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ALMOÇO
O suculento bife de fígado servido no restaurante do Grande
Hotel estava uma delícia. Entre um gole e outro de vinho Quinta de Baldias o
comilão Edgar Barreto engolia um pouco de fígado acebolado fazendo um gesto de
saborosa comida com a sua cabeça pensa para um lado. Enquanto isso o seu amigo
Adeodato Rosset de contentava com um
peixe bem temperado ao gosto de cerveja outra façanha do restaurante. Entre
vinho e cerveja surgiu uma conversa bem ao gosto de Edgar Barreto. Ao
lembrar-se da cozinha de casa, Rosset fez uma pausa na comida para falar de
algo a lhe surpreender. E então com muito vagar, Rosset falou de um estranho
caso a haver em seu domicilio envolvendo uma sua sobrinha de dez anos de idade.
A sobrinha, a sua mulher criava desde pequenina, pois a sua mãe morreu de
parto. Para não deixar ao abandono, a senhora Dalila Rosset mulher de Adeodato
a conduziu para o seu convívio. A menina Linda Rosset cresceu junto com as suas
duas primas, Judite e Auta como se fosse irmã. Nada demais tinha então ocorrido
não fosse um dia quando a menina olhou para uma parede e chamou a atenção de
suas primas-irmãs.
Linda:
--- Olhe ali, ó! Uma mulher! – disse a menina às suas primas.
E as outras duas crianças olharam de vez para a parede e Judite
relatou o que tinha pressentido de então.
Judite:
--- Ah! É uma figura sinhá boba. - respondeu a prima irmã a
Linda.
Era evidente que a garota a que se referia Linda, para Judite
era apenas uma folhinha antiga ainda pregada na parede do quarto de dormir das
três meninas. Mesmo assim, Linda insistiu estar vendo uma mulher de roupa
escura, cabelos longos, face pálida e rosto comprido. As duas meninas primas
então resolveram a questão:
Judite:
--- Ah! Deixa pra lá. Se ela quiser vir brincar com a gente,
pode vir. – e a menina continuou a brincadeira com as suas bonecas de pano. As
duas irmãs, pois Linda continuava a olhar para a parede com a sua boca
entreaberta. Com pouco tempo a menina voltou a brincar e dizer que a mulher
sumiu.
E Adeodato Rosset contou essa historia alegando ter sido a
primeira vez. Outras se sucederam. Certa ocasião a menina conversava com a
parede e dessa vez a esposa de Rosset chegou e ouviu quando a menina ainda
conversava com alguém.
Dalila;
--- Com quem você está falado? – indagou com susto a mulher.
A menina respondeu:
Linda:
--- Com a mulher. Porém a mulher foi embora. – foi o que
relatou se assombro.
Dalila:
--- Que mulher é essa? Não estou vendo ninguém aqui! – disse
por vez a tia mãe da menina.
Linda:
--- Ela foi embora e nem deu tempo de perguntar. – disse a
menina sem espanto.
Um estremecimento sacudiu o corpo de Dalila Rosset como se
estivesse fazendo muito frio. E a mulher puxou a menina pela mão e saiu do
quarto e quis saber da história contada iguais as de crianças quando arranjam
um colega para conversar pura ingenuidade. Esse colega existe apenas na mente
da criança e não se faz presente para outras pessoas, mesmo crianças. É
encantador se ouvir falar uma criança e o seu amigo cujo nome o garoto não
sabe. E se sabe, é um nome dito apenas por dizer como invenção de meninos.
Talvez essa tenha a mesma historia das demais infantis crianças. Mesmo assim a
mulher quis saber de mais informações sobre a tal mulher. O que lhe foi dito
pela criança não passava de asneiras. A aventura teria o fim de qualquer modo
não fosse à vez da visagem proibir a criança de ir ao colégio. Então a tia mãe
de Linda se exasperou completamente e quis saber o porquê de tal decisão.
Linda:
--- A mulher não quer. Ela me disse que me ensinava. –
respondeu com voz tranquila a criança.
Dalila;
--- Essa eu não acredito. Pois a senhorita vai já para aula.
– respondeu zangada a tia mãe.
Rosset:
--- E o caso está se complicando. Choro e mais choro de parte
de Linda. A minha mulher está exasperada e quase não aguentando mais. –
explicou o homem.
Edgar.
