terça-feira, 2 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 18 -

- Liv Tyler -
- 18 -
Logo a seguir por entre gente que vinha ou ia, Glauco cruzava com rapidez tentando chegar à sua repartição em cima da hora. Pessoas passavam cruzando a rua da praça e pegando a outra calçada em direção a Avenida Sachet até a Travessa Aureliano Medeiros e então até seus pontos de venda e compra. A praça era dividida em duas. Os veículos passavam pelo meio onde tinha condições de trafegar a vontade. Na Rua Sachet, os caminhões de carga cheios de gente estacionavam de vez.  Eram os carros vindos do interior do Estado. As pessoas mais que depressa saiam da carroceria ou das boleias dos caminhões e transitavam com pressa para os seus destinos. Essa era a dura vida dos viajantes sempre diários. Certa vez, por volta das sete horas da manhã, Glauco observou um cidadão dos seus setenta anos. O homem desceu do caminhão com toda a pressa e caminhou vexado até a esquina da rua Dr. Barata e, quando alí chegou, arriou as calças e fez o seu incômodo serviço. Logo em seguida, sem se limpar ao menos, suspendeu as calças e prosseguiu a sua viagem deixando a marca de amplas fezes na calçada. Quando o Doutor Glauco viu novamente o movimento atropelado de gente pela rua, recordou o fato e sorriu.
Ao chegar à Recebedoria de Rendas, Glauco entrou mesmo pela porta principal, já aberta ao público, e seguiu prosseguindo até o final do balcão e entrou, com pressa para o seu Gabinete sem deixar de dar o seu bom dia aos servidores do Estado postos a trabalhar. Ao entrar para o seu escritório, o homem chamou um cidadão de cabeça avantajada, rosto grosso, pele quase morena, forte e alto cujo nome era Venceslau. O homem já não gostava de quando alguém lhe chamava pelo apelido de “Pipio”, porque, certa vez, ele reclamou de uma galinha de sua casa a estar de pinto novo e passava a noite a alarmar a todos com os seus pintinhos a fazer Piu-Piu. E por conta desse fato inusitado, dito por Venceslau, com sua voz pesada e lábios grossos, ele ficou sob a alcunha de ser chamado Pipio. E foi então, quando Glauco entrou apressado para o seu Gabinete ter ele chamado o homem:
--- Pipio venha aqui! – relatou com pressa o diretor da Recebedoria.
Nesse momento o homem torceu a cara para o seu chefe e foi logo dizendo:
--- O meu nome é Venceslau! Eu não gosto que me chame de “Piu-Piu” - narrou com ênfase se dirigindo ao chefe ao mesmo tempo em que se levantava da cadeira de vime.
A voz forte e paciente de Venceslau deu mais ênfase ao apelido enervante de Piu-Piu. E os outros funcionários ficaram a sorrir com o desafogo de Venceslau. Mesmo assim, Glauco não contou conversa. Ele abriu a porta do seu escritório e foi então dizendo:
--- Chega aqui! Chega aqui! Depressa! – disse o diretor ao servidor Venceslau.
Logo a seguir, o brutamonte caminhando lento com a sua voz plenamente arrastada, ao entrar no escritório foi logo a perguntar o de tão importante tinha ele a fazer. O seu animado chefe lhe reportou não ser nada demais. E relatou:
--- Estou precisando de um favor de vossa parte! – vez ver Glauco ao homem meio acanhado.
O homem Pipio ficou a ouvir o chefe e perguntou apenas isso, com sua voz bem mansa de quase não se ouvir direito:
--- O que devo fazer? – perguntou bem devagar e estando em pé diante do seu chefe já a sentar na cadeira estofada.
--- Nada! Nada! Agora, nada! É apenas mais tarde! Eu digo o que é se você responder que faz! – vez ver Glauco, serio, olhando de baixo para cima, uma vez ser o homem um verdadeiro paquiderme.
--- Eu faço! Mas preciso saber o que é! – relatou o homem com sua voz solene procurando falar baixo sem conseguir o intento. Porém, de qualquer jeito falado grosso.
--- É para nós irmos a uma residência. - falou Glauco temendo um desaforo de Pipio.
--- Residência de quem? –quis saber Pipio logo a principio.
--- De um homem! De um homem! Você vai? – perguntou apressado o Doutor Glauco.
--- Que homem é esse? Ele deve a quem? Ao senhor? Eu preciso levar minha arma? – quis compreender melhor os detalhes da operação o homenzarrão.
--- Não. Nada de armas. E ele não deve a ninguém. Quero saber se você topa ir! – indagou apressado o doutor Glauco suando pelos poros da camisa.
