- ALICE ENGLERT -
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A SEITA
Dias passados o noviço De
Astúrias estava na imensa Biblioteca do Mosteiro a procura de livros sobre a
leitura com respeito a Maria Madalena, a esposa de Jesus. Ela mantinha a
convicção de ter havido casamento entre ambos quando. Madalena estava com
outros discípulos em um almoço fraternal. Jesus era homem feito e tinha para
além dos trinta anos. Madalena tinha ouvido do seu Mestre os lugares por onde Ele
andara por toda a sua juventude. Sem gostar de escrever o que Ele sabia, apenas
costumava relatar aos poucos com quem vivera e como fizera. Com esses monólogos
Madalena se impressionou com o jovem senhor e dedicou-se a Ele com mais
presteza. Dando continuidade ao já
sabido, o noviço teve a oportunidade de ler e de ter conhecimento ser Madalena
levada para o sul da França após a crucificação do seu amado esposo. Nessa
região nasceu uma seita com milhares de seguidores que nunca admitiu sua identidade como mulher decaída. O
folclore francês insiste que Madalena foi à França após a crucificação viajando
em um barco sem leme empurrado por Pedro. A lenda de Maria Madalena também
esteve ligada a um grupo de crentes fervorosos, os Cátaros – “puros” – que
morreram literalmente pela fé durante o Tribunal da Inquisição. O movimento
cristão foi considerado herético pela Igreja Católica. Os cátaros exerciam
grande influência em toda a Europa e no
Oriente Médio. Dizia-se que eram guardiões do Santo Graal – Maria Madalena –
que ficara guardada em seu Convento de Meditações no alto de uma montanha. Para
os cátaros Jesus era um homem de carne e osso dominado por um princípio
cósmico. E Cristo permitia que o homem Jesus operasse milagres. Quando ele foi
crucificado Cristo, que havia cumprido sua missão deixou o homem. Jesus
sobreviveu à crucificação, e no fim casou-se com Maria. As relações das
ligações cátaras com o Graal cresceram com o tempo. Os últimos sacerdotes
cátaros antes que fossem eliminados como heréticos conseguiram esconder o
tesouro, não de bens ou joias. Mas de algo muito mais precioso. Na França, a
lenda do Santo Graal transmutou-se de Cálice para a própria Maria Madalena. Casada
em segredo com Jesus ela carregava no ventre o início da mais sagrada de todas
as linhagens. E foi numa dessas oportunidades que Maria Madalena foi ao Egito.
Depois navegou para a França com Lázaro e as duas irmãs: Maria e Marta. Porém,
na terra egípcia deu à luz a uma menina chamada Sara. Depois de passar algum
tempo de poucos meses no Egito para se recuperar do resguardo, ela e as três
irmãs chegaram ao vilarejo da costa sul chamado Maria do Mar. Na opinião de
muitos Sara seria filha de Madalena e Jesus. A lenda diz ainda que Sara
tornou-se a primeira da linhagem dos Reis franceses. Uma linhagem que, segundo
alguns, ainda sobrevive. Hoje, Santa Sara, por vezes associada a Madona Negra é
venerada por ciganos e outros povos que nutrem grande amor por ela. Essa
história é uma das muitas lendas sobre o Santo Graal. Maria Madalena é, na
verdade, o próprio Graal. Porém, na literatura bíblica, isso é pura invenção
medieval.
De Astúrias:
--- Que história fantástica! Eu
nunca vi coisa igual. Esse autor é do Século XX. Próximo da própria Inquisição
feita pela Igreja Católica de Roma. Eu já li um pouco sobre a Inquisição. Eles
matavam gente da França, Itália e mesmo da Espanha em tempos depois. E tem aqui
a ação delituosa do Papa. Imagine só. – falou para si o noviço.
Mas a história prosseguia. Casos
mais estranhos e fantásticos eram narrados pelo autor do livro rebuscando as
narrativas de lendas e alusões aos Cavaleiros Templários. Desta forma o noviço
de Astúrias se deslumbrou com as descrições. Os Templários, cavaleiros
guerreiros e protetores de peregrinos rumos à Jerusalém deixaram um rastro de
sangue durante as Cruzadas partilhando os mitos dos cátaros como guardiões do
segredo do Graal. O segredo foi
preservado e guardado por séculos. Mas os Templários também eram fieis
defensores da fé. Não se sabe se eles se voltaram contra os cátaros de quem
foram aliados. Nem precisariam. A armada do Papa Inocêncio III matou quase
vinte mil cátaros só na cidade de Lisieux. Alguns anos depois a Cruzada
ganharia o nome de Inquisição – (Congregação da Sacra, Romana e Universal
Inquisição do Santo Ofício) – Essa inquisição existiu entre 1542 e 1965. Mas
sua fundação foi em 1184 no Languedoc, aula da França para combater a heresia
dos cátaros. Durante a Inquisição a Cruzada executou quase um milhão de pessoas
como hereges. A Inquisição, em si, formou-se em resposta à heresia cátara.
