quarta-feira, 10 de julho de 2013

"DEUS" - 06 -

- SAARA -
- 06 -
TOPÁZIO
O noviço Euclides de Astúrias lembrou sem emoção e de imediato do tempo no qual chegou ao Convento. A marcha ela longa e o acesso para subir a íngreme ladeira não era tão fácil assim. Pelo mesmo caminho percorrido o noviço, sempre com o seu trajar de monge observou um senhor de tantos anos mais parecendo um eremita a caminhar lento para subir a escarpada estrada. Esse senhor pelo seu trajar, também era um monge. A andejar com passos lentos, o ancião parecia cansado demais. Provavelmente pela sua prolongada idade. De pés calejados, provavelmente com seus joelhos inchados o ancião levava tempo a caminhar. De onde chegava, ele não disse. Nem tampouco o seu nome. Apenas pediu ajuda a noviço para peregrinar a segurar o seu braço. E ambos foram a subir a escarpada e dificultosa estrada. Era andar e parar um pouco para repousar. E em uma dessas paradas, o monge falou de vários fatos até chegar ao tempo do Cálice Sagrado. O velho monge indagou se o noviço sabia de algo com relação a esse mito. O noviço respondeu ser o Cálice o recipiente servido durante a Ceia do Senhor. O velho monge curvou a sua cabeça  e passou a lhe contar uma história:
Ancião:
--- Filho! Deixe eu te contar uma história. (disse isso e descansou). Há muito tempo, no tempo de Jesus, houve uma ceia. Era como qualquer outra ceia. O certo é que no simples banquete o Mestre reuniu os seus discípulos e mostrou o “Cálice” ou para se falar melhor, a sua mulher. Maria Madalena. Jesus era casado com Madalena. E sua esposa estava grávida, ou seja: a sua mulher havia de dar à luz a um seu filho, pois Madalena tinha em seu ventre o “sangue” verdadeiro do Senhor. Veja bem o que diz o Evangelho: ela era a “bandeja” do Mestre e em seu cálice, se bem quereis saber – em seu útero estava depositado o sangue do Mestre: o sangue real. Se o jovem não soube ainda, Jesus era um Rei e sua mulher, uma Rainha. Após os judeus terem crucificado Jesus, um seu seguidor, homem nobre e rico, levou o “objeto”, ou seja, Madalena, devidamente santificada ou grávida para um local seguro. José de Arimatéia era membro do Tribunal Judeu. Logo após a crucificação, José pediu a Pilatos para que o deixasse sepultar o corpo de Jesus e o inumou em suas terras. Por isso mesmo ele foi expulso do Sinédrio e feito prisioneiro. E passou longo tempo na prisão. Nesse período, Madalena levava todos os dias à refeição para José. Certa vez, o próprio Cristo foi até ele e pediu que, quando solto, fosse o guardião de Madalena e do seu filho (ou filha). Após conquistar a sua liberdade Arimatéia viajou para a Inglaterra e levou Madalena com ele.  Na Inglaterra, José fundou uma pequena Igreja onde atualmente há ruinas da Abadia de Glastonbury. Madalena ficou da França. Ela concebeu a menina Sara. Sara Saint-Clair. Na época em que Sara nasceu, a França tinha o nome de Gália. A própria Madalena relatou ter viajado para a Gália com sua filha Sara e ali morou até o fim de sua vida. É essa a verdadeira história do Santo Graal. – relatou o monge ancião
De Astúrias:
--- Meu Jesus! Então era ele casado? – perguntou quase sem fala.
Ancião
--- Há muitas lendas a respeito. A lenda de Arthur e a Távola Redonda podem ser associadas a Jesus e seus apóstolos. A lança que fere Cristo pode ser interpretada como o elemento masculino; o cálice como o útero feminino. Portanto, há um simbolismo do sangue nobre (de Jesus Cristo) fecundando o “útero mágico”. – reportou o ancião bastante cansado.
De Astúrias:
--- Quer dizer que o que se prega não é a verdade? – indagou perplexo o noviço.
Ancião
--- Não. Inteiramente, não! – tossiu o ancião com acesso de asma.
Alarmado com a tosse do ancião, o noviço tentou fazer algo, como pressão em suas costas para o Monge parar de tossir e se sentir mais confortável. Foi um instante de temor para o noviço. O Mosteiro ainda era distante para ele pedir ajuda. Alguém devia conhecer o ancião naquela casa de orações. Mesmo assim, o noviço apenas observou de longe o Mosteiro e, de imediato continuou a massagear as costas do idoso. Das árvores partiam um bando de andorinhas em busca de outros locais mais aprazíveis. Um cão a ladrar fez sua apresentação. O tempo seco não permitia o vento a acoitar. O calor àquela hora era intenso. Das matas, as mariposas  inauguravam sua façanha de um lado para outro. O chão duro mostrava apenas o sulco profundo das rodas das carretas que por alí passavam. Das áleas ouvia-se o silvo dos pássaros. Um rato do mato surgiu de repente como querendo observar o sucedido e sumiu de  vez. O ancião pediu um pouco de água. O noviço procurou tirar de repente de seu cantil a água desejada. Todo isso era feito em ligeiro tempo com o rapaz a correr de um lado para outro em busca de algumas folhas ou sementes de acácia para fazer uma infusão. O tempo corria célere e o ancião se esticava para trás como forma de deixar o ar penetrar bem dentro de seus pulmões. O noviço encontrou uma porção de gengibre e colheu para mais que depressa fazer o unguento. E falou:
