sábado, 27 de julho de 2013

"DEUS" - 17 -

- MARIA MADALENA -
- 17 -
EVANGELHOS
 
Ainda preocupado com as descobertas sobre Maria Madalena, o noviço Euclides de Astúrias continuava a buscar maiores informações sobre o tema enfocado. As enormes e majestosas estantes onde estava a Biblioteca do Mosteiro já não eram segredos para o jovem. Com toda a sua esperteza, De Astúrias movimentava de um lado a outros não se importando com os outros alunos noviços a completar os seus conhecimentos em filosofia e teologia. O aluno de Astúrias pesquisou as estantes e encontrou o velho livro no qual ele já estudara, mas não terminara por conta do intervalo para os Cantos Gregorianos há alguns dias. Desta feita, ele se inquietou e buscou o tomo saindo com bastante pressa para a sua Cela onde poderia ficar mais a vontade, pois nada no local o incomodava. E foi dessa forma ter ele quase que recomeçado a tardia leitura sobre a esposa de Jesus. Para ter certeza do já visto o noviço começou da parte onde um agricultor, escavando a terra do alto Egito perto de uma colina descobriu uma grande ânfora de quase dois metros. Nela, havia treze manuscritos em papiro que ficou sendo conhecidos como Evangelhos gnósticos. Esses papiros estão entre os mais importantes achados bíblicos do século XX. Escritos em copta, o antigo egípcio, os documentos contêm quarenta e nove tratados da seita gnóstica. Nesses livros havia outros evangelhos que nunca fizeram parte do Novo Testamento e muitos não eram conhecidos. Sabia-se que no velho mundo houve vários evangelhos, mas foram enterrados, destruídos, queimados por chefes da Igreja Católica que os considerava a mais abominável das heresias. Nunca se pode ler nenhum. Apenas se sabia que eram terríveis.
Os textos traziam abundante material sobre a luta que se estabeleceu após a morte de Jesus. O tema central do gnosticismo é que a divindade não é uma força externa como a de Jesus Cristo. Mas uma capacidade nata e interna em todos os seres humanos. Esses evangelhos têm uma mensagem diferente, pois os escolhidos como parte do Novo Testamento entre o segundo e o quarto século têm mensagem similar. É dito: “Cré em Jesus e serás salvo”. Os outros textos, como o evangelho de Maria Madalena dizem: “O divino está em ti, pois fomos criados à imagem de Deus”. Então há continuidade entre o divino e o humano. O que se observa em outros textos são vários pontos de vistas. Exatamente o que os sábios anciãos da Igreja não gostavam. Ireneu, o bispo que odiava hereges, disse: “Fora da Igreja não existe salvação. Todos os que têm fé, através da Igreja se salvarão. Fora, serão danados”.
Até a descoberta desses preciosos documentos grande parte do que era entendido como gnosticismo veio através das escrituras dos sábios que condenavam por denúncia. Tertuliano, um dos líderes da Igreja, disse: “Todos fazem perguntas. Perguntas levam à heresia. Propiciam explorações, como as que vemos nesses textos”. Um dos textos diz ter os teólogos situar em 250 ou 300 anos depois de Cristo quando lançaram nova luz sobre como os apóstolos de Jesus lutaram para semear e divulgar a doutrina a partir da tradição cristã. O texto caracteriza uma discussão notável entre Madalena e o apóstolo Pedro. A questão é que o apostolo dizia a Jesus Cristo: “Maria fala o tempo todo. Devia ficar calada e nada dizer”. Nesse texto, Jesus encoraja  Maria a falar. Por isso não faz parte da tradição católica. Outro texto gnóstico importante é o evangelho de Maria. Os poucos fragmentos existentes indicam que os gnósticos tinham Maria em alta estima como profeta, apóstola e líder. Em uma passagem significante ela revelou aos demais apóstolos que Jesus compartilhava ensinamentos secretos com ela. Então se pode notar ter no Evangelho de Maria que ela recebe ensinamentos de Jesus não revelados a mais  ninguém, nem mesmo a Pedro ou a apóstolos mais próximos. Ao se olhar o Evangelho de Lucas, o líder é Pedro. Ele é o porta-voz, o chefe. Comparando com os Evangelhos que falam de Maria Madalena e então Pedro é secundário, e ela, a apóstola proeminente. E Pedro está sempre se queixando dela. Os textos gnósticos transformaram Maria Madalena na figura central do primeiro cristianismo com autoridade inigualada pelos demais apóstolos. Essa versão é notavelmente diferente dos cânones aceitos. Nos Evangelhos do Novo Testamento, como o de Lucas ele fala de discípulos e mulheres. Discípulos não são mulheres, e vice-versa, isso fica claro. Mas nos evangelhos secretos havia mulheres entre os discípulos, e delas Maria Madalena era a mais destacada. O Papa disse: “Não há sacerdotisas, porque Jesus só escolhia homens.” Se o Evangelho de Maria fosse aceito tal afirmação não poderia ser feita. Os textos gnósticos representam uma das possíveis revisões da história de Maria Madalena e deixa uma pergunta no ar: “Quantas versões haveria da história dessa mulher tão discutida?”
Historiador:
