- HOTEL -
CAPÍTULO UM
INÍCIO
Eram oito horas da manhã de uma segunda-feira e Edgar Barreto
Penteado pronto da cabeça aos pés teria que deixar o Hotel onde morava e se
preparava para sair. Ele trabalhava na repartição do Estado, logo a frente do
Hotel, porém acertaria outros afazeres como buscar os jornais do sul antes de
ingressar no prédio da Recebedoria de Rendas, um edifício de dois andares,
sendo um térreo, a se estabelecer na esquina da Avenida Duque de Caxias com a
Rua Sachet, em Natal, a capital. Antes de se por ao largo, Penteado, como todos
o chamavam, olhou com perfeição a posição do seu chapéu já posto na cabeça e
utilizou um pouco de água de toalete em seus pulsos e pescoço. Enfim, pôs um
sinal de que estava tudo bem. As janelas do quarto estavam atravancadas e o
rádio desligado. Por risco, ainda verificou o armário de roupas. E estava tudo
em ordem. No saco, estavam as roupas usadas. Essas, a dona do Hotel estaria a
encomendar a lavanderia do próprio Hotel. Ainda roteou para verificar se tudo
estava prefeito e, com certeza disse apenas:
Penteado:
--- Bom. Está tudo em ordem. – comentou em sussurro o homem.
De súbito, alguém bateu com vagar a porta de entrada (e de
saída, pois havia apenas uma porta) e o homem de meia idade, aproximadamente os
seus cinquenta anos, acudiu e foi ver que estava a lhe chamar a hora em que
teria que sair. E de pronto, viu a gorda mulher ao lado de fora. Ela a
reconheceu de imediato. A dona do Hotel. Ele não fez questão em ouvir o que a
mulher tinha a declarar. E então respondeu de uma forma sutil;
Penteado:
--- Pois não? – respondeu o homem ao abrir a porta.
Do lado de fora, a mulher lhe respondeu com uma voz
macilenta.
Almerinda:
--- Eu tenho novidades para o senhor. Uma mocinha. A que
horas? – indagou em tom suave a mulher.
Almerinda era o seu nome. E o seu porte bastante gorduchinho
declarava que ela um tempo foi mulher de cabaré. Naquela hora Penteado nada
pode declarar. Disse apenas da reunião do Centro Espírita e apenas chegaria
depois das dez horas da noite.
Penteado:
--- Depois das dez. Eu tenho sessão no Centro. – declarou o
homem como quem não queria saber de uma companheira de ocasião.
A mulher teceu um riso sem graça e logo afirmou.
Almerinda:
--- Está bem. É a melhor hora. – reportou a mulher e logo se
despediu.
Com isso, o homem saiu do Hotel rumando para onde funcionava
a Agência Pernambucana, na Avenida Tavares de Lyra onde apanharia o jornal do
sul do país. Na calçada da Rua Duque de Caxias ainda se encontrou com outro
homem. Esse falou da estocagem de algodão para ser feita a exportação e coisas
mais sem nenhuma importância. De imediato, o senhor Penteado se despediu e
buscou o que estava à procura tão logo chegasse a Agência após o casual
encontro. Bom dia a um, como tem passado a outro e Penteado se deslocava com
pressa, pois na medida do possível ainda passaria por um escritório de Aderbal
Macedo, homem de negócio de compra e venda de imóveis. Ambos eram amigos de
longas datas sendo Penteado mais velho que o seu agraciado. A passar pela
esquina do Café, Penteado não notou ninguém de suas relações de amizade. Logo à
frente estava a Agência onde o homem prozaria com o seu dono, Luís Romão, a
respeito de alguma noticia qualquer. A ingressar na Agência foi cumprimentado
por seu dono e a conversa foi muito rápida. O avião atrasou e os jornas não
chegaram.
Romão:
Tenho aqui os de Pernambuco. – ressaltou o homem para tirar
alguns trocados de Penteado.
Penteado ficou descontente, mas aceitou a oferta alegando:
Penteado:
--- Quem não tem cão caça com gato. – responde Penteado pouco
entristecido
Romão:
--- Mas tenho o numero desse mês de A Cigarra. Queres? –
indagou sorrindo o vendedor.
