quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Catorze -

- FANTASIA -
- 14 -
VISAGEM
Na reunião dos médiuns da sexta feira à noite, quando se passava em revista as principais questões enfrentadas pelo Centro Espírita, uma voz se levantou para informar sobre um casarão existente na cidade, há muito ao abandono depois da morte de seus habitantes. A mansão foi construída no século XIX pelo Coronel Protásio Miller homem de tradição inglesa e muito ligado à família real do seu país de origem. Sempre austero, no Brasil casou com uma jovem moça prendada atendendo pelo nome de Evelyn herdeira de larga fortuna dos seus pais. Ainda bem jovem, dona Evelyn teve a sua prole. Três belas filhas: Sophia, Isabelle e Jessica.  Trigêmeas. Foi uma operação cesariana de muito cuidado. Desde novas, as três garotas passaram a ser educadas no regime inglês e com aprendizado das línguas portuguesa, francesa, italiana e alemã. Nos primeiros anos, o Coronel Protásio Miller fez uma viagem transatlântica junto com sua grata família para a Inglaterra. Com as cinco pessoas também seguiam uma governanta e uma criada. Ao todo, sete pessoas. Era tempo de verão na Inglaterra e a família demorou dois meses nos albores da civilização. Ao retorno a terra por ele adotada continuou com as suas obrigações de um augusto fazendeiro. Quando não estava na capital do Estado, era a vez de ele estar, junto com a sua família na granja onde havia plantado quase tudo. Na volta a Capital, o Coronel já havia matriculado as suas ternas filhas na Escola Doméstica a melhor instituição de ensino a existir no País. As meninas ficaram internas junto com outras estudantes. Apenas, no fim de um semestre havia férias e as garotas voltavam para o casarão onde ali permaneciam por longo período. Apenas saíam com a sua mãe e uma governanta para fazer compras nas lojas de tecidos e calçados. Essa era vida sossegada da família Miller. Nada de namoricos na adolescência. E por vezes as três irmãs escrivam para os seus parentes na Grã Bretanha e na Escócia, local amado de sossego eterno.
Com o passar do tempo e as viagens constantes em um transatlântico a vida dos Miller virou rotina. Guerras era um ponto crucial para não fazer viagem. Mesmo assim, a família rodava o mundo indo para os Estados Unidos e Canadá. Às vezes também visitava o restante do Brasil, como Rio de Janeiro. As moças, distintas e elegantes com suas vestes soberbas alegravam mesmo seus pais. Certa vez, as notícias dos embates onde a Grã Bretanha viveu dias de horrores, a família decidiu não ir para os locais em conflagração. Sendo assim, o melhor era visitar Porto Alegre, no sul do Brasil, capital de um Estado bem pouco visitado por esses tempos. De malas prontas, a família decidiu então visitar a capital gaúcha naquele ano de sombrias noticias do além mar. A viagem seguia um rumo certo. Natal, Recife, Rio, e enfim o cais mais próximo do mar. O frio já iniciava por aquelas alturas do ano. Um vento forte sobrava do sul acompanhado de torrenciais chuvas. O navio seguia a rota certa. Mesmo assim a visibilidade caiu a ZERO. O salão de baile estava repleto na noite antes da chegada a Porto Alegre. Casais dançavam no maior delírio se dar importância ao mar revolto. No tombadilho os moços de convés verificavam todos os letais perigos. No salão de baile, a orquestra executava os recitais da ocasião. Música americana por excelência. As máquinas do vapor corriam à solta no momento. E o capitão do navio dava as ordens às quais se prestavam.  