terça-feira, 28 de junho de 2011

DESEJO - 57 -

- Mara Melo -
- 57 -
Eram mais de oito horas da noite daquele dia quando Paulo Barra deu por encerado o serviço de diagramação. Alguns repórteres ainda estavam na redação do Jornal concluindo matérias para serem publicadas posteriormente. Nesse ponto, Paulo Barra descansou e foi visitar toda a sala de redação seguindo até a sala de arquivo de fotos. Entrou para o recinto e cumprimentou a secretaria de arquivos de foto com se ainda não tivera visto. A moça em troca retornou o cumprimento recebido com um leve sorriso enquanto juntava as fotos em cima do birô de trabalho. A redação era tomada por outro pessoal da noite. Esse pessoal teria a função de corrigir e colar o jornal. Paulo Barra olhou de relance quando duas coladeiras passavam a conversar. A moça do arquivo tinha nome:
--- Seu nome é? – indagou Barra.
--- Suzana. – sorriu a moça.
--- Ah. Suzana. Lindo nome. E tem namorado? - voltou a perguntar o homem.
--- Não. Ainda não. – sorriu Suzana a guardou o pacote de fotos na estante.
--- Ah. Bom. Ainda é muito jovem para ter casamento. -  salientou Barra, com um leve sorriso.
--- É. Casar é um negocio complicado. – respondeu Suzana voltando ao birô.
--- Eu tenho dois filhos. Uma filha e um filho.  Ambos casados. – respondeu Barra procurando ver as fotos estendias no birô.
--- E a mulher? – quis saber a moça.
--- Eu sou viúvo. A mulher morreu há alguns anos. Depois disso eu não me preocupei em casa de novo. – respondeu Barra olhando as fotos que sobraram.
--- De que a sua mulher morreu? – averiguou Suzana voltando a guardar lentamente os envelopes de fotos.
--- Câncer. Foi rápido. – respondeu Barra olhando as fotos.
--- A doença do século. – contrapôs Suzana ao novo chefe de redação.
E demorou um instante para Paulo Barra perguntar a Suzana sobre outro assunto.
--- Faz tempo que trabalha aqui? – indagou Barra olhando uma foto.
--- Poucos dias. Meu pai arranjou. Ele trabalha na Assembleia. – sorriu Suzana e olhou para o chefe de redação.
--- Ah Bom. Então foi fácil. – sorriu Barra para Suzana batendo com uma foto na mão.
--- É. Deve ter sido. – sorriu leve a moça.
--- O nome dele? – quis saber Paulo Barra.
--- Arnóbio Barreto. – sorriu a moça concluindo o seu trabalho.
--- Ah. Arnóbio Barreto. Suzana Barreto. – sorriu leve o chefe Barra.
--- É. E mais três irmãos e irmã. – concluiu a moça ajeitando sua bolsa.
Quando Suzana já estava de saída do Jornal Paulo Barra indagou da moça onde ela morava. Ela respondeu ser no Conjunto Novo Mundo. E outra indagação foi feita se ele teria como ir para a sua casa. Suzana respondeu ter de ir de ônibus. Então Paulo Barra lamentou ter a distancia da sua residência e se por acaso ela não desejava ir ao carro dele, pois Barra morava em um apartamento próximo ao Conjunto. A moça ficou com temor. Porém logo passou e seguiu com Barra em seu automóvel. O motorista do jornal ainda estava na porta de saída e observou a cena sem nada comentar. Simplesmente respondeu:
--- Até logo – respondeu o motorista aos dois responsáveis pelo jornal.
--- Até amanhã. – replicou Suzana a sorrir de leve.
E dai então Paulo Barra seguiu viagem em companhia da jovem moça em direção ao Conjunto Novo Mundo. A noite prometia ser quente e nas avenidas se podiam ver as damas de alcovas a perambular sorridentes com seu seus amantes casuais. Eram cada uma aconchegada aos ombros dos divinos cavalheiros. O ponto onde Paulo Barra estava a sair era, à noite, era um intenso comércio da prostituição onde homens de forte brio perdiam sua quietude em busca de um parco amor de poucas horas. A moça nada falou a respeito daqueles agarrados. Apenas, Suzana se esquivou e encostou-se à porta do veículo pelo lado de dentro. Ela era seria até demais na companhia do seu chefe de redação. E com isso, a sua sisudez, Suzana nada falou as mulheres de vida alegre. A algum ponto do trecho da viagem Paulo Barra foi quem tomou a palavra para dizer ser aquele o bairro mais poluído da cidade, certamente à noite. Suzana ouviu e nada respondeu. Ela recostou a cabeça no assento do carro e fechou os olhos como se estivesse a dormir.  Então, Paulo Barra resolveu perguntar:
--- Estas com sono? – indagou o homem.
--- Cansada, apenas. – sorriu Suzana procurando esquecer o caminho.