--- No Mediterrâneo oriental, nessa época, há 2000 anos havia um caldo de várias idéias filosóficas e intelectuais. Havia gente trabalhando a noção de que Maria Madalena não viera de um lugar chamado Magdala, na Galiléia, mas de um lugar chamado Magdallah, na Etiópia. Talvez fosse negra, ou de pele muito escura e andasse pela Alexandria, um ponto de encontro então. Dali foi a Jerusalém e conheceu Jesus, um forasteiro. Ela era forasteira. Ambos iniciaram um movimento que criaria uma ordem  revolucionária.
 Todavia, a descoberta desses textos radicalmente gnósticos mal abalou os círculos acadêmicos. Foi necessária uma obra de ficção best-seller para lançar Maria Madalena de volta ao cenário. O relacionamento entre Jesus e Maria Madalena foi calorosamente debatido desde os primeiros dias da cristandade. É um assunto delicado que mais uma vez jogou lenha na fogueira das discussões. O Evangelho de Felipe, outro texto gnóstico descreve uma relação entre Jesus e Maria que parece sexual.
Historiador:
--- A maioria dos rabinos judeus, quase todos, entre 98 e 99%, era casada e tinham filhos. Seguiam as palavras bíblicas, “Crescei e multiplicai-vos”. Era uma convenção aceita. Um homem de 32 anos como Jesus foi descrito nos evangelhos aceitos casava-se e tinha filhos. Muitos estudiosos olharam  para essa prova cultural. Se Jesus era, de fato, um ser humano e se veio da cultura judia, com toda a certeza teria sido casado. E só poderia ter sido com Maria Madalena, cujo nome se lê 12 vezes nos evangelhos aceitos, e estava sempre presente nos momentos mais importantes da história de Jesus. O recente interesse em fazer de Maria Madalena a Senhora Jesus ou amante de Jesus, tem mais que ver com Jesus do que com Maria Madalena. Ou seja, se ele foi mesmo um homem tinha uma mulher, é certo. É um modo de usar uma mulher para pensar no homem.
 Teria Maria Madalena um relacionamento com Jesus mais profundo do que sugerido pelo Novo Testamento? A cena a unção dos pés mostrando Maria com um jarro de alabastro talvez contenha a pista simbólica.
Historiador:
--- Uma mulher tocando os pés de um homem é um gesto erótico, talvez semi-erótico e secando-os com os cabelos é um quadro bem sensual. Então eles o citam para indicar que essa mulher que pensa ser Maria Madalena, era casada com Jesus. Alguns consideram que o ritual da unção presente nos quatro evangelhos lembra os rituais de Hieros Gamos celebrados na região mesopotâmica.
Hieros Gamos ou “casamento sagrado” é a cópula (às vezes casamento) de uma divindade e um homem ou uma mulher muitas vezes com um significado simbólico e geralmente realizada da Primavera. É um antigo ritual em que os participantes acreditavam que podiam ganhar profunda experiência religiosa ou um intercambio de conhecimentos através da relação sexual Os antigos acreditavam que ganhariam profunda experiência religiosa, a união sexual em geral realizada entre um senhor e uma serva da comunidade proporcionaria a fertilidade entre os protagonistas, à Terra e ao povo. O Evangelho de Filipe tem uma passagem provocante que diz “Jesus amava Maria Madalena acima de todos e costumava beijá-la na boca”. No texto em si a sugestão é que Jesus e Madalena formavam um par no sentido de que ela seria o Espírito Santo uma manifestação do aspecto feminino do divino.
Para alguns estudiosos, o papel de Madalena como apóstola dos apóstolos seria um excelente argumento para adoção de sacerdotisas. Para outros, seu relacionamento com Jesus seria uma ligação mais profunda com o passado pagão. Havia religiões misteriosas no Império Romano e nessas religiões misteriosas, adoravam-se deusas. Há quem diga que havia sacerdotisas ou prostitutas sagradas que celebravam os rituais. Acredita-se que, baseada no ritual da unção Maria Madalena seria sacerdotisa de Isis celebrando um ritual de Hieros Gamos com Jesus. Isis é a mulher de Osíris, morto e seu corpo foi picado. Isis e a irmã Neptis juntaram as peças, untaram o corpo e ficaram com ele três dias. No terceiro dia, ele reviveu. Isso teve lugar no Egito, muito antes da história de Jesus. Então, a idéia da unção e de velar três dias a tumba não é nada incomum. Os deuses do antigo Oriente, os romanos, os gregos o egípcios, todos tinham uma parceira. É incomum que o Deus de Israel não tenha a sua. Por isso, a imagem de parceiras para Deus claro que foram reprimidas na Antiguidade.
Historiador:
--- As primeiras religiões, todas, veneravam deusas. Houve deusas antes de deuses. E elas viam a sexualidade não com os tabus e inibições que se tem hoje, mas com a noção de êxtase, de criação. Tudo isso, visto sob o prisma de hoje acumula-se na figura de Maria Madalena. De certa forma, ela representa tudo isso.
Hoje, tal como no principio da cristandade, Maria Madalena incorpora o que a Igreja Ortodoxa perdeu. O feminismo sagrado. Maria Madalena representa a face feminina de Deus.
De Astúrias:
--- Deus! Meu Deus! Seria Maria Madalena a mulher sagrada? Ou não se trata de apenas figurativismo essa questão? – bradou o noviço de toda sua alma.
 
 

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