O escuro véu da noite permanecia com a sua sinistra sombra. O imediato seguia as ordens recebidas. Do mar nada se poderia enxercar dado à imensa escuridão. No salão de baile, a orquestra tocada os mais sagrados blues, Charleston, jazz e eternas valsas. Toda a classe de passageiros seguia animada apesar do gigantesco temporal. As três filhas do Coronel Miller estavam radiantes com o inesquecível dança. Garçons serviam as mesas, mulheres de fartas gorduras apenas observavam os pares, seus esposos se ajeitavam para ver o final da festa, em alguns apartamentos cenas de amores incontidos e as máquinas a trabalhar sem parar. No navio transatlântico, o imediato demonstrava precaução com o intenso temporal. E nada se conseguia enxergar a um palmo do nariz. Apenas os instrumentos de bordo advertiam sobre o risco de uma colisão iminente com um tenebroso iceberg a seguir a igual rota. O imediato, com sua destreza, evitou a colisão arrastando a embarcação para um pouco mais distante. Enquanto a festa prosseguia no salão de baile, os homens marujos de bordo se aventuravam em salvar o seu transatlântico de um derradeiro fim.  Um barulho terrível foi ouvido em toda a embarcação. Vitrines caíram como brinquedos deixando o grande transatlântico “Concordia” a deriva por igual instante. O salão de baile se viu a cair para um lado levando todos os passageiros para o os seus acostamentos, Não havia ordem que obedecesse de forma alguma. Em questões de segundos o gigante e colossal navio inclinou totalmente para a esquerda. Em desespero, os passageiros pediam socorro sem ninguém ouvir, pois o barulho era intenso em todo o transatlântico.  Pedidos de socorro foram emitidos da embarcação de todo imediato enquanto o tempo permitia. Não se podiam conter os passageiros, uma vez de que todos correram arrastados para o imenso mar. Era, na verdade, um pânico generalizado. A embarcação tinha a bordo mais de 3.500 passageiros e tripulantes no momento do trágico naufrágio. Os botes salva-vidas eram atirados ao mar para que pudesse pegar. A água invadiu a embarcação em um instante e o barco naufragou em duas horas e quarenta minutos. Com vários passageiros machucados ou levando crianças tudo tornou um verdadeiro tormento. Com o naufrágio ninguém conseguia com certeza se segurar em qualquer objeto. Os primeiros socorros demoraram a chegar por mais de duas horas. Já estava amanhecendo quando alguns passageiros agarrados em embarcações salva vida foram então recolhidos. Do trágico acidente, morreram vários passageiros, inclusive as três irmãs e o seu pai Protásio Miller. A sua mulher, Evelyn conseguiu ser salva. A senhora Miller não mais voltou a Natal. E o casarão ficou ao abandono.
Em alguns anos se ouviu falar em assombros no casarão. Dizia-se de gargalhadas ou sombras. Alguém avistou uma mulher com véu no seu rosto e logo desapareceu. Era uma jovem moça dos seus 20 anos de idade com um vestido de renda. A sua face era de esmerada beleza e falava com alguém do outro lado do local. Esse fato durou apenas um minuto e a sombra de imediato desapareceu. Em outras ocasiões ouvia-se falar de gargalhadas como se mais de uma pessoa estivesse a pilheriar. A Polícia foi chamada até o local, mas em nada identificou. Apenas os moveis cobertos já há algum tempo era a marca de alguma pessoa. O casarão era abandonado por todos esses longos tempos. Apenas uma mulher chegava uma vez por semana para averiguar todos os cômodos. Mas isso foi há um bom tempo. A mesma mulher já não fazia mais a real visita costumeira. Falou-se de ter morrido ou estar paralítica. E não se sabia dar o seu paradeiro. Nesse momento, alguém bateu a porta de um médio. Esse foi ver de quem se tratava e apenas encontrou um bilhete pedindo para que o homem fosse libertar as três moças ainda perdida no mar gaúcho.
Médium:
--- Eu não acredito muito em que espíritos mandem recados. Mesmo assim, temos assim um caso de dúvidas. – relatou o médium
Edgar:
--- Eu já ouvi falar na casa do Coronel Miller. Por algumas vezes eu fiquei a observar o palacete. Confesso que, eu, pessoalmente, nada vi de concreto. Porém uma doméstica de falou de ter se assombrado ao passar em frente ao casarão. A mulher falou de ter visto uma moça encostada a um limoeiro lendo um livro em plena noite de escuro. Por esse motivo eu fiz várias visitas ao local. – falou reticente o advogado.
