terça-feira, 16 de julho de 2013

"DEUS" - 11 -

- ALICE ENGLERT -
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A SEITA
Dias passados o noviço De Astúrias estava na imensa Biblioteca do Mosteiro a procura de livros sobre a leitura com respeito a Maria Madalena, a esposa de Jesus. Ela mantinha a convicção de ter havido casamento entre ambos quando. Madalena estava com outros discípulos em um almoço fraternal. Jesus era homem feito e tinha para além dos trinta anos. Madalena tinha ouvido do seu Mestre os lugares por onde Ele andara por toda a sua juventude. Sem gostar de escrever o que Ele sabia, apenas costumava relatar aos poucos com quem vivera e como fizera. Com esses monólogos Madalena se impressionou com o jovem senhor e dedicou-se a Ele com mais presteza.  Dando continuidade ao já sabido, o noviço teve a oportunidade de ler e de ter conhecimento ser Madalena levada para o sul da França após a crucificação do seu amado esposo. Nessa região nasceu uma seita com milhares de seguidores que nunca admitiu  sua identidade como mulher decaída. O folclore francês insiste que Madalena foi à França após a crucificação viajando em um barco sem leme empurrado por Pedro. A lenda de Maria Madalena também esteve ligada a um grupo de crentes fervorosos, os Cátaros – “puros” – que morreram literalmente pela fé durante o Tribunal da Inquisição. O movimento cristão foi considerado herético pela Igreja Católica. Os cátaros exerciam grande influência  em toda a Europa e no Oriente Médio. Dizia-se que eram guardiões do Santo Graal – Maria Madalena – que ficara guardada em seu Convento de Meditações no alto de uma montanha. Para os cátaros Jesus era um homem de carne e osso dominado por um princípio cósmico. E Cristo permitia que o homem Jesus operasse milagres. Quando ele foi crucificado Cristo, que havia cumprido sua missão deixou o homem. Jesus sobreviveu à crucificação, e no fim casou-se com Maria. As relações das ligações cátaras com o Graal cresceram com o tempo. Os últimos sacerdotes cátaros antes que fossem eliminados como heréticos conseguiram esconder o tesouro, não de bens ou joias. Mas de algo muito mais precioso. Na França, a lenda do Santo Graal transmutou-se de Cálice para a própria Maria Madalena. Casada em segredo com Jesus ela carregava no ventre o início da mais sagrada de todas as linhagens. E foi numa dessas oportunidades que Maria Madalena foi ao Egito. Depois navegou para a França com Lázaro e as duas irmãs: Maria e Marta. Porém, na terra egípcia deu à luz a uma menina chamada Sara. Depois de passar algum tempo de poucos meses no Egito para se recuperar do resguardo, ela e as três irmãs chegaram ao vilarejo da costa sul chamado Maria do Mar. Na opinião de muitos Sara seria filha de Madalena e Jesus. A lenda diz ainda que Sara tornou-se a primeira da linhagem dos Reis franceses. Uma linhagem que, segundo alguns, ainda sobrevive. Hoje, Santa Sara, por vezes associada a Madona Negra é venerada por ciganos e outros povos que nutrem grande amor por ela. Essa história é uma das muitas lendas sobre o Santo Graal. Maria Madalena é, na verdade, o próprio Graal. Porém, na literatura bíblica, isso é pura invenção medieval.
De Astúrias:
--- Que história fantástica! Eu nunca vi coisa igual. Esse autor é do Século XX. Próximo da própria Inquisição feita pela Igreja Católica de Roma. Eu já li um pouco sobre a Inquisição. Eles matavam gente da França, Itália e mesmo da Espanha em tempos depois. E tem aqui a ação delituosa do Papa. Imagine só. – falou para si o noviço.
Mas a história prosseguia. Casos mais estranhos e fantásticos eram narrados pelo autor do livro rebuscando as narrativas de lendas e alusões aos Cavaleiros Templários. Desta forma o noviço de Astúrias se deslumbrou com as descrições. Os Templários, cavaleiros guerreiros e protetores de peregrinos rumos à Jerusalém deixaram um rastro de sangue durante as Cruzadas partilhando os mitos dos cátaros como guardiões do segredo do Graal. O  segredo foi preservado e guardado por séculos. Mas os Templários também eram fieis defensores da fé. Não se sabe se eles se voltaram contra os cátaros de quem foram aliados. Nem precisariam. A armada do Papa Inocêncio III matou quase vinte mil cátaros só na cidade de Lisieux. Alguns anos depois a Cruzada ganharia o nome de Inquisição – (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) – Essa inquisição existiu entre 1542 e 1965. Mas sua fundação foi em 1184 no Languedoc, aula da França para combater a heresia dos cátaros. Durante a Inquisição a Cruzada executou quase um milhão de pessoas como hereges. A Inquisição, em si, formou-se em resposta à heresia cátara. Houve uma cruzada contra os cátaros e sua heresia. No coração da região cátara uma pequena vila cercada de Castelo templários tornou-se a possível locação do maior segredo da história: a fonte de significado do Graal. Em 1885 descobriram-se documentos contendo informações em código que se acreditava revelariam a verdade sobre Maria Madalena e Jesus. De acordo com a lenda, o segredo continha prova de que Maria Madalena teria o Santo Graal e levara para a França uma criança que dera inicio a linhagem merovíngia dos franceses. Na verdade Jesus se casou com Madalena, tiveram um ou mais filhos e a criança e seus descendentes emigraram para a atual região sul da França. Uma vez lá, eles se envolveram com as famílias nobres que acabariam por tornar-se a dinastia merovíngia. O termo “merovíngio” deriva do latim medieval Merovingi (filhos de Meroveu). Hoje, no atual tempo a dinastia merovíngia é defendida por uma sociedade secreta chamada Priorado de Sião.
