sábado, 27 de julho de 2013

"DEUS! - 14 -

- SINAGOGA -
- 14 -
PERDÃO
Passada a hora dos Cânticos pelos Monges, Boaventura retornou a seu afazer a procura de maiores informações a respeito do crime que abalou a Igreja no seu nascedouro. Era fato tudo não passar de lenda. Com isso, o Monge estava conformado. Olhava ele o livro antes de qualquer ação. E comentava em murmúrio todo o seu pensar:
Boaventura;
--- Demônios! Essa é nova! Não sei por que esses “hereges” inventam esse inimigo como se fosse demônio! Tudo é demônio! Ora vá para o diabo que o carregue! – comentava em surdina o Monge.
E assim, um tanto zangado, o Monge recomeçou a leitura procurando entender melhor o que o autor do tomo escreveu.
--- Mas algo profundo começa a acontecer com o passar do tempo. Os irmãos irados começam a aprender a perdoar. No capítulo 25 do Livro do Genesis a reversão começa com a história dos irmãos gêmeos; Jacó e Esaú que brigam pela herança do pai Isaque. Jacó e Esaú começam a brigar no útero materno.
Oráculo:
--- Você tem duas nações lutando em seu útero. – disse o Oráculo ao ver a mulher grávida.
--- Esaú, mais tarde, associado ao cristianismo (?) nasceu primeiro, tornando-se o mais velho e ganhando a herança. Mas Jacó, que simbolizava o Judaísmo, nunca aceitou isso e continuou a lutar. Jacó, finalmente venceu o irmão mais velho quando enganou o irmão fazendo negociar a sua herança por uma tigela de sopa de lentilhas. Na época Esaú estava faminto, mas isso não implica em misericórdia para ele na história. O fato de Esaú vender os direitos de família em troca de um prato de sopa é às vezes interpretado como um sinal de desrespeito às tradições de seu pai. Esaú tem de matar Jacó. E Jacó tem de fugir de Canaã. Mas depois de quase vinte anos ele não consegue resistir de voltar para a casa. Na verdade ter perdido os direitos de primogênito Esaú fica rico e poderoso e confronta Jacó com um exercito. Mas ao ver o irmão ele é tomado de alegria.
Narrador:
--- Ao ver Jacó, Esaú lançou-se em seu pescoço e chorou durante muito tempo entre os seus braços.  
Boaventura:
--- Não dá para acreditar. Cristão? Nesse tempo nem Jesus era vivo! – resmungou com ira o Monge.
--- Deslumbramos aqui um primeiro passo para um significado mais amável de irmandade de que aquele entre Caim e Abel. Entretanto a reconciliação mais verdadeira ainda está por vir. Essas rivalidades entre os irmãos reverbera por todo o Livro dos Genesis  e chega ao seu clímax em sua prova mais elaborada no final do Genesis com a história de José. E tudo começa com o manto multicolorido, um presente de Jacó a seu filho mais novo, José, símbolo de que ele irá receber a herança de seu pai. Os irmãos mais velhos de José são tomados de ciúmes e ira. Eles roubam o manto multicolorido, simulam o assassinato do irmão e o vende a comerciante de escravos. José acaba chegando ao Egito onde é escravizado e jogado na prisão. Mas depois de dois anos de sofrimento José é chamado pelo Faraó.
O Faraó ficara sabendo que esse escravo em particular tinha um dom especial para interpretar sonhos. E quando José ouve o sonho do Faraó, ele percebe que se trata de uma profecia divina. José alerta o Faraó: as águas do Nilo irão secar e haverá fome por sete anos. Ele diz ao Faraó como proteger o reino. O Faraó fica tão impressionado com José que dá a ele o mais alto cargo político do Egito. Ele fica mais poderoso e rico do que se possa imaginar. E, finalmente chega a ele a sua oportunidade de vingança. Quando ele fica sabendo que os seus irmãos haviam vindo para o Egito fugindo da fome, José sabe que pode destruí-los assim como Caim destruiu Abel. Entretanto, em vez disso ele lhes dá boas vindas.
Outra traição famosa na Bíblia acontece, sem dúvidas, na história mais recente de Jesus. Aquele que pregava a fraternidade e o perdão foi entregue às autoridades por seu discípulo. E alguns poderiam dizer: por seu irmão espiritual – Judas. E Ele aceitou sua morte com a pureza da não violência que, segundo, o sagrado Alcorão, teve início com Abel. Certamente a frase; “Perdoa-os, pai. Eles não sabem o que fazem” poderia ter sido dita para o próprio Caim, matando sem qualquer conhecimento do que a morte ou assassinato do que realmente significavam.
Boaventura:
--- Estúpidos! Lendas! São puras lendas. Caim nunca existiu. E nem Abel também. Brutos! – o Monge assim raciocinou.
