domingo, 20 de outubro de 2013

O SENHOR DE LUTO - Capítulo Oito -

- ENCARNAÇÃO -
- 08 -
ENCARNAÇÃO
Às 09,00 horas da manhã da terça feira o médico Hermógenes Andrade já estava em seu consultório proferido palestra para o casal Adeodato e Dalila Rosset, tendo a presença do seu amigo Edgar Barreto que apenas ouvia e não dava nenhuma explicação. O médico orientava o casal de que a sua filha/sobrinha tinha qualquer coisa do que se chama encosto. Esse nome não era bem aceito pelos médiuns, pois as pessoas quando se desencarnam vivem por longos espaços ou por um período bem curto para poder voltar. Ele gostaria de saber se alguma dúvida aparente persistia na convicção de cada um para poder dar continuidade ao seu trabalho. A menina estava na companhia de uma ajudante olhando os quadros de pessoas na sala contigua. E não podia entrar a não ser quando fosse chamada por sua tia mãe. O doutor Hermógenes deu varias explicações de como se sente um aparente morto quando sai dessa matéria. Não muito raro, uma tia, uma irmã ou mesmo um parente distante quer retornar à vida para completar os seus conhecimentos de causa e efeito. Não raro o espírito se atém a pequenos simbolismos e se descaminha do verdadeiro sentido da existência. Muitas vezes uma criança é mais assediada por outro espírito o que fornece um grau maior de excitação dos médiuns.
Hermógenes:
--- Nós temos bons pesquisadores na área. A reencarnação tem que ser aceita como lei biológica. Isso é uma lei natural. Entenderam-me? – indagou o medico a olhar o casal.
O senhor Adeodato Rosset coçou a cabeça, puxou a perna da calça, encruzou a pena, fez careta para no fim indagar com certa dúvida.
Adeodato.
--- Mas, doutor, quer dizer que eu posso ser um tio ou um avô? – indagou cheio de dúvidas.
Hermógenes:
--- É bem provável. Ou mesmo alguém de outra esfera. – relatou o modesto doutor.
Adeodato.
--- Não é possível acreditar. Mas quem foi essa senhora que aparece apenas para a menina? – indagou cheio de dúvidas.
Hermógenes:
--- Vamos saber já! – sorriu o médico apontando os tranquilos locais onde o casal deveria ficar. Mas a tia-mãe teria de buscar primeiro a menina. Depois se reservaria em seu local.
O dia estava calmo como todos os dias de uma terça-feira, com os pássaros a gorjear sobre nos quintais dos arredores. Um véu cor de púrpura cobria toda a ampla sala onde estava o doutor Hermógenes Andrade. A janela a qual deixava passar alguns vestígios sonoros permanecia fechada a mostrar apenas os vitrais por onde surtia a luz solar. Cadeiras ainda estavam ao derredor juntas com o birô de trabalho. Quadros de cores disformes permanecia no imaginário dos consulentes. De um lado estava o doutor Edgar  Barreto Penteado. Altivo como uma esfinge clara se encontrava o médico. A menina Linda Rosset continha-se encolhida com os seus bracinhos cruzados sobre o busto a olhar para todos os recantos do aposento onde ela fora deixada. Em uma poltrona de tonalidade âmbar tal como uma luz a refletir nuances calmas estava disposta a bela e atraente imagem de futura mulher. Uma mesa comprida era enfeitada com gloriosos vitrais. De um canto uma pera ao lado notadamente acendia uma tênue luz. Outros ornamentos se dispunham pela sala. Linda Rosset a tudo observava como de igual fecunda magia. O quadro de uma bela amena jovem enriquecia todo o contorno daquele recanto. Era uma modesta menina moça, a trajar vestes claras a lhe cobrir todo o senhoril corpo. O sorriso da mística jovem deixava antever  sua virtual alusão de um encanto malicioso. Os olhos miúdos e castanhos chegavam a demostrar o aspecto de uma deusa. Cabelos longos e quase loiros davam-lhe uma tonalidade de requinte em meio a corrente de prata pendida a segurar um misterioso emblema tornado em ouro ou quase assim. Um véu lhe descia pelos ombros até abaixo da cintura encoberta pelas suas mágicas indumentárias. Uma luminosidade turva completava o ambiente.
Naquele instante, onde todos os que estavam no ambiente mantinham-se quietos a espera da consulta, o médico Hermógenes, especialista em hipnose iniciou uma forma de brincar com a ingênua Linda para desafogar um pouco a sua temeridade. O medico a cumprimentou com afago, disse-lhe quão meiga era aquela criança de cabelos loiros, inquiriu-lhe a idade, fez de forma feliz estar em festa com tão bela criança, coisa rara de lhe ocorrer. E todas essas coisas tão simples de se falar.  Sentado em sua poltrona, com uma tênue luz acessa, o médico falou para Linda estar ele ali apenas para conversar com a quieta menina. E que de um determinado ponto a garota observasse uma espécie de relógio com um ponteiro para cima e então, o medico começaria a contar uns determinados números quando Linda há certo tempo adormeceria de vez. E fez-se a sessão hipnótica por assim dissertar.   O medico perguntou a Linda se estava olhado para o relógio e de acordo com a resposta ele se convenceu de Linda estar adormecida a comtemplar uma magia de encanto.