De Astúrias:
--- Coisa estranha! Ainda hoje? Não creio! – pensou indeciso o noviço.
O referido documento do ano de 1885 foi levado a Paris para ser decifrado. No entanto, quando o documento voltou o pároco da Igreja ficou imensamente rico e nada mais falou sobre a verdade escrita. O sacerdote tinha o nome de Saunière. Outra batalha sobre Maria Madalena começou no século XIII entre duas igrejas que garantiam possuir as relíquias da Santa Padroeira. A lenda de que Maria Madalena passou trinta anos finais em penitência numa caverna da França, é interessante. A Santa morava nesse local sem comer nesses trinta anos sendo alimentada por “anjos” – freiras -. Em meados do século Onze, Vézelay, a igreja da França soube da história e localizou a caverna onde Madalena morava. Houve milagres inclusive na Inglaterra a pessoas que procuram o tumulo da Santa. Monges descobriram restos de Madalena na Igreja de São Maximão, na Provença. A Igreja foi fundada pelo o apóstolo que, segundo a lenda, viajava para a França com Madalena a quem dera a extrema unção. Vézelay vivera na glória das relíquias de Maria Madalena. E de repente, sem mais àquela, os Monges de St. Maximin (Maximão) garantiram que Vézelay havia cometido um erro. A alegação de que Vézelay tinha um resto de outra pessoa, na verdade de uma Santa menor permitiu aos Monges de São Maximão afirmar que os ossos de Maria Madalena ainda se achavam no sul da França. E assim, os fieis acorreram para Provença. Vézelay jamais recuperaria o antigo prestígio. Embora muitas relíquias de São Maximão se perdessem na revolução francesa, ainda hoje a Igreja expõe o crâneo de Maria Madalena em uma caixa de ouro e cristal.
De Astúrias:
--- Fantástico! – falou em surdina o noviço.
A leitura do tomo prosseguiu sem interrupções para aquele jovem noviço em estado de êxtase a procura de saber onde estava o segredo do idoso Monge que um dia de estio ele encontrara no caminho da Serra. A Gruta de Sainte  Baume, onde Madalena passou os últimos trinta anos em calma contemplação pode ter sido o lugar de ritos pagãos dedicado a uma deusa da fertilidade esquecida há muito tempo. A floresta alí é interessante. À medida que se tem acesso ela deveria esfriar. Mas quanto mais fundo se conseguir chegar mais quente ela fica. Quando o fiel chega ao topo encontra a gruta muito fria. O chão é úmido menos num ponto bem no fundo da gruta e nem os geólogos sabem explicar, que é seco. Nesse local Madalena ficou uns trinta e três anos. Tornou-se um lugar onde as mulheres vão rezar por alguém que precisa de cura.
De Astúrias:
--- Brilhante! – comentou com garbo o noviço.
A identidade de Maria Madalena como heroína da Europa medieval acabou diminuindo com a insistência da Igreja (Católica) em qualifica-la de “pecadora” arrependida. Porém uma descoberta levou-a para a passarela de novo derrubando as velhas noções de quem e o que era ela. Escondido sob o rico solo do vale do Nilo um tesouro enterrado havia quase dois mil anos foi repentina e inesperadamente revelado. Em 1945 um agricultor Alto Egito ao escavar a terra perto de uma colina descobriu uma grande ânfora de quase dois metros. Nela havia trezes manuscritos em papiro que hoje conhecemos pelos Evangelhos gnósticos. Esses papiros estão entre os mais importantes achados bíblicos do século. Escritos em copta o antigo egípcio os documentos contêm quarenta e nove tratados da seita gnóstica. Os textos continham abundante material sobre a luta que se estabeleceu sobre a morte de Jesus. O tema central do gnosticismo é que a divindade não é uma força externa como a de Jesus Cristo. Mas uma capacidade inata e interna existente em todos os seres humanos. Esses evangelhos têm uma mensagem diferente, pois os escolhidos como parte do Novo Testamento entre o segundo e o quarto século têm mensagem similar. Os outros textos, como o Evangelho de Maria Madalena dizem: “O divino está em ti, pois fomos criados à imagem de Deus”. Então, há continuidade  entre  o divino e o humano. Outro texto gnóstico importante é o Evangelho de Madalena. Os poucos fragmentos existentes indicam que os gnósticos tinham Madalena em alta estima como profeta, apóstola e líder. Em uma passagem por demais significante ela revelou aos demais apóstolos que Jesus compartilhava “ensinamentos secretos” com ela. Os textos gnósticos transformaram Maria Madalena na figura central do primeiro cristianismo com autoridade inigualada pelos demais apóstolos.  Esta versão não é aceita notavelmente nos cânones da Igreja de Roma.
 
 


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