Hermógenes:
--- Eu admito poder haver algo no local. Mas, trazer para o Centro, isso é um pouco difícil. Sabemos ter guardiões que nos protegem. E nenhum ente pode entrar em uma sala sem ter a permissão de algum guardião. Para podermos ir até o casarão, seria mais provável. Então teríamos que em insistir uma autorização a um Juiz. – falou por sua vez o médico
Melchiardes:
--- Tenho a impressão existir um mistério no plano espiritual. Há informações confiáveis e detalhadas sobre esse assunto cheio de dúvidas. Quando se desliga do nosso corpo, a alma se torna a sermos nós mesmos. Hoje, achamos que nós somos apenas nós. Mas, depois que se morrer, a nossa alma revive em nós. Acontece, porém, ter entre outros os que chamamos de criminosos. Pessoas que matam, estupram, roubam. E eles têm almas? Tem! E quando morrem? Ah. Quando morrem tem muitas vezes que ficar presos ao corpo em desgaste. Porque eles não sentem a liberdade do desencarne. E isso é castigo? Não! Ele não sofre de castigo. Apenas não se desligam de sua matéria. Houve um caso de um jornalista que matou a sua noiva. E ele ficou vivo! Pois quando ele se for, tenha ou não religião católica ou evangélica, porém ele fica atrelado a seu corpo presente, pois seu crime não foi atenuado. Ele fica o tempo que for necessário para então se libertar. Isso se prende as três moças do casarão. Elas não tiveram tempo de se desvincular da sua matéria. E é até ser prudente não se questionar a sua presença pós-morte.   
Edgar.
--- Então, com relação às três virgens: elas não retomaram a consciência desta ou de outras vidas? – indagou por saber o advogado.
Melchiardes:
--- É bom entender o que é desencarnação. Esse é o ato de espirito deixar definitivamente o corpo físico. Outra parte é que os espíritos de nossos amigos já estão em nosso meio. Esses entes nos procuram para nos receber. Agora, tem outro caso. O espirito de um morto por assassinato que levou dez tiros, ele é um espírito bom ou mau? Se for um bom homem, ele continua a ser bom. Se ele for um mau homem, ele vai continuar sendo mau. Nas sessões espíritas, os maus espíritos não podem entrar por uma ação da guarda protetora espiritual existente no local. Eu já estou nessa doutrina há setenta anos. E sempre vejo espíritos maus desencarnados prostrados na frente de o Centro a espera de poder ter ingresso. Eles são elementos maus, perversos e procuram pessoas sem proteção para poder viver como se ainda fossem vivos.
Edgar:
--- Mas a vida no mundo espiritual, ela é contínua. Se eu tenho um períspirito eu continuo no mundo espiritual. = rebateu o advogado.
Melchiardes:
--- Mas há um espírito sem qualificação que não acessam as suas vidas passadas por causa da sua própria ignorância de modo físico enquanto esteve vivendo no seu recente corpo. Ela não se relembra de outras vidas onde ela responde por crimes, onde foi um mau caráter ou pessoa que abusou dos seus parentes, que causou alguns danos a sociedade. Aqueles erros estão registrados no seu inconsciente. Se a cada emoção vinda, pode fazer esse espirito perder novo equilíbrio. E assim vai depender mais do grau da evolução da pessoa. Acontece caso de espíritos se lembrarem de fatos cometidos em existências passadas e vai servir como guia de se conduzir na vida espiritual. Esse é um fato de muitas vezes nós nos lembrarmos de nossa vida corpórea.  
Edgar:
--- Então há uma separação gradual do espirito? – indagou o advogado.
Melchiardes:
--- O normal é um desprendimento gradativo. – respondeu o ancião.

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