--- A menina pode estar com um encosto. É normal as crianças
brincarem assim com tenra idade. Mas em compensação isso provém de vidas
passadas.
Rosset:
--- Vidas? Que vidas? Se Linda é uma criança. – falou áspero
o homem.
Edgar.
--- É uma questão de acreditar ou não. Mas há vida após a
morte. Nós somos alguém do passado. – declarou o doutor Edgar.
Rosset
--- Então a minha sobrinha está vendo a sua mãe? – indagou
intranquilo
Edgar:
--- Eu não posso afirmar ser a mãe da criança. E se ela fala
ou ouve alguém é preciso saber quem é esse alguém. Pode ser uma tia ou mesmo
outra pessoa que desencarnou há algum temo e deixou aquele outro espirito. São
várias as hipóteses. Se o senhor tiver o interesse, nós temos no Centro, um
médico que faz regressão através da hipnose. Ele bem poderia saber. – falou com
coerência.
Rosset:
--- Médico? Quem é ele? – indagou de surpresa.
Edgar:
--- É o doutor Hermógenes Andrade. Psiquiatra além do mais. –
relatou o advogado.
Rosset:
--- E ele atende no seu Centro? – perguntou aflito
Edgar;
--- Em tais casos ele prefere conversar com a família e
depois ele fala com a menina. Daí, ele marca as sessões em seu consultório. Se
o senhor tem interesse, é bom ir falar com ele. E assista a uma sessão. Leve a
menina. Não custa nada em se olhar melhor para o caso. – responde com calma.
Rosset
--- Mas logo hoje! Eu falo com a minha mulher. É provável que
ela saiba de como se faz a consulta. – relatou o homem todo mais atarefado.
Edgar:
--- Muito bem. – sorriu calmo o advogado
A tarde veio com as tarefas tradicionais da Repartição. O
mecânico foi até o balcão e pediu ao servidor Ribeiro para entregar as chaves
do automóvel de Edgar Penteado. O automóvel, o homem deixara no posto para
tirar à lama depois da viagem do dia anterior a fazenda Dois Irmãos onde o
advogado costumava ir aos finais de semana para ver o andamento do cultivo e a
ração do gado. Essa fazenda foi deixada pelo seu avô. O pai de Edgar morrera
quando era então o seu herdeiro. E então a fazenda para posterior divisão entre
Edgar e sua irmã quando a sua mãe viesse a óbito, certamente. A fazenda era
cuidada nos dias normais da semana pelo vaqueiro Manoel Carrapicho. O homem
cuidava do trato do gado, fazia a venda dos produtos para os caminhoneiros e a
sua mulher, Deodora, se responsabilizava pela feitura do queijo de coalho e de
manteiga. Em épocas passadas, Manoel Carrapicho esteve em luta com o bando de
Lampião. Disso o advogado sabia. Porém
não comentava as aventuras do homem, um tipo musculoso, porém não gordo. A sua
pele era macilenta. Se Edgar perguntasse de onde ele viera, Carrapicho apenas
dizia com os braços abertos.
Carrapicho:
--- Lá das brenhas. – respondia o homem sem sorrir.
Por isso, Edgar Penteado nunca procurava saber de mais casos.
O fato de o homem ter sido um dos bons
cangaceiros Edgar sabia por alguém da fazenda. Gente do cangaço também. Quando
Lampião foi fuzilado, alguns cangaceiros fugiram de mato adentro antes de ser
pego. A maioria se escondeu em uma fazenda de um gigante coronel e entre esses,
estava Manoel Carrapicho correndo o mato até topar com a fazenda do doutor
Edgar. Ele, sua mulher e mais dois companheiros do cangaço. Era o fim do
banditismo no sertão da Bahia ao Ceará. Nesse caso, pouca gente sabe o que foi
o cangaço. Cangaço vem de canga peça de madeira para prender junta de bois. E
no cangaço, o mais temível foi o principal líder Lampião ( Virgulino Ferreira da
Silva). A luta revolucionária contou com a participação do governo como
principal financiador. Lampião era ex-coronel da guarda nacional. Ele e o seu
bando de cerca de 100 cangaceiros vagavam pelas cidades do nordeste em busca de
justiça e vingança pela falta de emprego, alimento e cidadania causando o
desordenamento da rotina dos camponeses. E entre os tantos estava Manoel
Carrapicho.
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