sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"O HOMEM DE LUTO" - Capítulo Três -

- IMAGEM -
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ALMOÇO
 
O suculento bife de fígado servido no restaurante do Grande Hotel estava uma delícia. Entre um gole e outro de vinho Quinta de Baldias o comilão Edgar Barreto engolia um pouco de fígado acebolado fazendo um gesto de saborosa comida com a sua cabeça pensa para um lado. Enquanto isso o seu amigo Adeodato Rosset  de contentava com um peixe bem temperado ao gosto de cerveja outra façanha do restaurante. Entre vinho e cerveja surgiu uma conversa bem ao gosto de Edgar Barreto. Ao lembrar-se da cozinha de casa, Rosset fez uma pausa na comida para falar de algo a lhe surpreender. E então com muito vagar, Rosset falou de um estranho caso a haver em seu domicilio envolvendo uma sua sobrinha de dez anos de idade. A sobrinha, a sua mulher criava desde pequenina, pois a sua mãe morreu de parto. Para não deixar ao abandono, a senhora Dalila Rosset mulher de Adeodato a conduziu para o seu convívio. A menina Linda Rosset cresceu junto com as suas duas primas, Judite e Auta como se fosse irmã. Nada demais tinha então ocorrido não fosse um dia quando a menina olhou para uma parede e chamou a atenção de suas primas-irmãs.
Linda:
--- Olhe ali, ó! Uma mulher! – disse a menina às suas primas.
E as outras duas crianças olharam de vez para a parede e Judite relatou o que tinha pressentido de então.
Judite:
--- Ah! É uma figura sinhá boba. - respondeu a prima irmã a Linda.
Era evidente que a garota a que se referia Linda, para Judite era apenas uma folhinha antiga ainda pregada na parede do quarto de dormir das três meninas. Mesmo assim, Linda insistiu estar vendo uma mulher de roupa escura, cabelos longos, face pálida e rosto comprido. As duas meninas primas então resolveram a questão:
Judite:
--- Ah! Deixa pra lá. Se ela quiser vir brincar com a gente, pode vir. – e a menina continuou a brincadeira com as suas bonecas de pano. As duas irmãs, pois Linda continuava a olhar para a parede com a sua boca entreaberta. Com pouco tempo a menina voltou a brincar e dizer que a mulher sumiu.
E Adeodato Rosset contou essa historia alegando ter sido a primeira vez. Outras se sucederam. Certa ocasião a menina conversava com a parede e dessa vez a esposa de Rosset chegou e ouviu quando a menina ainda conversava com alguém.
Dalila;
--- Com quem você está falado? – indagou com susto a mulher.
A menina respondeu:
Linda:
--- Com a mulher. Porém a mulher foi embora. – foi o que relatou se assombro.
Dalila:
--- Que mulher é essa? Não estou vendo ninguém aqui! – disse por vez a tia mãe da menina.
Linda:
--- Ela foi embora e nem deu tempo de perguntar. – disse a menina sem espanto.
Um estremecimento sacudiu o corpo de Dalila Rosset como se estivesse fazendo muito frio. E a mulher puxou a menina pela mão e saiu do quarto e quis saber da história contada iguais as de crianças quando arranjam um colega para conversar pura ingenuidade. Esse colega existe apenas na mente da criança e não se faz presente para outras pessoas, mesmo crianças. É encantador se ouvir falar uma criança e o seu amigo cujo nome o garoto não sabe. E se sabe, é um nome dito apenas por dizer como invenção de meninos. Talvez essa tenha a mesma historia das demais infantis crianças. Mesmo assim a mulher quis saber de mais informações sobre a tal mulher. O que lhe foi dito pela criança não passava de asneiras. A aventura teria o fim de qualquer modo não fosse à vez da visagem proibir a criança de ir ao colégio. Então a tia mãe de Linda se exasperou completamente e quis saber o porquê de tal decisão.
Linda:
--- A mulher não quer. Ela me disse que me ensinava. – respondeu com voz tranquila a criança.
Dalila;
--- Essa eu não acredito. Pois a senhorita vai já para aula. – respondeu zangada a tia mãe.
Rosset:
--- E o caso está se complicando. Choro e mais choro de parte de Linda. A minha mulher está exasperada e quase não aguentando mais. – explicou o homem.
