terça-feira, 21 de junho de 2011

DESEJO - 49 -

- Angelina Jolie -
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Marta Rocha desceu as pressas as escadas do Palácio passando por dois outros repórteres. Eles caminhavam tecendo comentário sobre a entrevista do Governador. A moça pouco ou nada importância deu. Ela estava com uma fome devoradora. Na parte de fora do Palácio se podia ver o tempo mudado. Não mais chovia como chovera até as dez horas da manhã. Marta observou o tempo e em seguida rumou para a cantina do Palácio. Marta nem se lembrou de dizer a Armando sobre o tempo. Com certeza, o rapaz já soubera de como andava aquele inquieto tempo, pois na verdade ele nem perguntou qualquer episódio.
Ao entrar na cantina Marta observou o local onde tudo estava vazio. Apenas um garçom e três mulheres a tomar conta do fogão. Ela escolheu uma mesa próxima a parede e então se sentou. Aguardou o garçom e pediu um almoço. O rapaz olhou bem o crachá pregado na blusa da moça e respondeu:
--- Um instante. – respondeu o garçom.
Na cerimônia da entrevista tinham dois garçons. Isso ela soube posteriormente, ao ver entrar na sala da cantina os demais garçons. Os três homens apenas conversavam temas alusivos a entrevista do Governador.
--- Era só para dizer que o prefeito estava com ele. – disseram os garçons. E sorriram.
Comendo como uma fera, a moça devorou todo o alimento de uma vez por todas. Com pouco de tempo entrou na cantina um rapaz moreno e barrigudo. Ela sabia por que Canindé lhe falara de vezes anteriores. Aquele era o tal chamado Garcia, o homem do “rádio”. E ouviu os comentários ditos pelo moço.
--- Nove pessoas mortas com esse temporal, no interior do Estado. Pontes ruíram. – falou Garcia aos ocupantes do restaurante sem ver Marta apenas a escutar o que ele dizia.
--- Tanta gente assim? – comentou assombrado o garçom.
--- E tem centenas de desabrigados no interior. A maior parte dos mortos foi por afogamento. – relatou Garcia a enxugar a testa.
--- “Hoje eu soube primeiro do que Canindé” – pensou Marta a ouvir os comentários de Garcia.
--- Tem cinco mil pessoas presas em regiões afetadas. – explanou.
--- É? – falou alarmado o garçom.
--- “Ora pílulas. Essa o secretário deve saber”! – pensou a moça do canto onde estava.
E a conversa continuou por vários minutos no restaurante do Palácio. Era uma hora da tarde e a moça se empanturrou com a comida servida. Aquele foi um lauto almoço. Marta não comia tão bem como daquela vez. E pensou no seu pai. O homem estava paralítico por causa de um derrame cerebral que o acometera há poucos anos. Ela, então, desviou o sentido do seu pensamento. Não valeria a pena em pensar.  Marta era a caçula da família. Em sua casa tinha um irmão imprestável pela bebida e duas irmãs vivendo juntas com dois mecânicos de carro. A sua mãe era dona de casa. A mulher fazia costuras para as pessoas do bairro. De resto, tomava conta da casa. Seu nome era Nair. Nair Rocha. O homem: Manoel Rocha, aposentado como Maquinista da Estrada de Ferro após sofrer uma trombose. Com o defeito provocado pela enfermidade, ele quase não saía de casa. Andava muito pouco se escorando pela parede da sua casa, uma casa de alvenaria bastante acanhada. Essa era a vida de Marta Rocha bem pouco sabida e nada dizia Marta sobre seu sofrimento no trabalho.
À uma hora da tarde, Armando Viana entrou no restaurante do Palácio, com certeza, para se servir do seu almoço. Com ele também chegaram outros repórteres, inclusive Ana Julia, todos alegres e satisfeitos. Armando, na ocasião, olhando em torno viu a figura de Marta. Ela estava ali a espera de mais conversas por parte de Garcia. E se despertou com a chegada da turma, inclusive de Armando Viana. No tempo, o Secretário de Comunicação foi ao encontro de Marta com quem conversou animado.