De Astúrias.
--- O que não mata, engorda. – falou baixinho o noviço.  
No Mosteiro, às quatro horas da manhã, a sineta dobrava para despertar os Monges. Era tudo escuro no vão dos cômodos. Os discípulos se levantavam para as suas obrigações diurnas ouvindo ao longe o cantar gregoriano dos mais atentos. O Mosteiro era um local onde se podia fazer de tudo um pouco, desde cuidar a hora a ouvir a Santa Missa diurna às seis e meia da manhã. Os Monges faziam todos os dias as suas obrigações. Ser monge é um chamado a viver de maneira mais perfeita à vocação cristã. Era nesse aspecto ter o noviço o seu fervor. Já estando no interior do Mosteiro de São Simplício. O noviço Euclides se apresentou ao monge beneditino Ambrósio de Escócia o homem seu protetor.  No templo De Astúrias se acomodou em quarto com muito pouco de conforto. Após a Santa Missa da manhã era servido o café um uma banca para dois Monges. De vestes completas o Monge seguia os preceitos da Religião Cristã. Entre outras obrigações, o noviço de Astúrias tinha o dever de ajudar o Monge Ambrósio de Escócia em suas pesquisas sistemáticas no Observatório da Serra. Do largo do Mosteiro, os monges dedicados a tal fim  limpavam o mato e colhiam frutas ou regavam os canteiros, cuidavam dos animais ou mesmo faziam a limpeza diurna. Na cozinha, os Monges faziam o preparo de suas comidas. O Tempo era de paz de sossego com as suas árvores bem tratadas e se separando as casas simples dos anciãos. Às nove horas da manhã tinha a Terça onde os Monges cantavam os hinos de louvor. O suplício já não era tão exigido, apesar de alguns Monges ainda praticassem. O suplicio era uma forma de se guardar do corpo aquilo que não era aprazível. Ou mesmo uma desobediência ou um pensamento maldoso. Para depois do meio dia, o Monge parava para o almoço onde todos participavam de modo silencioso. De uma parte do salão ouvia-se a pregação de um Monge agradecendo a Deus os alimentos dados. O tempo passava até das duas horas e meia da tarde onde os Monges se reuniam para agradecer o bom dia que eles haviam tido sob o canto gregoriano. Era uma vida muito dura viver em um ideal de não ser tão simples. O Mosteiro era uma esfera especial à frente do mondo profano. A dificuldade maior é entre a própria pessoa. Necessita-se de muitos anos para se conviver de um modo pacífico. É uma alusão de que no Mosteiro o Monge seria o que nunca deveria ser. Se o Monge pensa em ser um diamante nunca vai ser um topázio. Por isso, essa vida é uma grande dificuldade de aceite a si mesmo ou conviver com outro. É, enfim, descobrir o sagrado dos demais irmãos.. O dia termina às sete e quinze da noite com novas preleções e o cantar gregoriano.
Pregação:
--- “Vinde e vede como é bom. Como é bom os irmãos viverem juntos e bem unidos”. – essa é uma das preleções.
O dia já estava chegando à sua metade. O Monge Ambrósio de Escócia observou o noviço com muita atenção para poder falar de algo. E assim fez:
De Escócia:
--- Vos me perguntastes sobre aspecto do Graal. É bem simples. Porém de difícil assimilação. O que eu vos direi são coisas que vós tardiamente sabereis sobre essa parte da vida profana que ainda tendes de ver. Exemplo: Graal é um cálice. Esse cálice de se beber apenas. Mesmo assim, se quereis saber da verdade, estude mais e por completo para que possais entender melhor. – dialogou o mestre com muita prudência.
O noviço escutou aquilo que seria uma repreensão e, de momento, nada mais quis saber. As palavras do ancião lhe pairavam vivas como um tempestuoso dilúvio. O noviço não podia falar do que lhe disse o ancião, pois bem parecia um senil mais que nada. Embasbacado, o noviço seguiu para a capela onde faria o seu suplício como forma de penitência. Era a hora do descanso matinal para todos os monges. O noviço ouviria a preleção do meio dia para depois voltar à sala do suplício onde faria em silencio o magoado pedido de perdão. Na clausura, era a hora de se fazer penitência como forma de arrependimento.
De Astúrias:
--- Perdão meu Senhor por duvidar de Ti. – recitava o noviço por diversas vezes.
Com isso, o jovem demorou o um logo tempo de cabeça abaixada e com o olhar inquieto por ter duvidado do seu Mestre naquela manhã.


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