Houve uma cruzada contra os cátaros e sua heresia. No coração da região cátara
uma pequena vila cercada de Castelo templários tornou-se a possível locação do
maior segredo da história: a fonte de significado do Graal. Em 1885 descobriram-se
documentos contendo informações em código que se acreditava revelariam a
verdade sobre Maria Madalena e Jesus. De acordo com a lenda, o segredo continha
prova de que Maria Madalena teria o Santo Graal e levara para a França uma
criança que dera inicio a linhagem merovíngia dos franceses. Na verdade Jesus
se casou com Madalena, tiveram um ou mais filhos e a criança e seus
descendentes emigraram para a atual região sul da França. Uma vez lá, eles se
envolveram com as famílias nobres que acabariam por tornar-se a dinastia
merovíngia. O termo “merovíngio” deriva do latim medieval Merovingi (filhos de Meroveu). Hoje, no atual tempo a dinastia
merovíngia é defendida por uma sociedade secreta chamada Priorado de Sião.
De Astúrias:
--- Coisa estranha! Ainda hoje?
Não creio! – pensou indeciso o noviço.
O referido documento do ano de
1885 foi levado a Paris para ser decifrado. No entanto, quando o documento
voltou o pároco da Igreja ficou imensamente rico e nada mais falou sobre a
verdade escrita. O sacerdote tinha o nome de Saunière. Outra batalha sobre
Maria Madalena começou no século XIII entre duas igrejas que garantiam possuir
as relíquias da Santa Padroeira. A lenda de que Maria Madalena passou trinta
anos finais em penitência numa caverna da França, é interessante. A Santa
morava nesse local sem comer nesses trinta anos sendo alimentada por “anjos” –
freiras -. Em meados do século Onze, Vézelay, a igreja da França soube da
história e localizou a caverna onde Madalena morava. Houve milagres inclusive
na Inglaterra a pessoas que procuram o tumulo da Santa. Monges descobriram
restos de Madalena na Igreja de São Maximão, na Provença. A Igreja foi fundada
pelo o apóstolo que, segundo a lenda, viajava para a França com Madalena a quem
dera a extrema unção. Vézelay vivera na glória das relíquias de Maria Madalena.
E de repente, sem mais àquela, os Monges de St. Maximin (Maximão) garantiram
que Vézelay havia cometido um erro. A alegação de que Vézelay tinha um resto de
outra pessoa, na verdade de uma Santa menor permitiu aos Monges de São Maximão
afirmar que os ossos de Maria Madalena ainda se achavam no sul da França. E
assim, os fieis acorreram para Provença. Vézelay jamais recuperaria o antigo
prestígio. Embora muitas relíquias de São Maximão se perdessem na revolução
francesa, ainda hoje a Igreja expõe o crâneo de Maria Madalena em uma caixa de
ouro e cristal.
De Astúrias:
--- Fantástico! – falou em
surdina o noviço.
A leitura do tomo prosseguiu sem
interrupções para aquele jovem noviço em estado de êxtase a procura de saber
onde estava o segredo do idoso Monge que um dia de estio ele encontrara no
caminho da Serra. A Gruta de Sainte
Baume, onde Madalena passou os últimos trinta anos em calma contemplação
pode ter sido o lugar de ritos pagãos dedicado a uma deusa da fertilidade
esquecida há muito tempo. A floresta alí é interessante. À medida que se tem
acesso ela deveria esfriar. Mas quanto mais fundo se conseguir chegar mais
quente ela fica. Quando o fiel chega ao topo encontra a gruta muito fria. O
chão é úmido menos num ponto bem no fundo da gruta e nem os geólogos sabem
explicar, que é seco. Nesse local Madalena ficou uns trinta e três anos.
Tornou-se um lugar onde as mulheres vão rezar por alguém que precisa de cura.
De Astúrias:
--- Brilhante! – comentou com
garbo o noviço.
A identidade de Maria Madalena
como heroína da Europa medieval acabou diminuindo com a insistência da Igreja
(Católica) em qualifica-la de “pecadora” arrependida. Porém uma descoberta
levou-a para a passarela de novo derrubando as velhas noções de quem e o que
era ela. Escondido sob o rico solo do vale do Nilo um tesouro enterrado havia
quase dois mil anos foi repentina e inesperadamente revelado. Em 1945 um
agricultor Alto Egito ao escavar a terra perto de uma colina descobriu uma
grande ânfora de quase dois metros. Nela havia trezes manuscritos em papiro que
hoje conhecemos pelos Evangelhos gnósticos. Esses papiros estão entre os mais
importantes achados bíblicos do século. Escritos em copta o antigo egípcio os
documentos contêm quarenta e nove tratados da seita gnóstica. Os textos
continham abundante material sobre a luta que se estabeleceu sobre a morte de
Jesus. O tema central do gnosticismo é que a divindade não é uma força externa
como a de Jesus Cristo. Mas uma capacidade inata e interna existente em todos
os seres humanos. Esses evangelhos têm uma mensagem diferente, pois os
escolhidos como parte do Novo Testamento entre o segundo e o quarto século têm
mensagem similar. Os outros textos, como o Evangelho de Maria Madalena dizem:
“O divino está em ti, pois fomos criados à imagem de Deus”. Então, há
continuidade entre o divino e o humano. Outro texto gnóstico
importante é o Evangelho de Madalena. Os poucos fragmentos existentes indicam
que os gnósticos tinham Madalena em alta estima como profeta, apóstola e líder.
Em uma passagem por demais significante ela revelou aos demais apóstolos que
Jesus compartilhava “ensinamentos secretos” com ela. Os textos gnósticos
transformaram Maria Madalena na figura central do primeiro cristianismo com
autoridade inigualada pelos demais apóstolos.
Esta versão não é aceita notavelmente nos cânones da Igreja de Roma.
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