quinta-feira, 10 de outubro de 2013

"O SENHOR DE LUTO" - CAPÍTULO DOIS


- RESTAURANTE -
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CONVERSA
Ao sair do escritório de Aderbal Macedo, esse se pôs a conversar com o seu empregado, Moacir, sobre a condição daquele homem de meia idade. Para o homem, o senhor ou doutor Edgar Barreto Penteado, de há muito ele o conhecia. Fizeram eles a um só tempo a Escola de Contabilidade e logo em seguida, Aderbal Macedo teve que se separar do convívio entre ambos para cuidar de seus negócios. E Edgar ingressou no ano seguinte na Faculdade de Direito onde concluiu os estudos advocatícios, porém não teve prosseguimento a função de advogado. Homem do mato, por assim dizer, ele tinham o dever de cuidar da fazenda o seu pai uma vez Olegário Penteado teve morte súbita deixando para cuidar a sua esposa, Ana Amélia e seu casal de filhos, Edgar e Clara. A Fazenda Dois Irmãos ficava no município de Macaíba.
Edgar Barreto Penteado era noivo de casamento marcado, com a virgem senhorita Zélia Albuquerque, moça de elevadas prendas moradora na capital do Estado. Ele, moço ainda, construiu uma verdadeira mansão para quando houvesse o casamento. Contudo o destino desfolhou e a pretensão de casar foi por água abaixo. Isso por causa de um incidente havido colhendo a virgem moça por uma enfermidade crucial. A moça sofria de um sopro cardíaco onde a medicina não dava nenhuma esperança de imediata cura. Zélia nascera com uma alteração no fluxo do sangue dentro do coração. Algumas pessoas nascem com válvulas anormais e podem ter o infarto fulminante. Foi isso o sucedido. O homem caiu em um prolongado desanimo e após longo tempo foi possível ele se restabelecer a custa de medicamentos. Por longo período Edgar Penteado fez viagem pela Europa e Estados Unidos. E a custa de um longo cuidado, foi lentamente se restabelecendo. A voltar a sua Pátria o jovem procurou se reestruturar. Com o apoio de políticos, Edgar Penteado conseguiu colocação no Estado estando então na direção da Recebedoria de Rendas. Foi um caso bastante rumoroso o havido. O palacete ficou ao abandono por todos esses anos.
Quando houve o óbito de Zélia Albuquerque, o seu noivo, Edgar Barreto, pôs-se no lamentável pranto e durante tempos e usava roupa de cor escura marcando a sua condição de um senhor de luto. E quem o avistasse comentava à boca pequena ser ele o noivo da saudosa Zélia, por todos a conhecida, dito por ser uma vistosa e elegante dama filha única de um conceituado médico de Natal. A virgem Zélia residia em um palacete semelhante a outro que o noivo construíra para doar como seu presente. O tempo passou até a volta de o ilustre homem depois doridos sofrimentos. Passaram-se anos até a recuperação total de doutor Edgar Penteado. Certa vez, - era o que se declarava – ele teve um sonho onde a virgem o solicitava cuidar dos outros enfermos.  Ela estava bem e queria com ele cuidar daqueles doentes do corpo e do espirito. Foi então ter ele o cuidado de fundar um Centro Espírita onde atendia a todos os que precisassem de amparo. Os adeptos do Centro sempre comentavam da presença de uma virgem toda de branco, igual à vestimenta a que a virgem passou a usar no dia do seu sepultamento. Os poucos videntes comentavam ter a virgem esse traje.  Essa foi a história contada pelo amigo dileto de Edgar Penteado, o senhor  vendedor de terrenos, Aderbal Macedo. O rapaz ouviu tudo e nada comentou.
Na repartição, o doutor Edgar Penteado guardou o seu jornal e se pôs a verificar o assentamento de faturas entre demais negócios. Ele mantinha silencio enquanto os demais servidores do Estado continuavam o seu trabalho se ocupando de cada assunto. O homem de cabeça agigantada falou por seus grossos lábios ser esse negocio de Sindicato uma boa merda. Era o começo do sindicalismo no Brasil. O seu nome era Augusto.
Augusto:
--- É uma boa merda esse negócio de Sindicato. Eu só quero ver. – falou grosso o homem.