O transito fluía com poucos veículos na rua. Paulo Barra resolveu parar por pouco tempo no estacionamento de veículo de um shopping Center onde desceu para comprar algo comestível para si e para Suzana como forma de agradar a jovem. Por isso pediu licença enquanto descia e com certeza voltaria muito em breve. Suzana despertou do seu inquieto sono e concedeu a permissão pensando tão somente em chegar a sua casa. Em sua volta Paulo Barra veio cheio de encantos com uma porção de bolos, queijo, chocolates e refrigerantes. Ela abriu a porta do carro e se sentou dizendo ser tudo para Suzana e não queria saber de resposta negativa. A moça então sorriu e disse:
--- Eu não como tudo isso. – sorriu Suzana ao ver os presentes em suas pernas.
--- Pois leve para a sua mãe. – sorriu Barra de jeito afetuoso.
--- E nem tenho mãe. - - sorriu Suzana ao confessar o seu destino.
--- Então, para o seu pai. Arnóbio. – sorriu Paulo passando marcha no carro e seguindo viagem.
--- É. Pode ser. Se ele não estiver alcoolizado a essa hora. – sorriu à moça a contra gosto.
--- E ele bebe? – indagou Barra.
--- Come com farinha. – relatou a sorrir a moça.
--- Nossa! Assim é fogo. O jeito que tem é você comer tudo. – fez questão em dizer o homem.
--- É. Talvez. -  respondeu a jovem de um modo triste a se lembrar de sua mãe.
O automóvel pegou a pista derradeira onde Suzana Barreto morava. Outro automóvel passou veloz com um punhado de rapazes e moças quase todas adolescentes a cantar aos gritos musicas da ocasião. Os cabelos de uma delas esvoaçavam ao romper do automóvel de passeio, com o seu capuz arriado. O homem apenas disse:
--- Mocidade! – e levemente sorriu.
--- Eles devem ir para a praia. – comentou Suzana prestando atenção as arruaças do grupo.
E ao contrario carros ia e carros vinham. Uns mais apressados que os outros. A lua estava sombria e toda cheia àquela hora suave da noite calma. Um suave e carinhoso som veio a soprar de alguma de alguma radiola posta em uma residência da alameda onde Suzana morava cheirando a qualquer canção cujo interprete era talvez Dóris Day onde as suas melodias fossem com certeza as mais doces e inebriantes do momento. Naquele ensejo, Suzana bem prestou a sua admirável e meiga atenção querendo fazer parar o tempo para apenas ouvir as mais belas canções onde o tempo não apagava. Uma lágrima de furto rolou em seu rosto ao sentir a saudade de sua queria mãe. O álcool do marido fez com que a dama se separasse do esposo de uma vez por todas. Ela não mais suportara as desavenças tiranas do seu marido. Então, um belo dia saíra de casa para morar com a sua família de onde um dia de alegria festiva com certeza também migrara para um novo lar. Suzana, não raro, visitava a sua mãe em casa de seus avós, sempre aos domingos após a Santa Missa. Quando era tempo de festas, como o final do ano, a Semana Santa e mesmo o Carnaval a fase era da maior importância para a moça. Aqueles doces ganhos por parte de Paulo Barra ainda mais fez Suzana se lembrar dos dias de festas e a canção entoada pela cantora foi o derradeiro momento para recordar. Tal como menina a moça apenas lembrava-se dos aconchegos maternos da bela mulher.
--- Estás chorando? – indagou Barra, surpreso.
--- Coisas de criança. – falou a moa enxugando a lágrima com um lenço.
--- Você teve uma infância difícil? – quis saber Barra se preocupando com aquele pranto.
--- Nada não. Apenas foram recordações. – respondeu a moça.
O homem se recatou e nada mais veio a falar. Ao chegar à casa de Suzana apenas se despediu prometendo voltar no dia seguinte quando a levaria para o trabalho no Jornal, pois era a hora dele pegar no oficio. Um veículo passou em desesperada carreira por Barra, com a turma de jovens a cantar melodias do momento. O homem surpreso se assustou com o carro, porém nada declarou. Apenas olhou para Suzana e sorriu. E em seguida Barra prometeu voltar no dia seguinte. A moça aceitou a oferta.
--- Nada de choro! – disse Barra a moça.
No momento, Suzana procurava entrar em casa, abrindo o portão da frente. Uma menina veio a correr receber a moça e se agarrou em suas pernas. Barra fez um aceno para a pequena, mas a menina, desconfiada, cobriu o rosto por entre as pernas de Suzana. A moça se desculpou daquelas justificativas e, por fim, declarou ser aquela a sua filha predileta.
--- Eu sou quem fico envergonhado. – respondeu o homem.
--- Até mais. E obrigada. – falou a moça pegando a sua filha nos braços e caminhando para a entrada da casa.
--- Qual seu nome. Princesa? – indagou Barra sorridente.
--- Diga: eu sou Cristina, tio. – disse Suzana a sorrir beijando afetuosamente a filha.

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