--- Mas estás aqui ainda? – falou animado Armando para a moça.
--- Olá. Estava ouvindo conversas. – e achou graça ao dizer tal fato.
--- Bom. Conheces já a Ana Julia? – indagou sorrindo o Secretario.
--- Ah sim. Nós nos encontramos na entrada do Palácio. – sorriu Marta apertando a mão de Ana Julia para corresponder, afinal.
--- Ela é do meio. – relatou Armando.
--- Eu soube. Mas não tinha visto antes de hoje. – sorriu Marta.  
--- É que eu estava de férias prolongadas. – disse Ana Julia a Marta de forma animada.
--- Escuta. Parece que têm outras noticias sobre a chuva de hoje. – falou preocupada a moça.
--- Eu já tenho as noticias. Garcia me passou tudo. – sorriu Armando.
--- Ah bom. Assim está certo. – sorriu Marta ao saber do caso.
--- Eu levo para a redação do jornal. Canindé fez as fotos. – sorriu Armando.
--- O que é que tenho eu? – falou Canindé se aproximando da turma.
--- Nada de mais. As fotos de hoje. – relatou Armando e sorriu.
--- Ah bom. Já estava desconfiado. – fez de conta Canindé.
Pouco antes das cinco horas da tarde daquele dia, Marta estava na redação terminando a sua coluna sobre eventos sociais. Nesse momento chegara a redação o jovem Samuel Alencar, Secretário de Imprensa da Prefeitura. Ele falou com as moças e rapazes e disse cumprimento também a Marta Rocha. Nessa ocasião, Samuel perguntou pelo chefe de redação. Esse ainda não chegara para fechar o jornal. Marta falou não ter visto José Fernandes até àquela hora.
--- Ele não voltou do almoço. – sorriu Marta ao se dirigir a Samuel.
--- Ah bom. Eu vou deixar com você essa matéria do Prefeito de hoje pela manhã. Você entrega a Fernandes? – indagou Samuel Alencar a sorrir baixinho.
--- Pode deixar. Eu entrego a Fernandes. E você tem outras fotos do prefeito? – perguntou Marta sorrindo sempre.
--- É para a sua coluna? – indagou de modo entusiasmado Samuel.
--- Sim. Arranje-me uma foto! – sorriu Marta mais uma vez.
Então Samuel Alencar procurou na bola de fotos um exemplar para Marta. Essa recebeu a foto do Prefeito com o Governador e disse ter que colocar na Coluna do dia seguinte. Samuel agradeceu e disse ter de olhar o jornal de agora em diante.
--- Faça isso. Os outros são cópias mal feitas da IMPRENSA. – sorriu Marta.
--- Você é boa de bisca. Faz tempo que trabalha? – perguntou Samuel a Marta.
--- Um pouco. Mas faço outras matérias. – sorriu Marta.
--- Ah bom. Tem outras ocupações? – perguntou Samuel de certa forma ansioso.
--- Não. Só o Jornal. Tem vaga para mim na assessoria? – sorriu Marta ao perguntar tal coisa.
--- Bem. Podemos ver! – sorriu Samuel para Marta.
--- Veja isso! – sorriu Marta para o rapaz.
--- Verei. Verei. – respondeu Samuel e se afastou nesse momento a procura de Bulhões, outro repórter da IMPRENSA.
Marta ainda se virou para ver o rapaz e voltou a sua redação. Ela apanhou uma das fotos do Prefeito e fez um breve anuncio do que se deu na entrevista do meio dia. Para Marta Rocha isso era uma glória fazer amizade com o Secretário de Imprensa do Prefeito. A cada vez a moça faria o melhor de sua função.
Pouco tempo depois, Fernandes entrou na redação indo direto para a sua sala onde editava o jornal. O diagramador estava fazendo as páginas do jornal com os seus editores. Marta Rocha entrou na chefia de redação e entregou a sua página e a matéria do Prefeito deixada por Samuel Alencar.
--- É o Samuca!!! – disse José Fernandes ao pegar a matéria do Prefeito.
--- Quem? – indagou Marta apreensiva.
--- Samuca! Samuel Alencar. – respondeu alegre o chefe de redação José Fernandes.
--- Ah sim. Ele deixou essa matéria. – relatou Marta a Fernandes.
--- Tem fotos? – perguntou Fernandes.
--- Tem em anexo. – respondeu Marta a Fernandes.

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