quarta-feira, 24 de agosto de 2011

VENUS ESCARLATE - 31 -

- CASARÃO -
- 31 -
Da reunião a portas fechadas do velho coronel Fabriciano com o seu filho, também coronel Arthur Rodrigues Timbó ficou dito não haver qualquer retrocesso com a morte de Chicão, o Capitão do Mato por causa da intriga de Arthur Timbó com o fazendeiro da região, João Duarte o causador da morte de Corina e do seu filho Fortunato. O grupo do velho coronel daria uma trégua enquanto o clima esfriasse.
--- Depois a gente vê isso. Depois. Lá para adiante. Ouviu bem? – perguntou Fabriciano com certo arroubo ao seu filho.
--- Sim senhor. Tudo bem. Eu também concordo. Agora....- dizia o coronel Arthur quando foi interrompido pelo velho Fabriciano.
--- Não tem “agora” nem nada. Eu não quero mais ouvir conversa! – declarou o velho com voz arrogante a seu filho Arthur.
--- Sim senhor. – respondeu de forma humilde o coronel Arthur.
E logo após os dois homens saíram do escritório tendo a frente o coronel Timbó, como era assim chamado por familiares e no alpendre da frente da casa grande houve a reunião com todos os jagunços de vaqueiros com o velho a dizer:
--- Não há guerra. Enterrem o morto. E que se apresente o homem Getúlio Boa Boca. Ele é o novo capitão do mato! – relatou com soberba o velho coronel.
Do meio da turma de capangas surgiu a figura de Boa Boca, todo rasgado e maltrapilho em suas roupas, ainda sem entender muito bem por que o patrão lhe confiara a função de Capitão do Mato. De qualquer jeito enfrentou a ocorrência e marchou até a soleira da casa grande:
--- Pronto, meu coronel. O que o senhor me mandar eu faço! – declarou destemido o homem.
--- Vamos ver se faz. Vamos ver se faz! – relatou o coronel Timbó chamando o jagunço para dentro da casa. Boa Boca e Arthur. Os dois ao mesmo tempo.
Em seguida, o coronel Timbó, já no seu escritório, declarou a Boa Boca ter ele a função de bater mato quando precisasse e então fazer o que era para ser feito. E sempre. Mas, de logo, ele arranjasse uma turma dos melhores jagunços para guardar a casa grande. E mais:
--- Outro destemido você mande cuidar das fazendas dos meus filhos. E AGORA! – reclamou o velho em alto e bom tom.
--- Sim senhor, meu coronel. Sim senhor. Mas se mal lhe pergunto: por que o senhor escolheu a mim? – indagou o moço Boa Boca.
--- Vá embora seu mateiro. E não me faça perguntas! – reclamou irado o velho a Boa Boca.
--- Sim senhor. Já tô indo. – e saiu Boa Boca a tremer de medo do velho coronel Timbó.
--- O senhor fica aqui!!! – pronunciou o velho a seu filho Arthur com altivez.
No quarto de dormir das senhorinhas, todas elas estavam a conversar baixinho. Racilva, por seu lado, sofria dores incríveis pelo incômodo das regras. Nesse momento Walquiria chamou uma mucama e pediu lhe trazer um chá para dores de incômodo. A mulher nova disse “sim” a ordem recebida.
--- É pra senhorinha! – declarou a mucama pela ordem decretada.
--- Vamos ver se agora não passa! Mulher! Tem jura! E na cidade o que se faz? – perguntou Walquiria a moça entretecida.
--- Minha mãe faz chá também. – destacou a jovem Racilva Arantes se encolhendo toda.
--- Que coisa! E dói assim? – indagou Zilene alarmada.
--- E tu não tens cólica, não? Tem não? –reclamou Walquiria a sua amiga Zilene.
--- Quando eu tenho, rezo a barriga! – respondeu a moça a sua amiga.
--- E quando reza cura dor de regras? Quando? – perguntou espiritada a moça Walquiria.
--- Sei lá. Minha avó foi quem ensinou. Pra mim, passa! – respondeu Zilene a sua amiga.
Com um instante a mucama entrou no quarto de dormir das donzelas com uma xicara de chá quente feito para dor de regras. E passou para Walquiria. Em resposta, recebeu a mucama a instrução para ser dada a Racilva. A moça mucama se voltou e entregou o chá a Racilva.
--- Ruim! – fez Racilva com uma cara amarga.
--- É assim mesmo. Cura a dor! – articulou Walquiria.  
Ao tomar o chá Racilva se enrolou da cabeça aos pés e procurou conciliar o sono apesar das dores ainda não terem passados. E a moça Zilene falou a doente para ela rezar com a mão no canto da dor até o incômodo passar. Por seu lado Walquiria ainda reclamou de não ter sentido nada de dor quando estava doente. E as horas foram passando. Quando a noite chegou a mucama surgiu a porta a chamar as moças para o jantar. Racilva disse não querer:
