase não fizeram nada naquela época, cuidando tão somente da alimentação de quem trabalhava. O Mosteiro obedeceu a planta original não sendo modificado então. Conhecidas como Clarissas Pobres, as Irmãs viviam em plena oração e depois de tudo pronto, elas ficaram a fazer os trabalhos domésticos além de cuidar dos pobres de toda a região. Com o passar dos anos, foi fundada a Ordem de Santa Clara com a edificação do Mosteiro de Nossa Senhora dos Anjos. Desde aquela época o Mosteiro cresceu pela vida das Irmãs.
A construção do Mosteiro vem de um antigo desejo das Irmãs Clarissas. Sua construção é de um esmero total valendo o tempo de um estilo barroco, como se fazia em Portugal. De edificação imponente, tinha no seu bojo um aspecto sóbrio. Para se chegar ao Mosteiro, abria-se um portão pregado bem logo, de fora, cerca de cinquenta metros. Então, caminhava-se pelo interior do pátio até chegar a Igreja onde eram guardadas relíquias de Santos dentre outros eventos. A Igreja era de uma altura de, no mínimo, quatro andares. Sua nave tecia os cuidados com a segurança do prédio a qual pertencia. Junto ao Mosteiro havia um hospital para socorro dos mais pobres e humildes com seu cemitério e um Paço para as Irmãs Clarissas idosas. O claustro servia, por conseguinte para tal soberbo fim. Era notado ser o claustro o coração do Mosteiro onde havia túmulos das Clarissas.
Ao se entrar no espaço do Monastério, via-se um muro bastante longo a se pregar com outro, esse mais logo ainda demarcado todo o espaço doado pelo Coronel Vidigal. Esse muro menor era feito com pilares pequenos e, dentro do pátio, tinha um jardim de plantas exóticas além de quatro palmeiras de um lado, fazendo-se um pequeno espaço para ser postas mais duas palmeiras. Essas davam para o acesso ao prédio da Santa Igreja. Depois desse pequeno percurso tinham-se mais quatro palmeiras. De dentro, continuavam os jardins. A Igreja era um Templo de meticuloso acabamento tento acima de tudo um campanário. Esse campanário estava ligado a um relógio. O relógio batia as horas a cada quinze minutos. A hora completa era ouvida com todos os carrilhões a repicar insistente. A abside era uma planta circular aberto para a capela-mor. Dalí surgia os mosaicos representando as divindades. Após o altar pode-se distinguir as capelas menores. Por fim, na Igreja, esse espaço era ricamente decorado com mosaico e mármore para os padres, relíquias e figuras religiosas. Podia-se ver a cadeira do bispo no meio de tudo. O bispo se fazia presente em solenidades maiores ou em visitas pastorais. Toda a construção levou mais de cem anos para ser concluída.
Quando o carro parou em frente a abadia do templo, Armando Viana desceu para tocar o campanário. A sua noiva também o acompanhava naquela ocasião. Uma freira apareceu junto a porta e olhou para os dois noivos. Armando cumprimentou e disse que estava ali para conversar com a abadessa. A freira, muito jovem, balançou a cabeça sem dizer uma só palavra e se afastou para falar com outra freira. Essa segunda Freira estava de pé, ao largo de um imenso pátio. As duas conversaram a segunda freira deu o sinal positivo. A primeira Freira retornou ao portão e abriu a porta para deixá-los entrar. O casal seguiu até o pátio onde falou novamente com a segunda Irmã e essa foi com os dois até a sala do priorado do Mosteiro. Em lá chegando a Freira se adiantou para dizer, com certeza, que ali tinham vistas. A Abadessa deu o sinal positivo, pelo que pareceu, e então, Armando Viana e Norma Vidigal teve acesso por fim. A Abadessa veio recebê-los à porta como se já esperasse a tal visita.
Foi um encontro a muito esperado pelo rapaz, Armando Viana, e por sua parte, a moça Norma Vidigal também, pois aquele era o refugio de todas as manhãs, provavelmente talvez, quando a menina Norma procurava se esconder de mansinho das Freiras de da sua família, como uma forma de brincadeira no esconderijo por ela sabido. Norma era uma criança ainda quando viveu as mil peripécias de esconder. Certa vez, por acaso, a menina caiu em um buraco de grande tamanho e, só depois de algum tempo é que uma Freira casualmente a achou. Toda comida de mosquitos, ela chorava como uma patativa ao entardecer. Naquele momento foi um berro total. A Freira a levou para dentro do Mosteiro onde deitou a criança no colo enquanto outra Feira cuidava do seu asseio e verificava as ferroadas dos insetos. Isso tudo Norma recordou ao ver de frente a Abadessa. E sorriram a valer as três pessoas.