--- Eu vou! Mas a que horas? Agora? E eu faço o que? – perguntou o homem gigante a Glauco
---- De sete horas. É a noite. Você não faz nada! Apenas assiste a conversa com o homem. – disse de vez o doutor Glauco enxugando o pescoço molhado de suor.
--- Mas às sete horas eu ainda vou tomar café! – remendou paciente com a sua voz grossa o homem chamado Pipio.
--- Toma lá. Toma lá! Agora: você me faz esse favor? – perguntou Glauco inquieto a Pipio.
--- Eu vou. Mas preciso saber em quem eu vou atirar! – relatou Pipio ao seu chefe.
--- Nada de tiros! Nem pense nisso! É um noivado! Só isso! – falou baixinho o senhor Glauco
--- Ah bom. Um noivado. E eu devo dizer a essa gente daqui agora? – perguntou alegre com voz rouca o homem Pipio.
--- Não! Não! Não diga nada a ninguém. – relatou Glauco a Pipio como estando  ser ouvido por muita gente e apressando-se a dizer ser apenas aquilo.
O homem saiu sorridente do Gabinete de Glauco e esse foi de imediato ao telefone pedir ligação para a residência de Walquíria, a sua sobrinha. Feita a ligação e Glauco contou a mesma estória encontrando na moça a maior receptividade de estar presente à noite na casa de Racilva. De imediato Glauco remendou o maior silencio sobre o assunto e nem a Racilva a moça podia se referir a tal assunto.
--- Por que, tio? – perguntou Walquiria temerosa.
--- Segredo de Estado! – respondeu sorrindo o tio Glauco Rodrigues.
--- Tá bom. Eu só quero ver a cara de Racilva quando for pedida em casamento. – sorriu a moça fazendo um jeitinho com o corpo como querendo se encurvar.
--- Ela deve vir aqui, hoje, pela manhã! Por isso vou desligar. Às sete horas eu passo na sua casa e não diga nada nem a seu pai. – recomendou Glauco. E desligou o telefone.
Ao passar das horas, naquele mesmo dia, uma segunda-feira, Racilva Arantes saiu da loja na qual trabalhou, em direção firme à repartição da Recebedoria de Rendas. Ela estava contente de si. Seu papel de operadora de caixa tinha terminado naquela hora. Nada mais podia ser feito. O seu patrão, Haroldo Doria, ainda não tinha se convencido do pedido de demissão da sua distinta funcionária. Ela sequer disse a Doria estar indo para uma repartição do Estado. No muito dizer foi ter uma nova ocupação. E disso não teve mais nada a falar. Racilva seguia sorrindo, com pressa, vendo sem ver as pessoas a caminhar nas ruas, nas lojas, nas sapatarias, em outros comércios. Enfim, em tudo.  Quando, após alguns minutos, Racilva entrou pela porta da frente da Recebedoria de Rendas viu uma enorme fila. Gente a comprar selos. Ela olhou e sorriu. Entre a parede de fora onde tinham os bancos de madeira, e a outra parte, havia um balcão de recepção. Racilva se escorou no balcão até ver um homem chegar e com a casa simples perguntar:
--- Pois não? – perguntou solícito o homem Ribeiro.
--- O chefe! – respondeu com o rosto tenso a moça.
--- O que pode ser? – ainda perguntou Ribeiro.
--- É só com ele! – respondeu a moça ao funcionário.
Ribeiro ficou surpreso de tanta resolução e ainda ficou a admirar compassivo o porte da moça em sua sensualidade admirável. Isso não passou de um segundo. Em seguida, Ribeiro ofereceu a porta de entrada para o Gabinete e pediu a moça a ele esperar um instante. O homem foi dentro do Gabinete e voltou em um minuto a dizer:
--- Pode entrar. Ele a está esperando! – disse Ribeiro.
Racilva agradeceu a gentileza e em seguida foi até ao escritório de Glauco. Esse a recebeu com afetuoso abraço cordial lembrando-lhe em um minuto estarem eles da repartição onde Glauco era o chefe e se dispensava afetos carinhosos e muito afago. A moça de face concentrada entendeu e de volta entregou os documentos necessários à sua contratação. O doutor Glauco reviu a documentação e de pronto lhe fez o relatório. Ela estava admitida na Recebedoria. Mas, naquele dia Racilva podia sair. E não era preciso ter de trabalhar. Apenas no dia seguinte a moça podia retornar e sua mesa de trabalho era no Gabinete da Diretoria. Racilva estava sendo admitida como secretária particular da Presidência.
--- Incrível! – respondeu a moça a sorrir.

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