Ribeiro, o servidor do Estado, veio até onde estava o doutor Edgar Barreto e ofereceu-lhe café, pois era assim que se gabava de fazer o homem. Se não fosse café, seria alguma coisa para fazer, até mesmo na rua ao lado ou mais distante. E dessa vez, Ribeiro, como sempre, acertou na mosca. O serviçal rodou nos pés e de imediato trouxe uma xicara de café bem quente feito e coado por ele mesmo. E então, Ribeiro se sentiu recompensado uma vez o chefe ter demonstrado bom gosto a sorver o seu café apetitoso. O homem era desse preço. Se fosse possível, ele trabalhava inclusive aos domingos e feriados apenas para servir com bom grado ao seu amado chefe. Após ter servido o café Ribeiro ainda perguntou se estava bom aquele mel coado. Apenas para ouvir o chefe declarar que sim. Nesse ponto, um gazeteiro chegou a Repartição para entregar ao doutor Edgar Barreto o jornal que o advogado procurava de manhã logo cedo na Agencia Pernambucana. De imediato Ribeiro foi buscar o jornal e ainda declarou:
Ribeiro:
--- É o de ontem? – indagou com a cara feia para o gazeteiro
Gazeteiro:
--- Só tem esse. – declarou o gazeteiro arrumando sua sacola e se pôs a caminhar.
O gazeteiro era um homem baixo e gordo e parecia nunca sorrir. Da repartição ele saiu com pressa para fazer outras entregas de jornais do sul do país. E Ribeiro se voltou para entregar ao chefe argumentando ter o homem baixo lhe deixado o jornal somente do dia passado. Edgar recebeu o jornal e respondeu:
Edgar:
--- É esse mesmo. – e colocou o matutino em uma gaveta do birô.
Ribeiro:
--- É esse? Por mim o senhor só recebia jornal com notícias de amanhã. – declarou o homem querendo ser prosaico.
Ao meio dia, Edgar Barreto já estava no Grande Hotel a levar o seu jornal do sul e procurar o que tinha a servir naquela hora do dia ou do início da tarde. Quando menos ele esperava surgiu à sua mesa o senhor Adeodato Rosset,  figura distinta e bom convívio e dos melhores negociantes de veículos novos. O senhor Rosset teceu um bom dia e logo se enturmou na conversa do momento colhendo impressões sobre política brasileira e o fim da recente guerra mundial. Das impressões se chegou ao termo da conversa sobre o doutor Edgar homem cuidadoso e de ótima aparência. O senhor Rosset por fim perguntou ao doutor Edgar Barreto o nome pelo qual se conhecia o centro espírita que ele costumava frequentar.
Edgar:
--- O Centro é Nova Visão. Ele fica em uma Rua da Cidade Alta. Nova Visão é o seu nome. – respondeu o senhor Edgar.
Rosset:
--- Nova Visão! Excelente nome. – disse o interlocutor.
Edgar:
--- E foi um pedido que recebi de alguém. – disse mais o advogado.
Rosset:
--- Ah! E eu posso saber quem foi que teve essa idéia? – indagou surpreso.
Edgar:
--- Isso é preferível não se comentar. Apenas veio do alto. – formalizou o homem apontando o dedo indicador da mão direita para cima.
Rosset.
--- Ah,. Está bem. Veio do alto. E as reuniões quando são feitas? – indagou curioso
Edgar:
--- Hoje é dia. Se vossa mercê estiver presente será uma grande honra. – relatou o advogado.
Rosset:
--- Hoje não sei. Eu tenho negócio a cumprir. Eu sou Maçom e hoje é dia de sessão na minha Loja. Eu tenho compromissos. O senhor por caso deve saber. – explicou com cuidado.
Edgar:
--- Eu sei. Eu tenho outros amigos que são maçons. Eu mesmo em particular não posso ser por minhas atividades com o Centro. – relatou sem meios acertos.
Rosset:
--- Decerto. Decerto. Mas o centro tem diretoria? – indagou curioso.
Edgar:
--- Sim. Presidente, vice, secretários, tesoureiro, Seus vices. E o conselho fiscal – relatou Edgar.
Rosset:
--- Muito bom. Deveras. – comentou o Maçom.
Enquanto os ilustres homens conversavam, um garçom se aproximou e, formalmente fez a tradicional pergunta como já sabendo o pedido de Edgar. Porém tinha o outro convidado, se fosse, e por isso o garçom ficou meio encurvado, com as mãos para trás de tal forma a se notar muito bem. O garçom era um homem ainda moço, dos seus 35 anos por assim dizer. De cor alva, porém de uma palidez franca e quem o olhasse com mais rigor pensaria ter ele a cor um pouco morena, pois a sua palidez lhe fazia uma cor clara. Ele usava um bigode muito fino, a cabeleira escondia uma proeminente calvice tão logo a mais idade aparecesse. Homem magro e ligeiramente de pouca altura, o garçom tinha uma voz tranquila e alguém que o olhasse não saberia dizer ao certo de onde ele era ou quando nasceu deveras. Talvez um cearense, por certo.
Edgar:
--- O que tem hoje. Do melhor. – indagou com solicitude o advogado.
Garçom:
--- Temos peixe, crustáceos, e carne de gado. – falou tranquilo o garçom a olhar bem para o convidado.
Edgar:
--- Fígado?  - interpôs o homem.

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