Penteado:
--- Nem formiga. – respondeu angustiado
Nesse ponto entra na Agência um empregado de Luís Romão. O
homem, com roupa suja de graxa a delirar informava a seu patrão.
Empregado
--- A outra lancha bateu também o motor! – disse o empregado
de forma bem aflita.
Romão
--- Logo duas? – indagou vexado o empregador.
Instantes após Edgar Barreto Penteado estava no escritório de
seu bom amigo Aderbal Macedo, onde folheava o seu jornal do domingo para não
ler coisa alguma. Todas as matérias eram vencidas, trazidas da sexta feira ou
mesmo do sábado. As matérias de Natal, também eram escassas. E nada por nada
ficava em nada. Aderbal indagou como estava a fazenda de Macaíba. O homem se
refez de sua mudez e responde ter feito bons negócios com o gado e frutas. Sua
mãe não foi à Fazenda Dois Irmãos. Talvez pela idade avançada da mulher.
Aderbal.
--- Qual a idade? – indagou o amigo.
Penteado:
--- Setenta e oito. Está ficando idosa. – respondeu o homem
com o rosto tenso
Aderbal
--- Uma boa idade. Mas tem gente com 100 anos e nem se
queixa. – falou o amigo fazendo suas anotações das casas.
Penteado:
--- São poucas. Bem poucas. – respondeu Penteado continuando
a ler o que já estava conhecedor.
Aderbal
--- A minha bisavó morreu com mais de cem anos. Era uma
mulher de pouca estatura, porém bastante forte de amarrar touro. – respondeu
com a cabeça abaixada fazendo os seus cálculos.
Penteado:
--- Tem um relatório divulgado mostrado que o ser humano vai
viver até 200 anos. Imagine! – argumento o home todo bem vestido com uma roupa
de linho.
O chapéu que Edgar Penteado usava era do tipo Panamá de aba
longa. Sua roupa era de linho e não dispensava a gravata, o cinto, meias,
sapatos, camisa e jaqueta. O homem era impecável no seu vestir. No bolso de
trás, a carteira de cédulas. No bolso do paletó a carteirinha de moedas. O
cindo de couro de jacaré e os óculos para serem limpos a cada instante. No
bolso interno do paletó não faltava à carteira feita de metal dourado para
guardar cigarros, muito embora o homem não fumasse. Um relógio Ómega pendurado
por uma corrente era o trato do esmero adequado. Esse relógio era usado do
bolso interno do bolso do paletó de cor branca como todo o restante de sua
indumentária. A certa altura, Aderbal indagou ao amigo.
Aderbal:
--- E o carnaval? – indagou o homem se referindo à festa de Momo.
Penteado.
--- A turma está animada. Lança-perfume Rodouro é o toque da
moda. Eu creio que vou com a minha mãe, a irmã e a filharada passar esses dias
na fazenda. – respondeu a reler as notícias jornalescas.
Logo após esse conversa Edgar Penteado se despediu, pois já
estava chegado às 9 horas da manhã, quando tinha início o atendimento ao
público com a prestação da venda de selos para as notas fiscais pelos senhores
do comércio. O senhor Penteado, formado em contabilidade e advocacia era o
chefe da repartição onde as pessoas buscavam as estampilhas para selar a sua
documentação de venda. Na Recebedoria de Rendas trabalhavam cerca de vinte
funcionários e ainda tinha mais um auxiliar de nome Ribeiro que atendia a todos
os serviços prestados. Um impedimento havido era quando chovia bastante da
Ribeira e em toda a Natal. Especialmente na Ribeira, o trecho onde ficava a
Recebedoria sempre virava um lago com todas as águas da chuva a escorrer para a
parte baixa vindas de outros bairros como a Cidade Alta e Petrópolis. Todos
esses ficavam em uma parte alta da cidade. Não raro, o senhor Edgar Penteado se
via forçado a pisar na água da chuva para poder chegar à Recebedoria. À frente
do edifício, tinha a Praça Augusto Severo onde se depositava o aguaceiro vindo
do bairro da Cidade Alta. Aquele estado era uma calamidade onde nada se podia
fazer. O Teatro Carlos Gomes ficava em uma parte baixa e também sofria com
tremendas inundações. Igualmente era a Escola Augusto Severo. Se chovesse forte
em um dia qualquer os alunos gazeteavam as aulas.
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