Edgar.
--- A menina pode estar com um encosto. É normal as crianças brincarem assim com tenra idade. Mas em compensação isso provém de vidas passadas.
Rosset:
--- Vidas? Que vidas? Se Linda é uma criança. – falou áspero o homem.
Edgar.
--- É uma questão de acreditar ou não. Mas há vida após a morte. Nós somos alguém do passado. – declarou o doutor Edgar.
Rosset
--- Então a minha sobrinha está vendo a sua mãe? – indagou intranquilo
Edgar:
--- Eu não posso afirmar ser a mãe da criança. E se ela fala ou ouve alguém é preciso saber quem é esse alguém. Pode ser uma tia ou mesmo outra pessoa que desencarnou há algum temo e deixou aquele outro espirito. São várias as hipóteses. Se o senhor tiver o interesse, nós temos no Centro, um médico que faz regressão através da hipnose. Ele bem poderia saber. – falou com coerência.
Rosset:
--- Médico? Quem é ele? – indagou de surpresa.
Edgar:
--- É o doutor Hermógenes Andrade. Psiquiatra além do mais. – relatou o advogado.
Rosset:
--- E ele atende no seu Centro? – perguntou aflito
Edgar;
--- Em tais casos ele prefere conversar com a família e depois ele fala com a menina. Daí, ele marca as sessões em seu consultório. Se o senhor tem interesse, é bom ir falar com ele. E assista a uma sessão. Leve a menina. Não custa nada em se olhar melhor para o caso. – responde com calma.
Rosset
--- Mas logo hoje! Eu falo com a minha mulher. É provável que ela saiba de como se faz a consulta. – relatou o homem todo mais atarefado.
Edgar:
--- Muito bem. – sorriu calmo o advogado
A tarde veio com as tarefas tradicionais da Repartição. O mecânico foi até o balcão e pediu ao servidor Ribeiro para entregar as chaves do automóvel de Edgar Penteado. O automóvel, o homem deixara no posto para tirar à lama depois da viagem do dia anterior a fazenda Dois Irmãos onde o advogado costumava ir aos finais de semana para ver o andamento do cultivo e a ração do gado. Essa fazenda foi deixada pelo seu avô. O pai de Edgar morrera quando era então o seu herdeiro. E então a fazenda para posterior divisão entre Edgar e sua irmã quando a sua mãe viesse a óbito, certamente. A fazenda era cuidada nos dias normais da semana pelo vaqueiro Manoel Carrapicho. O homem cuidava do trato do gado, fazia a venda dos produtos para os caminhoneiros e a sua mulher, Deodora, se responsabilizava pela feitura do queijo de coalho e de manteiga. Em épocas passadas, Manoel Carrapicho esteve em luta com o bando de Lampião. Disso o advogado sabia.  Porém não comentava as aventuras do homem, um tipo musculoso, porém não gordo. A sua pele era macilenta. Se Edgar perguntasse de onde ele viera, Carrapicho apenas dizia com os braços abertos.
Carrapicho:
--- Lá das brenhas. – respondia o homem sem sorrir.
Por isso, Edgar Penteado nunca procurava saber de mais casos. O fato de o homem ter sido um dos bons  cangaceiros Edgar sabia por alguém da fazenda. Gente do cangaço também. Quando Lampião foi fuzilado, alguns cangaceiros fugiram de mato adentro antes de ser pego. A maioria se escondeu em uma fazenda de um gigante coronel e entre esses, estava Manoel Carrapicho correndo o mato até topar com a fazenda do doutor Edgar. Ele, sua mulher e mais dois companheiros do cangaço. Era o fim do banditismo no sertão da Bahia ao Ceará. Nesse caso, pouca gente sabe o que foi o cangaço. Cangaço vem de canga peça de madeira para prender junta de bois. E no cangaço, o mais temível foi o principal líder Lampião ( Virgulino Ferreira da Silva). A luta revolucionária contou com a participação do governo como principal financiador. Lampião era ex-coronel da guarda nacional. Ele e o seu bando de cerca de 100 cangaceiros vagavam pelas cidades do nordeste em busca de justiça e vingança pela falta de emprego, alimento e cidadania causando o desordenamento da rotina dos camponeses. E entre os tantos estava Manoel Carrapicho.

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