Na seqüência, Armando Viana foi convidado, juntamente com a sua noiva para conhecer mais de perto o Mosteiro. E os dois seguiram na companhia da Abadessa. E nesse tempo, lhes foi mostrado a suntuosa Igreja cujo Templo era de magnífico esplendor. Vitrais adornando os templos, com a da Ceia Larga. Esse vitral posto no interior do Templo, por trás do altar-mor, parecia querer “falar” com cada um dos que o visitavam. Armando viu também a galeria de pinturas antigas, inclusive de Maria Madalena segurando três crianças ao colo. Ele viu aquele quadro e pediu licença para fotografá-lo, bem como aos demais quadros embutidos nas paredes da Santa Igreja de Nossa Senhora dos Anjos. Ele fez fotos de Santa Clara, posta próximo ao altar-mor e de Nossa Senhora dos Anjos em confronto com Santa Clara. Na parte interior da Igreja tinha o Santo Sacrário. Após esse percurso, vendo ele tanta imagem sacra chegou por fim a vez de ir até as dependências internas do Mosteiro, onde tinha, por sinal, o cemitério das Irmãs Clarissas, mortas há alguns anos. Enfim tanto percurso, Armando Viana notou em uma parte escondida do Mosteiro, algo não visto ainda: ele observou com bastante atenção o despejar de comidas, certamente para os porcos, de uma altura considerável do Convento. Ele viu e calou não perguntado nada a Abadessa. Entre outros acontecimentos, Armando notou uma galeria onde trabalhavam umas poucas freiras, sempre quase encoberta pelos montões de livros desorganizados. Talvez ali fosse o setor onde as Freiras teciam para os novos livros aqueles que estavam velhos demais. Ou coisa assim. E Armando notou ainda um lugar de matança de porcos.  Esse era cuidado por uma freira gorda de cor de abóbora. Na verdade o rapaz ficou atemorizado com o fato.
Após o almoço feito na sala da Abadessa, Armando Viana indagou:
--- Irmã, o que a senhora sabe sobre um campo de pouso existente na serra das Três Pontas? – indagou o jovem Armando Viana e esperou resposta.
--- Ah. Já ouvi falar nesse campo. Porém nunca fui aos Três Pontas. – declarou a Abadessa sem muito entusiasmo.
--- Porém tem gente do vilarejo que já visitou o campo. Inclusive uma espécie de Catedral ou Oráculo e diz ter visto inscrições nas pedras do local. O que a senhora Abadessa me diz sobre este caso. – perguntou Armando com muito cuidado.
--- Eu já ouvi estórias fantasiosas sobre esse tal Oráculo, mas nunca pude ir, pois minhas pernas não deixam. – sorriu a Abadessa ao se referir Oráculo.
--- Eu também nunca fui para conhecer de perto o campo e o Oráculo. Porém, teve um homem que disse ter visto uma espécie de visagem e essa então recomendou que ele não fosse por lá. E a visagem desapareceu. – disse Armando tentando a abadessa.
--- Meu rapaz, esse negocio de visagem é sinal de perturbação mental dessa pessoa. – relatou a Abadessa.
--- Pode ser. Pode ser. Eu acho também desse jeito. Contudo, o homem me disse que foram Homens das Estrelas. Eles chegaram há oito mil anos e pousaram nessa região. Os tais Homens viveram por aqui por milênios. E fecundaram as mulheres habitantes na região. Tempos depois eles partiram levando consigo homens e mulheres nativas da região. Tinham oferendas para os tais chamados deuses de suas estrelas, inclusive o sacrifício de crianças. – relatou Armando a Abadessa.
--- Nossa Mãe. O senhor sabe até demais. – sorriu a Freira.
--- Não. Não sei. Estou pelo ouvir dizer. Mesmo assim, nenhuma autoridade se pronuncia sobre o assunto. Quando dizem é que isso é lenda. E nada mais. – sorriu Armando ao conversar com a Abadessa.
--- Pois é, meu rapaz. Lendas. Lendas. Isso que o povo cria. – sorriu a Abadessa querendo por um fim a conversa.
O rapaz olhou bem forte para a cara da Abadessa e calou. Nada adiantava perguntar aquela autoridade do ensino religioso. Com certeza, a Abadessa falaria bem mais se perguntasse por cabras, bodes e porcos, com certeza. Ele se lembrou de ter visto muito bem uma Freira de cor rosada abatendo porcos naquele dia. O sangue do porco escorria para um tonel. E esse tonel era despejado para fora do Mosteiro. Por isso, Armando Viana pensou em porcos. No terreno tinha uma porção de porcos, carneiros, cabras, ovelhas e bodes, além de vacas. No amplo terreno havia também fruteiras, as promissoras, como mangueiras, abacateiros, goiabeiras, coqueiros e muito mais. As Irmãs eram quem cuidava das fruteiras do sitio. No terreno tinha até colméias de abelhas. Um monte de colméias. Disso a abadessa poderia falar com certeza, pois eram negócios de sua alçada. Ao contrario de Homens das Estrelas. Disso, a Abadessa nada sabia dizer. Eram apenas lendas e nada mais. A conversa demorou pôr mais algum tempo e a certa altura Norma Vidigal e seu noivo se despediram da Abadessa. Sempre com a recomendação de:
--- Voltem sempre! – relatava a abadessa a sorrir.
--- Voltaremos, sim! – sorriu Norma ao se despedir.

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