terça-feira, 2 de julho de 2013

"NARA" - 89

- Ava Gardner -
- 89 -
PLANETAS
Assumindo sua Cadeira de Mestre o professor Sisenando reuniu os acadêmicos estudantes para discorrer de um tema bastante singular: os Planetas. Antigamente os únicos planetas dos quais se tinha conhecimento eram que orbitam o nosso Sol. Mas hoje descobrimos os mundos rochosos e gigantes gasosos orbitando outras estrelas. Isso conta uma história impressionante. Os planetas surgem em todos os lugares do Universo do mesmo modo. Eles se formam a partir da poeira e fragmentos que sobram do nascimento de estrelas.
Sisenando:
--- O Universo é repleto de galáxias, nuvens de gás, estrelas e planetas como eles costumam ser descobertos. O sistema solar tem, pelo menos, oito planetas. Mas o que se sabe são tais planetas formam um grupo minúsculo comparado à imensa família cósmica de planetas que se tem na galáxia. Este é o momento extraordinário na história da ciência: saber, com certeza, que há outros sistemas planetários que são muito comuns e que entre os duzentos bilhões  de estrelas da nossa galáxia, há com certeza dezenas de bilhões de planetas. Até agora são encontrados mais de quatrocentos os novos planetas que orbitam outras estrelas. Alguns são bolas colossais de gases revoltos cinco vezes maiores do que Júpiter. Outros são imensos planetas rochosos muitas vezes maiores do que a Terra. Alguns traçam orbitas desenfreadas e erráticas tão perto das estrelas que são queimados. Mas uma coisa é clara: não há dois planetas iguais. Cada um é único. Mais a maioria desses novos planetas está muito distante e é difícil estuda-la. Quase tudo o que se sabe sobre o funcionamento dos planetas vem dos oito que orbitam o planeta Sol aqui da Terra. E se tem dois tipos de planetas do sistema solar: quatro planetas chamados terrestres ou rochosos no sistema solar interior: Mercúrio, Vênus,  Terra e Marte. E no sistema solar exterior tem quatro planetas gigantes gasosos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Cada um dos oito planetas é único. Suas personalidades começaram a se formar no nascimento do sistema solar a quatro bilhões e seiscentos milhões de anos. Quando o Sol acendeu ele deixou uma enorme nuvem de gás e poeira. Todos os oito planetas nasceram  dessa nuvem de detritos cósmicos. – falou o professor e disse a seguir:
Sisenando:
--- Alguma pergunta? Então estamos todos entendidos. Na próxima aula veremos a ainda a questão desses planetas. Classe está liberada.
Alguns dias após os dois pares de músicos já estavam do Teatro “Carlos Gomes” para a sua récita do concerto. A casa de espetáculo estava repleta de convivas e apreciadores da música erudita ou popular. O ano de 1948 era o marco da história do nordeste em festivais com a participação de solos e de grupos. Houve Recife, João Pessoa, Fortaleza e então Natal. Podia-se creditar Maceió, além Aracaju e Salvador, este último na Bahia. Por Estados, o primeiro era Pernambuco, o segundo a Paraíba, terceiro o Ceará vindo depois Alagoas, Sergipe e a própria Bahia, centro maior do Nordeste. Nesse vibrante contexto ficaram de fora os Estados do Piauí e Maranhão, por sinal, os Estados de maior marca no calendário artístico do nordeste. A inquietude já prometia uma ovação surpreendente aos artistas novatos. O calou no meio ambiente era por demais exaustivos. Matronas com suas vestes a combinar com a cordura eram por demais faustosas. Entre as matronas estavam às mocinhas, suas filhas e os homens esnobes a trajar uniforme de gala. Os trajes era todos quase escuros a bem da moda deixada nos anos da II Guerra.  Do palco nada se podia ver, pois o cortinado ainda estava cerrado, com a sua cor vermelha a concluir o espaço entre a plateia e o restante do espaço. O relógio marcava as nove horas da noite quando a cortina começou a se abrir. Os aplausos foram seguidos e começava então, com os acordes marcantes a esmerada recepção da obra de George Gershwin, Rapsódia em Blue obra extasiante para a adequada ocasião. Conforme o calendário distribuído aos ouvintes participantes do concerto essa era a melodia de entrada composta em 1924. E depois se notaria a composição de 1930, “Odeon”, de Ernesto Nazareth, sumidade da musica nacional. Essa melodia foi interpretada ao solo por Nara Lopes, em primeiro momento e a seguir acompanha por Rócia Castro ao violino e com a participação de Fred Dutra ao contrabaixo e Eurípedes Castro ao piano. Foi um verdadeiro delírio por todos os presentes naquela noite maviosa de artistas da casa. E se seguiu muitas obras com a presença de elevados nomes do nosso cancioneiro e demais artífices de cantos eruditos tais como Vivaldi, Tchaikovsky, Handel, Wagner, Beethoven, Debussy com Clair de Lune e encerando o recital com a inegável obra do imortal Franz Schubert e sua Ave Maria por Rócia Castro ao violino e Fred Dutra ao contrabaixo. Verdadeiramente foi um delírio de toda a augusta plateia. Algumas benditas matronas chegaram a lacrimejar a ouvir a Ave Maria nos últimos instantes do concerto. Os artistas agradeciam, mas o público em êxtase não aceitava o fim da magnifica apresentação.  Para compensar, Eurípedes voltou ao piano e interpretou um trecho da melodia Lullaby, de Johannes Brahms. Dessa vez nem o Reitor da Universidade suportou e correu até o palco para abraçar o jovem médico Eurípedes Castro. O pai de Euripedes não suportava tanta emoção ao lado de sua esposa Clotilde.