--- No século XX essa deturpação do Genesis tomou outro rumo inquietante. Em 1941 quando  os nazistas ordenaram que todos os judeus alemães se identificassem em público usando uma estrela amarela, Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda nazista escreveu um editorial de jornal no qual comparava a estrela amarela ao sinal de Caim e fazia pouco aos judeus de Berlim por tentarem encobri-la. Para arqueólogos e historiadores a fundo de verdades ocultas na sombra das pirâmides egípcias. Outros acreditam que a história remonta a um passado muito mais distante. No Egito, terra dos Faraós. E certamente onde os israelitas viveram durante gerações. Por certo tempo o Faraó teve medo da prosperidade dos israelitas e os escravizou. E então uma filha do Faraó encontrou um bebê no rio e o criou no Palácio. Assim começa a história de Moisés salvador do povo judeu que liderou durante êxodos. No entremeio há historiadores os quais acreditam que Moises tenha tirado do Egito mais do que seu povo. Ele pode ter tido também parte da religião egípcia e que parece reproduzir de forma surpreendente a história de Caim e Abel. Os egípcios imortalizaram a história nas paredes das próprias tumbas, nas profundezas das pirâmides. Então se encontra paralelos instigantes com conflitos retratados nas paredes. A pirâmide de Unas tem mais de quatro mil anos. Centenas de dizeres mágicos estão inscritos  nas paredes desse santuário. Entre os feitiços e encantamentos há uma história de ciúmes e fratricídio incrivelmente semelhante entre a de Caim e Abel. Os hieróglifos egípcios contam a história de dois irmãos: os deuses Osiris e Seth. Osiris era o deus da agricultura, governante do mundo. E Seth era o deus da guerra e do conflito. Um dia Seth teve ciúmes e matou Osiris. Cortou-o em quarenta e dois pedaços e o espalhou por todo o mundo. Os dois deuses egípcios lutaram até a morte pelo amor da mesma mulher, a irmã deles. Estudiosos e arqueólogos veem outra semelhança. Os estudos indicam que eles estão mais ligados à pré-história da humanidade. Tudo começou no berço da civilização onde hoje é o Iraque.  As pessoas haviam começado a se afastar do comportamento de caçador e comedores da idade da pedra e começaram a controlar seu ambiente. Elas não mais procuravam alimentos, mas o produziam. Havia os que domesticavam animais – os pastores – e aquelas que domesticavam as plantas – os agricultores -. As histórias de confronto entre pastores e lavradores foram finalmente escritas pelo povo que inventou a escrita: - os sumérios.
Os sumérios viviam na Mesopotâmia, parte do que é conhecida como é hoje – o Iraque – a mais de seis mil anos. E era um povo mais talentoso da face da Terra, pois eles inventaram a escrita, inventaram as leis, inventaram todo tipo de raciocínio moral, os provérbios. Eles inventaram um sistema de crença religiosa para explicar o poder do bem e do mal. Esculpido em pedra batalhas entre pastores e agricultores se transformaram em mito surpreendente similar a história de Caim e Abel. Na história suméria, Dumusi o deus dos pastores, luta com seu irmão, Enkimdu, o deus dos lavradores pelos favores da irmã deles, a deusa Inanna. O que é de espanto como teria sobrevivido tal história por milhares de anos tornando-se parte de uma tradição monoteísta, O início da história teve lugar nas cabeceiras de quatro rios: Tigre, Eufrates. Apesar de não estar ligado à história, o Gihon e Pishon, que flui do norte do Mar Cáspio seja esses os outros dois rios. Um estudo das línguas antigas mostra que com o passar do tempo houve uma reversão da língua falada. E nos estudos leva-se a compor ser o Jardim do Éden no Iran ocidental. Há sete mil anos, o Golfo Pérsico não era o enorme corpo de água que é hoje, mas um repleto vale cheio de rios de água doce. Enfim, a história de Caim e Abel tem suas origens na Mesopotâmia, no vale dos sumérios. Isso leva a crer ser a Bíblia um completo texto dos sumérios. Os dois deuses que lutaram foram eles Tumusi e Enquindu retirando-se então os livros de Moisés.
Boaventura:
--- Está aqui a verdade. O texto é sumério. A guerra foi com dois irmãos sumérios. – alegrou confiante o monge.
Verdade ou não. A Bíblia é uma tradução do escrito sumério. Quando esse povo esteve na região do Egito, deu os seus escritos a um Faraó e logo após largaram pelo mundo afora onde ainda hoje tem seus descendentes.
Nesse instante, alguém bate a porta do Monge Boaventura e esse, temeroso, guarda o tomo em baixo de sua cama. Logo após se apressa e vai. É a hora do almoço. Mas a terrível história de Caim e Abel não ficou esquecida na mente de Boaventura. Ele sempre irá acreditar serem todas as religiões monoteístas em suma irmãs. O Monge soprou a vela e buscou saída pela única porta de sua cela. Eram doze horas do dia.


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