--- Estou sem fome. Aquele chá foi um purgante! – relatou Racilva enrolada até aos pés.
--- Eu vou comer por você. Veja se dorme. Vamos Zilene! E sem bufas! Já estou fartas de traques. – reclamou arrebitada a moça ao sair do quarto.
--- E fui eu? Fui eu? – rezingou Zilene para a sua colega.
O certo foi que a peidança se ouviu de porta a fora com Walquiria a despejar seus glamorosos flatos no percorrer do corredor da casa grande. Eram tantos que a moça não aguentou de tanto soltar os seus flatos e em seguida sorriu em articulosas gargalhadas. A mucama na frente das duas moças também acabou por sorrir e declarar:
--- Que peidança! – e sorriu a mucama sobre severas gargalhadas.
A noite brumosa veio com verdadeiro silencio em torno da casa grande. Os jagunços estavam a postos em torno do solar e nada podia se mexer sem declarar ser um veado, uma cabra ou um carneiro. Armados até aos dentes os jagunços ou capangas patrulhavam em marcha não sincopada as diversas regiões de onde era erguida a casa grande do velho e augusto Coronel Timbó. Luzes pequeninas eram os vagalumes ou os olhos de raposas a observar atentas as suas cobiçadas presas, no caso das raposas. O pisca-pisca dos pirilampos era por demais um convite ao macho a fazer o coito da procriação. A noite era mansa e não havia sinal de chuva iminente. O velho coronel até altas horas da noite conversava em seu escritório com os seus filhos então presentes ter no dia seguinte de ir fazer o translado das cabeças de gado de uma fazenda para outra. Das vinte mil cabeças ainda faltavam ser entregues dez mil. Estava o gado nas fazendas “Tijuaçú”, “Alarme”, “Sossego” e “Pirilampo”, todas da família Timbó, ligadas a bem-sucedida Fazenda Maxixe.
No dia seguinte, logo cedo da manhã, Racilva acompanhado do seu noivo Glauco Rodrigues partiu para Natal e se despedindo das demais amigas, Walquiria e Zilene prometendo retornar à Fazenda “Maxixe” no próximo final de semana. Glauco se despediu do seu pai e irmão e disse terem cuidados com as cobras. Na verdade, ele queria dizer: com os jagunços do fazendeiro João Duarte, autor intelectual do assassinato de Corina e Fortunato. A mulher era amante do coronel Arthur e o rapaz morto por enforcamento era o seu filho abastado. O veículo correu veloz e Glauco declarou não ter tempo de mandar fazer serviço no seu carro. Nesse caso, ele teria que ir a Agencia de Santos & Cia para ver se por lá podia fazer negócio com um novo veículo modelo Aero Wilys, um carro possante e ótimo em qualquer circunstancia. O tempo corria firme e as sete e meia horas da manhã o casal já estava em seus locais de moradia, no bairro do Alecrim. Racilva então declarou ter de ir à noite à casa de seu Tupinambá, pois foi com ele que fez a última consulta.
--- E você acha que ele é bom mesmo? – perguntou Glauco temeroso com a incerteza.
--- Para mim, não tem outro! – relatou Racilva ao seu noivo.
--- Então, nós iremos ao mestre Tupinambá. – disse com o seu jeito de quem não acreditava em nada do que se dizia sobre o assunto.
A moça entrou na casa e logo trocou de traje e em pouco tempo ela estava pronta para sair de vez. Ao se despedir de sua mãe tomou-lhe a benção. E seu pai já não estava na casa, pois tivera de ir deixar as galinhas no mercado. Foi sua mãe mesmo quem declarou:
--- Jonas saiu logo cedo para o mercado. – declarou a mulher meio sem graça.
--- Eu já imaginava. A senhora tem o chá? – indagou em voz baixa Racilva.
--- De novo? Tenho! – respondeu dona Lindalva a filha.
A moça sorriu, tomou meia caneca de chá e logo saiu com o acompanhamento de Glauco. Esse estava a pensar no assunto da Fazenda Maxixe onde um batalhão de jagunços tomava conta de todo o cercado de dia e de noite, sempre se revezando. Glauco se despediu enfim de dona Lindalva apesar de estar com o pensamento distante.

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