Amaro:
--- Meu filho! Meu filho! – dizia o velho aos encantos da velha senhora.
A mãe de Nara também estava sem suportar a comoção dizia sempre chorando para o seu dileto  esposo
Ceci:
--- Como essa menina cresceu! – chova Ceci sem saber o que mais dizer.
Entusiasmo da plateia para os jovens artistas não cessava. A juventude da capital era a que mais ovacionava o quarteto por demais querido. Mocinhas pulavam nas cadeiras em exultação aos quatro artistas. Tudo era desvario pela apresentação do quarteto. Nunca o teatro se encheu de tanta gente a sacudir bolinhas de papel, a gritar, aplaudir, delirar em mais um, mais um, mais um. Ninguém esperava o que aconteceria por todos e os artistas não sabiam o que falar ou dizer. Ninguém supôs que essa apresentação sem organização tivesse tanto significado e interesse do público. Era preciso de alguém para organizar de uma forma completa aquela exibição de Nara, Eurípedes, Fred e Rócia. A plateia em arrebatamento não se contentava com o final da presença se ouvia aplausos, gritos e até vertigens entre as jovens moças de família. Um rapaz que estava no auditório fez uma pergunta a outro:
Rapaz:
--- Quem manda nesse quarteto? – indagou sussurrando.
Outro:
--- Não sei bem. De qualquer forma eu acho que é o moço do piano. É ele quem dá as ordens. – falou o outro em sussurros.
No meio de toda confusão que se fazia no auditório, fresas, camarotes e até mesmo nas gerais o rapaz conseguiu passar entre um e outro e atingir até o palco. E foi com muito esforço que ele chegou a Eurípedes e pediu uma só palavra. O médico ficou desnorteado entre flores e bolinhas de papel a lhe jogarem do auditório e disse:
Eurípedes:
--- Pois não. Pode falar. – falou o homem ao rapaz ainda temendo ser atingido por uma rosa.
Entre as corridas de todos da plateia, o rapaz pediu ao músico um tempo em que pudesse conversar mais sossegado. E assim foi feito. O rapaz se chamava Paulo Lombarde. Ele iniciou a conversa informando ser de uma emissora de Radio de Natal, a Radio Poty e como todos a conhecem por Radio Educadora seria mais fácil para o conjunto se apresentar aos domingos em um programa feito com exclusividade para o publico natalense. E quem sabe, esse quarteto poderia receber uma percentagem por cada apresentação.  E Eurípedes levou o caso a sério e pediu mais um tempo enquanto dialogava os demais componentes.
Eurípedes:
--- Eu darei resposta amanhã, com certeza. – respondeu o médico e músico.
Depois da apresentação, quando os quatro participantes ainda não estavam desocupados do extenuante recital, Eurípedes falou com os demais do encontro casual mantido com o rapaz Paulo Lombarde e a conversa cultivada entre os dois. Não saberia informar se teria contrato, mas o rapaz dissera poder haver alguma porcentagem em cada apresentação. Ou mesmo não havendo, o medico estaria a contar com apresentações em outras cidades do País, como o Rio de Janeiro. A irmã de Eurípedes alegou muita distancia. Ele rebateu:
Eurípedes:
--- Eu tenho a informação de gente vinda de Porto Alegre, Salvador e até mesmo Recife. – declarou o rapaz.
Rócia:
--- Mas um quarteto. Isso é muito gasto. - reclamou a moça.
Eurípedes:
--- Isso é. Mas. ... Vale a pena tentar. Teve um cabo do Exército que está tocando em uma Radio do Rio. Ele até gravou um disco. Parece ser Luís ou José Gonzaga, ao que parece. – fomentou o pianista.
Fred:
--- Luiz é o nome. José é o seu irmão. – falou consciente o outro companheiro.
Eurípedes:
--- Luís? Está vendo? – disse o rapaz com entusiasmo.
Nara viu sua mãe e o seu pai chegarem ao palco. Ceci vinha com um sorriso franco para abraçar a todos e a filha em particular. O mestre Sisenando também, a procura de Nara e os demais. Ele estava feliz da vida. Nara se deixou abraçar por todos e viu o seu filho nos braços da jovem Margarida pedindo o colo de sua mãe. A virgem recebeu o filho e o beijou. Para a moça a criança era um encanto. Alguém perguntou.
Alguém
--- É o seu filho? – falou com entusiasmo e franqueza.
Nara:
--- Sim! – sorriu a moça acalentando a criança.
O Teatro já começava a esvaziar com todos a sair ficando nos camarins apenas os artistas a lavar o rosto retirando toda a maquiagem. Os pais dos quatro amigos igualmente conversavam  alegres sentados em cadeiras no corredor estreito de saída pela porta de detrás. Eurípedes, sem receio mais sumamente feliz conversava com Nara.
Euripedes:
--- Agora virá dezembro. Vai ser o casamento da história. – disse isso e sorriu
Nara olhou para ele e, sem comentar, com o filho ao braço, também sorriu. Aquele suave e terno sorriso a despertar no seu noivo maravilhosos anseios mil os quais o levou ao doce acalanto de a lhe beijar as tão suaves mãos em uma ternura sem par no encantador delírio de ilusão febril. O tempo delirou e na ânsia de enlevar aquele instante, em meios de sublime encanto o noivo beijou suavemente a amada em uma divinal e crepuscular fascinação.
 
- FIM –

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