Hermógenes:
--- Em que ambiente a mocinha está? – indagou com calma o médico.
Não foi por acaso que a menina Linda se enervou, o rosto foi de um modo engrossando, a sua voz era a de uma mulher já bem idosa e renegou a pergunta respondendo com suma insignificância ao médico.
Entidade:
--- Você pensa que eu sou besta? – indagou a entidade com uma voz rouca.
Hermógenes:
--- Tenha calma. Apenas responda o que eu pergunto a você. Onde você está agora? – relembrou a pergunta com muita tranquilidade.
Entidade:
--- Tenha calma você! Quem você pensa que é? Bruto! Ignóbil! Sedutor! – um vozeirão assumiu o consultório do médico amedrontando até a senhora tia de Linda.
O médico acendeu uma luz forte a atingir diretamente o semblante da entidade. E essa se enervou encolhendo-se toda e recolhendo as pernas para cima com os braços feitos em “X” a cobrir-lhe o rosto. Então respondeu com sua voz rouca.
Entidade:
--- Quer apagar essa porcaria seu corno! Eu estou ficando cega infeliz! – fomentou severa a entidade.
O médico com segura tranquilidade fez novamente a pergunta.
Hermógenes:
--- Você está acostumada às trevas. Agora que pode ver a luz, se inquieta. Quem é você entidade aterrada do mau.
Entidade:
--- Eu não respondo! Apague essa luz seu imundo verme! – falou com todo corpo retorcido.
Doutor Hermógenes desligou a luz e então formulou a questão. E a entidade gargalhou. Em seguida, com ênfase falou.
Entidade:
--- Eu venho do inferno seu estupido. – e tornou a gargalhar.
O medico ainda muito calmo falou com a entidade:
Hermógenes:
--- Do inferno ninguém sai. O inferno está em você mesmo. Um lugar sombrio, sem iluminação, onde chove constante. As feras engolem umas as outras. E você será a próxima! – falou sem graça. E novamente acedeu a luz.
Entidade:
--- Pare! Pare! Pare! Você não pode saber de  tudo o que existe no Inferno! É um lugar onde os vermes engolem outros vermes! É onde estranhos poderes do mal são maiores que os condenados! Eu fugi do Inferno! Eles estão a minha procura! Eu tenho que levar essa menina comigo! Ela é as minhas entranhas da mortificação! Belzebu é o maior de todos os males! Ele é o supremo entre todos! – falou com sua voz grossa a entidade a tremer por tanta luz a lhe ofuscar. Os seus braços cobriam-lhe o rosto.
Um grito estridente se fez ouvir em todo o consultório do doutor Hermógenes. Era um crucial lamento tormentoso de horror. Uma voz tenebrosa parecendo ser de um homem muito idoso dos seus 200 anos a procura de algum outro fugidio prisioneiro das trevas sepulcrais. Ele ocupou o lugar da outra entidade e falou com voz mais rouca ainda ser ele o caçador dos transientes. A entidade malévola queria algo de mais infame para levar para as caldeiras infernais.  O consultório do médico se transformou em instante de um segundo num verdadeiro tormentoso dantesco. As cortinas a cobrir o lugar se espanavam em todas as direções. Quadro caiu ao inerte chão e a mesa de vido sucumbiu. O casal pai de Linda chegou a se atormentar com as figuras horrendas a percorrer o local. Eram demônios tumulares a voar como sendo em bandos. Apareciam e sumiam a uma só vez. Ouvia-se a queda de castiçais como a partir em pedaços. A luz intensa acendia e apagava a qualquer instante. Porta se abria e fechava numa formidável inquietação. A voz de uma entidade se ouviu. Parecia ser mulher. A entidade ocupou o corpo de Linda e mostrou a sua beleza estonteante. Não fora as asas vampirescas a cobrir todo o seu esguio corpo era ela a beleza sem par. Seminua aquela deusa do eterno tingia a testa com um circulo virtual. Uma adaga a entidade portava na mão direita. O seu esbelto corpo era coberto em negro por uma veste com bordas em cor de prata. Quando essa entidade surgiu todas as demais voaram em bandos a gargalhar para os seus melancólicos destinos. A virgem entidade agradeceu ao médico e declarou não ter mais temor dos entes malévolos atormentadores da graciosa menina, pois naquele instante ela estava protegida pelos seres alados do bem.  E assim a benfeitora entidade tomou de imediato o seu destino. E Linda Rosset por fim tornou do seu misterioso sono.
O doutor Edgar se levantou do chão aonde caíra com tanto distúrbio e os pais da menina também se soergueram de suas poltronas onde estavam por aqueles poucos minutos e o próprio médico, ainda inquieto procurava acender as luzes de todo o seu ambiente para poder então falar.

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